Não me considero uma pessoa supersticiosa.
Deixo bolsa no chão (dizem que afasta dinheiro), deixo sapato virado (dizem que atrai azar), passo sem nenhum problema por baixo de escada, adoro gatos pretos ... e sexta-feira 13, pra mim, é um dia bem legal. Isso sim: bato três vezes na madeira quando alguém me diz pra ter outro filho.
O fato é que crendices não me afetam tanto, apenas o suficiente para não me tornar escrava de ritos e manias. Acredito muito nas coisas que são para o bem. Se pular sete ondas no Ano Novo atrai sorte, vou lá e pulo. Mas cansei de passar Ano Novo na Europa de preto e não tive azar durante o ano. (mas "deuzolivre!" de passar Ano Novo com roupa preta aqui no Brasil ... sai pra lá!)
Porém, existem situações que eu gosto (e muito) de vê-las como sinais. Uno situações que já aconteceram com possibilidades que talvez-quem-sabe-pode-ser que aconteçam (talvez seja para meu autoconvencimento mesmo, reconheço).
Pois bem ... hoje escrevo sobre isso. Porque deu vontade e porque tive um desses déjà vus particulares, só meus. Quem me acompanha a bastante tempo talvez até lembre ... já já você vai entender. Senta aí.
Na nossa última casa da Espanha (que foi a segunda casa - mudamos para um apartamento maior logo que fiquei grávida do Pequeno), de repente, apareceu um ninho em nossa janela. Morávamos no quinto andar, de um prédio todinho de tijolo à vista. Ao redor, naquela zona, haviam muitos parques, muitas zonas verdes e muitas árvores lindas. Porém, o passarinho resolveu fazer ninho ali na nossa janela. Nós o deixamos e o respeitamos. Vez que outra a gente dava uma bisbilhotada, escutava pequenos passarinhos barulhentos e víamos a mamãe (ou papai) sair vez que outra para buscar comida.
Quando fomos embora daquela casa, fiquei com muita raiva do moço da imobiliária que disse que "mandaria tirar aquele ninho" da janela. Nosso ninho. Havia virado até ponto de referência: nossa casa é aquela da janela que tem um ninho. Provavelmente foi pelos ares. Pessoas insensíveis.
Então, na Itália, na nossa segunda casa, tínhamos uma terraça (sacada). Minha paixão pela sacada foi amor à primeira vista. O apartamento em si não era lá grandes coisas (era bonzinho, mas pequeno), mas quando vi a sacada que tinha e, sobretudo, a vista que ela me proporcionava, quase me agarrei nas paredes implorando para que aquela fosse a minha casa. E foi. A nossa casa, por dois anos.
Pouco a pouco fomos arrumando a sacadinha, de maneira que se tornasse agradável. Compramos uma mesa legal onde fizemos algumas poucas refeições. Compramos flores que embelezavam a sacada na temporada de primavera/verão e que secavam e desapareciam na temporada de outono/inverno. Ali, inclusive, cultivei temperos e, pela primeira e última vez, fiz minha própria salsa al pesto (acabei com meu pé de manjericão, mas fiz - e ficou uma delícia!).
Um dos poucos objetos de decoração que comprei foi uma casinha pequena, de madeira e adornada com palha para enfeitar a parede.
Passado algum tempo, descobri que aquela casinha havia sido escolhida por algum passarinho para ser o abrigo do seu ninho. Levei um susto quando um dia, parada ao lado da casinha, vejo um passarinho bem na porta dela, piando desafiador. Juro que até fiquei com medo do passarinho!
Com o tempo, descobri que ali havia um ninho com uns 3 passarinhos pequeníssimos. Entendi a brabeza do passarinho e evitava ao máximo chegar perto da casa. Só bisbilhotava quando ele (ou ela) saía para buscar alimento (e quase sempre nem precisava ir muito longe. O tirava de minhas floreiras mesmo). Fiquei emocionada. Na minha sacada e na minha casa havia vida, amor e dedicação. (eu sou sensível, do tipo que até chora por conta disso ... fazer o quê?!).
Quando fizemos nossa mudança, não trouxe a casinha. Ela ficou lá na sacada. Ali era o lugar dela. A deixei com a esperança de que os novos inquilinos a preservassem e respeitassem. Quem sabe para uma próxima ninhada o passarinho resolvesse fazer ninho ali de novo e levasse encantamento para o casalzinho de idosos que estava indo morar ali?
Então viemos para o Rio de Janeiro. Passaram-se os anos e estamos na nossa segunda casa.
Em frente a minha casa existe uma árvore grande. Um pé de manga que não tá dando mais tanto fruto. Cortaram a árvore de uma maneira estranha (podaram somente a parte dos galhos internos ao edifício) e acho que foi por isso que ela ficou "triste" e resolveu não dar mais frutos. Mas ela segue grande, verde e, vez que outra, nela recebo visitas. Já apareceram tucanos e passarinhos de variedades mil. Muitos cantam tão lindo que até me emocionam (sou sensível, falei!). Um em especial encanta meu coração. Já até gravei um áudio dele no meu celular, só para ouvi-lo quando der vontade.
Tudo bem que da árvore também vem sujeira em dia de vento e, dependendo da temporada, aparecem bichinhos que, segundo o Google são "carrapatos de árvore" (se criam em pequenos ovinhos, logo nascem todos juntos - são uns 6/8 bichinhos ao mesmo tempo - e não vivem muito tempo). Reconheço que não sou tão bondosa assim com eles: os mato, logo, de imediato. E quando os pego ainda em ovinhos, boto fogo na bicharada e eles estalam feito bombinha de São João. (desculpa, Papai do Céu!).
Então, dia desses, enquanto organizava o quarto do Pequeno algo me chamou a atenção naquela árvore (a árvore dá para a sala e para o quarto dele). Me aproximei da janela e vi um ninho. Provavelmente vários ninhos devem de ter surgido ali durante todo o tempo que moramos neste apartamento (uns 4 anos), mas aquele me chamou a atenção especialmente. Era grande, lindo, bem organizado e muito próximo da janela do quarto.
Naquele mesmo instante veio um flash back dos outros ninhos (e das outras casas) e todo o significado especial que esta história tem pra mim.
Sempre na segunda casa. Sempre um ninho.
Alguns dias depois ele sumiu. Não sei se foi o vento que o derrubou, se os passarinhos debandaram. Mas eu o vi. Ele estava ali.
Eu não sou nada supersticiosa. Mas eu amo, prezo e respeito esses sinais que a vida me dá.
Poeminho do ContraTodos esses que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!
( Mario Quintana )
P.S.: quem ainda não leu a história dos outros ninhos, basta clicar aqui e aqui
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