A Bailarina.

Domingo passado, pela primeira vez, fui ao teatro assistir à uma apresentação de ballet. Fomos assistir  a companhia de ballet de São Petersburgo que veio a Monza para uma apresentação.

Cheguei a ficar ansiosa e até comprei roupa (e sapatos) novos para a ocasião (tá bom! Boa desculpa, eu sei ...). O evento pedia uma arrumadazinha no look com um pouco mais de elegância. Quer dizer, isso eu achava. Porque no final, teve de tudo um pouco. Desde gente elegantérrima com casacos de peles de todas as cores e estilos, até pessoas com um look mais normalzinho. 

Me arrependi de ter comprado o sapato de salto - e que salto! E antes mesmo de que começasse o segundo ato já havia aberto o zíper do sapato para dar uma aliviada no joanete. Na verdade desacostumei. Faz séculos que não sei o que é andar de salto.  Estaria mais comoda se tivesse ido com a minha bota baixa  'de sempre'. Para a próxima já sei.

Chegamos no horário. Logo entramos. Nosso lugar era super bom, bem próximo do palco. E eu, apesar da minha zero experiência em espetáculos de ballet, sabia que deveria ficar o mais próximo possível  para não perder os detalhes dos pés e das expressões dos bailarinos. E assim foi. Ficamos tão perto, mas tão perto que vez que outra, quando o tom da música baixava, escutava o "eco" das sapatilhas de ponta no chão do teatro. E até o "eco" era perfeito, em total sintonia.

Ah! Estava esquecendo de um importante detalhe: o espetáculo que fomos ver foi o Lago dos Cisnes.

Preciso dizer que amei tudo. Amei a apresentação, amei o teatro, os bailarinos da companhia e a primeira bailarina - que por sinal se chama Tatiana, ! - arrasou.

Em determinado momento da apresentação, não me pergunte o porquê, me transladei à minha infância.

Lembrei de quando era pequenininha, bem pequena mesmo, ainda morava em Porto Alegre e um dos meus passatempos preferidos quando estava dentro de casa era escapar para o quarto da minha mãe, subir na cama para alcançar na cômoda que ela tinha. Naquela cômoda, bem centralizada em cima de um guardanapo de crochê, ficava uma caixinha de música. Era retangular, de metal, com alguns detalhes em tons envelhecidos.

Eu amava - simplesmente amava - pegar a caixinha, dar corda e me deliciar vendo a bailarina rodopiando na pista em tons de vermelho, preto  e branco. Em dias de maior empolgação, bagunçava toda a cama dos meus pais repetindo (ou tentando repetir) os passos da bailarina, enquanto me espiava no espelho da cômoda. A cama parecia enorme, gigante (na verdade, eu que era muito pequena)  e dali me transladava com a imaginação para os maiores palcos do mundo. Gigante também eram as broncas que eu ganhava de minha mãe por conta da bagunça.

- "Tatiana! De novo bagunçando minha cama?"

A música me transmitia um pouco de tristeza mas a bailarina amenizava essa sensação com seus rodopios que eu demorei algum tempo para entender que eram todos programados.

Eu cresci e parei de rodopiar na cama dos meus pais. Mas a caixinha de música seguiu lá, funcionando, bem centralizada em cima da cômoda. Vez que outra, quando passava por ela, dava corda só para ver a bailarina girando, girando e girando.

Não sei o que aconteceu com a caixinha de música, nem sei se minha mãe ainda a tem. Se ainda tiver, vou pedir de herança :)

E então, enquanto aplaudia entusiasmada a excelente perfomance da bailarina no teatro, entre um ato e outro, viajava lá pra longe e na caixinha mais importante que temos - a das nossas recordações - lembrei de que um dia eu também havia sido a primeira bailarina - Tatiana -  da companhia de bagunça da cama da minha mãe. Aplausos.

imagem internet

4 comentários:

  1. A mãe tinha uma dessas também.. tocava a musiquinha do caminhão de gás (Bethoven)!! Hahahahaha Adorava abrir e ficar brincando com a bailarina lá dentro também!! Mas que bom que gostou do ballet, gosto desses programas culturais, fugir da rotina de bar, cinema e etc.. aproveitem família!!! ��

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    1. Minha querida, obrigada pelo recadinho aqui no blog :) Eu sei que tu me lê sempre, mas fiquei muito feliz com o comentário. Essas caixinhas de música fizeram parte de uma época. Acho que a música era a mesma, pena que a companhia do gás fez com que a gente enjoasse dela kkkkk
      Bjão enorme! <3

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  2. É uma pena que os compromissos da vida adulta nos afastam da vida ingênua e sonhadora da infância.
    E daí a magia que a arte e a cultura proporcionam: a oportunidade de sonhar, sorrir, chorar, viver ...
    Temos que fazer acontecerem momentos como este que vocês vivenciaram.
    Tenho certeza de que, qualquer que seja o "acerto de contas" que possamos fazer com nossa razão ou com nossas emoções, só iremos lamentar as decisões e oportunidades perdidas.
    Viva a vida!
    Beijos. Fiquem com Deus.

    Tio Beto_60

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    1. Que lindo o que tu escreveu, meu irmão! Vou até ficar por aqui porque quando a garganta engasga, os dedos travam :)
      Beijos para vcs!

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