Sobre largar de mão, sobre copos sempre cheios e filosofias de vida.

Opa! Peraí! Deixa eu tirar essa teia de aranha daqui. Pronto. Não. Peraí de novo! Limpando a poeirinha daqui de cima. Ah! Agora foi: pronto.

Sou totalmente consciente do tempo que andei desaparecida. E não vou inventar nenhuma desculpa: foi falta de motivação mesmo. Zero vontade para sentar e escrever por aqui. E não foi falta de assunto, falta de história, falta do que compartilhar.

Acho que simplesmente cansei do monotema: ainda hoje, mesmo já tendo saído da reclusão total, podendo andar por aí (embora ainda sigamos com muitas restrições), tenho tentado evitar ao máximo falar, ler, escutar algo a respeito do tema coronavirus. Negação total, eu sei. E também sei que ela em excesso, como todos os excessos, não faz bem.

Talvez por isso tenha andado bastante irritada, sem paciência (acredite: isso é possível), quase como um ouriço quando é incomodado. Isso não significa que esteja excomungando meio mundo (na verdade, só o Pequeno, eu acho ... e não reconheço isso com orgulho). Para ser bem sincera, essa "falta de paciência meio estranha" tem até me assustado mais do que as outras porque ela é diferente. Eu simplesmente 'largo de mão' (como se diz no meu bom e velho gauchês). Eu simplesmente mentalizo tudo o que incomoda, mas não exteriorizo. Talvez seja um atalho para infartar daqui a pouco (toc toc toc! Bati três vezes na madeira.) ... ou não. Na verdade fico até mais leve. Porque simplesmente ... não me importa. Respiro fundo, conto até dez ou vinte, se for necessário ... e pronto. Viu que não vale a pena?

Talvez tenha despertado uma partezinha egoísta que estivesse adormecida. Não vou me excusar dizendo que ela nunca existiu. Porque se ela existe agora, nesse momento, é porque ela sempre esteve aqui. E não falo isso como uma queixa, reclamação ou como algo negativo. Pelo contrário, me sinto bem mais aliviada, leve e em paz. 

Vai ver  aprendi a separar muito bem o que é importante e o que não. Dar a verdadeira importância para as coisas: o que posso mudar, o que depende realmente de mim, por mínima que seja minha participação, acarretará todo o esforço que consiga fazer, de verdade. Mas o que não depende de mim, o que eu não consiga mudar, o que me deixe com uma sensação de perda de tempo, sinceramente, 'larguei de mão'.

E todos esses 6 parágrafos escritos até agora não são de reclamação. Como disse, tenho nutrido um sentimento profundo de paz. Não é alienação, simplesmente tenho escolhido não sofrer. Aliás, quem me conhece sabe que sempre tive fama de chorona. Pois lamento contar pra vocês que chorar, chorar mesmo nestes últimos meses, foi quase nada.

Eu não sei se fiquei insensível. Isso somente o tempo poderá dizer. Prefiro acreditar que seja, simplesmente, maturidade. Acho que escolhi sofrer menos. Ou, talvez, tenha percebido que mesmo dentro da angústia e da tristeza, existem momentos positivos, de descoberta, de oportunidades únicas e até mesmo de felicidade. Peraí que mais adiante profundizarei sobre isso.

Quanto aos meus Nicola's, vão muito bem. Obrigada!

Nicola Sênior segue trabalhando desde casa (e eu tenho amado isso). Além da companhia (apesar de não ser a companhia total que desejava, porque o coitado trabalha pra caramba), tenho um marido que adora cozinhar quando está estressado. Pra ajudar, ainda cozinha bem o danado. Ruim? Nada. Eu amo os estresses dele! Assim me livro da cozinha, que não é meu lugar favorito da casa. Tá aí um primeiro exemplo de coisas positivas acontecendo junto com as negativas :) 

Pequeno? Está ótimo também. Ontem foi o último dia de aula. Cumpriram o calendário escolar programado no início do ano letivo e entrou oficialmente de férias. Isso sim, com deveres de férias por fazer (sim, aqui eles tem deveres para fazer nas férias, os chamados 'compiti delle vacanze' - sinceramente acho uma baita - olha o gauchês aí de novo - de uma sacanagem!). No final de junho vai fazer um intensivão de teatro (era para ter começado seu tão sonhado curso de teatro em março) e está super ansioso. Ganhou uma bicicleta mas, tadinho, desde que a compramos só chove.

Pequeno está um rapazinho lindo (modéstia à parte!), cresceu pra caramba (as roupas pra doação que o digam) e tem um charme especial todo dele. Tem nos bombardeado com perguntas profundas, algumas até nos deixam sem reposta. Outras nos deixam sem fôlego (por exemplo, quando perguntou se sabíamos o exato momento da concepção dele - os abstenho da minha resposta porque, com certeza, não é a esperada ... ). 

Pequeno está refletindo muito sobre essa experiência de vida, dele e nossa. E eu acho isso o máximo. Significa que ele não está inerte ao que vem acontecendo ao seu redor.

Dia desses veio puxar papo dizendo que 2020 será o pior ano das nossas vidas. Tentei fazê-lo ver a situação desde uma outra perspectiva. Eu gosto de proporcioná-lo outros pontos de vista e logo debater com ele sobre. 

Disse que  não acho que seja o pior ano das nossas vidas. Primeiro,  2020 ainda não acabou. Segundo, porque apesar de tudo de ruim que aconteceu, havíamos tido possibilidades únicas de vivenciar coisas que, talvez, sem essa pandemia, jamais tivéssemos tido a oportunidade.

- "Tipo?", me perguntou ele meio desafiante.

- "Tipo termos tido a oportunidade de convivermos durante mais de 3 meses, 24 horas por dia juntos. Foi (e ainda está sendo) maravilhoso poder passar todo esse tempo juntos."

Tentei fazê-lo compreender que, pra muitas pessoas, esse momento de convivência familiar intensa, talvez não tenha sido tão bom assim. Famílias que brigam, mães/pais/filhos que não se respeitam, conflitos, angústias. E no nosso caso foi totalmente o contrário. Saímos mais fortalecidos ainda como família. Pra mim, isso foi uma coisa positiva, mesmo vivendo um momento difícil.

- "É. Me fala outra coisa positiva?", perguntou novamente, quase com a certeza de que me deixaria muda.

- "Saímos fisicamente ilesos. Nós e nossas famílias (e rezo diariamente para que siga assim!). Não podemos reclamar do quão abençoados fomos e somos. Quantas coisas tristes vimos por aqui. Tanta gente que não teve o direito nem de dar o último adeus ao seu caro. Tanta gente que perdeu muita gente em pouco espaço de tempo. Isso sim é triste."

- "Verdade."

E quando eu achei que já não teriam mais perguntas, porque o silêncio foi ficando intenso (coisa bem difícil para Pequeno), ele me perguntou:

- "Então qual foi o pior ano da tua vida?"

Respondi que não havia tido ainda  (toc toc toc - de novo!) um pior ano na minha vida. Porque mesmo tendo acontecido coisas ruins em muitos deles, também havia vivido coisas boas e felizes nesse mesmo ano. E que, no final, o balanço real, somente nós mesmos deveríamos fazer, de acordo com nossos sentimentos. 

- "Talvez o pior ano da nossa vida poderia ter sido 2007 quando o nonno faleceu (ontem fez 13 anos da sua partida). Mas olha como a Vida é interessante: 3 meses depois tu nasceu, e foi o melhor momento das nossas vidas. Nós sofremos mas também fomos muito felizes neste ano. Nessa vida ser ou não ser feliz está em nossas mãos. Sabe aquela história do copo vazio ou do copo cheio? Pois eu escolho vê-lo sempre cheio. Nós sempre vamos viver momentos de felicidade e alegria ... e momentos de angústia e tristeza. A gente escolhe qual o que a gente quer que permaneça. 2013 também foi um ano difícil: a vó precisou fazer a cirurgia do coração e logo o vô foi diagnosticado com câncer. Mas felizmente a vó se recuperou e o vô foi se recuperando também. E aí a gente passou da angústia ao agradecimento. Da sensação de tristeza à sensação de felicidade."

- "Nossa, mãe! Agora foi muito profundo isso que tu disse", respondeu Pequeno que ficou me olhando dentro dos olhos durante alguns segundos.

Ele não perguntou mais nada. Eu fiquei bem quietinha refletindo. Foi um ano bem complicado pra ele. Do nada teve a vida interrompida. Deixou de frequentar a escola diariamente, de ter o contato com os colegas, seu pequeno e restrito círculo de amizade que ele ainda tenta conquistar depois de  pouco mais de um ano morando aqui. Deixou de ter os encontros de sextas-feiras no oratório. A primeira viagem sozinho com os colegas do oratório também não aconteceu (em maio iriam para Assis). A tão esperada viagem para o Brasil também não ocorreu. O tão sonhado curso de teatro também ficou em pause. Ficou meses vendo a vida passar pela janela. Chorou quando levaram nossa vizinha. Ficou agoniado com as notícias da TV e hoje, quando ainda seguimos juntando as folhas depois da tempestade, o simples fato de chegar no parque e encontrá-lo cheio de gente, lhe causa um certo medo e desconforto. Logo ele que é o menino mais sociável do mundo ...

Pois é. É exatamente isso, meu filho. A vida vai ser sempre assim, com ou sem pandemia: vai ser sempre cheia de altos e baixos. De dias lindos de sol e dias de chuvas e trovões. Dias de felicidade e dias de tristeza. Dias de sorrisos de doer a barriga e dias de lágrimas que deixam os olhos inchados. Dias de alívio e dias de preocupação. Dias de frio no estômago e dias de dor no estômago.

Lembra sempre do copo meio cheio. E não esquece que a direção da tua vida está em tuas mãos.

Eu desejarei  que escolhas sempre o caminho da felicidade. Ele não é fácil, mas é vital.



8 comentários:

  1. Ai, ai... peraí que caiu um cisco aqui no meu olho... vou ali rapidinho terminar de encher meu copo! :) Bom que voltou a escrever, estava fazendo falta! ;) Beijo

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  2. Isso aí: copos sempre cheios, literalmente :)
    A saudade me fez voltar ;)
    Bjinhos e obrigada pelo carinho.

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  3. Os copos não se enchem sozinhos. E vaca não dá leite. Forza! Andiamo!

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    1. E a Terra é redonda :)
      "È meglio accendere una piccola candela che maledire l’oscurità."
      E nessa 'confusão confusa', cito Confucio :)

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  4. estava com saudades deste espaço. E o reencontro não poderia ser melhor!
    Bela reflexão sobre a vida e seus ciclos eternos. Como comentei numa postagem anterior, estamos amadurecendo de uma maneira que, certamente, não gostaríamos de experimentar. Mas é o que se apresenta! Então, vamos enfrentar.
    Que bom que temos nossa família e nossos amigos! Se com eles já não está fácil enfrentar esses momentos, imagina ... (melhor nem imaginar).
    É lógico que respeito teus momentos, mas procura não se afastar muito sete espaço. Ele é um ponto de apoio para nós, sejam tuas postagens pitorescas, engraçadas, filosóficas, reflexivas ou simplesmente para desabafar.
    Amo vocês. Cuidem-se!
    Beijos. Fiquem com Deus.

    Tio Beto_60

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    1. Tio Beto, obrigada pelo carinho de sempre! Comentários como os que recebi aqui me motivam à seguir perseverante nesse projeto que se chama blog.
      Compartilho contigo um momento: Meu Pequeno leu o post. Veio e disse: "Mãe! Acabei de ler o blog". Me deu um abraço apertado, daqueles de olhinho fechado e bem demorado. Não imaginas a sensação tão boa que senti.
      Prometo não ficar mais tanto tempo assim ausente. Porque tenho história pra caramba pra contar :)
      Bjos para vcs! Sigam atentos. Cuidem-se.
      Amo vcs!

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  5. sete = deste (corretor ou idade?) ;)

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