Hoje meu pai, avô do Pequeno, faz 84 anos.
Quando eu era pequena, mais ou menos quando tinha a mesma idade do meu Nicola, nessa idade em que a gente começa a questionar coisas da Vida sem entender direito de nada, lembro que algumas vezes durante a noite, naquelas noites em que a gente não consegue dormir porque fica pensando mil e uma coisas e o cérebro fica alerta ... enfim ... em muitas dessas noites em que não conseguia dormir, ficava pensando no quão sortudo meus irmãos e minha irmã foram.
Meus pais eram super jovens quando eles nasceram. Dentro da minha cabeça inocente e meio paranóica, sofria por isso. Porque ficava imaginando que, talvez, não tivesse a mesma "sorte" deles: de meus pais me verem crescer, compartilhar a vida adulta com eles. Será que veriam meus filhos? Ficava fazendo cálculos e imaginando a idade que eles teriam quando eu tivesse trinta (porque naquela época os 30 pareciam ser bem longínquos). E quando tivesse quarenta, cinquenta?
Algumas noites fui dormir chorando, pensando na ideia de não ter meus pais comigo.
- "Que sorte tem meus irmãos!", pensava enquanto soluçava baixinho para não acordar meus pais que dormiam no quarto ao lado.
O caminho deles até aqui, do meu pai e da minha mãe, não foi fácil. E me refiro inclusive aos problemas de saúde, que são quase inevitáveis (e hoje sei que eles surgem bem antes do que se imagina).
Meus irmãos chegaram a dar um segundo apelido ao meu pai: o Pancasso, apelido de sempre, deu lugar ao apelido de Highlander. Osso duro de roer! Em algumas ocasiões chegamos a pensar que ele não aguentaria. E então, relembrando novamente quando eu era pequena e via nele o meu herói, o homem mais incrível do mundo, aquele que podia com todos e com tudo, ele tirou forças sabe-se lá de onde, e aguentou. E segue, numa luta diária contra o corpo que anda dando resquícios de cansaço.
Existe uma época da vida da gente em que nos damos por conta de que nossos pais não são heróis, são pessoas normais e pronto. Erram, algumas vezes erram feio. E então, percebemos que nós também erramos como filhos, algumas vezes erramos feio também.
Logo, vem a consciência do empate, talvez até por descargo de consciência mesmo. A gente entende que "tá tudo bem!", que a vida é assim mesmo, essa caixinha de surpresas, de vivências, de experiências, de acertos e de erros, porque eles também fazem parte do percurso.
Os anos vão passando e, então, a gente percebe que sempre prevalece o amor, o carinho, o respeito, a convivência e passa a dar mais valor para as coisas positivas: elas existem e são muitas.
Que sortuda que sou! Com 42 anos de idade, vejo meu pai completando 84 anos. Talvez não com a saúde excelente como eu gostaria de vê-lo ou, ao menos, achasse que merecesse. Mas ele está aqui, conosco, feliz, um pouco mau humorado dependendo do dia, entediado e alguns dias até rabugento por não poder sair de casa, dar suas voltinhas (nos dias em que a hemodiálise permite).
Dependendo do dia, se os pulmões permitirem, você o verá cantando, falando alto, como ele sempre gostou de fazer (e tenho um tagarela gritão aqui em casa também. Será karma?).
Que sorte a minha! Meu pai me viu crescer, esteve comigo em todas as etapas importantes da minha vida. Presenciou minha formatura na faculdade, compartilhou comigo o meu casamento na Espanha. Três anos depois cruzou o oceano novamente para estar presente no nascimento do neto. E que maravilha foi ver a versão avô do meu filho no meu pai. O melhor avô!
Tantas coisas que celebramos juntos. Que sorte a minha, no ano passado, conseguir celebrar com ele os 83. Neste ano nossa visita estava prevista um pouquinho antes. Igualmente não estaria com ele nos 84. Mas uma coisa é a gente não estar porque a agenda (compromissos nossos e do filho) não permitem e outra coisa é a gente não poder viajar por conta de pandemia.
Pai, meu garoto, meu velhinho bonitinho (que velhinho mais gato meu pai se tornou!), concentro hoje todo o meu carinho, toda a minha energia positiva para que o Universo inteirinho em toda sua imensidão, te proteja, te dê saúde, te amenize o cansaço e as faltas de ar.
Que tudo melhore o mais breve possível para que possas voltar à tua rotina de bater perna pela rua, conversar com teus amigos e, sobretudo, para que o nosso reencontro seja o mais breve possível.
A saudade por aqui, faz tempo, está enorme!
Na noite passada, igual que há muitos anos, fui dormir com um aperto no peito, pensando justamente na saudade, na vontade de estar aí pertinho pra puxar tua orelha, te incomodar, botar teus cacarecos fora, controlar tua roupa, onde vais, o que comes ... e igual que há uns 30 anos, engoli o choro e pensei:
- "Que sorte que tem meus irmãos!"
Feliz Aniversário, pai! Te amo, desde sempre e pra sempre!
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agosto de 2019 |
Bravíssimo, irmã querida!
ResponderExcluirTemos motivos de sobra para agradecer.
Agradecer pelo pai que temos. Á sua maneira, nos uniu em torno do núcleo familiar básico e, a partir daí, nos tornamos amigos e agregamos os nossos núcleos familiares a essa coisa meio inexplicável que é a nossa Grande Família.
Agradecer pela mãe que temos. Também à sua maneira, nos moldou o caráter, nos mostrou o rumo certo e, nas tempestades da vida, sempre nos deu a certeza do porto seguro.
Agradecer pelos irmãos que temos. Se existe uma definição perfeita para a palavra amigo, com certeza define meus irmãos e irmãs. Como é bom saber que, aconteça o que acontecer, estaremos sempre lado a lado. A vida fica mais fácil, mais bela e com muito mais sentido.
Agradecer pelas esposas, maridos, filhas e filhos que temos. São nossa razão de ser e de viver.
Agradecer pela Grande Família que temos. Impossível querer reunir a família em tempos de pandemia! :)
Agradecer pelos amigos que temos. São tão bons amigos que se agregam à família como se os laços de espírito fossem também laços de sangue.
Mas, principalmente, agradecer a Deus pela vida que temos e pela benção de ter colocado essas pessoas na nossa vida.
Tu tens razão: nós, teus irmãos somos pessoas com muita sorte. Quando achávamos que nossa estrutura base estava formada, Deus nos deu de presente uma irmãzinha temporona que mudou completamente a nossa vida. E mudamos para melhor.
Vamos celebrar a vida com este aniversário do nosso Highlander! E o nosso desejo, na verdade, é bem egoísta. Rogamos a Deus que dê muita saúde para o nosso pai, para que possamos nos sentir assim especiais e abençoados por muito tempo.
Estamos e estaremos juntos, sempre!
Beijos. Fiquem com Deus.
Tio Beto_60