Oficial (e finalmente!): mudamos.

Hoje, dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher (eu ainda reluto com datas tipo essa ... mas, ok! Isso é papo para outro momento) é o dia oficial da nossa mudança definitiva para a casa nova. 

Observando desde uma certa perspectiva, conseguimos tudo em tempo recorde: conseguimos fechar negócio alguns dias antes do Natal - coisa que parecia improvável devido a lentidão dos processos burocráticos italianos -   e conseguimos reformar algumas coisas (não muitas mas acabaram sendo mais do que imaginávamos) em 2 meses e meio. Nesse meio tempo rolou muito estresse. Num nível suficiente para eu não querer saber de obra em casa tão cedo. Tá aí uma experiência que não gostei ...

Nós tivemos sorte. Muita sorte! Ela nos acompanha sempre. Porém tem uma (grande) pitada de mérito do empenho do meu Amore. Enquanto eu me afogo em meio às possíveis opções "do que fazer", penso em quinhentas mil possibilidades,  ele vai lá e agiliza. Enquanto eu ainda estou pesquisando uma possível solução ele já foi lá e resolveu. Nessa nossa dupla, sou a parte racional e ele a prática. Essa é a nossa principal sorte. Meu marido é um perfeito gestor de crise.

Temos tido semanas intensas, de muito trabalho e preocupações.

Particularmente falando sobre mim ... nesses últimos meses tenho perdido o sono com frequência. De repente acordo às 3 da manhã e fico pensando se o box do banheiro foi bem instalado ou vai causar infiltração. No dia seguinte, acordo às 4h e fico pensando se ao invés de branca não ficaria melhor pintar de cinza a parede do quarto do Pequeno ... ou como vou fazer para cortar as roseiras do quintal. Sorte a minha ter várias roseiras gigantes no jardim ...

Nesses dois meses e meio senti várias vezes um friozinho de medo no estômago. Uma dúvida que vez que outra aparece atazanando meu ouvido: "Ei, Tatiana! Será que foi a melhor escolha? Agora vai ficar pra sempre aqui?".

'Pra sempre' ... um tempo muito longo, diria infinito (afinal .. é 'pra sempre', rá!). Tempo demais que faz com que eu sinta raízes brotando dos meus pés e fincando no chão. Raízes maiores do que as das minhas roseiras. Logo eu que me sentia tão livre ... que sorte que eu tinha!

E o meu medo vem exatamente daí, da sensação de não ser mais 'tão livre assim' (olha ela que bobinha!). Porque agora não é mais 'só' se desfazer de móveis/roupas, enfiar o que der numa mala e partir em busca do novo. Agora tem uma casa para terminar de pagar.

Ao mesmo tempo estou sentindo uma felicidade danada e doida para que chegasse o dia de hoje: deixar a empresa de mudanças colocar o último móvel dentro de casa, fechar a porta, olhar para a casa cheia de bagunça e mesmo assim sentir um grande alívio. Que sorte que esse momento está quase chegando!

Passei dias, semanas me despedindo da casa antiga: o apartamento que moramos nos últimos quatro anos. O apartamento que vi pela internet quando ainda estava no Rio de Janeiro (e quando Monza ainda era uma possibilidade bem remota de residência) e por conta de uma estante de vidro que depois virou o local mais inútil da casa me apaixonei por ele.

os primeiros móveis que compramos

Aqui começamos literalmente do zero. Nosso recomeço na Itália, numa casa totalmente vazia que pouco a pouco fomos deixando com a nossa cara, onde vivemos tantas coisas. Parece que foi ontem que entrei em desespero e, aos prantos, disse pro marido que havíamos feito uma besteira. 

Neste apartamento, durante esses 4 anos, vivemos muitos momentos difíceis. 

Nos primeiros meses aqui inventei de fazer um tratamento estético que deu errado. Eu diria até muito errado ... queimei o rosto e fiquei alguns meses "presa" em casa por conta das feridas que demoraram para ir embora. 

Logo passamos meses e meses trancados no período da pandemia. Nossa sorte é que a casa era grande, cada um teve o seu espaço  e a sacada  vez que outra dava uma sensação de "liberdade".

Aqui nessa casa recebi a pior notícia da minha vida. Foi aqui que sofri com meu luto e ainda hoje tenho as paredes brancas de testemunho das minhas lágrimas de saudade do meu pai. Meu pai gostava dessa casa. Quando falávamos por videochamada ele adorava ver minha cozinha que era azul da cor do Grêmio. Ele também gostava de ver minha violeta branca cheia de flores. Não tenho mais vídeochamadas com meu pai e a violeta nunca mais floresceu (mas está indo conosco para a casa nova).

Aqui também vivemos o início de um período bem difícil da nonna, que em pouco tempo ficou doente. Uma doença triste, sem cura e que, infelizmente, só regride. Aliás, quando ela veio nos visitar aqui neste apartamento, há quase dois anos, percebemos que 'algo de errado' estava acontecendo. Inclusive a  proprietária do apartamento nos ajudou bastante (tanto no início quanto depois - ela é médica especialista na área que trata a doença da nonna). Tem muito da nonna aqui no nosso apartamento também. 

Aqui iniciou-se a adolescência do Pequeno, nossas brigas e discussões. Essa casa foi testemunha dos nossos estresses quase que diários por conta da escola. Dos nossos conflitos sem sentido e das horas e horas que passamos dialogando na mesa da sala.

Mas apesar dos pesares ... desses quatro anos intensos, nós fomos muito felizes aqui também. Reunimos novos amigos. Da sacada de casa vi luas belíssimas e a sinfonia dos pássaros na árvore em frente ao meu quarto me anunciaram várias primaveras. 

Aqui estabelecemos uma nova rotina. Mentalizamos novos projetos. Sobretudo fizemos desta  casa o  nosso lar,  fortalecemos o nosso elo familiar. Algo que foi muito importante  para que hoje pudéssemos dar este novo passo. 

Por todos e cada um desses momentos de felicidade eu sou muito grata. Tá aí uma palavra que sempre está presente nos meus posts de despedida: gratidão. Que sorte a minha!

Enquanto esvaziava a casa  (pouco a pouco fui tentando deixar tudo limpo e arrumado para os próximos moradores) fui mentalizando somente coisas boas. Que esse lar traga para a nova família (um casal e duas filhas adolescentes - aliás a mãe ficou apaixonada pela estante de vidro) a mesma felicidade que proporcionou para mim e a minha família. Eu acredito muito nessa coisa de energia. E espero ter deixado aqui para eles as melhores possíveis.

Quanto à casa nova ... já a sinto muito nossa. Passei dias por lá faxinando cada cantinho, tentando tirar cheiro de casa fechada (ela assim ficou por uns dois anos). Pouco a pouco está ficando com cheiro dos meus produtos de limpeza que ainda se misturam com cheiro de obra (entenda-se cimento e tinta).

ontem na casa nova

Achei farelo de pão nas gavetas da cozinha e quando encontrei um longo fio de cabelo branco (que deduzi fosse da senhorinha que morou lá) me emocionei e caí num pranto que eu nem sei explicar porquê.

De novo eu e minhas crenças em energias ... bati um papo mental com ela e prometi cuidar muito bem da casa onde ela viveu por anos. Mas deixei bem claro que agora ela era minha ... sou boazinha mas nem tanto ...

Agora partimos para nossa nova morada com o pé direito. Um novo (re)começo e novas histórias para serem contadas aqui.

Vou  com o coração feliz, agradecido, com um sentimento de leveza. Ainda com um certo friozinho no estômago, tentando decifrar o quanto de 'pra sempre' vai ser este tempo ... mas com uma frase que ecoa com insistência em minha mente:

- "Que sorte a nossa!".