Se alguém achar meu ânimo, manda de volta pra casa!

Nem vou me dar ao trabalho de inventar  qualquer desculpa esfarrapada para começar esse parágrafo. Falta de vontade mesmo. Pronto! Esse é o motivo do sumiço deste blog. Mais de um mês sem postar nada por aqui. E não foi por falta de histórias, de acontecimentos, de sentimentos, de pequenices de início de adolescência ou de qualquer outra coisa que costumo compartilhar por aqui. Foi falta de ânimo mesmo.

Talvez esteja passando pelo meu inferno astral (se alguém for "entendido" desses negócios, me ajude a decifrar). Talvez um desanimozinho natural por conta da chegada do frio (eu detesto frio e o outono aqui por essas bandas, pra mim é bem triste - embora fique encantada com a beleza nas folhas amarelas, vermelhas e laranjas das árvores). Talvez seja pela situação que eu e o mundo inteiro estejamos vivendo desde fevereiro. Alguns um pouco antes, outros um pouco depois, alguns com maior e outros com menor intensidade, maior ou menor preocupação. O fato é que "estamos todos no mesmo barco". Talvez por cansaço (sobretudo mental). Ou, talvez, simplesmente porque sigo sendo bem reclamona. Vai saber ...


O mundo inteiro já sabe que estamos novamente, de novo, outra vez, PQP, numa espécie de lockdown. Não é tão restritivo quanto os anteriores, mas nos priva sim do que costumávamos dizer "nossa liberdade". Tentando ser breve: a Itália está dividida em três cores (amarela, laranja, vermelha), de acordo com o nível de novos contágios, internações hospitalares, óbitos, etc. Não existe "zona verde", simplesmente porque a situação voltou a ser preocupante e crítica em todo o país.

A Lombardia, região que moramos, está na zona rossa (vermelha), uma das zonas mais críticas e, óbvio, com maiores restrições. Monza, a cidade onde moramos, é a segunda cidade de toda Itália com maior número de novos casos, ficando atrás apenas de Milão, que está aqui do lado. Então, imaginem ...

Muitos negócios fechados com exceção dos supermercados, bens alimentares e de primeira necessidade (farmácias, por exemplo). Bancas, tabacarias, lavanderias, cabeleireiros e barbeiros também podem abrir. Museus, mostras, cinemas, academias ... tudo fechado. Proibido a locomoção de pessoas para outras cidades. A circulação dentro da própria cidade somente com justificativa comprovada (voltamos a ter que sair na rua com o que aqui chamam a "autocertificação" onde declaro o que estou indo fazer na rua, comprovando sempre que possível o que estou dizendo, correndo o risco de ganhar uma multa bem salgada). Ao contrário das outras vezes, por exemplo, não são todos os alunos que estão com didática à distância (somente a partir da série do Pequeno - do último ano do ensino fundamental em diante). Azarado ele, tadinho! Embora tenha que reconhecer que, ao contrário das outras vezes, desta vez até que ele está levando numa boa essa história de aulas online. Deve de ser a tal da experiência.

E agora entro num argumento que gostaria de ter entrado desde lá no primeiro parágrafo. Talvez a falta de costume com o digitar aqui pelo blog tenha feito com que perda um pouco do foco. Mas, no final, tudo pertence a um mesmo contexto. Então vamos lá ...

Pequeno. Apesar do meu "inferno astral" mencionado logo acima, posso dizer que ele é minha maior preocupação no momento.

Quando o Primeiro Ministro foi para a tv confirmar e relatar em detalhes as novas restrições, pela primeira vez vi Pequeno evaporando raiva e ódio. Ele jogou ao vento uma dezena de insultos ao homem. Saiu pela casa esbravejando e despejando boca afora palavrões nunca antes ditos. Era a nítida externação do "de novo não!".Já sabia o que vinha pela frente. Já sabe o quão duro é ficar trancado dentro de casa enquanto os dias passam lá fora. Já sabe - porque viveu na própria pele-  o cansaço físico e, sobretudo, mental do confinamento. Todos já sabemos dos medos, até mesmo porque eles nunca foram embora. E não falo de medo de ficar doente, ou que alguém próximo fique doente (coisa que já aconteceu). Não falo da agonia de não saber quando poderei viajar novamente e matar a maior saudade que me angustia diariamente (a saudade dos meus pais). Meus medos vão mais além.

Dia desses li um artigo que me deixou bastante triste e reflexiva. Fala justamente dos problemas que essa pandemia está causando e causará nos jovens da idade do Pequeno. Das criaturas que estão vivendo o início da adolescência da pior forma possível: presos e privados.

Para agora para pensar e me conta como foi o seu início de adolescência? Em geral, é um momento de descobertas, de muitas coisas compartilhadas com os amigos. É a fase dos primeiros amores, do primeiro beijo. Fase das primeiras festinhas, saídas. É a fase em que está em jogo a confiança (o pai/mãe nos dá um horario para chegar em casa ... e se atrasarmos, já sabemos ...). Por aqui é a fase das primeiras viagens (dos grupos de jovens, das escolas). É a fase em que a gente deixa pai e mãe meio de lado e passa a se entender melhor com os amigos, aqueles que são iguais a nós e compartilham nossos mesmos papos e ideias. Aqui na Itália é um momento extremamente importante quando precisam decidir e escolher qual início de caminho de estudos desejam seguir (sobre isso falo num próximo post, se não isso vira livro).

E infelizmente minha criatura está privada de tudo isso. Talvez, por algum momento tenha passado pela sua cabeça: "nossa, Tatiana! Que exagero! A recém o menino entrou nessa fase, já vai ter tempo pra tudo isso!". E eu te respondo: "Não vai não!". Os 13 anos do Pequeno não voltarão. Basicamente um ano privado de tudo isso é muito tempo, sobretudo nessa fase. Pensa em tudo o que relatei, em tudo o que você que está  aqui nos lendo viveu e o quanto estes momentos foram importantes pra você e sobre todas as lembranças que você tem deles. Pequeno ainda não pode vivenciar nada disso. E, o pior de tudo, está trancado dentro de casa com os pais. E por mais que eu e o pai dele tentemos ser pais legais, entendê-lo da melhor maneira possível, por mais que a gente procure ser parceiro, conversar, dividir, compartilhar ... somos sempre pai e mãe.

Junta todas essas sensações com as sensações típicas dessa fase: o mau humor repentino, a sensação de "ninguém me entende", a preguiça, as horas mortas ... a raiva por querer ir andar de bici no parque e não poder, ter que se contentar com 10 minutos de caminhada pelo centro com o pai ou a mãe (com o papel da autocertificação no bolso e tenso por não ser parado pela polícia). Relembrando a viagem com os amigos do grupo de jovens que deveria ter acontecido no meio do ano e foi cancelada, com a visita à novas escolas que não poderá acontecer, já que todas as entrevistas serão online. Vai acabar estudando numa escola sem nem ao menos tê-la pisado. Soma nessa  conta também a saudade da nonna, do vô e da vó ... Pequeno, felizmente, é muito ligado aos seus avós. Soma, também, o curso de teatro que foi cancelado, os novos amigos que não encontrará. A piscina que conseguiu fazer umas duas aulas e teve que parar novamente. As voltas de patinete pela cidade que ele não vai poder dar. A menina que ele gosta que, com um pouco de sorte, só consegue ver pela tela do computador. 

Me preocupa o que se passa dentro daquela cabecinha e o quanto tudo isso - assim como li no artigo - afetará ao meu Pequeno num futuro bem próximo.

Às vezes pode parecer besteira, parecer exagero ... mas eu juro, não é.


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