Pequenices. Acredite, elas continuam.

Já era tarde. Quase umas onze da noite. Subi para o quarto com o intuito de escovar os dentes e dormir. Mas Pequeno estava no banheiro.

- "Nicola! Anda, por favor! Quero escovar os dentes e dormir ... estou cansada e com sono."

- "Tá! Já vou!" (que traduzindo no tom do adolescentês é algo do tipo: 'Que saco! Que inferno! Não tenho paz nem no banheiro.')

Alguns segundos depois ele saiu do banheiro, nos cruzamos no corredor. Ele desceu, foi pegar a mochila para arrumar as coisas para a escola no dia seguinte e eu fui, finalmente, escovar meus dentes.

Havia a recém colocado a escova com pasta de dente na boca, marido diz em tom furioso:

- "Tu viu o que teu filho fez?"

Essa mania que a gente tem de quando o filho faz merda algo que não deve, a "propriedade" da criatura é sempre unilateral: coisa ruim é teu filho, se é coisa positiva é meu filho ... enfim ...

Não. Eu não tinha visto o que filho dele (Rá!) havia feito mas pelo tom percebi que não iria dormir tranquilamente após escovar os dentes.

Desci e então vi o que havia acontecido.

Pequeno, talvez entediado, talvez porque os neurônios dele já tivessem ido dormir, talvez porque quisesse provar algo novo, talvez simplesmente porque é um adolescente mesmo, resolveu inovar.

Foi ao banheiro. Se olhou no espelho e, assim como quem não quer nada, pegou a gilete e raspou as costeletas. Na verdade toda a lateral, até mais ou menos um pouco acima das orelhas.

- "Ah! Nada de mais ..."

Nada de mais ... só estava ridículo.

De repente um menino cabeludinho com um buraco branco na altura das orelhas. E, óbvio, ele cortou mais um lado do que o outro. Ridículo. Ele ficou ridículo.

Com cara de "ih! Tô ralado!", ele solta:

- "Mas a Fatima disse que eu podia arrumar de vez em quando" (Fatima é a cabeleireira).

Eu juro que nessas horas gostaria de ser uma mãe melhor, paciente e compreensiva. Mas acho que vai ficar pra próxima vida.

- "Seu idiota! Arrumar, não raspar tudo, sua anta!".

- "Ah! Tá bom ... nessa semana vou lá na Fatima e ela arruma pra mim ..."

De novo! Eu gostaria de ser uma mãe paciente, compreensiva, amorosa, tolerante ... mas ... sim! Sou uma megera e vai ficar pra próxima vida ...

- "Ah! Mas tu não vai não! Agora tu vai ficar umas boas semanas assim, só pra passar vergonha! Daqui umas duas semanas tu vai no cabeleireiro."

- "Mas ..."

Nem mais, nem menos. Nada de mais, lembra?

Zero problema ele querer radicalizar no corte de cabelo. Afinal, o cabelo e a cabeça são dele. Eu fiquei furiosa porque ao invés de assumir a responsabilidade pelo seu ato (estava entediado e quis inventar moda), veio inventando desculpa de que a pobre da cabeleireira havia dado ideia. A famosa frase "assuma seus B.O's".

A verdade é que faz mais de uma semana do ocorrido, ele ainda não foi arrumar o estrago, o cabelo já está crescendo e, segundo ele, ninguém percebeu (porque ele tem uma tática que é a seguinte: como o cabelo está grande, ele joga toda a lateral para frente e tapa as falhas).

  

adolescência em todo o seu esplendor

  

(foto tirada uma semana depois do ocorrido, cabelo já crescendo)

Nessa semana contei o ocorrido para a Fatima (porque além de megera sou fofoqueira!).

- "Mas que danado! Quando ele aparecer por aqui vou ter uma conversa séria com ele ..."

Fatima é das minhas.

Pra próxima vida acho que ele vai querer trocar de mãe ... e, talvez, de cabeleireira também.