Uma Viagem Especial.

    Aqui na Itália, meninos e meninas costumam comemorar seus 18 anos com festa. Ao contrário do Brasil, por exemplo, onde as meninas costumam fazer aquela festa especial aos 15 anos, aqui não. Todo mundo comemora nos 18. 

    A experiência que tenho sobre o assunto são das festas que Nick Jr frequentou neste último ano, dos amigos fazendo 18. Teve um pouco de tudo mas todas mais ou menos no mesmo estilo: os pais alugam um local, que fornece a estrutura, comida, bebida, música. Tudo por um tempo limitado. O local, a decoração, tipo de comida depende de quanto os pais estão dispostos a pagar. Mas tem pra todos os gostos, tipos e bolsos. Ah! E em todas as festas que Nicola foi, os pais não estavam presente. Era somente para amigos mesmo. Em alguma que outra festa os pais apareciam na hora do Parabéns, brindavam e, como num passe de mágica, desapareciam novamente. Logo eu que amo uma farra iria perder a festa do meu filho ...

    Algum tempo antes do aniversário do Nicola perguntamos onde ele queria fazer a sua festa, já que precisaríamos ver com tempo o local, como funcionava, etc.

    - "Eu não quero festa", disse ele.

    - "Como não quer festa? Se o que mais se diverte na festa dos amigos é tu?!", perguntei incrédula.

    - "Me divirto e gosto ... mas não quero gastar dinheiro com festa. Primeiro porque eu tenho muita gente pra convidar. Depois vai lá, ok, aproveita, mas tem tempo pra acabar. Depois acaba ... e deu."

    Entendi perfeitamente o que ele quis dizer: é um momento tão legal que não pode durar somente 4 horas (normalmente o tempo que duram as festas). E na verdade meu cérebro parou ali quando ele disse que tinha "muita gente pra convidar". Era verdade! Ele conhece gente pra caramba, se dá bem com todo mundo. E o coração sensível do meu filho, já sabia, não iria deixar ninguém de fora.

    Fiquei economicamente aliviada ... mas por outro lado decepcionada. Como assim não vai celebrar em grande estilo os 18 anos? Logo ele que estava esperando tanto por esse momento.

    - "Então uma viagem!", falei.

    Ele balançou a cabeça querendo dizer "pode ser".

    - "Vai! Escolhe um lugar ... qualquer lugar, pega a mochila e vai sozinho!", falei bem empolgada.

    Ele balançou a cabeça querendo dizer "hummmm, não sei!"

    - "Irlanda? Dublin ... eu e teu pai já conhecemos, acho que tu vai gostar. Ou Amsterdan?"

    - "Eu não quero viajar sozinho!", disse ele um pouco desmotivado.

    - "Convida um amigo ..."

    - "Não! Vamos viajar nós três, então."

    A primeira opção dele era a de passar o aniver com a dinda, em Portugal. Mas a dinda estava com parto previsto bem para aquele período (e assim foi, dia 30/8 nasceu a Luísa, nossa afilhada coisa mais amada desse mundo).

    No final, entre pito e flauta, pitacos e vontades, o destino final foi Espanha.

    Eu, sinceramente, amei essa escolha! Apenas por dois motivos: porque eu amo a Espanha e porque Nicola nasceu em Madrid. A ligação dele com o país é quase nula porque quando ele tinha 1 ano e meio nos mudamos para Roma. Seria uma espécie de ciclo se concluindo (coisas da minha cabeça!).

    Voltamos à Espanha quando ele tinha 4 anos. Mas desta viagem ele não lembra praticamente nada (falei sobre ela aqui). Depois voltei sozinha, indo e voltando no mesmo dia pra resolver pepinos burocráticos. Voltamos novamente os três em Janeiro de 2024. Tínhamos um longo tempo de escala em Madrid, voltando das férias no Brasil. Aproveitamos para passear um pouco pela cidade (também falei sobre isso aqui).

    Assim que no dia 30/8 voamos para Madrid cedinho.  Mas Madrid não seria nosso único destino. Alugamos um carro no aeroporto e seguimos viagem direto à Granada, uma cidade que passamos um milhão de vezes na época em que morávamos na Espanha e íamos seguidamente visitar um amigo do marido que morava em Marbella.

as oliveiras que encontramos no caminho 

    - "Deve ser bonita a cidade ... na próxima vez a gente para pra conhecer."

    Voltamos várias vezes à Marbella mas não paramos em Granada nunca. Ficou sempre "pra depois" ... e acabou que fomos embora e o depois não chegou.

    Eu amei a cidade! E amei  a Alhambra! Vale muito, muitíssimo conhecer. Apesar de já ser quase Setembro estava bem quente ainda, a cidade com algumas obras, mas nada que estragasse o clima de encantamento com a cidade.







    No dia seguinte, depois de visitar com calma a Alhambra, seguimos viagem para Malaga. Outra cidade que também não conhecia, que ficou sempre "pra depois". Finalmente o "depois" chegou. Também gostei da cidade (da praia um pouco menos). Tínhamos somente dois dias ali, assim que precisávamos escolher: sair turistando por aí ou aproveitar ao menos um dia de praia.  Resolvemos ir à praia, assim  que teremos que voltar em Malaga pra visitar alguns pontos turísticos que ... ficaram "pra depois".


uma passadinha no estádio do Malaga

    Ainda conseguimos dar uma passadinha em Marbella para reencontrarmos o amigo do marido (a última vez que tinham se visto foi em 2011). Um jantar em boa companhia para colocar o papo em dia e aquela sensação de "parece que foi ontem" que a gente tinha se visto pela última vez (se não fossem nossos filhos, que eram pequeninos e agora estavam ali batendo papo de adolescentes).

    No dia seguinte acordamos cedo e seguimos viagem rumo à Madrid, nosso destino final e onde Nicola queria passar o dia do seu aniversário (vale lembrar que todos os destinos da viagem foram escolhidos pelo aniversariante, fizemos - eu e marido - apenas alguns ajustes de rota porque o menino queria visitar todo o sul da Espanha em 3 dias).

    Antes de deixar o carro no aeroporto, fomos até Torrelodones, onde fica o hospital onde Nicola nasceu (sim, ele pediu pra passar por lá). Como também era caminho, passamos pela nossa ex casa. Nicola queria ver o campo de futebol que ele jura que tem lembranças e memórias. Quase uma espécie de resgate das suas raízes.




as lembranças dele ...

    Deixamos o carro no aeroporto e seguimos para nosso hotel. Escolhemos uma região bem central, pra poder aproveitar sem perder muito tempo com transporte pra lá e pra cá. A primeira noite foi mais relax, uma caminhadinha pelo centro, uma esticadinha até La Latina e logo fomos descansar.




    No dia seguinte turistamos por um pouco mais de 10km (à pé - com calor e ladeira acima isso é coisa pra caramba!).  Fizemos boa parte da Gran Via, Plaza de España, Templo de Debod, Palacio Real. Assistimos a troca de guarda do Palácio e pegamos o finalzinho da missa na Almudena. Nicola refez uma foto à pedido da vó (ela queria que ele recriasse uma foto no mesmo local que meu pai fez, há 18 anos, quando eles vieram para o nascimento dele). 

Gran Via

Templo de Debod

a foto que meu pai fez há18 anos

Palacio Real

Fomos até a nossa primeira casa (quando Nick Jr. ainda nem existia), ficamos abismados com a mudança  daquela zona (onde tinha o ex estádio  do Atlético de Madrid, que foi destruído e agora é uma zona residencial bem legal), matamos a saudade do Vips (restaurante) que sempre íamos, depois voltamos pela zona de Lavapiés até o nosso hotel (que estava por Callao).

    Descansamos para recuperar energias para a noite: Nicola escolheu o restaurante para comemorarmos os seus tão esperados 18 anos. E logo os planos pós janta seriam o de curtir la marcha de la noche madrileña. Disso nos encarregaríamos eu e seu pai.

    Pedi dicas de restaurantes para as amigas. Eu fiquei doida por várias delas ... mas no fundo sabia que Nicola escolheria algo simples, "sem graça", sem muita muvuca. E assim foi. Ele escolheu um restaurante que estava perto do hotel que, aliás, estava fechado e reabriu justo naquele dia (dia 03 de setembro à noite). Mas, devo reconhecer, foi uma boa escolha. Apesar de estar bem no centro, o ambiente estava super legal, o local bonitinho e a comida bem boa.

    Logo fomos para um bar, onde cantamos Parabéns para nosso Pequeno, discretamente porque ele não queria chamar atenção. Bom, fui discreta na medida do possível porque quando deu meia-noite puxei uma vela musical que havia levado na bolsa :)





    Dali fomos para outro bar, onde ficamos o resto da noite. Um típico bar de guiris e ... como bons guiris, nos divertimos pra caramba (até demais, né meus  Nicola's?).

    No dia seguinte, com uma ressaca daquelas, fomos fazer o tour no estádio do Real Madrid. Acho que este era o momento mais esperado por ele durante toda a viagem: conhecer o famoso Santiago Bernabeu. O plano A pós estádio era seguir turistando pela cidade até o momento de ir para o aeroporto. Mas a ressaca tava tão danada que estendemos nossa diaria no hotel, voltamos e caímos num sono profundo. Sim, o resto dos passeios por Madrid ficaram  ... adivinha? "pra depois".


    Uma amiga querida foi nos buscar no hotel e nos levou até o aeroporto. No meio do caminho ainda paramos para bater papo numa terracita e colocamos um pouco da conversa em dia. Aquela mesma sensação boa de que "parece que foi ontem" que nos vimos pela última vez.

    Acho que Nicola amou a sua viagem. Ao menos foi isso que ele nos disse. E era isso que seus olhos transmitiam.

    E nós? O que podemos dizer?

    Ele poderia ter ido sozinho para qualquer lugar, poderia ter viajado com amigos ... poderia ter feito uma festa. Mas não. Ele nos escolheu como companheiros na vida e nesta viagem especial. E com o coração cheio de alegria e os olhos cheios de emoção, só posso dizer: obrigada, filho!



Um comentário:

  1. Que momento!
    Que coisa linda ver Pequeno (não mais) Nicola sendo Nicola 😍😍😍
    Eu lembro dessa roupinha verdinha 😍😍😍 Eu fico imaginando o rostinho dele falando de suas escolhas e sobretudo consigo "ver" o brilho nos olhos que expressam amor e gratidão. "Conhecendo" Nicolinha, não poderia ser diferente. Acho que ele está certíssimo!
    E eu super acredito das lembranças dele acerca do campo de futebol. Me emocionei porque até hoje, ninguém acredita, mesmo eu contando com riqueza de detalhes a vez que minha irmã jogou minha boneca pela janela, na casa dos meus pais. Eu tinha 3 anos e minha irmã, 2 anos. Falo da cor do vestidinho da boneca . Do tecido que era tipo um tule azul, com bolinhas brancas em alto relevo. E nem assim eles acreditam, porque eu era muito pequena. Por isso, tenho certeza que ele lembra. 🥰🥰
    Que delícia voltar.
    Não poderia ter sido melhor comemorado! Serão lembranças para uma vida e um dia, voltará para fazer a mesma foto com o filho dele, assim como espero que ele faça uma foto gravura com as três gerações, com o Marcello em Firenze. 🥰🥰🥰
    Amei, Bella amica! Que momento! É um rito de passagem registrado no melhor estilo.
    Deus abençoe abundantemente, nosso (enxerida eu 🫣) Nicolinha e a linda família de vocês!
    Eu amei esses registros onde tudo começou e o mais lindo de tudo: Poder ratificar que tudo valeu a pena!
    Esse blog é uma declaração de amor explícita para o resto da vida, para as próximas gerações.

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