#TBT3, senta que lá vem história: uma sexta-feira qualquer.

    Esse #TBT é bem recente. Aconteceu há algumas semanas atrás.

    Havia tido uma semana agitada. Cheia de coisas por fazer/resolver: aquela rotina de vida adulta que a gente bem conhece.

    Na sexta-feira não tinha nenhum compromisso, tarefa ou qualquer outro perrengue que tomasse meu tempo. Achei, então, que seria o dia ideal para fazer algo que estava pendente: meu exame de sangue. Nada sério, somente controle mesmo de um colesterol que participa da minha vida desde que me entendo por gente.

    Acordei relativamente cedo mas sem pressa. Era o dia que dedicaria para mim. Planejei tomar café sozinha  pelo centro de Monza (eu gosto de fazer isso) depois do exame, quem sabe dar uma voltinha por aí, somente pra passar tempo mesmo.

    O ônibus demorou para passar e assim que chegou, óbvio, estava mais cheio do que o normal.

    Eu, que não gosto de incomodar ninguém e nem ser incomodada, procurei um cantinho onde pudesse ficar o mais quieta possível. Me posicionei na parte central do ônibus, num vão onde se coloca carrinhos de bebê/cadeiras de roda. Não havia nenhum bebê em carrinho e nenhum cadeirante. Espaço livre.

    Do meu lado havia uma menina, jovem, talvez uns 16 anos. Logo mais algumas pessoas foram subindo e se acomodando naquele vãozinho que ainda tinha algum que outro espaço disponível.

    Faltando umas 3 paradas para que descesse (próximo à clínica onde faria o exame) a menina chegou perto de mim e falou algo que eu entendi como "com licença me deixa passar". Achei um pouco estranho já que ela poderia passar do outro lado mas, enfim ... cada um com suas manias. Me afastei e dei espaço. Ela passou. Mas não prosseguiu.

    No meio do caminho ela parou. Virou em minha direção, abaixou a cabeça e quando a levantou percebi que  estava pálida. Mas pálida mesmo (primeira vez nesses meus quase 46 anos de vida que vejo alguém daquela cor). O rosto branco feito leite, tons amarelados ao redor dos olhos e ao redor da boca. Percebi que ela suava muito (fazia bastante frio naquele dia).

    Olhei ao redor e parecia que aquela cena só eu estava vendo. E era verdade: somente eu havia visto, o resto das pessoas seguia concentrada no celular ou na paisagem da janela do bus.

    Me aproximei. Segurei na mão gelada da menina e perguntei:

    - "Você está precisando de ajuda? Está sentindo algo?"

    Ela abaixou a cabeça, a sacudiu e quando voltou a cruzar o olhar com o meu, respondeu baixinho:

    - "Não estou bem!"

    - "Ok. Tenta ficar tranquila e respira."

    Olhei em volta ... e o povo seguia nem aí.

    Pedi para que uma senhora que estava sentada próxima à nós desse lugar para a menina, expliquei que ela não estava se sentindo bem. A menina sentou e eu fiquei de guardiã da mochila. Incrível como as mochilas dos estudantes italianos pesam pra caramba!

    Nesse momento estávamos chegando no ponto onde eu deveria descer. Olhei de novo em volta e apesar de toda aquela movimentação estranha no ônibus, o povo seguia nem aí. Ainda me choca a indiferença das pessoas. Dei tchau para o ponto em  que deveria ter descido e segui viagem com a menina.

    Ela me olhou com uma cara de desespero e disse:

    - "Eu preciso descer no ponto da Manzoni. Tenho que ir pra escola."

    - "Ok. Não se preocupe! Eu desço com você. Não se preocupe com nada, somente respire. Estou cuidando da sua mochila."

    Descemos onde a menina havia dito que precisava descer. Mas óbvio que ela não tinha condições de ir pra escola. A coloquei sentada no chão mesmo, encostada ao lado de um caixa eletrônico. Tirei o casaco da menina (apesar do frio ela seguia suando muito), me sentei junto à ela no chão e perguntei:

    - "O que você quer que eu faça? Você quer ligar pra alguém? Quer que eu chame uma ambulância? Quer que a gente pegue um taxi e vá para o hospital? Eu vou com você."

    Ela disse que preferia ligar para a mãe.

    Fiquei atenta se a menina estava falando coisa com coisa. E sim, ela estava bem consciente. Disse pra mãe que tinha se sentido mal dentro do ônibus, que estava em tal lugar e que havia uma pessoa com ela que a havia ajudado.

    - "A minha mãe vai ligar para meu tio para ele vir me buscar ..."

    - "Tá bom! Fico aqui com você até alguém chegar."

    Ela deu um sorriso tímido, agradeceu e deu um baita de um suspiro.

    Começamos, então, a bater papo. Finalmente nos apresentamos (depois de todo susto), ela disse que se chamava Viola e que morava na mesma cidade que eu. Perguntei se ela já havia sentido isso antes. Ela disse que não e que por isso estava muito assustada. Eu logo pensei numa crise de pânico. Perguntei se ela estava preocupada ou estressada com algo, escola, etc. Ela disse que não.

    Logo o telefone da menina tocou. Pelo visto era o tio, pedindo detalhes de onde ela estava. Disse que levaria alguns minutos para chegar.

    - "Sem problemas. Fico aqui com você o tempo que for. Até alguém chegar."

    Dessa vez ela deu um sorriso mais aparente e agradeceu novamente.

    - "Viola, eu tenho um filho mais ou menos da sua idade. Se isso acontecesse com meu filho, gostaria que alguém estivesse com ele até eu chegar. Falando nisso ... qual escola você estuda?"

    Tentava puxar papo de todas as maneiras possíveis para distrair a menina.

    Foi então que de repente - e não mais que de repente - como numa cena de filme desses malucos, chegam 3 ônibus grandes (desses de turismo) repletos de alunos que iriam para um evento no teatro (que era bem próximo de onde estávamos). Desceram TODOS  e se posicionaram bem onde estávamos sentadas. "Népussível ...",  pensei.

    Tentei esboçar um "oh, galera! Com licença!" mas naquela algazarra que só quem foi em passeio escolar sabe como funciona, não fui sequer ouvida. Levantei, catei uma professora no meio daquele grupo e pedi, por favor, que dessem um pouquinho de espaço. Expliquei o que havia acontecido e que estávamos esperando por alguém que viria buscá-la. No mesmo instante a professora, com a experiência de controle de caos que só os professores tem, conseguiu redirecionar o grupo um pouquinho mais afastado.

    Voltei a sentar no chão com a menina. Ela sorriu, esboçou um "ufa!" e agradeceu novamente.

    - "Ow Viola! Aproveitando que você já sabe que sou mãe, faça o favor de botar esse casaco novamente, porque está muito frio, você já parou de suar e tudo o que não queremos depois deste susto é uma gripe, né?"

    Ela sorriu novamente, colocou o casaco e ficou olhando pra mim. Talvez pensando "ela é doidinha". Desta vez fui eu quem sorriu.

    - "Estou feliz! Você já está bem melhor, recuperou já um pouco de cor. Me assustei com você ..."

    Ela confirmou que se sentia um pouco melhor mas ainda sentia tontura.

    Nesse momento lembrei do meu exame. Vi as ampolas do meu sangue me dando tchau e as gordurinhas de colesterol borbulhando de felicidade. Logo eu que havia planejado uma sexta-feira tranquila estava ali, sentada no chão, com uma menina desconhecida que tinha idade pra ser minha filha, nem aí para as pessoas que passavam e ficavam olhando sem entender e sem perguntar nada. Essa é a Vida ... a gente faz nossos planos mas, no final, quem comanda é ela.

    Algum tempo depois o tio liga perguntando onde ela estava, que ele havia estacionado próximo do teatro (aliás, ao lado da escola do Pequeno).

    - "Diz pra ele ficar ali que levo você até ele.". É muito difícil estacionar naquela zona e o trânsito - sobretudo naquelas horas - era muito intenso.

    Levantei a menina do chão, peguei de volta a mochila (que pesava uns 80kg), parei o trânsito (já que ela não tinha condições de caminhar até o semáforo mais próximo) e logo encontramos o tio da menina. Ele desceu do carro, veio me agradecer. Eu expliquei como havia ocorrido tudo, disse que ela havia ficado pálida, suava muito, sentia tontura e dor de cabeça. Expliquei que havia me oferecido para levá-la até o hospital mas que ela preferiu ligar pra mãe. O senhor agradeceu novamente. Me despedi de Viola:

    - "Tchau! Espero que você melhore logo. Se cuide!"

    Virei a esquina e saí correndo feito uma velocista em final olímpica. Por sorte não era um exame cardíaco e sim um mero exame de sangue.

    Como apesar dos perrengues a Vida sempre conspira para dar tudo certo, não havia ninguém esperando para fazer exame (também quem aguenta fazer jejum até aquela hora?) e acho que em questão de 10 minutos já havia terminado.

    Sentei um pouquinho no corredor da clínica. Desta vez quem precisava respirar era eu ...

    Fui tomar meu café solita, pensando o tempo todo na menina, desejando que ela estivesse melhor.

    Os planos de bater pernas por aí ficaram pra outro dia. Havia tido emoção demais para uma simples manhã de sexta-feira. Melhor voltar pra casa.

    Isso sim: no trajeto de volta, me acomodei num assento bem escondido no ônibus e nem olhei pro lado. Vai que ...

A Fada do Dente.

      Nos encaminhávamos para o final de domingo.

    Havia sido um final de semana relativamente tranquilo, havíamos conseguido organizar (ou dar o primeiro passo para organizarmos) algumas coisas ainda pendentes da casa.

    Estávamos (eu e meu Amore) no quintal, plantando algumas novas plantinhas, limpando e fazendo novos projetos. Com a proximidade da primavera a gente se anima para esses novos planos.

    Fazia pouco tempo que Pequeno havia saído de casa. Pegou a bicicleta e foi para o Oratório (um local da igreja que eles dedicam para diversas atividades, encontros, esportes, colônia de férias, etc) para participar de um campeonato de basquete.

    Você me pergunta: "Ué, Tatiana?! Mas eu nem sabia que Pequeno jogava basquete ..."

    Nem nós. E provavelmente, nem ele.

    Não passaram-se 30 minutos da saída dele de casa. Ainda estava com as mãos cheias de terra do jardim, marido varrendo o quintal, quando recebo uma vídeochamada pelo WhatsApp. Era Pequeno:

    - "Ôoooo mãe! Olha o que aconteceu!"

    No início havia entendido que Pequeno havia levado uma bolada no rosto (e bola de basquete dói pra caramba!). Só fui entender o que realmente havia acontecido quando ele voltou pra casa.

    Pequeno havia quebrado os dois dentes da frente, os superiores, os dentões. Um deles quase totalmente perdido (quebrado) e o outro uns 60% de dano

    Eu entrei em pânico.

    Eu sempre tive trauma com dentes (os meus). Desde muito pequena, sofro indo em dentistas. Meus dentes são frágeis. Além disso - acho que já devo ter contado por aqui alguma vez - não tenho 7 dentes: os 4 sisos (que nunca nasceram - e nunca nascerão, já constatado por oitoscentas mil radiografias). Além deles, não tenho 3 dentes inferiores (não os perdi ou arranquei, simplesmente eles nunca nasceram mesmo. E assim como os sisos, não existem). Um caso raro.

    Tive muitos sonhos com dentes caindo. Quando digo que tenho trauma com dentes não falo de uma maneira exagerada. É trauma mesmo.

    Por isso sempre zelei e cuidei dos dentes do Pequeno quando este compito era somente meu (nosso, no caso do pai dele também). Quando Pequeno passou a ser independente, me transformei naquela  mãe chata que acordava para saber se o menino havia escovado os dentes antes de dormir.

os primeiros dentinhos



o primeiro dente que caiu

o primeiro dentão que caiu

    Torrava a paciência dele falando sobre a importância da higiene bucal, da limpeza, das cáries, etc.


    Fiquei feliz da vida que há alguns meses  quando fomos fazer um controle e exames para que Pequeno colocasse aparelho para alinhar os dentes, a dentista disse que estava tudo ótimo, sem nenhuma cárie.

    - "Que alívio!", pensei.

    Para de repente, num domingo qualquer, o menino voltar pra casa desdentado.

    Eu chorei muito. Chorei a ponto de passar mal. Fiquei desesperada, triste, agoniada. Pode parecer exagero, afinal existe coisa bem pior nessa vida - e sou bem consciente disso - mas também era consciente da trabalheira e cuidado que esse menino vai ter pro resto da sua vida.

    - "Os dois dentões da frente! Não pode ser ...", chorava desesperada dentro de casa enquanto marido tentava me acalmar, mas com cara de desespero também.

    Podia ser sim. Tanto podia que havia acontecido.

    Ele chegou em casa, com o rosto meio assustado, tentando acalmar o que nem ele sabia direito como. Então explicou que havia sido uma cotovelada, logo no início do jogo. Uma coisa sem sentido, sem querer, sem explicação que ele nem sabia direito como havia ocorrido. Tanto que ele nem havia se dado por conta de que estava com os dentes quebrados. Alguém o avisou e só então ele percebeu os dois pedaços de dente no chão.

    Por sorte, teve o intuito de juntá-los. Chegou em casa com os dentes guardados na capa do celular.

    Ligamos imediatamente para a dentista que está seguindo o tratamento ortodôntico dele. Mandamos foto e logo escutamos um "putz!". Nem precisava de uma palavra muito elaborada para gente confirmar o que já sabíamos: deu ruim!

    Mas, segundo ela, dos males o menor. Ainda bem que ele havia juntado os dois pedaços de dente. Pediu que os colocasse num pote com soro fisiológico e deixasse ali até o dia seguinte. Ela tentaria encaixá-lo de alguma maneira na sua agenda e avaliar o que poderia ser feito.

    Preciso ser muito sincera e dizer que não conseguia olhar direito para meu filho. Me causava dor, me causava pena. Ao mesmo tempo me sentia ridícula sabendo que existem problemas bem piores na vida do que dente quebrado. No caso, dentes. Porque com o Pequeno é assim: pra quê quebrar só  um se posso quebrar os dois?

    Uma amiga me ligou para saber o que havia acontecido (o filho dela estava com Pequeno). E então aprendi uma nova palavra em italiano que vou levar comigo para o resto da vida: rogna.

    - "Ufff ... questo è una rogna per tutta la vita ..."

    Existem vários significados para esta expressão. Mas basicamente o que ela quis dizer é que será um aborrecimento, para sempre.

    Marido não dormiu a noite inteira, pesquisando sobre dentes e o que poderia ser feito. Eu fiquei com um aperto no peito achando que teria um piripaque a qualquer momento. Pequeno, pelo visto, dormiu bem. Provavelmente com dor, provavelmente preocupado, mas dormiu.

    Na manhã seguinte, segunda-feira, eu e marido precisávamos resolver umas burocracias em Milão logo cedo. Marido achou melhor que ele não fosse à escola. Primeiro por questão de vergonha mesmo, não era uma cena legal de se ver (para os colegas seria ótimo, teriam risadas garantidas cada vez que Pequeno abrisse a boca) e também porque poderíamos ser chamados no consultório da dentista a qualquer momento.

    Voltei de Milão e Pequeno agradeceu por não ter ido à escola:

    - "Acho que não ia ser muito legal, né ... sair assim ..."

    Almoçamos. Pequeno comeu um creme de cenoura, nem muito quente e nem muito frio para evitar traumas nos dentes. E logo saímos para a consulta. Peguei o potinho com os pedaços de dentes banhados em soro e fomos, com o coração apertado.

    Demorou pra caramba mas a dentista conseguiu colar os pedaços de dentes e remodelar basicamente como eram antes do acidente. Óbvio que não ficou exatamente como eram mas ela fez o que pode. Isso sim: una rogna per tutta la vita.

    Precisa ter muito cuidado com o que come (sobretudo como morde), corre o risco de eles quebrarem novamente, afinal não existe nenhum tipo de cola 100% eficaz. Além disso, precisa fazer controles periódicos para avaliar a saúde do dente. Segundo ela, ainda é cedo para dizer que está tudo ok com as raízes dos dentes, por exemplo. Esse tipo de trauma nos dentes pode evoluir negativamente até mais ou menos um período de dois anos. Basicamente precisamos ter todo o cuidado possível para que o dente "não morra".

    Como boa mãe desesperada, já fico pensando que num futuro ele não terá dinheiro para fazer implante (e nem é exagero, porque os dentistas aqui são caros) e ficará desdentado ... tão bonitinho que era ... coitadinho!

    O tratamento ortodôntico está bloqueado por algum tempo. Até ela ter certeza de que o aparelho não afetará os dentes traumatizados com o acidente. Tratamento, aliás, que já pagamos. Não basta doer no coração, tem que doer no bolso também.

    Já disse pra ele pensar na possibilidade de estudar odontologia ... tem os dentes dele (e os meus) garantidos ...

    Pequeno está tentando se acostumar com a nova sensação que tem na boca.

    - "É estranho! Porque parece que não são meus dentes ..."

    E não são mesmo. Entre um pedaço de dente e outro tem cola e outros tantos materiais diversos que a dentista teve um super trabalho para consertar.

    Veremos quanto tempo dura ... 

    Eu havia pensado que o acidente que ele teve de bicicleta na semana passada (ele quase atropelou a porta de um carro que se abriu de repente, desviou e acabou batendo de cabeça num muro) havia sido o ápice das Pequenice's ...

    ... mas se tem uma coisa que as mães precisam aprender é que os filhos sempre surpreendem. E com o Pequeno, no caso, não existe monotonia.

    Una rogna ... per tutta la vita ...



#Tbt2, senta que lá vem história do passado: O Vestido Branco.

Era mais ou menos julho de 2003. Madri, Espanha.

Espera! Antes de iniciar o #Tbt em si, preciso contextualizar parte da história.

Eu tinha um vestido branco que amava. Mas como todo vestido branco, curto e bem justinho, não  conseguia usá-lo muitas vezes. Na verdade, acho que o usei em duas oportunidades (uma num Ano Novo e outra que não lembro mais).

Eu sou mão-de-vaca desde sempre. Desde que me entendo por gente dou um jeito de reaproveitar tudo. Poderia usar várias desculpas politicamente corretas para essa minha mania. Mas a razão principal é não gastar dinheiro. Pequeno mesmo, quando era pequenino, teve várias calças que viraram bermudas (ou porque rasgou, ou porque cresceu), tip-tops que cortei os pés e viraram calças, pijamas que viraram fantasias ... e por aí vai. O que a gente não doa a gente reaproveita.

Percebi, então,  que apesar de gostar muito do vestido ele não estava tendo tanta utilidade assim pra mim. Ao mesmo tempo, estava precisando de uma blusa branca para sair. 

Aham! Exatamente: cortei o vestido e ganhei uma blusa. Ficou sem fazer a barra mesmo. Nao tenho dotes para estilista mas tenho cara-de-pau suficiente para sair com uma blusa meio desfiada (moda, ué?!).

Pois bem ... Madri, julho de 2003.

Eu e meu Amore estávamos no início do nosso namoro. Naquela fase boa em que a gente se encontrava todo o final de semana para sair por aí, sem muitos planos, sem hora e sem rumo. Jovens, sabe?!

Naquele final de semana havíamos combinado de sairmos na sexta-feira pois ele tinha viagem marcada para a Itália no sábado cedinho. Depois de algum tempo sem rever a família  ele contaria para os pais que estávamos namorando. Naquele tempo não existia Whatsapp. Videochamada então ... era coisa de outro mundo. Ele falava com a família por ligações telefônicas sempre muito rápidas e queria contar a boa nova pessoalmente, com calma.

Combinamos de nos encontrar no terminal de ônibus de Moncloa. Eu morava fora de Madri, em uma cidadezinha chamada Majadahonda (o nome é estranho, mas a cidadezinha é legal). O ponto final do ônibus que costumava pegar era ali em Moncloa (pertinho de onde fica a sede do Governo). Meu Amore me esperaria ali e logo decidiríamos o que faríamos depois.

O look do dia escolhido foi uma calça jeans e meu ex vestido agora blusa branca.

Nos encontramos no terminal de ônibus e decidimos ir a pé em direção à Gran Via. Uma bela de uma caminhada. Perfeito para quem não tinha nada o que fazer, apenas compartilhar da companhia um do outro.

Na parte de cima do terminal de bus, ficava o Quartel Geral da Aeronáutica espanhola. Portanto uma zona que, apesar de bastante transitada, era supostamente bem protegida (segura).

Quando estávamos  bem na frente do prédio  do Cuartel General del Ejército del Aire, passando bem na frente dos soldados que faziam a guarda, enquanto conversava com meu recém estreado namorado, com minha recém estreada blusa (ex vestido),  contando as novidades da semana, avistei um moço  meio estranho, falando sozinho, num estado de aparente embriaguez, vindo em nossa direção.

Em determinado momento o olhar do moço fixou no meu. Em questão de segundos, pouquíssimos segundos, tanto que meu Amore nem se deu por conta e eu não tive a mínima oportunidade de reação, o moço veio pra cima de mim. Falou algo que não entendi, meteu a mão por dentro da minha blusa e agarrou meu peito. 

Naquele momento eu percebi que estava falando espanhol fluentemente. Saiu uma série de palavrões e insultos em espanhol. Palavras que eu nem sabia que já conhecia (eu estava morando na Espanha fazia uns 8 meses).

Meu recém estreado namorado empurrou o cara, o chutou e colocou os braços em posição de ataque, na verdade em posição de luta. Na mesma hora lembrei que no dia seguinte ele iria para a casa dos pais e contaria que estávamos namorando. Já o imaginei chegando todo arranhado, marcado de soco, explicando que havia brigado por minha causa. Não por nada em especial mas aquela cena absurda nem combinava com meu Amore. Apesar do pouco tempo juntos sabia que ele era da paz e dava para perceber nitidamente que talvez ele  nunca tivesse brigado em sua vida.

- "Eles vão me detestar!". Só isso que ficava na minha cabeça. Minha sogra me detestaria, com certeza.

Tudo isso pensava enquanto um chutava o ar de cá, o outro cambaleava de lá.

Olhei para o lado e vi o soldado que estava de guarda assistindo aquela cena ridícula de camarote.  Na hora olhei desesperada  e gritei:

- "Vocês não vão fazer nada?"

Claro que eles não iriam fazer nada. Estavam ali para salvaguardar a área do quartel. Não os malucos que brigavam na rua.

O tarado bêbado  não se aguentava em pé. O insultei mais algumas vezes e logo consegui apartar o namorado que, felizmente, não tinha nenhum arranhão.

Essa história, que hoje conto como um momento 'engraçado', na verdade foi bem constrangedora. Eu fiquei com vergonha, como se a culpa tivesse sido minha, me senti humilhada, suja, vexada, com raiva e responsável por ter colocado meu Amore naquela situação (até mesmo de risco, porque vai saber quem era o maluco e o que havia consumido ...).

2003

Não dá pra ver muito bem mas a blusa (ex vestido) é essa da foto.

A usei pouquíssimas vezes. Traumatizei.



Entre Amor, aparições em mídias locais, ódios, raivas e obras da vizinha.

    Isso que dá ficar algum tempo sem aparecer por aqui. Em uma semana aconteceu tanta coisa que os assuntos - bem distintos - se acumularam.

    Começando pela parte bonita e feliz ...

    14 de Fevereiro é dia de San Valentino, Dia dos Namorados aqui. Descobri que teria um evento num dos prédios emblemáticos da cidade de Milão, o Palazzo Lombardia, sede do Governo Regional.


    Há tempos eu estava querendo visitar o terraço do edifício. De vez em quando eles abrem para visitação em alguns eventos específicos (o último havia sido um dia após a nossa chegada do Brasil. Havia agendado a visita mas por conta do cansaço da viagem cancelei). Depois descobri que em alguns domingos abrem para visitas também, com prévio agendamento.

    Desta vez era um evento especial de Dia dos Namorados. Agendei, então, sem nem perguntar para o marido se ele queria ir. Seria o meu presente (pra mim, não para ele).

    Chegamos alguns minutos antes e esperamos numa pequena fila (fomos o terceiro casal da fila) que logo virou uma fila quilométrica. Uma certa confusãozinha na hora do check-in para entrada no evento, todo um esquema de segurança meio bagunçado e acabamos sendo os primeiros a entrar  (o primeiro casal da fila não havia feito a reserva e o segundo casal, não sei o que houve, mas acabaram ficando pra trás). Subimos no elevador daqueles que sobe super rápido e dá pressão nos ouvidos e logo saímos no salão do Belvedere que estava todo enfeitado com balões de coração.


    Eu gostaria de ter visto o pôr do sol lá de cima (taí a próxima meta para visitar o Belvedere) mas por conta do horário, só vimos uma pontinha avermelhada no céu.

    Mas a vista lá de cima é lindíssima! Ficamos encantados e aproveitamos que o salão ainda não estava cheio para curtir a vista de todos os ângulos possíveis.

    Tiramos uma selfie (com direito a beijinho, afinal era Dia do Amor, não?!). Ao fundo escutei um "oh, que lindo!" mas nem dei bola.

    Seguimos admirando a vista até que, em determinado momento, um grupo com umas 4 pessoas nos abordou.

    - "Oi! Tudo bem? Vimos que vocês tiraram uma foto muito bonita agora a pouco."

    - "Hum ... sim ...."

    - "Vocês poderiam repetir?"

    - "A foto? Tá aqui no celular ..."

    - "Queremos imortalizar aquela imagem. Vocês podem repetir a foto?"

    - "Ok ..."

    - "Uau! Essa foto que queríamos. Podemos usar a imagem de vocês? Podemos usar a foto para o nosso site de notícias da região?"

    - "Hummm ... sim ... podem ..."

    E assim eu e marido viramos capa da reportagem do evento :)

    Bastar clicar aqui para ver a reportagem.

immagine Redazione Lnews, Febbraio 14, 2024 

    Saímos felizes, ganhamos um chocolatinho bom e logo morremos de vergonha com nossos rostos aparecendo por aí. Mais uma história pra guardar na nossa caixinha de bons momentos (e para contar aqui no blog).

    Pronto. Fim da parte boa.

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    Agora iniciamos a parte do ódio ... 

    Não. Meu pobre marido não tem nada que ver com isso.

    Quinta-feira passada estou em casa, toca a campainha. Era o pedreiro da minha vizinha (que está fazendo obra em casa) me avisando que ele havia feito um furo na minha parede do andar de cima da casa.

    - "Oi?"

    - "Sim, fizemos um furo na sua parede. Posso verificar?"

    Subimos e realmente ele havia feito um baita de um buraco (e não furo) na parede do escritório/quarto de visitas.


    - "Como vocês fizeram isso?" - nisso olho pelo buraco e outros dois pedreiros espiavam do lado de lá.

    - "É que esse tijolo não sei o quê e a parede não sei quanto ... e ..."

    - "Moço, olhe bem toda a minha parede, aqui tem pontos elétricos, ali tem o negócio da luz. Vem aqui, aqui no corredor tem a estrutura do gás e aquecimento, aqui tem isso, ali aquilo ... olhe bem. E, por favor, prestem mais atenção."

    -  "Ok, senhora! Me desculpe! Venho amanhã arrumar ... me desculpe!", disse o moço com um sotaque árabe (ainda não decifrei se eles são do Marrocos ou do Egito).

    Sexta-feira alguém de vocês que está lendo veio na minha casa? Pois é ... os pedreiros também não.

    Segunda-feira, de manhã, começa a bateção forte novamente. Foi ficando cada vez mais forte, cada vez mais próximo. Estava arrumando minha cama quando escuto um barulho de parede esfarelando vindo do escritório.

    Só certifiquei o que já estava imaginando: novo dano na minha parede. E desta vez maior e mais grave (e eles seguiam batendo). Rachaduras se formaram.


    Desci as escadas voando (nem lembro como), saí correndo e apertei o interfone da vizinha. No andar de cima, um dos pedreiros apareceu na terraça e outro, do outro lado na janela. Eu, então, nervosa que estava, gritei:

    - "Parem de bater! Vocês abriram minha parede DE NOVO!"

    Um olhou para o outro com cara de "por quê esta doida está berrando?". Então, gritei mais alto ainda:

    - "Parem de bater. Vocês estão estragando minha casa DE NOVO!"

    Os dois se olharam de novo sem entender , nitidamente não entendiam nada de italiano e esboçaram um sorriso.

    Aí, meus amigos! Se você me conhece, sabe que virei o capeta. Em português mesmo gritei um "caralho" (perdão aos corações sensíveis) bem alto e disse "Ah! Mas vocês vão me entender, de qualquer jeito!". Aos berros, no meio da rua, nem aí para se tinha mais gente vendo, gritei:

    - "You are breaking my house!" (o máximo que meu nível de 502 dias de Duolingo permite!)

    A fisionomia deles mudou. Se olharam novamente, desta vez sem sorrisos. Quando olharam pra mim, gritei novamente:

    - "You are destroying my house, CARALHO!" (a parte do "caralho" eles não entenderam, mas todo o resto sim)

    - "Falar chefe, falar chefe!"

    - "E cadê esse raio de chefe?", nessas alturas acho que já saía até espuma da minha boca, de tanto ódio que eu estava.

    - "2, 3 minutos vem."

    - "Liga pra ele"

    - "Ahn?"

    - "Call, call o raio do chefe. Call him ... AGORA. NOW!"

    Nisso aparece na porta a minha vizinha. Uma senhorinha de uns 90 anos, proprietária da casa em reforma,  que não estava entendendo nada e não sabia da missa a metade."

    - "Eles furaram sua casa?"

    - "Sim, desde quinta estão fazendo buracos na minha casa."

    Como num passe de mágica o "chefe" aparece na esquina. Vem bem calmo e tranquilo. Chega perto de mim, sorri e diz:

    - "Ah! Eu tenho que ir aí arrumar o buraco, né?!"

    Meu olho deve de ter arregalado de uma maneira assustadora porque o semblante dele mudou no mesmo instante.

    - "Oi? Arrumar o buraco? Vocês destruíram mais ainda  minha casa."

    - "Hoje? De novo?"

    - "Sim! Inferno! Hoje de novo e pior do que o outro dia!"

    - "Putz ... eu posso ver?"

    - "DEVE!"

    Quando ele chegou no quarto e viu o novo estrago se limitou a dizer "desculpas".

    - "Desculpa? Desculpa o caramba! O de quinta-feira tudo bem. Não deve de acontecer mas ok, pode acontecer. Quinta-feira o senhor mesmo me explicou como eram feitas as paredes. Pois se sabia que a parede era uma bosta, por que não fizeram mais atenção? Por quê?"

    - "Eh ... desculpe!"

    - "Eu não quero desculpa! Eu quero isso arrumado. Vocês não tem direito de fazer isso na MINHA CASA. Que espécie de profissionais vocês são? Falta de respeito! Eu comprei essa casa há um ano, fiz reforma e não danifiquei nenhuma casa."

    - "Mas a senhora não fez reformas nas paredes  e ..."

    Aí virei capeta ao quadrado com a resposta desaforada do homem que, detalhe, deve de ter uns 2 metros de altura. 

Só não subi no pescoço dele porque não alcancei ...

    - "Mas quem  é o senhor? O senhor que sabe o que fiz ou deixei de fazer na minha casa? Não abri parede? Se na cantina tive que abrir até a metade da parede pra botar manta osmótica? O senhor sabe o que é isso? Que tipo de trabalho é?"

    - "Eh ... desculpe senhora" Vou mandar o menino aqui arrumar agora."

    - "Não vai, não. Primeiro tem que ver o grau de estrago que vocês fizeram ... ou pensa que é só vir passar um cimento e deu? E não quero ninguém hoje aqui na minha casa. Venham amanhã que meu marido vai estar trabalhando desde casa."

    - "Desculpe, senhora."

    O homem foi embora. Eu fiquei limpando os resquícios de espuma de ódio que saíram da minha boca.

    Uma meia hora depois ... bateção de novo.

    E sim. Fizeram mais estrago.



    Desta vez quem bateu na parede fui eu, feito uma doida  e comecei a gritar:

    - "Parem de bater, CARALHO!"

    Acho que desta vez entederam o "caralho" e pararam de bater.

    Com a finalidade de não matar ninguém (porque minha vontade era essa), saí pra pegar um ar e encontrei o vizinho que, digamos, é o presidente do condominio, que estava bem tranquilo fumando seu cigarrinho.

    - "Oi! Bom Dia! Posso lhe pedir um conselho, uma ajuda, porque senão vou matar uns 4 ou 5."

    O senhor, com cara preocupada, me pergunta:

    - "O que houve?"

    Expliquei pra ele o ocorrido, me deu algumas indicações do que fazer, como atuar, me explicou que o condominio tem seguro pra isso, que ficasse tranquila (e não matasse ninguém ... pra isso o condomínio não tinha seguro).

    Eu  fiz tanto escândalo que no mesmo dia o Administrador do condomínio veio aqui em casa e no dia seguinte a engenheira da obra veio ver o estrago. À tarde iniciaram os reparos e à noite até o filho da senhorinha veio aqui também.

    Acho que fizeram questão de vir conhecer a doida escandalosa que bate boca com os árabes, solta fogo pelos olhos e espuma pela boca.

    Dizem que do amor ao ódio é um pulinho ... no meu caso  foi questão de dias ...




O Tempo que Passa.

    Ah, a idade!

    Quanta coisa o tempo que passa, os anos que passam, trazem consigo?

    Chega um momento da vida, com a idade, que a gente começa a pensar em coisas que antes nem passavam pelos nossos planos. Ao menos em planos como os meus de outrora.

    A gente começa a pensar em ter um cantinho onde cair morto vivo. Aonde a gente vai ficar quando nossas pernas não conseguirem mais caminhar tanto quanto desejávamos? Quando as minhas costas não conseguirem mais suportar o peso das minhas mochilas das viagens que eu tanto sonho e planejo em fazer? Aonde eu vou ficar? Pra onde eu vou precisar ir? Onde eu vou terminar? Questionamentos que nunca passavam pela minha  cabeça e que agora causam insônia.

    Aquele futuro de aventuras tão desejado passa a ser visto com mais cautela. Eu quero e ainda desejo vivê-las ... mas também preciso pensar num plano B, C ou D se necessário. Já precisei deixar planos para trás e traçar novos rumos. Aliás, quem nunca?

    Então a gente começa a pensar em coisas do tipo: hipoteca de casa, seguro de casa ... aliás, falando em seguro ... de repente a gente se pega pensando em seguro de vida ...

    A gente passa a pensar em previdência privada. Pensar na aposentadoria dá medo principalmente porque nunca havia pensado e muito menos planejado a economia da minha velhice.

    Eu tenho bastante medo da minha  velhice, sendo muito sincera. Eu não terei aposentadoria. O que vai ser da minha vida? Nos últimos anos me dediquei ao maior trabalho que poderia ter: educar da melhor forma possível um ser humano. Nossas escolhas por uma vida meio nômade fez com que redobrasse minhas responsabilidades com o Pequeno Nicola, não sabíamos o quanto todas as nossas mudanças o afetariam. Quis ver de perto como ele vivenciaria cada momento, cada novo país, cada nova língua.  Um trabalho árduo onde, até o momento, exerci com empenho, dedicação e responsabilidade. Uma pena que financeiramente não me rendeu nada. Por conta disso os frutos que hoje colho são bons, prósperos ... são outros.

    E se eu não tiver um cantinho onde cair viva? E se eu não tiver condições de pagar a minha hipoteca? Eu serei uma velhinha que terá que trabalhar. E quem dá trabalho para velhinhos? 

    Depois de uma certa idade a gente se arrepende do trabalho sem carteira assinada. Dá raiva pelos anos 'perdidos'. E desespero, porque o tempo não volta mais. 5 anos quando se tem 20 anos de idade não são nada. 5 anos para contar como tempo para aposentadoria são uma eternidade.

    Tudo isso tem  me causado medo, tem me causado preocupação, angústia e privação  de sono. Às vezes sinto o corpo cansado, os olhos pesando, vou pra cama, viro pro lado e o cérebro começa a me lembrar de coisas que só me causam angústia ... quando vou ver já são 3 da manhã e eu estou ali, virando pra lá e pra cá, com dor no estômago e o coração palpitando. Não! Não é exagero! 

    Os anos que passam e me pego cada vez mais reflexiva.

    Óbvio que nem tudo é negativo. Ao mesmo tempo, com a idade, a gente vai adquirindo certas coisas que até ontem não se achava capaz. Por exemplo, a gente aprende a ser mais paciente. Inclusive as pessoas que como eu, paciência não tem muita.

    A gente consegue ser mais tolerante. Com a idade chega a maturidade, finalmente!  A gente começa a saber distinguir o que vale à pena e o que não. A gente passa a entender melhor aquela história de por que temos somente uma boca e dois olhos? Sim. A gente aprende que é porque temos que observar mais e falar menos. Pessoas impulsivas como eu sofrem pra caramba ... mas tudo isso com a idade a gente vai aprendendo. A minha essência segue sendo a mesma explosiva de sempre. Mas, acredite, deixei de ser uma bomba relógio descontrolada e passei a ser, no máximo, aquelas bombinhas de festa de São João, que a gente joga no chão e às vezes nem estoura.

    A gente também aprende que existe realmente a finitude. Com a idade a gente vai vendo pessoas que a gente ama partindo. Inclusive a gente percebe e se dá conta de que partiremos também.

    Vamos  perdendo um pouco de si: os cabelos vão ficando brancos, o rosto vai mudando, uma ruga aqui outra  ruga ali. Algumas a gente acha até um charme mas a maioria delas não são nada desejadas.

    Logo  começamos a entender que mais vale um corpo saudável do que bonito. Com a idade a gente começa a se preocupar que precisa malhar, fazer exercício (qualquer que seja!), que precisa comer saudável, beber muita água ... pra sobreviver, pra durar mais tempo, afinal o tempo está passando mas a gente ainda segue cheio de planos.

    Quanto a isso não perco meu sono. Olho no espelho e gosto do que vejo. A maioria das minhas rugas são por sorrir, misturadas com manchas no rosto do sol do Rio de Janeiro (só com o tempo a gente se dá conta do quão necessário é o protetor solar), cabelos brancos os tenho desde muito jovem. O corpo não está em forma mas isso também não me importa. Pra ser bem sincera tem um par de rugas que abomino mas inclusive elas fazem parte da minha história. Tá aí! Acho que esse é o segredo: se olhar, se enxergar e se reconhecer.

    Ah, a idade!

    Falando em enxergar ... a gente passa a enxergar menos, depende de óculos pra ler as letras pequenas. Aparecem dores pelo corpo que antes não existiam e começamos a fazer exames que a gente até ontem nunca tinha ouvido falar. A gente começa a esquecer coisas, troca palavras e se fala mais de uma língua, como é o meu caso, começa a misturar palavras numa miscelânea que forma uma nova versão do  Esperanto.

    Vejo meu filho adolescente tão estressado, priorizando coisas sem importância e relativizando coisas que são e serão importantes. Ah, senhor! Ele acha que a maior das chatices é o pai e/ou a mãe dizendo pra ele dar atenção ao estudos, perguntando se tem roupas ou precisa comprar algo (sim, isso é o tipo de coisa que estressa meu filho).

    Olho para ele, dou uma risadinha de canto de boca e penso: "Ai, paciência! Tempo ao tempo ..."

    Logo me dou conta que na idade dele era mais ou menos assim. O tempo ... somente ele.

    Eu não sei se a minha idade vai permitir com que eu, no futuro, veja meu filho nesta etapa que estou vivendo agora.

    Mas, caso isso não aconteça, ficarão as palavras. Afinal, algum sentido tem que existir para esse outro trabalho que também exerço há 16 anos aqui no blog. (Que também não me rende frutos financeiros - serei uma velhinha blogger não aposentada) - [tom de leitura irônico, por favor].

    Apesar de ter escrito tantos parágrafos, me delongo sempre (uma coisa que o tempo ainda não me trouxe: o poder de ser sucinta),   tenho somente  uma coisa para dizer:

    Nada pior mas também nada melhor do que a idade ...  do tempo que passa e traz consigo tantas coisas e leva tantas outras ... 

    A seletividade da maturidade é algo bem interessante.

    Ah, o tempo que passa!

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Tenho uma novidade: hoje iniciamos uma nova etapa aqui no blog. Você  pode ouvir a postagem de hoje lá no Spotify. Basta clicar aqui.

#TBT3, senta que lá vem história: uma sexta-feira qualquer.

    Esse #TBT é bem recente. Aconteceu há algumas semanas atrás.      Havia tido uma semana agitada. Cheia de coisas por fazer/resolver: aqu...