Pequeno passou o mês de junho na colônia de férias e decidimos que parte desse mês de julho seria para ficar em casa, "sem fazer nada" curtindo a cama, o sofá e os eletrônicos. No final de julho e agosto viajaremos e logo, em setembro, iniciarão as aulas. Assim que achamos importante, depois de mais de um ano direto de estudos e mudanças, que ele curtisse esse famoso dolce far niente.
Por conta disso, ele tem dedicado grande parte do seu tempo assistindo filmes e vídeos no Youtube. Ele tem alguns Youtubers favoritos: Gato Galático, Mamute Congelado (olha os nomes!), "não sei o quê" Babaca e mais alguns outros. Ele assisti aos vídeos, dá boas gargalhadas, me mostra cheio de entusiasmo alguns trechos, se impressiona com algumas histórias e pergunta se "eu acredito" nas teorias conspiratórias que vê de vez em quando.
Só que no meio de toda essa história deliciosa de férias, temos um pequeno probleminha: ao contrário do Brasil, aqui os professores dão deveres de férias e Pequeno tem muita coisa por fazer. Só livro para ler são uns 5 (só tem 1 que ainda está com a leitura pendente), fora deveres de matemática, desenho, etc.
Vendo que o menino dava prioridade para o ócio (ou seja: ficar a tarde no sofá vendo filme) e não dedicava nem meia horinha para as contas de matemática, tive um daqueles meus ataques de fúria. Como nossos gênios (ruins) são bem parecidos, passamos o dia discutindo.
À noite, durante a janta, como de costume, ele não calou a boca nem meio segundo. Emendava um papo com outro e quase todo o tema de conversa era sobre as histórias dos tais Youtubers.
Eu, com toda a minha santa paciência (mentira!), disse que já estava de saco cheio daquele papo (verdade!), perda de tempo ficar falando dessa gente e, mais ainda, perda de tempo vendo vídeos de besteiras. Não lembro muito bem o que ele respondeu, mas foi algum argumento dizendo que eles não eram "bestas" mas eram "influenciadores".
Já havia passado o dia furiosa com ele e aquela última frase havia sido a gota d'água. Tive que dar o meu sermão básico:
- "Incrível, né?! Sabe, quando eu era pequena, internet não existia, muito menos Youtubers. Nossas prioridades eram outras e os influenciadores de pensamentos - aqueles de verdade - eram outros. Já ouviu falar em Gandhi, Mandela ... sei lá ..."
ABRE PARÊNTESIS: (me senti ridícula e falsa. Óbvio que na idade dele nem sabia quem era Gandhi e Mandela via pela tv mas não sabia muito bem o porquê dele aparecer tantas vezes no Jornal Nacional. Na idade dele eu lutava entre o dilema de ser fã da Xuxa ou da Mara Maravilha e começava a sentir friozinho no estômago cada vez que escutava uma música do New Kids on the Block - já havia deixado para trás a paixão pelos Menudos.) FECHA PARÊNTESIS
Confesso que mesmo tentando fazer um esforço absurdo para ter assuntos, argumentos e até mesmo broncas coerentes com meu filho, vira e mexe caio na maldita armadilha do "faz o que digo e não o que eu faço". Feliz da geração dele que tem internet, Youtube, Instagram e WhatsApp. Coisa boa vê-lo jogar online com os amigos que ficaram no Rio de Janeiro. Coisa boa vê-lo trocar mensagens no direct do Insta com os amigos e a família. E que coisa boa vê-lo assistindo vídeo do Gato Galático e não de outros Youtubers com um conteúdo bastante precário e duvidoso.
Mas eu precisava manter a compostura de "mãe que sabe tudo e tem sempre razão" e segui no meu discursinho piegas:
- "Ai, gente! Que triste essa geração! No meu tempo e no tempo do teu pai os influenciadores de pensamentos eram outros ...", disse no meu melhor tom de soberba.
Ao que ele prontamente responde:
- "Mãe! Olha só! Eu não posso dizer nada a respeito porque, até o momento, os únicos influenciadores de pesamento na minha vida são tu e o pai."
Eu, com minha melhor cara de paisagem, fiz de conta que não ouvi. E ficou aquele silêncio. O marido que até aquele momento era um mero espectador da cena, disse:
- "Nossa! Tu ouviu que lindo o que ele te respondeu?"
- "Não", respondi bem cínica.
Óbvio que eu tinha escutado. Mas engoli a vergonha em seco.
Então Pequeno repetiu:
- "Eu disse que até esse momento da minha vida, os únicos influenciadores de pensamento que eu tenho são tu e o pai."
Alcei as sobrancelhas, enruguei a testa com gesto de "Ah, tá!". Marido, que bem me conhece, disse:
- "Ih! A mãe se emocionou. Vai chorar ..."
Durona que sou, respondi um "não vou chorar nada ...". E assim aguentei o choro, como pude. Afinal, tinha uma compostura que manter. Até porque eu não sabia se chorava de emoção ou de vergonha ... por ter sido bem ridícula com ele.
Quando eu tinha a idade dele, não existia internet, nem Youtube, nem Netflix. E eu nunca teria sido capaz de dizer que meu pai e minha mãe eram meus "influenciadores de pensamento".
Quando eu tinha a idade dele, não existia internet, nem Youtube, nem Netflix. E eu nunca teria sido capaz de dizer que meu pai e minha mãe eram meus "influenciadores de pensamento".
Perdão, Pequeno. E obrigada.
Como é bom quando nossos filhos nos surpreendem. Amo esse garoto
ResponderExcluirBjs Mana
E dessas surpresas que entram direto dentro do coração :)
ExcluirBjokas, Mana querida!
O Nicolinha SEMPRE surpreende, sempre! Ele é um ser humano MARA, e com certeza a "culpa" é toda desses influenciadores de pensamento que ele tem! Tu e o Nicola estão de parabéns pela educação do meu afilhado!
ResponderExcluirChorar não teria sido feio e nem vergonhoso, porque o que ele disse foi de coração e verdadeiro. E sentimento a gente rebate assim, com sentimento!
Como me orgulho desse pequeno! ❤
Tô quase criando um canal no Youtube pra mim kkkkk. CUmadre, não é fácil essa vida de "influenciadora". Tu que me conhece melhor do que ninguém sabe que por trás desse coração aparentemente duro, habita uma manteiga derretida. ❤
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