E lá vamos nós ... mais uma vez.

"Eu tenho tanto pra lhe falar ..."



nossas primeiras fotos no Rio

Eu tenho muito, muito mesmo para escrever. Tanto que nem sei por onde começar.  Com a correria da mudança, faltou tempo para colocar as idéias em ordem. Em cada momento com olhar de despedida, desde que confirmamos nossa partida, foi surgindo na minha mente muitas idéias e histórias para contar. Incrível como tudo nesta vida é questão de ponto de vista. Basta olharmos para as coisas com outros olhos que tudo muda. Mas minhas idéias e histórias destas últimas semanas  ficarão para um outro momento. Não tive tempo de fazer uma postagem de despedida à altura e lamento muito por isso.


Desde o dia 01 de março de 2012, dia em que chegamos no Rio de Janeiro, sabíamos que, cedo ou tarde, o dia de nossa despedida da Cidade Maravilhosa iria chegar.

Não havia um prazo certo de "validade" pra gente aqui, mas nos nossos planos, talvez uns 5 anos, no máximo. Pouco a pouco fomos relaxando, deixando de ver as belezas da cidade com olhos de turistas e passando a viver o dia-a-dia, a rotina, o lado bom e ruim como "quase nativos", faltando apenas o "chiado" típico do Carioca. Que pena que meu Pequeno não levará consigo o sotaque carioquêix, que eu acho muito maneiro.



Por quantas vezes, andando pelo bairro que escolhemos e que amamos - Botafogo - cruzei o meu olhar com o do Cristo. Ele lá em cima, se exibindo para quem quisesse vê-lo, todo poderoso, abençoando a cidade com seus braços bem abertos. Quantos papos mentais bati com Ele, quantas vezes reconheci a saudade antecipada que sentiria daquela paisagem, cruzar com Ele todos os dias e, vez que outra, quando alguma nuvem ousada atrapalhasse nosso contato, me resignava porque sabia que "Ele estava lá". Quantas vezes briguei com Ele, com raiva, porque dentro do meu desespero achava que Ele não estava nem aí pra mim, aquela mania que a gente tem de colocar a culpa no Universo por tudo de ruim que acontece. Quanta pena e raiva senti de mim  por não me permitir aceitar e viver de uma maneira mais leve tudo o de bom e lindo que tínhamos aqui. Se tem uma imagem que levarei pra sempre na minha retina e no meu coração é a Dele.



Não estou levando na mala mágoa, ressentimento ou tristeza. Pelo contrário. Eu fui tão feliz aqui, mas tão feliz que meu coração transborda de bons sentimentos sobretudo, o maior deles, gratidão. Aqui será sempre nossa segunda casa. Voltarei sempre ao Sul, óbvio,  porque lá tenho o que é mais valioso pra mim (minha família), mas sempre que der retornaremos ao Rio porque aqui é o nosso segundo lar, daqui meu filho levará as maiores lembranças de sua infância, daqui meu marido vai levar a experiência por ter vivido algo bem diferente do que estava acostumado: aqui ele não foi sugado pela rotina estressante de uma cidade caótica e pode participar de todos os momentos da vida do filho. Aqui eu fui livre, leve e solta (no bom sentido da palavra, mal pensados!). Morando fora, vez que outra precisava da ajuda do marido para algo, solucionar algum pepino, me levar para algum lugar, traduzir algo ... de alguma maneira, mais ou menos intensa, mais ou menos importante, era dependente dele. Aqui foi justamente o contrário. Eu assumi esse papel meio de superproteção, afinal, o gringo era ele. Só quem mora fora e passa por algum perrengue sabe o quão valioso é esse sentimento de "liberdade".



Eu não quero e não irei falar neste momento sobre o lado ruim (violência, corrupção, custo de vida elevado para pouco retorno, miséria, falta de oportunidade, etc, etc, etc) que, preciso ser sincera, também influenciou no momento de decidirmos ir embora, mas não foram os principais motivos. Decidimos ir embora por um cúmulo de situações, somados a esse espírito cigano que temos. Havia uma necessidade de mudar, somando isso a que estávamos quase acostumando a acordar com tiroteios, somando a questão financeira (cada vez mais pesado pagar escola, curso do Pequeno), cada vez mais difícil ir pra Europa uma vez por ano pra visitar minha sogra ... soma tudo e se chega ao resultado final: surgiu uma nova oportunidade ... Papai do Céu escutou nossos pedidos ... simbora outra vez! Mas, como disse, os motivos ruins não nos fazem ir embora tristes, amargurados, temerosos, raivosos ou decepcionados. Pelo contrário. Estou indo com o coração meio partido. Na verdade, ainda nem fui e, agora mesmo, neste exato momento em que vos escrevo, brotam dos meus olhos lágrimas que se misturam a sentimentos de tristeza mas também de alegria e agradecimento por tudo o que vivemos.




Chegamos cheios de expectativas que, muitas, não se concretizaram. Desejos que não realizamos. Planos que não foram como esperávamos. Mas sabíamos que tudo isso faria parte. Afinal, nem sempre as coisas são como desejamos. Por isso, sempre digo, precisamos sempre ter um plano A, B, C ... H ... quantos façam falta. Nossas experiências de vida nos ensinaram isso.


Tivemos uma vida leve, fizemos de nosso bairro nossa pequena cidade, nos acostumamos a andar de bermuda e camiseta quase todos os dias do ano e quando o termômetro marcava uns 20ºC sorríamos com o "frio" que o Pequeno sentia. Nosso menino tropical vai sofrer com o frio da Europa. E eu vou sofrer sem o boteco com a minha caipirinha preferida. O marido vai sofrer sem a caldereta de chopp. Não vai ter frango à passarinho, nem feijoada, nem a farofa com ovo que Pequeno tanto ama.



Mas, acho, o que mais sentiremos falta, será das pessoas mesmo. Essa simpatia carioca, essa coisa de bater papo na rua, de marcar encontros que nunca irão acontecer, mas a gente sempre acabava o papo com um "vamos marcar sim". A simpatia espontânea das pessoas no metrô. Das histórias repetidas centenas de vezes por minhas vizinhas senhorinhas idosas, todos os abraços, beijos e presentes que Pequeno recebeu delas.



Nossas últimas semanas foram de despedidas, muitas. E de muita gratidão. Tenho repetido muito esta palavra porque é a que melhor traduz o que sentimos. Gratidão por tudo o que vivemos, tudo o que conhecemos e por todas as pessoas que fizeram parte de nossa história de vida aqui. À todas, absolutamente todas, vai o nosso muito obrigado! Estamos vivendo coisas tão boas, sentimentos tão bons nessas últimas semanas que chegam a emocionar. Emocionaram até meu marido que "é duro na queda", mas até do olho dele rolou alguma que outra lágrima.



Cada amigo que fizemos, cada presente e demonstração de carinho que recebemos, cada desejo e promessa de que aqui voltaremos e seguiremos mantendo contato com nossos amigos nos faz ter a sensação de que realmente valeu à pena. Obrigado, Universo!

Por nossas experiências, nossas mudanças, nossa vida cigana, morando longe de nossos entes queridos, aprendemos que, muitas vezes, os amigos são parte da nossa família. Neles recorremos quando precisamos de ajuda, quando celebramos momentos importantes  ou até mesmo quando "não temos o que fazer". Tudo a gente divide com eles. Eu vou sentir muita falta das amizades que fizemos aqui. Minha vida de cigana também me ensinou que leva-se tempo para restabelecer elos de confiança.



Como pais, não podemos deixar de agradecer imensamente todo o carinho que nosso Pequeno recebeu. Absolutamente mérito dele, pelas amizades que fez, que construiu, que manteve.

Agora, pela primeira vez, ele vive a experiência de partir. Ele já mudou algumas vezes, mas é a primeira vez que ele vive o desapego (não fizemos mudança, tivemos que deixar pra trás muitas coisas - e diga-se de passagem, ele se saiu muito bem nisso), já está sentindo a dorzinha no coração por se despedir de amigos e vive na angústia do "novo", me perguntando a todo momento: "como será minha vida lá?". Eu sou bem sincera e respondo: "não sei!". E não sei mesmo. Não sei nem como será minha vida ... quanto mais a vida dos outros. Mas procuro transmitir pra ele o lado bom desse "friozinho na barriga", essa ansiedade boa pela descoberta do novo, de uma nova vida, um novo lugar, um novo idioma. Já estou preparada psicologicamente para as choradeiras dele, os dramas, as saudades, as faltas e os medos. Eu também terei meus momentos assim. Mas a gente sabe que vai dar tudo certo (ao menos isso é o que a gente espera!).

Daqui a pouco estamos partindo, com a vida em 9 malas e algumas mochilas. Talvez essa tenha sido a "pior" de nossas mudanças (ou vai ver, com a idade a gente vai cansando mesmo). Ainda teremos um longo caminho até encontrarmos casa e colocarmos a vida em ordem. Mas a gente respira fundo, pega fôlego e vai matando um leão por vez.

O de agora é dar conta de faturar toda essa bagagem, aguentar a dor no peito e as lágrimas dos olhos.



Faltou tempo para dedicar melhores parágrafos para esta despedida. Mas, o importante, o que queria mesmo, era deixar registrado aqui o meu MUITO OBRIGADA por tudo o que vivemos! Fui muito feliz nesta cidade, tão feliz que tamanho sentimento transborda do meu peito. Se voltasse atrás no tempo, escolheria morar aqui novamente.

Sobre o futuro? Ah, meu amigo ... só Ele sabe!


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