Pequeno e o asteroide.

- "Setembro é um mês meio amaldiçoado", disse Pequeno em tom sério.

- "Ué, menino?! Por quê? Setembro é um mês lindo: eu me casei em setembro, tu nasceu em setembro", repliquei meio sem entender o motivo de tanta tristeza com o pobre do setembro.

- "Mãe! Em setembro teve o 11 de setembro, um dos piores atentados que já existiram. E eu li na internet que tem um asteroide vindo em direção à Terra e que ele tem chance de cair na Terra ... em setembro ... no dia 09."

Caí na gargalhada. Meu filho é dramático por natureza ... e exagerado. E ele realmente estava apavorado com a ideia de um asteroide cair na Terra e acabar conosco.

Nesse mesmo momento, fiquei lembrando de todas as catástrofes, profecias e balelas de final de mundo que já vivi. Desde que me entendo por gente, a cada determinado período existia uma dessas teorias. Que em 1990 e algo o mundo acabaria. Que a virada do 1999 para o 2000 seria uma tragédia,. Que não sei quando aconteceria tal coisa ... e por aí vai. Já até perdi as contas.

Lembro que quando era criança, sem tanta informação quanto as que Pequeno tem acesso hoje (no máximo era no Jornal Nacional que apresentavam  Cid Moreira e Sérgio Chapelin) escutava com certa curiosidade e ficava refletindo sobre a possibilidade de o mundo acabar. 'E se o mundo acabar mesmo?', ficava pensando. Naquela época, meu maior medo era ficar sem meus pais, sem meus amigos e sem meus brinquedos.

Depois cresci e lá pela adolescência, dependendo do dia, a possibilidade de que um asteroide colidisse com a Terra até me confortava: 'tomara que acabe logo'! Ainda bem que não acabou.

Já adulta, a gente nem escuta mais esse tipo de coisa. Um asteroide colindo com a Terra pode ser o menor dos nossos problemas. 'Pfu! Até parece!'. Embora, também, tenhamos consciência de que algum dia vai acabar. Cada dia que vivemos é um pedacinho do nosso Universo que vai ficando pra trás. As vezes a gente agradece pelo pedacinho passado ... outras fica com aquela sensação terrível de o ter desperdiçado.

O pai do Pequeno, com sua santa paciência, tentou explicar para Pequeno que, primeiro, não tem que acreditar na primeira coisa que lê pela internet. Pequeno é da geração "fake news". Explicou para Pequeno, com calma e sabedoria, que precisa primeiro checar a fonte da informação. Depois, para garantir, buscar mais informação a respeito da informação e, logo, tirar suas próprias conclusões. Que, segundo, o tal do asteroide deve de estar bem monitorado, que não precisava se desesperar (sim, Pequeno neste momento já estava desesperado chorando. Como diríamos carinhosamente lá no Sul, meu filho é o típico 'cagão').

Como boa mãe, paciente, zelosa e cuidadosa que sou ... Rarará ... mentira! Sou malvada mesmo (e reconheço com orgulho), pesquisei informação a respeito e li para o Pequeno um pedacinho de um artigo que falava do bendito asteroide. Dizia mais ou menos assim:

- "Menino! Para de chorar e escuta: localizado a 6,7 milhões de quilometros de distância, o asteroide chamado 2006QV89 - que nome bonito, filho! ...  tem a chance de atingir a Terra a partir de 9 de setembro e está na Lista de Risco da Agência Espacial Europeia (ESA)", dizia o artigo da revista Galileu. Essa parte fiz questão de ler exatamente como estava escrito. Pequeno escutava muito atento.

Prossegui:

- "... a possibilidade de um impacto acontecer é de uma para 7299 - possibilidade muito inferior à de uma em 100, quando a humanidade realmente teria que tomar medidas para prevenir de um desastre."

Pequeno, já tentando se acalmar, diz:

- "Pai! Isso é culpa tua que me faz ver contigo esses filmes de asteroides que caem na Terra."

Continuei:

- "Para ter uma ideia, o meteoro que teria aniquilado os dinossauros tinha em média entre 11 a 81 quilometros de diâmetro. Já o corpo rochoso do 2006QV89 tem apenas 40 metros de diâmetro, tamanho considerado relativamente pequeno pelos cientistas. Pequeno, como tu."

- "Hum!", exclamou ele, não muito convencido mas já com o semblante mais calmo.

Então, como boa pessoa que sou, adicionei a minha pitada de incentivo para que Pequeno esquecesse de vez a história do asteroide:

- "Embora a ideia possa soar assustadora, não há motivo para pânico ... a não ser que você nesse dia esteja na Itália, mais precisamente na cidade de Monza, indo para a escola."

- "Manhê! Que droga! Já me preocupei de novo ...dia 9 de setembro é quando iniciam as aulas ..."

Ahhhh ... pois ... se eu fosse tu ligava pra NASA ... 






2 comentários:

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Buen Camino, Peregrino!

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