Meu tio, Antonio da Silva, conhecido por muitos como "Santo Antônio", partiu. Dentre muitas de suas características, habilidades e feitos, um dos mais marcantes era que, durante muitos anos, o tio foi o Papai Noel da cidade. Corria atrás de doações e tirava do próprio bolso para levar alegria a muitas crianças. Perto dele, nenhuma criança ficava sem bala ou pirulito.
Dele guardo boas e felizes lembranças, desde a infância. Quando ainda não morava em Osório e vínhamos visitá-los, ele sempre nos recebia com muito carinho, atenção e pra mim, particularmente, sempre tinha uma guloseima para dar e um queijinho branco dos deuses. Não sei de onde ele trazia, onde ele comprava, mas até hoje lembro do gostinho bom do queijo do tio. Nunca mais provei outro igual.
Depois de grande e quando já morávamos na mesma cidade, o carinho e a atenção só se ampliaram. Recém chegados na nova cidade, ele se encarregou de apresentar seus amigos ao meu pai. Logo, se tornaram amigos dele também. Graças a uma dessas amizades, feitas através do tio, consegui uma bolsa de estudos em uma escola particular da cidade, onde fiz todo o ensino médio.
O tio e a tia - sua fiel parceira - sempre me recebiam com muito carinho nos dias de chuva, quando saía do trabalho e ia almoçar com eles. Morava longe do trabalho e eles moravam mais próximo. O cardápio quase sempre o mesmo: camarão. O tio se encarregava de comprar e a tia o cozinhava. Eles sabiam que era meu prato predileto. Muitos foram os almoços que fizemos juntos. Regado a boas conversas e o tio sempre insistindo para que comesse mais. Quando não ia, a tia sempre dizia carinhosamente: "sua cadela! Fiz camarão e tu não veio.".
Meu tio era uma figura ímpar. Alegre, festeiro, parceiro. Nas muitas festas da família ele sempre se preocupava em ajudar. Se a comida não era a suficiente, segundo ele, logo pegava uma bandeja, ia na cozinha, a enchia de quitutes e começava a oferecer. O tio era sinônimo de fartura. Que não faltasse sobretudo diversão e alegria.
Já no final das festas, ele se encarregava de limpar o salão, organizar cadeiras, lavar pratos e copos. Tudo isso sem perder a diversão. Entre uma limpeza e outra tinha tempo para mexer com alguém ou dar uns passinhos de dança com um pano de prato esticado no ombro .
Quase sempre vestindo terno e sapatos brancos. Um pé de valsa elegantíssimo esse Santo!
Fazia tempo que esse nosso velhinho não era mais o mesmo. Mas, nesse egoísmo que nos representa, nos contentávamos em tê-lo ali conosco.
Meu Pequeno conserva boas lembranças do tio também, felizmente. E quase todas elas coincidem com as minhas lembranças: de uma pessoa carinhosa, alegre e atenciosa.
Pequeno sofreu com a partida do tio. Segundo ele, não conseguiu se despedir. Ficou de mal comigo porque não o deixei visitá-lo no hospital. Mas com o tempo ele vai aprender que as melhores lembranças do nosso Bom Velhinho estarão pra sempre guardadas dentro dos nossos corações.
Poderia até dizer que por "ironia do destino" nosso Papai Noel partiu em tempo de festejar o Natal lá no céu. Mas deve de ter um significado bem maior pra isso.
Neste ano teremos Natal, com bagunça e família reunida, como ele sempre gostou. Mas, como meu Pequeno disse: feliz de todo não vai ser. Vai faltar ele ali do nosso lado. Mas dentro de cada um de nós vai ter um pouquinho do Santo, do nosso Bom Velhinho, do marido da Lucília, do amigão do meu pai, nosso tio, pai da Josi e do Luciano, vôzão da Nicole, da Nick, da Pri, do Lucianinho e da Fran, biso do recém chegado Ben.
Foi lá pro céu fazer festa, arrumar o salão, distribuir balas e sorrisos por lá. Aqui ficarão os aprendizados, as histórias, as lembranças e a saudade.
Que nosso Bom Velhinho nos proteja de onde estiver. Esse é meu pedido. Porque na minha família a gente sempre soube que Papai Noel existe sim. E ele era nosso tio.
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