Panela de Pressão.

Morro de medo de panela de pressão. Desde o dia em que minha mãe quase acabou com a cozinha. A panela de pressão explodiu. Saiu em disparada, quase como um foguete. Quebrou telha, estragou fogão, além de sujar toda cozinha e comprometer nosso almoço. Por sorte não havia ninguém por perto. Mas até hoje lembro daquela cena, principalmente do barulho  ... e do susto.

Desde que tenho a minha casa, optei por não cozinhar nessas benditas panelas.

- "E tu não faz feijão?", me perguntam alguns.

Claro que sim!

- "E carne de panela feita na pressão, que fica macia e deliciosa?", me perguntam outros.

Carne de panela também faço. Mas na pressão, não. Não fica macia, macia, macia, mas também fica deliciosa.

E se estou na casa de alguém e a bendita está no fogão, não chego nem perto. Quer me torturar? Me manda passar perto de uma.

O 'Dá uma olhadinha ali na panela pra mim' ecoa nos meus ouvidos mais ou menos como 'Vem aqui que vou te torturar'.

Eu sei que já estou grandinha demais para certas coisas. Mas, fazer o quê?! Tenho medo de panela de pressão. Ponto final.

Pois bem ... ultimamente tenho pensado muito na panela de pressão. Não como um utensílio de cozinha mas como uma metáfora da vida mesmo.

Tenho associado essa fase de pré-adolescência do meu Pequeno (que daqui a pouco vou ter que mudar o apelido, já que ficando Grande) com uma panela de pressão no fogo.

Alguns dias tem sido bem fatigante ser mãe/pai (incluo o marido) de um pré-aborrecente.

Vale ressaltar, deixar bem claro, registrado e  escrito aqui que Pequeno é um menino muito querido, educado, amoroso, atencioso. Desde quando ele era bebê eu e marido tivemos a consciência de que fomos abençoados com o filho que geramos. Ele nunca deu trabalho, nunca nos impediu de fazer nada e nunca nem sequer o usamos como desculpa esfarrapada para deixar de fazer qualquer coisa. Sempre foi super parceiro e colaborou com nossas loucuras.

Ele segue sendo assim, parceirão, amado, querido, educado, amoroso, atencioso ... mas virando adolescente.

É uma fase cansativa pra todo mundo mas, reconheço (porque tudo na vida tem seus contras e seus prós), tem sido interessantíssimo vivenciar esse momento.

Em questão de segundos aquele menino dócil, meigo, carinhoso, querido, dá uma resposta pior que coice de cavalo. De um minuto para outro aquele menino sorridente franze a testa, emburra, vai pro quarto e bate a porta. Um sinal bem claro de 'me deixa em paz, esquece que eu existo, não torra minha paciência' (daqui a pouco vai botar plaquinha de 'proibida a entrada' na porta, já estou até vendo).

Tem nos bombardeado com perguntas existenciais, quer discutir história da humanidade, guerras, conflitos, política, problemas atuais, do passado e do futuro ... tudo muito bem argumentado e com pensamentos e conclusões próprias.

Está querendo começar a entrar naquela fase em que, vira e mexe, discute com o pai e dá respostas bem danadinhas do tipo 'Ah é?! Se tu sabe tudo então me explica!'. Ou quando o pai dá um sermão daqueles por conta da preguiça para os estudos e solta frases do tipo "o que tu tá fazendo com a tua vida" quando percebe que ele passa mais tempo com os eletrônicos do que com os livros, ele prontamente responde com um tom de arrogância e um olhar desafiante (que eu conheço muito bem): 'E tu, o que fez da tua vida?'.



Quando o assunto não é comigo eu tento nem me meter (aquela história de "cada um com seus problemas") mas a verdade é que eu e marido fazemos uma dupla muito boa quando o assunto é "senta aí moleque rebelde e escuta o que temos pra te dizer". E ele detesta quando a gente se une pra isso!

Na maioria das vezes o assunto acaba quando Pequeno começa a bufar, faz cara de desdém, tipo "Senhor, dai-me paciência, eles não sabem o que dizem!".

Ao mesmo tempo, tirando fora esses conflitos geracionais, é muito bonitinho vê-lo crescer, com bons argumentos, decisões, opiniões, vontades, desejos, sonhos. Se descobrindo como pessoa, ser humano, descobrindo o mundo.

Ele segue pedindo colo, dando carinho, beijos, gosta de deitar do meu lado, me faz cafuné e fica olhando dentro do meu olho. Igual a quando ele fazia quando ainda era bebè. Aquele olho lindo feito bola de gude viaja e tenta ler meus pensamentos.



Eu tenho tentado melhorar como pessoa, como mãe de aborrec ... ops ... adolescente. Tenho procurado ler, me informar de todas as maneiras possíveis para entender o que se passa, pra tentar fazer desta fase meio complicadinha a melhor fase possível. Para ele e para nós.

É muita coisa mudando super rápido. É o corpo se transformando. A cabeça dando conta de acompanhar toda essa mudança. Um pouco dele que ainda é menininho e um outro pouco florescendo jovenzinho, mocinho, rapazinho. Ele vai detestar todos esses diminutivos.  'Manhê! Que mico!'. aí uma coisa que preciso atualizar: ainda se fala mico?

Não sei se essa informação está pelos zodiacos da vida, mas acho que arianas não nasceram para ser mães de adolescentes ...



Eu não quero fazer desta uma fase chata pra ele. Já basta todas as transformações que ele irá passar. Os medos que aparecerão. A angústia pelas escolhas. Os amores e desamores. Já basta ele ver o corpo mudando e nem entender direito o que está acontecendo. E a cabeça? Borbulhando, fervilhando. Já bastam os hormônios trazendo espinhas e sensações estranhas e diferentes.

Eu também não quero que essa seja uma fase cansativa pra nós, eu e marido. Quero que ela seja leve. Que sigamos assim, crescendo, aprendendo e evoluindo como família mas também como pessoas individuais que somos.

Eu não quero que lá no futuro, quando ele for olhar pra trás e lembrar de suas histórias de vida, lembre da adolescência como uma fase chata, com pais carrancudos, que tenha se sentido sozinho, incompreendido, que tenha faltado parceria, estímulo, confiança.

Eu sei que ainda está tudo muito no início. Teremos um longo caminho pela frente. Mas eu prometo dar o meu melhor, fazer o possível e, se necessário, quase o impossível, para que meu Pequeno adolescente siga sendo feliz, amoroso, educado, querido, carinhoso.

Juro! Eu prometo! Nem que para isso tenha que perder o medo da panela de pressão.  Afinal, pra mim, a adolescência é isso: uma panela de pressão. Espero que não prestes a explodir ...


4 comentários:

  1. Ah, eu não tenho nenhuma experiência em ser mãe de adolescente, mas acompanho essa família desde que ela surgiu e sem medo de errar afirmo: vocês vão ser os melhores pais de adolescente do UNIVERSO.
    Primeiro porque meu afilhado é incrível, segundo porque vocês sempre foram pais incríveis. Isso não vai mudar agora.
    Seja como for, quando esse adolescente pentelhar, manda ele vir passar uns dias com a dinda! <3

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  2. "quando esse adolescente pentelhar ..."
    ... posso mandar agora? :)
    Bjinhos nossos!

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  3. Eu odeio dizer "aqui se faz, aqui se paga", mas ... rsrs
    Não tem receita. Tu ainda tens sorte de ter um adolescente menino :-)
    A verdade é que essas fases são vividas por pais e filhos. O que eu sei é que não tem porque mudar os procedimentos, somente adaptá-los. Não há um processo de educação por módulos, e sim uma sequência evolutiva.
    E, o mais importante: vai ser motivo de orgulho ver o final desta fase e ser testemunha do ser humano incrível que estará para sempre (não importam as distâncias) ao nosso lado como filho, amigo, parceiro. É uma benção.
    Curtam a fase juntos, e aproveitem!
    Bjs. Fiquem com Deus.

    Tio Beto_60

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    Respostas
    1. O que me dá urticária é exatamente essa frase: "aqui se faz, aqui se paga" :/
      Brincadeiras à parte ... na verdade, o que ameniza minha preocupação é exatamente ver os exemplos positivos que temos bem pertinho ;)
      O desejo é exatamente o de que nada mude.
      Bjos para vcs!

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