E quando vi já estava organizando a mala para voltar pra casa.
Havia uma mistura de sentimentos: por um lado saudades de casa, da nossa rotina, da minha cama ... e por outro uma sensação de não querer ir embora por não ter aproveitado o tanto quanto queria, não ter visto quem eu queria e nem feito tudo o que desejava. Não comi todas as minhas saudades gastronômicas e nem vi todas as paisagens que sentia saudade. Não peguei sol e nem fui à praia. Não deu tempo de comprar Bis para trazer, nem Hawaianas pra garantir meu estoque, nem fui na Renner comprar roupa de ginástica (quem é expatriado vai me entender).
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uma saudade gastronômica que matei :) |
Nosso "tempo útil" no Brasil foi basicamente do dia 20 de dezembro ao dia 03 de janeiro. Nesse meio tempo festas de final de ano e quase que todos os dias restantes com compromissos familiares. Uma simples reunião familiar, na minha família, vira uma grande festa porque felizmente somos muitos.
uma saidinha de última hora pra comer um lanche "só" os de casa |
Todas as viagens ao Brasil são especiais mas essa foi bem especial. Primeiro pelo tempo que fiquei sem ver todo mundo (eu estava há dois anos sem ir pra lá). Segundo, porque desta vez conseguimos reunir todo mundo mesmo. Da última vez que havia ido ao Brasil, por exemplo, não tinha visto a Lu, minha sobrinha que mora no Canadá. Desta vez conseguimos reunir toda a família que fica espalhada por esse mundão.
"só" os de casa no Ano Novo (e faltou muita gente - basta olhar a foto do Natal no post abaixo deste) |
Além disso, conheci 3 novos membros da família: o priminho Benício e minhas sobrinhas-netas Maya e Alice. Que felicidade poder dar colinho, fazer carinho e curtir bebezinhos lindos. Uma pena não poder acompanhar de perto o crescimento deles.
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Reunimos parte da família para uma despedida de última hora (graças à Fefê, minha primeira sobrinha-neta). Fomos para a casa do meu irmão, pedimos uns pastéis e ficamos batendo papo.
"só" os de casa no salchipão antes do meu irmão mais velho chegar da Angola |
Eu não gosto de despedidas. Fico com o coração apertado, faço de conta que sou durona mas fico com vontade de chorar à cada abraço de "até logo" que dou.
minha sobrinha-neta Fefê |
Queria ter dormido cedo pois precisávamos sair da casa da minha mãe umas 3 horas da manhã (Osório fica a 100 km de Porto Alegre, onde fica o aeroporto, tínhamos que devolver o carro que alugamos e nosso vôo partia às 7hs).
Mas precisei terminar malas, pesar (e tentar descobrir o enigma de por que as malas pesavam mais do que quando viemos? Sendo que tínhamos trazido mais coisas do que estávamos levando ... incógnita ...).
Dormi quase nada e logo o despertador tocou. Um banho rápido, organizamos as últimas coisas e logo nos despedimos dos familiares safadinhos que acordaram de madrugada só pra dar tchau pra gente.
A entrega do carro foi tranquila e logo já estávamos na fila para o check-in. Felizmente não nos cobraram excesso de peso (uns 2kgs por mala - tínhamos 3 malas), tomamos um café bem ruinzinho e caro antes do embarque e logo iniciou nossa saga de volta pra casa. Sim, porque foi uma saga.
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já exaustos e a recém era o primeiro vôo |
De Porto Alegre tivemos umas 5hs de vôo até Lima, no Peru. Não tive tempo nem de piscar em Lima. Saímos do avião, deu tempo de uma ida rápida ao banheiro e logo já entramos na fila para embarque do próximo vôo.
Este era o meu vôo mais esperado: destino Madrid. 12 hs de viagem de Lima até Madrid. Pareciam horas infinitas, mas chegamos em Madrid lá por umas 5h da matina. Sabíamos que não era preciso muita pressa pois nosso vôo para Milão era somente à noite.
Nosso plano A era deixar as malas de mão pelo aeroporto e ir passear por Madrid.
Mas o vôo de Lima pra Madrid foi bem cansativo. Então fomos para o plano B: reservar um quarto no hotel do aeroporto mesmo, descansar um pouco, deixar as coisas e depois sair pra passear. Mas o hotel do aeroporto estava lotado. E queriam cobrar 35€/pessoa para tomarmos banho (por 30 min). Nada feito!
Plano C: pegar um hotel pelo centro de Madrid, tomar um banho, descansar, deixar as malas e sair para passear. O problema era que a maioria dos hotéis tem check-in lá pelas 14hs. Não serviria pra gente. Fizemos umas quantas ligações, o cansaço foi tomando conta e já estávamos quase nos desesperando. Até que um bendito hotel aceitou 3 viajantes cansados, fedidos e querendo uma caminha para umas 2 horinhas de cochilo.
Saiu melhor do que a encomenda. Pegamos um taxi e logo chegamos na zona de Sol. Eu não consegui nem tomar banho, fui direto pra cama. Dormi umas 3 recompensadoras horinhas, só depois tomamos banho (porque Pequeno também fez como a mãe dele - enforcou o chuveiro) e logo saímos.
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Puerta del Sol |
Relembramos lugares, revivemos experiências e, inclusive, já planejamos voltar com mais tempo. Quando os olhos do meu Pequeno aborrescente brilharam e de sua boca saíram palavras tipo: "é! Madrid é bonita mesmo!", fiquei com a sensação de dever cumprido.
Madrid estava repleta (o que já era de se esperar). O que eu não esperava é que havíamos aterrissado em Madrid justo no dia da Cabalgata de Reyes. Todos os lugares repletos. Fizemos um tour básico (o que não significa que tenhamos caminhado pouco).
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Plaza de España |
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Palacio Real |
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Plaza Mayor |
Matamos algumas saudades gastronômicas e seguimos turistando pela cidade.
Tivemos a "brilhante" ideia de esticarmos a caminhada até a zona da Castellana. Passamos pelo antigo local de trabalho do marido, próximo à Plaza Colón e resolvemos esticar até o Bernabeu (um dos desejos do Pequeno era relembrar o estádio dos Merengues).
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Plaza Cibeles |
Mas a bendita Cabalgata de Reyes acontece exatamente na Castellana. E na hora que resolvemos fazer o tour por ali era justamente o momento em que estavam bloqueando o trânsito para o início do evento.
Só deu tempo de descer do ônibus que havíamos pego pela zona da Plaza Colón até o Bernabeu, descer, tirar foto e subir no próximo ônibus, já que não tínhamos nem tempo e nem energia para voltarmos andando.
Típicos turistas desinformados, nos equivocamos com o bilhete do bus (achávamos que era como aqui na Itália, por tempo). Entramos no ônibus diretamente e fomos nos sentar. O motorista, na sua 'melhor' truculência madrilenha (tá aí uma coisa que não estava com saudade), quase nos bateu. Pagamos a nova passagem, enfiamos nossa cara cheia de vergonha onde deu e logo, para nossa surpresa, descobrimos que o ônibus não nos levaria até o nosso destino final. Ficamos na metade do caminho, por conta da bendita Cabalgata (nessas horas eu já estava até odiando os pobres dos Reis Magos ...).
Meu instinto barraqueiro quase me fez ir bater boca de novo com o motorista violento, afinal de contas, fez todo aquele barraco pra pagar a passagem e nos deixou na metade do caminho. Na verdade, ele tinha razão (apesar das malas maneras) e não era culpa dele toda aquela bagunça de trânsito . Eu também sou estressada mas no fundo tenho um bom coração ... mas que eu tava com raiva dele e dos Reis Magos ... ah, eu tava!
Paramos para comer alguma coisa e seguimos para o hotel. Deu tempo de tomar um banho rápido, organizar as coisas na mala de mão e seguir para o aeroporto. A ideia inicial era voltar de metrô porém na porta do hotel havia um taxi dando sopa, quase por milagre apareceu na nossa frente e acabamos cedendo ao cansaço.
Marido e Pequeno até tiraram um novo cochilo no trajeto entre o hotel e o aeroporto. O trânsito inicial estava bem lento ... por conta da ... Cabalgata, ela ... a bendita! Mas logo fluiu.
Chegamos cedo no aeroporto, deu tempo de dar uma descansadinha e esperar pelo vôo para Milão sem pressa, sem estresse nem correrias.
Chegamos em Milão com muito frio e chuva. Só deu tempo (e ânimo) de descarregar as malas do carro (e ficaram largadas pela cozinha mesmo) e, arrisco a dizer, desmaiamos. Caímos num sono profundo que durou umas 12 horas ... até o dia seguinte, quando acordei assustada, com aquela sensação de "onde estou?".
(E ... eu pequei: não tomei banho de novo! Ah, mas eu tinha tomado banho no hotel em Madrid antes de viajar ... e nem suei no avião)
Feliz por estar na minha cama, cansada mas realizada pela rápida visita a Madrid e pensando o que meu povo estaria fazendo naquelas horas lá no Brasil.
Até tentei virar pro lado e dormir novamente (já que meus Nicola's seguiam no melhor dos sonhos) mas lembrei que tinha uma vida para reiniciar, malas por desfazer, casa por organizar, uma geladeira vazia que encher, roupas pra lavar, plantas pra molhar ... quase sentei e chorei.
Mas liguei o aquecimento da casa, prendi os cabelos num coque improvisado, me olhei no espelho e disse em tom sério: "é, Tatiana! Tudo que é bom dura ... o tempo que tem que durar ... bem-vinda à realidade!"
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