Sobre tombos de bicicleta e boas ações.

    Não. Desta vez não foi Pequeno quem caiu de bicicleta (e leia essa frase ao som de 'Aleluia').
    Sábado à tarde. Pequeno estava em casa. Eu e marido voltávamos do supermercado, faltando alguns poucos quilômetros para chegar em casa. Marido diz, assustado:

    -"Ui! Alguém caiu de bicicleta!"

    Olhei para o lado oposto ao que estava olhando, onde fica a ciclovia que costeia o parque. Não vi ninguém.

    - "Aonde?"

    - "Ali ó!"

    Realmente havia uma pessoa idosa no chão. Num primeiro momento achei que fosse uma senhora.

    Por sorte tinha um local livre para estacionar o carro bem próximo. Paramos o carro e descemos. O trânsito havia parado e conseguimos atravessar rapidamente. Um casal que havia visto o acontecido também parou o carro e desceu. Uma moça também, já desceu do carro com o telefone em mãos pedindo por socorro.
    
    Não era uma senhora mas sim um senhor. Me confundi por culpa de seus longos cabelos brancos.

    Marido e o outro senhor o ajudaram a levantar. Parecia meio desorientado, nas mãos um machucado que sangrava. E se lamentava de uma forte dor no ombro e nas costas. Na cabeça não havia nenhum vestígio de golpe, felizmente.

    Ele andava de um lado para outro, quase sem controle. O que foi me deixando tensa, já que estávamos muito próximos da rua e o trânsito havia retomado a sua normalidade.

    Pedimos que ele se sentasse. Mas não obtivemos êxito. O senhor caminhava de um lado para outro, incontrolavelmente. Disse ao marido que ficasse de olho e tentasse deixá-lo o mais próximo possível do muro do parque, longe dos carros.

    A moça que havia chamado a ambulância precisava tirar o carro que havia deixado mal estacionado. Se despediu e foi embora.
    
    Perguntamos se havia alguém, algum familiar que ele quisesse contatar. Disse que sim, pra ligar para o filho. Porém comentou que estava indo justamente à loja de telefonia para consertar o telefone que estava com problema. Óbvio que ele não sabia o número do filho de memória.

   Com a ajuda do meu Amore, o senhor pegou o telefone para encontrar o contato do filho.

    Se você está pensando no típico senhorzinho, velhinho, idoso ... esquece. Era um senhorzinho sim, mas todo moderninho. Cabelos brancos e longos, na altura dos ombros (que naquele momento estavam dolorantes), no pescoço um colar de pedrinhas claras. Vestindo bermuda e regata. Nos braços várias tatuagens. Marido disse que ele parecia um integrante do Rolling Stones.

    Marido pegou o telefone do senhor para achar o contato do filho e ligar pra ele. Estávamos próximos do senhor, meu marido, eu e a outra senhora (do casal que também havia parado para ajudar). No que o marido pega o celular, a tela de bloqueio deixa todo mundo surpreso: uma bela de uma morenaça com um par de belos e abundantes peitos de fora. A senhora saiu de perto meio envergonhada, eu aguentei um sorrisão e marido, nada discreto, começou a rir.

    Mas a pioridade era contatar o filho que respondeu prontamente a ligação do meu marido, contamos o ocorrido, que não havia acontecido nada de grave mas que estávamos esperando uma ambulância, já que ele se queixava de dor nas costas.

    O filho disse que infelizmente naquele momento não poderia vir. Estava do outro lado de Milão. Mas que o senhor o avisasse para qual hospital o levariam. 

    A ambulância demorou um bom tempo (tempo suficiente para que eu lembrasse das coisas frias que havia comprado no supermercado e que estavam derretendo naquele calorão de quase 40°).

    O senhor e a senhora precisavam ir. Assim que falamos que ficaríamos com o senhor acidentado até que a ambulância chegasse. Eles foram embora e alguns minutos depois a ambulância chegou.

    Contamos o ocorrido, passamos o contato do filho, explicamos que ele havia pedido que avisasse qual hospital levariam o senhor acidentado (avisamos que ele estava sem telefone) e perguntamos se eles levariam a bicicleta (que estava com um dos freios quebrado, guidão  meio torto, mas era uma bici de boa qualidade, não poderia ficar jogada pela rua). O moço da ambulância pediu que esperássemos.

    Ficamos ali parados ao lado da ambulância. O povo que passava e ficava olhando pra gente, as compras derretendo dentro do carro, o senhorzinho cheio de dor dentro da ambulância ... e a imagem da proteção de tela que não saía da nossa cabeça.

    - "Tu viu a proteção de tela dele?", perguntou o marido.

    - "Oh se  vi!", com tom de "velho danadinho!"

    Abriram a ambulância e o moço veio nos fazer algumas perguntas, pois pelo visto o senhorzinho estava falando coisas meio desconexas. Nos disse que eles não poderiam pegar a bicicleta. Que teriam que ligar para os policiais para que eles viessem buscá-la, mas levaria algum tempo. Logo ligou para o filho.

    Eu e marido nos olhamos e quase sem conversar tomamos a mesma decisão: vamos levar essa bicicleta pra casa. Os policiais demorariam para chegar, sabe-se lá para onde levariam a bicicleta. A ambulância logo partiria. Não poderíamos ficar esperando  sabe-se quanto tempo.

    Assim que pedimos ao moço da ambulância que avisasse ao filho do senhor acidentado (e danadinho) que levaríamos a bici para nossa casa. O moço da ambulância passou o recado ao filho do senhor (logo marido o contataria novamente, para passar nosso endereço).

    O moço da ambulância ficou surpreso com a nossa atitude e disponibilidade: "Vocês são muito gentis!"

    Nos falaram para qual hospital o levariam, nos despedimos do pessoal da ambulância e do senhor Martino, de 75 anos.




    A ambulância foi embora ... e a bicicleta?

    Lembra que falei que estávamos voltando do mercado? Bagageiro cheio? Calor de 40 graus?

    A solução:  o marido foi pra casa pra guardar as compras o mais rápido possível. E eu voltei a pé, andando com a bicicleta ao lado. Poderia ter subido nela e voltado pedalando? Até poderia. Mas não quis arriscar. Um dos freios estava quebrado, guidão torto ... vai saber ... melhor não correr riscos.


    Boa parte do tempo passei pensando no Pequeno: na mesma fatídica rua aconteceram seus últimos tombos de bici. Gostaria que alguém tivesse dado a ele o mesmo cuidado, preocupação e atenção. E juro que em determinado momento até pensei: "esse será meu filho quando ficar mais velho ..."

    Não sabemos direito como aconteceu o acidente. Marido disse que só o viu quando já estava caindo no chão. O senhor Martino nos contou que quando viu, tinha um poste de sinalização na frente dele (???).

    No dia seguinte pela manhã o filho passou em casa para buscar a bici.  Para nossa surpresa o senhor Martino estava junto. Ainda com a mesma roupa do dia anterior (acho que passou a noite no hospital). Estava com uma espécie de tipoia no braço, imobilizado. O filho disse que ele precisaria de algum tempo de repouso, que o levaria para casa.

    O senhor Martino vai precisar ficar algum tempo "de castigo", já que a lesão requer cuidados e a bici também ficará algum tempo inoperativa. 

    Isso sim, com o telefone em mãos, ele não ficará entediado, nem que seja só pela proteção de tela :)

2 comentários:

  1. Eu também não sei passar por uma situação e não fazer nada. Seu Martino é danadinho.....

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  2. Hauahauaahauaha… senhor Martinho figura! Que bom que ele ficou bem e que, pelo visto, a bicicleta tem como consertar! 🙏🏻
    O cara da ambulância acertou em cheio: vocês são mesmo muito gentis! ❤️
    Amo vocês!
    Beijos da Dinda mais Legal que o Nicolinha tem! 😁

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