Eles já no inverno. Eu ainda no outono.
O dia amanheceu enigmático ... e cinza. Bem cinza. Na verdade, se tivesse que colocar nome na paleta de cor seria tom 'cinza tristeza'. Era aquele céu nublado, mas não nublado de chuva, nublado de feio e de frio que resolveu aparecer de repente fazendo com que todo mundo tirasse os casacos dos armários. Todo mundo, menos eu.
Precisava criar coragem para sair pra rua. Mais do que coragem, ânimo. Amanhã viajaremos para a casa da sogra e tinha muitos pequenos detalhes para organizar. Inclusive a mala.
Busquei no meu reduzido armário (resquícios do desapego em função da mudança - e isso não é uma reclamação!) e não encontrei nada que me agradasse. Ainda não fiz a reorganização típica de troca de estação. No final, já com pressa, acabei colocando o primeiro que encontrei pela frente. "Tô nem aí!", pensei. Troquei de sapato umas três vezes. Peguei a bolsa, fechei a porta e saí.
Na rua tudo seguia cinza, inclusive o ânimo das pessoas. Não teve alteração no tom: seguia tudo cinza tristeza.
Em pleno centro de Monza (que está a dois passos da minha casa) me senti totalmente fora de lugar. Todo mundo cabisbaixo, semblante sério, enrolados em casacos pesados de tom escuro. E eu ali, com meu casaquinho fininho branco com estampa de passarinho. Todos já no inverno. Eu ainda no outono.
Me senti um peixe fora d'água. Primeiro porque todo mundo estava super bem arrumado (as pessoas aqui são elegantes) e eu havia vestido o primeiro que encontrei no armário. Segundo porque dias cinzas não combinam com meu estado de ânimo. Terceiro porque, mesmo que quisesse, não teria como sair enrolada num casaco de acordo com a estação.
- "Preciso comprar um casaco!", pensei em voz alta. E se alguém ouviu, nem importa. Não devem de ter entendido mesmo.
Cheguei no centro de estética (aquele mesmo onde queimei o rosto). A proprietária estava lá, elegantérrima com seu casaco de pele (fake, espero). Logo apareceu a menina que sempre me depila. Já quase fizemos amizade. Enquanto me depilava, puxou papo e me contou que havia tido um pesadelo terrível: o namorido a havia abandonado por outra. Ficou tão agoniada que acordou chorando e o pobre do moço teve que consolá-la, quase sem entender nada.
- "Ai, ai, ai! O que essa cabecinha andou pensando?", perguntei em tom de brincadeira.
- "Sei lá! Ando desanimada. Mas acho que é por conta do clima, esse tempo feio ...".
Bingo! Ela já estava no inverno. E eu seguia no outono.
Saí de lá mais leve, com as sobrancelhas bem feitas e sem bigode. Tinha até esquecido que lá fora tudo seguia cinza ... tristeza. Tinha coisas ainda por fazer mas, quer saber ... vou comprar um casaco. Fui em três lojas diferentes. Perambulei por vários andares e, nada. Apesar de várias opções e estilos de casacos, não encontrei nenhum que gostasse. Talvez porque ainda seguisse no outono.
Eu só sabia que queria comprar um casaco preto. Mais que nada, pra combinar com o panorama e não me sentir de novo um peixe fora d'água. Mentira: é porque logo que cheguei aqui comprei um casaco amarelo que achei o máximo mas que logo enjoei. E o danado não combina com muita coisa. Preto combina com quase tudo.
Achei um modelo que nem era o que estava procurando mas que no final me convenceu. Nada especial, simples, como eu gosto.
No provador ao lado uma moça que também estava provando algo falava no telefone. Mesmo sem querer acabei ouvindo a conversa. Na verdade não entendi muita coisa. Só entendi quando ela disse: "Também! Esse tempo nojento!". Lá estava ela no inverno. E eu quase saindo do outono.
Paguei o casaco e saí pela rua feliz da vida. Deu vontade de parar no meio da praça e dizer: "Aqui ó! Também tenho casaco preto!". Mas não dava tempo. Tinha que voltar pra casa, para arrumar a bagunça, fazer almoço, organizar mala.
As pessoas seguiam carrancudas. O céu seguia cinza tristeza.
Olhei para cada passarinho do meu casaco e fui me despedindo deles. Tão bonitinhos que são! E agora a gente só vai se reencontrar daqui a alguns meses. Só de pensar bateu uma tristeza, quase combinando com o tom do céu.
Cheguei em casa e senti a sensação boa do quentinho dos aquecedores. Lá fora já fazia frio. Abrir a porta e sentir o calor do aconchego de casa deu até um alívio. O aquecimento aqui do prédio é centralizado e já foi ligado há umas duas semanas.
Eles no inverno. E eu bem nostálgica querendo logo a primavera.
Eu tô só pelo inverno! Aqui tá começando o calor do verão... deuzulivre! Hauahauahauahau... aproveita essa friaca maravilhosa aí por mim!
ResponderExcluirBeijossssss!!! 😘