Vai ser curioso assim lá em ...

Dizem que os italianos são curiosos. Perguntam, perguntam mesmo, sobre tudo.

Lembro que logo quando fui morar em Roma, me incomodava um pouco os questionamentos. Perguntas vindas das mais diferentes pessoas, as vezes estranhos mesmo. Lembro das conversas com a pediatra do Pequeno, que sempre fugia de algum tema médico para perguntar coisas que, ao meu ver - eu sou uma pessoa reservada - não eram necessárias. Lembro das perguntas das senhorinhas na rua, da vizinha que mal dava bom dia mas logo demonstrava interesse em algo sobre minha vida ... enfim ... com o tempo fui me acostumando e passei a achar até engraçadas as dúvidas, que já respondia sorrindo.

Não aprendi muito com eles. Sigo sendo uma pessoa reservada e somente com um grau elevado de intimidade sou capaz de fazer perguntas mais íntimas e pessoais para conhecidos.

Pois bem ... Esse período de 3 semanas de férias na terra da pizza  me fez voltar ao passado e relembrar - pois já tinha até esquecido - o grau de "cara durice", sem vergonhice (no bom sentido da palavra) e curiosidade, sobretudo dos romanos.

Estávamos no aeroporto, vindo embora. Precisávamos passar pelo controle policial. Momento um pouquinho tenso: Pequeno, desde que nasceu, tem as duas cidadanias (brasileira e italiana). O passaporte italiano dele é antigo, ainda tem fotinho de bebê e, não sei porque, não consta no documento a filiação. Isso sempre gera um problema, pois algumas vezes não aceitam o passaporte brasileiro (neste sim consta a filiação), ou carteira de identidade brasileira. Sempre que chegamos levamos um pequeno sermãozinho do atendente de turno, pois o marido já deveria há muito tempo ter inserido Pequeno em seu passaporte (ou seja, no passaporte do marido deveria constar o nome do filho - isso acontece para os filhos menores). Marido sempre deixa para depois e acaba que o depois nunca chega e sempre lembramos disso quando vamos viajar e daí já não dá mais tempo. Para voltar sempre pegamos o certificado de nascimento na cidade onde a sogra mora e Pequeno foi registrado, para evitar problemas maiores.

Para aumentar um pouquinho o momento de tensão, o passaporte do Pequeno está quase vencendo (ainda está na validade, mas faltam menos de 6 meses para vencer). Também não seria um grande problema, já que estávamos voltando pra casa, mas seria outro momento de chatice, explicações e sermões. Tudo dependeria do tipo de atendente que pegaríamos.

Depois da pequena fila, chegou nosso momento. Já cheguei ao guichê com o passaporte brasileiro em mãos, aberto bem na página da filiação e, também, com o certificado de nascimento (que estava vencido - esqueci de contar - sim, somos pessoas enroladas). O atendente pegou o passaporte brasileiro para certificar nome de pai e mãe. Logo, ficou alguns bons segundos olhando para os passaportes, olhava pra gente, virava página do passaporte, olhava pra gente. Fui ficando nervosa. Até que ele diz, em tom sério:

- "Vem cá! Vocês moram no Brasil. A mãe brasileira.  O pai italiano ... o menino nasceu na Espanha. Vocês podem parar um pouco em algum lugar ... ficam girando o mundo ..."

Juro que eu até demorei para assimilar o que ele estava dizendo. Logo, caímos os 4 na gargalhada. O atendente nos desejou boa viagem e seguimos nosso caminho.

- "Que simpático! E curioso ele, né?!" 

Chegamos, finalmente, ao lugar que mais amo dos aeroportos: Duty Free. :)

Apesar de saber que minha felicidade duraria quase nada (com o Euro pisoteando em cima do Real, não ia dar pra comprar muita coisa), fui bisbilhotando as prateleiras, tentando achar meu objeto de desejo de compra. Não. Não era um óculos, ou perfume, ou maquiagem ... era bebida mesmo. Não saio de um Duty Free sem comprar um vinhozinho, licorzinho ou Baileys. Dessa vez queria só o Baileys mesmo. Vinho já estava trazendo na mala.

Achei o preço um pouquinho salgado (mas sempre mais em conta do que se fosse comprar aqui no supermercado). Resolvi bisbilhotar em outro Duty Free que eu achava que seria mais em conta. Não achei o Duty Free - me equivoquei de terminal. Pra não ficar dando voltas pelo aeroporto com mochilas e Pequeno resmungando, fiquei sentadinha e marido (que é um anjo!), voltou ao Duty Free para comprar meu Baileys.

Ao chegar no caixa, a moça do Duty Free olhou bem séria pra ele e disse:

- "Ah! Vai comprar um produto italiano! Cheio de produto italiano aqui e você compra isso que é irlandês?"

Marido sorriu e disse que a mala já estava cheia de produtos italianos. O Baileys era pra mulher que é viciada nele.

- "Simpática! E curiosa ela, né?!"

Até o italiano estranhou tamanha cara-de-pau.

Mas quer saber ... eu, depois de muito tempo, tenho que reconhecer: eu também acho o máximo! Quando eu crescer, quero ser assim de curiosa.

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