Le Piccole Vacanze Parte 1 - Capistrello e Florença.

Talvez "férias" possa até parecer um exagero, mas tivemos alguns dias de descanso e passeios. Parecia até uma miragem, um sonho: visitar a nonna e passear um pouquinho por aí depois de tanto tempo.

Nossas férias mesmo, de verdade, teriam acontecido em abril. Desde então, quando imaginávamos algum passeio ou 'o que faríamos quando pudéssemos viajar', impossibilitados de ir finalmente ao Brasil, a primeira coisa que vinha em mente era ver a nonna, vó do Pequeno, mãe do meu marido. Da última vez que a vimos foi final de fevereiro. Tivemos que sair às pressas da sua casa, assustados e angustiados pensando se poderíamos chegar em casa (foi quando começaram a isolar e fechar algumas cidades aqui da Lombardia). Nos despedimos rapidamente. Talvez, se imaginássemos que demoraríamos tanto para reencontrá-la, nossos abraços teriam sido mais demorados.

Não tínhamos intenção de viajar para outro país. Na verdade, ainda temos uma pitadinha de esperança de ir para o Brasil em dezembro, embora cada dia que passe a gente veja dezembro mais próximo e com a situação ainda caótica, a possibilidade de viagem vai diminuindo. Mas, enfim ... precisávamos todos de um relax, desconectar da casa (embora ela tenha sido nosso melhor refúgio nesses últimos tempos). Precisávamos voltar a arrumar malas, colocar o pé na estrada. Fazer o que mais gostamos: sair por aí.

Independentemente de qual seria nosso destino, havíamos estabelecido que nossa primeira parada seria em Capistrello. As coisas por aqui seguem meio estranhas, embora muita gente pense que "sorte a nossa que aqui ja tá tudo normal" - as coisas não são bem assim e mais adiante falo sobre isso - nosso principal medo era a possibilidade de contagiar a nonna. Essa preocupação, receio, medo (chame como quiser) ainda persiste. Então, melhor chegar direto na casa dela do que passar lá depois de ter viajado por aí.

Decidida essa primeira estratégia, tínhamos que pensar, então, qual roteiro poderíamos adaptar tendo em conta os quilômetros e o tempo que tínhamos disponível.

Daqui de onde moramos (norte da Itália)  até a porta da casa da nonna (centro da Itália), tendo sorte e não pegando muito trânsito (coisa bastante improvável), são umas 7 horas de viagem. Pra gente não é longe (pra quem já fez Rio de Janeiro x POA algumas vezes é fichinha), mas também não é perto. Ainda mais quando não se tem intenção de fazer muitas paradas. Fizemos uma única paradinha para um xixizinho e um café (não nessa ordem) e munidos de muito álcool e máscaras (nossas companheiras indispensáveis) fizemos uma viagem até tranquila e chegamos na casa da nonna ainda em tempo de jantar.

Foi bem estranho chegar e não abraçá-la, beijá-la, poder matar toda a saudade e a preocupação desses últimos meses com um apertão bem dado. Estávamos meio receosos ... abraçamos ou não abraçamos? Ela também ficou meio assim, sem saber o que fazer ... nos abraçamos visualmente, aquela coisa estranha de ficar acenando, sacudindo a mão em movimentos rápidos pra lá e pra cá, o olho dizendo "quero te abraçar" e um sorriso que a gente se esforça ao máximo pra dar, já que ele precisa também ser visual uma vez que estamos de máscara. Pequeno até correu pra dar um abraço mas ela, seguindo todas as recomendações, achou melhor não.

Outro hábito que também mudou: desde sempre Pequeno dormia com ela na cama. Se adonou do 'lado que era do nonno' e ali sempre foi seu quarto. Quantas e quantas noites eu e marido íamos dormir e escutávamos os dois batendo papo, enquanto a tv ficava ligada num canal qualquer. Desta vez, achamos melhor que ele dormisse no outro quarto, que sempre esteve disponível pra ele mas que nunca o usou.

A primeira noite foi estranha. Principalmente porque ali no quarto tem um retrato daqueles antigos, tipo pintura, dos avós paternos do meu marido. Segundo Pequeno, o rosto da bisavó dele dava um pouquinho de medo, porque parecia que 'ela estava sempre olhando pra ele'. Para distrair, pegou alguns livros do tio que estavam ali, algumas enciclopédias (ele custou a acreditar quando disse que aquilo era o Google de quando eramos pequenos) e logo, dormiu.

Capistrello

Foram 4 dias somente com a nonna. Aproveitamos bastante, principalmente porque quase não saímos de casa. Bem, Pequeno fez algumas expedições pela cidade junto com o primo.

Então, seguimos para nosso próximo destino. Ah! Nos despedimos com beijos e dessa vez, teve abraço entre ela e Pequeno. Tem coisas que não dá para aguentar.

Pequeno tinha um sonho por realizar: voltar a Florença. Da última vez que fomos ele tinha menos de 2 anos. 

Pequeno em Florença, maio de 2009

Não lembrava de quase nada e desde que voltou a estudar aqui na Itália, a paixão por arte floresceu. Tanto lugar pra ir visitar e o menino queria ir pro Uffizi ver os quadros do Caravaggio ... felizmente puxou ao pai!

Antes mesmo de decidirmos onde ficaríamos hospedados  já havíamos reservado as entradas do Uffizi. Devido à pandemia, basicamente é necessário reservar tudo (entrada de museu, com horário marcado, o que visitar, onde comer, principalmente nesses locais mais turísticos) ou se corre o risco de não conseguir conhecer/fazer/ver tudo o que se deseja.

Marido organizou onde dormiríamos. Ficamos em San Gimignano. Também já conhecíamos (ficamos ali perto daquela última vez que fomos quando Pequeno ainda era pequeno). A cidade é encantadora e o local onde ficamos tinha uma vista privilegiada em meio aos vinhedos e oliveiras. Sinceramente, não precisava nem fazer mais nada, só ficar sentadinha apreciando a vista já bastava.


Sendo bem sincera, estava com zero vontade de voltar a Florença. Já havia ido algumas vezes e com tão pouco tempo para aproveitar, gostaria de ter visitado um lugar na Toscana que ainda não conhecesse. Mas ... melhor aproveitar agora que a cidade não teria tantos turistas para o Pequeno realizar o sonho de uma vez.

Ele ficou encantado. Tanto em San Gimignano quanto em Florença seus olhinhos brilhavam, como se fosse a primeira vez que estivesse ali. E, segundo ele, como das outras vezes ele não lembrava, essa havia sido a primeira.


Duas coisas me chamaram a atençâo:

1) o lado consumista que ele tem: por onde passava queria comprar um souvenir. Torrou tanto a nossa paciência com isso em San Gimignano que, enquanto eu e o pai dele ficamos sentados num bar aperitivando (somos desses!), ele foi até uma loja e comprou o souvenir mais ... digamos, estranho ... que uma crianç ... ops ... pré-aborrecente poderia comprar.

- "Esse treco não vai ficar na minha sala ...", falei meio incrédula.

- "Mas eu comprei pro meu quarto!", disse ele.

2) em todo momento o menino dizia:

- "Vou voltar aqui pra trazer meus filhos."

E não adiantou que insistisse em dizer:

- "Que filhos, o quê?! Pode vir daqui a pouco, daqui alguns anos, vem estudar aqui ..."

- "Sim. Sim. Eu posso vir antes. Mas também quero trazer meus filhos aqui."

E ele sempre fala no plural ... 



A visita ao Uffizi foi a realização de um sonho, de verdade. Bastava ver no rosto dele o encantamento e a risada de satisfação que ele deu logo que entrou. Super motivado contava as histórias de algumas obras que ele havia estudado na escola. Meus meninos exploraram muito mais o museu do que eu. O calor estava de matar, zero ar condicionado e a máscara o tempo todo. Ainda bem que nos enormes corredores da Galeria existem bancos próximos às janelas. Mas devo confessar que, embora minha paixão por arte seja bem relativa, fiquei encantada com alguns quadros.





O passeio em Florença foi vapt-vupt. Pouco tempo e muito calor (que calor!). 

Ainda ficou pendente refazer o quadro com o Marcello.

Você não sabe quem é Marcello? Ahhhhhhhhhhhh ... então simbora      clicar ---> aqui para entender de quem  estou falando.

Procuramos o Marcello, mas não o encontramos. Vivo ele está, perguntamos por ele e nos disseram que seguia trabalhando ali pelo mesmo lugar. Mas, talvez tenhamos dado azar e naquele dia não foi trabalhar. Pequeno ficou meio decepcionado, porque queria refazer o quadro para ter a experiência de como é posar, queria bater papo com Marcello, embora o tenhamos advertido de que Marcello não era muito de papo.

aí outro motivo para Pequeno voltar a Firenze: refazer o quadro com Marcello.

- "Será que Marcello vai estar vivo para fazer um quadro dos meus filhos?"

- "Nicola!"

- "Já sei, mãe! Já sei ... não pensa em filhos ..."

Saímos de Florença e seguimos viagem para nosso próximo destino.

Antes fizemos uma paradinha estratégica em casa (era caminho), principalmente para deixar boa parte de nossas coisas que não usaríamos nessa etapa final da viagem.

Até este momento estava bem angustiada. Quando ainda estávamos na casa da nonna, meu pai foi hospitalizado. Ele não estava grave e estava, como sempre, super bem assistido, arropado e acompanhado por meus irmãos e minha irmã. Mas é sempre muito ruim estar longe em momentos assim. Por momentos me senti até mal estando de viagem enquanto a situação por lá não estava bem. Coisas da minha cabeça, eu sei. 

Havíamos a recém descido com as bagagens para deixar em casa, iniciando as mordidas no lanche rápido para seguir viagem sem perder muito tempo quando meu irmão ligou para dizer que estava levando o pai para casa. Que alívio!

Tenho certeza de que isso contribuiu junto com a paisagem bucólica, verde e linda para que, finalmente,  relaxasse e aproveitasse o restinho das férias. Bom ... ao menos até o passeio de sábado. Mas, vamos por partes ...

E como esse post já está ficando bem longo, aguenta a curiosidade um pouquinho que logo conto as aventuras do nosso último destino:  Bormio.

Eu, no seu lugar, não perderia ... aguarde.

2 comentários:

  1. Ahhh que coisa mais linda!!! Que emocionante "participar" desse reencontro com a nonna e as sempre encantadoras histórias do Pequeno, não mais tão pequeno 😍😍😍
    Que linda trajetória de vida, Pequeno!!! Como não se encantar com um ser tão especial? Sou grata pela oportunidade de conhecê-lo nessa vida!!!! Rogo à Deus que volte sim, com seus filhoS 😍😍😍😍 é faça a foto com Marcello!"Quero um vídeo desse souvenir tão especial no Nicola e seu mundo.
    Que bom que sei pai está melhor. Imagino o seu coração. Quanto à mim, mais uma vez , cancelou vôo à Porto Alegre e 😭😭😭 cancelei em abril e iria agora, dia 01/08, passar o aniversário da minha mãe. Infelizmente, o mundo passa por um momento único...
    Grande beijo, Bella!!! Deus siga lhe abençoando junto aos seus Nicolas.
    Fiquem com Deus. Amei viajar com vocês 😍😍😍😍

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    1. Rose, bella amica! Que bom te rever (ou seria reler?) por aqui. Sempre tão querida, cheia de carinho.
      Infelizmente as coisas andam bem estranhas e a gente sem a liberdade de ir e vir, ao menos não como gostaríamos. Nós tínhamos muitos planos e estávamos super felizes que logo reencontraríamos a família novamente em abril. Mas dia 01/8 fará um ano que fomos pra aí. A saudade é enorme, principalmente por conta da incerteza de quando, finalmente, será esse reencontro. Mas ... pensamento positivo. Confio e acredito que logo tudo ficará bem.
      Bjão pra vc!

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