"As parada" no metrô.

Esperava o metrô numa das  estações de Copacabana. Voltava de uma consulta médica e não via a hora de chegar em casa. 

Não gosto "da Copacabana" ao redor das 17hs: mistura os turistas que voltam cansados dos passeios, com os velhinhos que andam sem pressa, seus acompanhantes e suas bengalinhas, mais o pessoal que começa a sair do trabalho - esses sim, com pressa de chegar em casa - e também as crianças saindo das escolas. Junta tudo e vira uma bagunça estressante. Caminhar pelas ruas de lá com toda essa muvuca e ainda dividindo a calçada com os milhares de ambulantes que montam suas tendas por todos os lugares, fica bem difícil. Queria me teletransportar de lá o mais rápido possível.

Estação lotada e o metrô demorando para chegar. 

Até que, finalmente, chegou. Já cheio. Quase impossível conseguir um lugarzinho para entrar. Mas consegui, naquele empurra-empurra aonde a gente segue o fluxo meio que por inércia. Vai indo, mesmo sem querer ir.

Quando a porta do vagão estava quase fechando, entraram dois moços correndo, gargalhando. A porta fechou e eles seguiram o papo que provavelmente estavam tendo antes: um mostrou orgulhoso para o outro a foto da "amiga" que havia respondido sua mensagem no WhatsApp. Um se gabava em alto e bom tom e o outro se limitava a sorrir e fazer comentários do tipo "É! Ela é goshtosa merrrmo!". Aquele tipo de situação aonde a gente até gostaria de ser surdo, para não ouvir coisas do tipo. Mas, enfim ... não tinha pra onde ir, tinha que ficar ali mesmo.

De repente começaram a falar de filhos. O que havia recebido a resposta da "amiga goshtosa merrrrmo" disse que havia feito uma trilha no final de semana com os dois filhos pequenos. Umas duas horas de trilha, morro acima, "quase matou os muleque" (palavras textuais) de tanto caminhar. Pensei cá com meus botões: Pobre crianças!

O amigo perguntou quantos filhos ele tinha (pelo visto nem eram tão amigos assim ...). O "garanhão do WhatsApp" respondeu que tinha dois. Alguns segundos depois, respondeu que tinha uma outra, de uns 14 anos, talvez. O amigo, então, perguntou: "Como assim, talvez? Tu não tem contato com ela, maluco?".

Foi então que presenciei os diálogos mais insanos dos meus últimos tempos:

- "Pô, maluco! Eu paguei pensão pra ela uns meses ... daí logo depois a mãe dela se juntou com um maluco lá da comunidade, daí parei de pagar pensão e sumi."

- "Pô, maluco! Mas era tua filha. Tu não registrou?"

- "Registrei, registrei ... dei meu nome pra ela."

- "Pô ... então?"

- "Ah, maluco! Eu é que não ia ficar sustentando os macho da mãe dela, pô!"

- "Que isso, maluco? Tu não ia sustentar o marido dela, tua ia sustentar tua filha."

- "Quê? Eu ia pagar as cerveja que a mãe dela bebe, isso sim ... bebe feito uma maluca, aquela doida!"

- "Pô, maluco! Tu não ia pagar cerveja ... tu ia pagar o leite da tua filha."

- "Que isso, maluco! Não sou otário não. Ela arrumou um pai pra filha dela, tirei meu time de campo. Tá doido? Pagar pensão por uns 20 anos ... eu, hein?!"

Eu juro que morri de vontade de encher aquele "maluco" de bofetadas. Nunca vi alguém vomitar tanta besteira boca a fora em tão poucos segundos. O idiota ainda ria e falava em alto e bom tom, pra todo mundo ouvir que ele não era "otário". O maior otário de todos os tempos, isso sim! Mentalizei o mantra do "não te mete que isso não te diz respeito" e rezei para que chegasse minha estação logo de uma vez, pelo menos antes de que enforcasse aquele idiota, maluco!

Nisso, grudadinho na minha cintura, um pouco à direita, vejo um menininho, com o rostinho perdido em meio aquele povaréu todo do vagão, agarrado na perna do pai que tinha um violão à tiracolo, numa mão algumas sacolas e com a outra, com bastante dificuldade, tentava se equilibrar com o movimento do metrô e segurar o filho ao mesmo tempo. Sorri para o menininho, que respondeu com um sorriso tímido. Fiquei com pena de ele ter que ouvir aquele monte de besteira.

Vi ali naquela cena que nem tudo estava perdido. Existem PAIS de verdade, daqueles que além de dinheiro dão proteção, segurança e carinho. Pensei no meu amore, que é um pai maravilhoso para nosso filho. Lembrei de todos os pais maravilhosos que fazem parte da minha vida, dos meus irmãos, meus cunhados, meu pai, meu sobrinho, meus amigos. Benditos sejam todos esses pais!

Finalmente chegamos na minha estação. O "maluco" e o otário, com certa lentidão me deram licença pra sair. Desci do vagão, dei uma olhada de reprovação fulminante para o "maluco otário"  e respirei aliviada. Agradeci por não precisar seguir viagem com aquelas criaturas. Deu tempo de dar tchauzinho para o menininho que seguia espremido entre os outros passageiros.

Pô, maluco! Tô pra te dizer que andar de metrô no Rio de Janeiro rende boas ... e péssimas histórias.

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