Voltávamos do curso de Inglês do Pequeno. Como sempre, ele cheio de assunto, falando pelos cotovelos, contando mil e uma histórias (ele sempre tem assunto pra caramba!).
Em determinado momento do nosso trajeto, cruzamos com um personal trainer que trabalha na academia onde malho.
- "Oi! Tudo bem?"
- "Oi! Tudo tranquilo."
Uma saudação normal e rápida, como acontece quando encontramos alguém conhecido pela rua.
Senti, então, que a mão do Pequeno apertou bem forte a minha. Olhei para o lado e ele estava vermelho, quase roxo, com uma cara que misturava encabulamento, vergonha e raiva, tudo assim misturado, e brotavam tímidas lágrimas dos seus olhinhos.
- "O que foi, filho?", perguntei um pouco assustada.
Inclusive olhei para trás para ver se ele havia pisado em algo, sei lá, demorei para entender o que havia acontecido. Até que minha ficha caiu: ele havia ficado com ciúmes por ter cumprimentado o moço.
- "Nicola?"
Ele, então, parou de caminhar, me abraçou e começou a chorar.
Confesso que meu primeiro pensamento foi achar a coisa mais amada do mundo aquele ciúmes ingênuo e espontâneo. Mas, logo, o sentimento de "mãe que precisa educar e levar para o futuro um ser humano bom e melhor" falou mais alto do que meu ego. Aproveitei que já havíamos parado de caminhar e conversei com ele.
Perguntei por que daquela reação, já que havia simplesmente dado 'oi' para uma pessoa conhecida. Ele respondeu que ele não conhecia aquele homem. Expliquei, então, que ele não conhece e nem tem porque conhecer todas as pessoas que eu conheço, assim como quando ando pela rua e as pessoas o cumprimentam e eu nem sei quem são.
Expliquei que não havia nenhum motivo para aquele choro. Ele disse que era "algo" que ele estava sentindo e que, embora tivesse tentado controlar, não deu.
Disse, então, que não era legal ser uma pessoa ciumenta. Que é muito fácil do ciúmes possessivo e excessivo passar a ser algo ruim e doentio. Expliquei pra ele que por ciúmes, ele poderia perder amigos, criar situações constrangedoras sem necessidade e, que quando crescesse e tivesse ciúmes de uma namorada, por exemplo, não seria algo legal, que provavelmente ele ficaria sozinho. Disse até - porque gosto de explicar as coisas muito claramente - que existiam casais que brigavam feio por ciúmes e que existem casos aonde um companheiro mata ao outro por ciúmes, por posse, por obsessão.
Falei que não é legal sentir ciúmes assim dessa maneira. Até porque, nunca ninguém iria me "roubar dele": mãe, pai, filho, filha, são para toda uma vida. Mas, pode acontecer de casais se separarem, pelo motivo que seja. Pode existir ex namorado, ex marido, ex mulher ... mas não existe ex filho. Ele disse, então, que sabia que eu e o pai dele nunca seríamos ex um do outro.
Dar 'oi' para um homem conhecido era apenas um ato de educação e tratava-se exatamente da mesma coisa que dar 'oi' para uma mulher conhecida. Só isso. Mais nada.
- "Hoje pela manhã falei com a vizinha. Tu ficou com ciúmes dela?"
- "Não."
- "Pois, então ... é a mesma situação, com pessoas conhecidas de diferentes lugares. Só isso."
Ele disse que havia entendido. Eu também entendo a reação dele. Não contei pra ele que quando era pequena morria de ciúmes do meu pai. Que havia uma amiga dos meus pais, em especial, que me tirava do sério, a Nelma. Não podia ver a Nelma que saía dando chutes nas canelas da mulher (garanto que você está pensando: Pequeno tem a quem puxar! Pois é ...). Não contei pra ele que morria de raiva quando meu pai falava com alguma mulher pela rua. Não contei. Não menti. Só omiti. Preciso educar um ser humano melhor, lembram? Quase que um mantra.
Quando o pai dele ligou, contei a história e logo ele pediu para conversar com Pequeno. Provavelmente meu marido - que não é nada, nadica, ciumento - deve de ter iniciado um discurso também, pois logo Pequeno respondeu:
- "Já sei disso. A mãe já conversou comigo."
Agora pra vocês eu vou contar uma coisa: achei sim a coisa mais amada do mundo o ciúmes dele por mim. Me senti toda-toda. Poxa! Nunca ninguém sentiu ciúmes por mim ... deixa eu aproveitar. Mas, ó ... isso só cá entre em nós. Que Pequeno não nos leia.
Olá!
ResponderExcluirO Ciúmes não é de todo ruim.o ciúmes doentio sim. E olha que sei bem o que é isto. Acho que fizeste o correto, parar e conversar, ainda está no tempo certo de aprender.
Bjus a todos!
Renato Fraga
OIM - OMB