O vaso, a vizinha e a moka.

    Semana passada. Estava em casa, Nick Jr. e eu havíamos terminado nosso almoço tardio ( o espero sempre para almoçar - ele chega da escola por volta das 14:15h). Estava organizando a cozinha, iniciando a lavar a louça quando vejo pela janela minha vizinha se aproximando.

    Ela se aproximava segurando em uma das mãos um vaso de barro e com a outra mão acenava para que eu saísse. Saí sorrindo porque já sabia do que se tratava.

    Há algum tempo (uns 2 anos, talvez) ela apareceu aqui em casa com um vaso, sempre de barro. Me contou que ela gostava muito daquele tipo de vaso (e gosta, o jardim dela é todo decorado com eles), me disse que de vez em quando ela recicla os vasos, outras vezes enjoa deles mesmo. E perguntou se eu queria aquele vaso que ela estava segurando.

    - "Eu quero sim! Eu gosto deste tipo de vasos ... só não compro porque eles são caros ..." (pronto! A vizinha acabara de descobrir que sou mão de vaca ...)

    Então me contou que a maior parte dos vasos ela compra em mercadinhos, antiquariados e alguns lugares específicos. Me deu algumas dicas.

    Passaram-se alguns meses. Período de férias de verão do ano passado. Ficamos algumas semanas fora de casa e quando volto vejo duas surpresas no meu jardim: primeiro o meu basilico (manjericão) que havia deixado lindo e passei toda a viagem pensando nele que morreria por falta de água, estava mais lindo do que sempre foi. Logo, percebo um novo vaso de barro no meu quintal. Sorri, porque sabia que só poderia ter sido a minha vizinha.

    Alguns dias depois a encontrei e ela me contou que havia deixado o vaso pra mim. Ah! E que havia se encarregado de molhar o basilico:

    - "Ele estava tão bonito! Não podia deixá-lo morrer."

    E me disse que trazia água da casa dela para regá-lo (já que quando vamos viajar, desligamos a água de toda a casa. Apesar de ter torneira no quintal, a pobre da vizinha não conseguia tirar água dali, uma vez que o registro ficava fechado).

    Me pediu desculpas se estava sendo invasiva.

    - "Imagina! Eu só tenho que lhe agradecer, duplamente!".

    Assim que quando a vi acenando com um vaso em mãos, já sabia do que se tratava.

    Saí e ela me contou que estava organizando algumas coisas no quintal, que aquele vaso ela não queria mais e perguntou se eu gostaria de ficar com ele. E é claro que eu queria!

    Ela se encarregou de onde colocá-lo:

    - "Vamos colocar aqui ó, fica bem bonito de se ver quando as pessoas passam ..." (detalhe que se trata do quintal na parte de trás da casa, onde só passam os vizinhos das 12 casas do nosso condomínio).


    Então começamos a conversar. Conversamos sobre insônia, sobre as férias, sobre o marido dela (que acabava de passar por um intervento cirúrgico), falamos sobre nosso condomínio, sobre filhos, sobre eu tirar a carteira de motorista, sobre plantas, sobre morar aqui.

    Faz 40 anos que ela mora aqui (27 nesta casa) e, segundo ela, ainda não se adaptou, sente falta da sua terra (detalhe, ela é de uma cidade que fica uns 80km daqui).

    Sorri e disse:

    "Se a senhora tem esta sensação, imagine qual é a minha ..."

    Ela perguntou se eu tinha contato com minha família. Se eu era ligada à eles ... sorri novamente e perguntei se ela estava com tempo ...

    Contei que eu não era ligada à minha família ... mas que era GRUDADA na minha família. Que vinha de uma família grande e bonita. Que era a última de cinco filhos, raspa do tacho bem raspa mesmo, que tinha uma relação especial com meus sobrinhos, que sinto uma falta danada do meu pai que não está mais aqui nesta terra há quatro anos mas  que me sentia muito sortuda em ter minha mãe, com quase 85 anos, que estava bem, vez que outra resmungando, vez que outra dando sustos, mas que estava bem e que falava com ela todos os dias.

    Ela sorriu e me contou que dia desses um dos irmãos (ela é a mais velha de 7 filhos) havia mandado um vídeo de uma festa familiar de alguns anos atrás.

    Percebi que seus olhos se encheram de lágrimas, lágrimas estas que logo começaram a se espalhar por seu rosto.

    - "Foi um momento feliz que hoje me causa tristeza, porque muitas daquelas pessoas que estavam no vídeo hoje já não estão mais ... inclusive minha irmã."

    E continuou ...

    - "... é aquela fase onde começa a partir um por um ... e logo a gente vai também!", disse ela enquanto secava as lágrimas dos olhos.

    Minha vizinha tem uns 70 e poucos anos. Esta fisicamente muito bem. É uma senhora bonita, se veste bem. Aqui no condomínio moram ela e o marido, na casa ao lado moram o filho mais velho  e uma nora e na outra casa o outro filho, a nora e o neto.

    - "Imagina! Não fique assim triste, não. Coisa boa ter momentos felizes pra lembrar. Infelizmente a única coisa certa é que algum dia partiremos. O importante é fazer com que esse intervalo de tempo entre a chegada e a partida seja vivido da melhor forma possível. E se conseguimos compartilhar esse percurso com pessoas queridas, melhor ainda!"

    - "Escuta, vamos lá em casa tomar um café?", me disse ela.

    - "Vamos tomar café sim mas aqui em casa. Entre, por favor!"

    - "Mas eu só tomo café de moka!", disse ela.

    - "Sem problemas! Tenho moka aqui em casa de todos os tamanhos ..."

    A moka   é a cafeteira por excelência dos italianos :)

    É uma cafeteira que basicamente usa a pressão gerada pelo vapor para empurrar a água através do café. Para vocês terem uma ideia, depois de alguns (muitos) anos tentando introduzir nesta casa uma máquina da Nespresso, somente no ano passado consegui essa façanha. Porque até então café nesta casa era feito só com a moka.

    Pois bem ... entramos, fiz um cafezinho (na moka) e seguimos batendo papo. Dei muitas risadas com minha vizinha. Ela é braba, meio encreiqueira, ao mesmo tempo uma pessoa educada e elegante mas que quando menos se espera, solta um palavrão. Ou seja, tirando o elegante, me identifico totalmente com ela.

    Ela se emocionou mais algumas vezes, tadinha! Perguntou novamente se falava com minha mãe todos os dias. 

    -"Sim, por videochamada. Às vezes a gente se fala mais de uma vez ao dia."

    Ela sorriu.

    Ficamos mais de uma hora batendo papo (somente dentro de casa, fora toda a conversa que tivemos no quintal). Até que ela lembrou que o marido estava em casa sozinho.

    - "É! No final a gente nem vive tão mal aqui. É um lugar tranquilo, os vizinhos são tranquilos ...", disse ela enquanto saía de casa.

    E complementei ...

    - "E eu  ainda tenho sorte de ter uma vizinha que me dá vasos lindos ... não dá pra reclamar mesmo ..."

    Ela sorriu.

    Eu entrei em casa e não consegui voltar a lavar minha louça. Fiquei pensando na sensação de "não ser o nosso lugar", fiquei pensando nas saudades, nos momentos familiares que com o tempo irão mudar ... ou se extinguir ... e fiquei pensando:  essa mulher tem duas noras para dar os vasos, que moram aqui ao lado dela  ... seja lá qual for o motivo para não serem elas as escolhidas (ou vai ver elas nem gostam daquele tipo de decoração), só passava pela minha cabeça: que sorte a minha! Pelo vaso ... e pelos meus!



Uma Viagem Especial.

    Aqui na Itália, meninos e meninas costumam comemorar seus 18 anos com festa. Ao contrário do Brasil, por exemplo, onde as meninas costumam fazer aquela festa especial aos 15 anos, aqui não. Todo mundo comemora nos 18. 

    A experiência que tenho sobre o assunto são das festas que Nick Jr frequentou neste último ano, dos amigos fazendo 18. Teve um pouco de tudo mas todas mais ou menos no mesmo estilo: os pais alugam um local, que fornece a estrutura, comida, bebida, música. Tudo por um tempo limitado. O local, a decoração, tipo de comida depende de quanto os pais estão dispostos a pagar. Mas tem pra todos os gostos, tipos e bolsos. Ah! E em todas as festas que Nicola foi, os pais não estavam presente. Era somente para amigos mesmo. Em alguma que outra festa os pais apareciam na hora do Parabéns, brindavam e, como num passe de mágica, desapareciam novamente. Logo eu que amo uma farra iria perder a festa do meu filho ...

    Algum tempo antes do aniversário do Nicola perguntamos onde ele queria fazer a sua festa, já que precisaríamos ver com tempo o local, como funcionava, etc.

    - "Eu não quero festa", disse ele.

    - "Como não quer festa? Se o que mais se diverte na festa dos amigos é tu?!", perguntei incrédula.

    - "Me divirto e gosto ... mas não quero gastar dinheiro com festa. Primeiro porque eu tenho muita gente pra convidar. Depois vai lá, ok, aproveita, mas tem tempo pra acabar. Depois acaba ... e deu."

    Entendi perfeitamente o que ele quis dizer: é um momento tão legal que não pode durar somente 4 horas (normalmente o tempo que duram as festas). E na verdade meu cérebro parou ali quando ele disse que tinha "muita gente pra convidar". Era verdade! Ele conhece gente pra caramba, se dá bem com todo mundo. E o coração sensível do meu filho, já sabia, não iria deixar ninguém de fora.

    Fiquei economicamente aliviada ... mas por outro lado decepcionada. Como assim não vai celebrar em grande estilo os 18 anos? Logo ele que estava esperando tanto por esse momento.

    - "Então uma viagem!", falei.

    Ele balançou a cabeça querendo dizer "pode ser".

    - "Vai! Escolhe um lugar ... qualquer lugar, pega a mochila e vai sozinho!", falei bem empolgada.

    Ele balançou a cabeça querendo dizer "hummmm, não sei!"

    - "Irlanda? Dublin ... eu e teu pai já conhecemos, acho que tu vai gostar. Ou Amsterdan?"

    - "Eu não quero viajar sozinho!", disse ele um pouco desmotivado.

    - "Convida um amigo ..."

    - "Não! Vamos viajar nós três, então."

    A primeira opção dele era a de passar o aniver com a dinda, em Portugal. Mas a dinda estava com parto previsto bem para aquele período (e assim foi, dia 30/8 nasceu a Luísa, nossa afilhada coisa mais amada desse mundo).

    No final, entre pito e flauta, pitacos e vontades, o destino final foi Espanha.

    Eu, sinceramente, amei essa escolha! Apenas por dois motivos: porque eu amo a Espanha e porque Nicola nasceu em Madrid. A ligação dele com o país é quase nula porque quando ele tinha 1 ano e meio nos mudamos para Roma. Seria uma espécie de ciclo se concluindo (coisas da minha cabeça!).

    Voltamos à Espanha quando ele tinha 4 anos. Mas desta viagem ele não lembra praticamente nada (falei sobre ela aqui). Depois voltei sozinha, indo e voltando no mesmo dia pra resolver pepinos burocráticos. Voltamos novamente os três em Janeiro de 2024. Tínhamos um longo tempo de escala em Madrid, voltando das férias no Brasil. Aproveitamos para passear um pouco pela cidade (também falei sobre isso aqui).

    Assim que no dia 30/8 voamos para Madrid cedinho.  Mas Madrid não seria nosso único destino. Alugamos um carro no aeroporto e seguimos viagem direto à Granada, uma cidade que passamos um milhão de vezes na época em que morávamos na Espanha e íamos seguidamente visitar um amigo do marido que morava em Marbella.

as oliveiras que encontramos no caminho 

    - "Deve ser bonita a cidade ... na próxima vez a gente para pra conhecer."

    Voltamos várias vezes à Marbella mas não paramos em Granada nunca. Ficou sempre "pra depois" ... e acabou que fomos embora e o depois não chegou.

    Eu amei a cidade! E amei  a Alhambra! Vale muito, muitíssimo conhecer. Apesar de já ser quase Setembro estava bem quente ainda, a cidade com algumas obras, mas nada que estragasse o clima de encantamento com a cidade.







    No dia seguinte, depois de visitar com calma a Alhambra, seguimos viagem para Malaga. Outra cidade que também não conhecia, que ficou sempre "pra depois". Finalmente o "depois" chegou. Também gostei da cidade (da praia um pouco menos). Tínhamos somente dois dias ali, assim que precisávamos escolher: sair turistando por aí ou aproveitar ao menos um dia de praia.  Resolvemos ir à praia, assim  que teremos que voltar em Malaga pra visitar alguns pontos turísticos que ... ficaram "pra depois".


uma passadinha no estádio do Malaga

    Ainda conseguimos dar uma passadinha em Marbella para reencontrarmos o amigo do marido (a última vez que tinham se visto foi em 2011). Um jantar em boa companhia para colocar o papo em dia e aquela sensação de "parece que foi ontem" que a gente tinha se visto pela última vez (se não fossem nossos filhos, que eram pequeninos e agora estavam ali batendo papo de adolescentes).

    No dia seguinte acordamos cedo e seguimos viagem rumo à Madrid, nosso destino final e onde Nicola queria passar o dia do seu aniversário (vale lembrar que todos os destinos da viagem foram escolhidos pelo aniversariante, fizemos - eu e marido - apenas alguns ajustes de rota porque o menino queria visitar todo o sul da Espanha em 3 dias).

    Antes de deixar o carro no aeroporto, fomos até Torrelodones, onde fica o hospital onde Nicola nasceu (sim, ele pediu pra passar por lá). Como também era caminho, passamos pela nossa ex casa. Nicola queria ver o campo de futebol que ele jura que tem lembranças e memórias. Quase uma espécie de resgate das suas raízes.




as lembranças dele ...

    Deixamos o carro no aeroporto e seguimos para nosso hotel. Escolhemos uma região bem central, pra poder aproveitar sem perder muito tempo com transporte pra lá e pra cá. A primeira noite foi mais relax, uma caminhadinha pelo centro, uma esticadinha até La Latina e logo fomos descansar.




    No dia seguinte turistamos por um pouco mais de 10km (à pé - com calor e ladeira acima isso é coisa pra caramba!).  Fizemos boa parte da Gran Via, Plaza de España, Templo de Debod, Palacio Real. Assistimos a troca de guarda do Palácio e pegamos o finalzinho da missa na Almudena. Nicola refez uma foto à pedido da vó (ela queria que ele recriasse uma foto no mesmo local que meu pai fez, há 18 anos, quando eles vieram para o nascimento dele). 

Gran Via

Templo de Debod

a foto que meu pai fez há18 anos

Palacio Real

Fomos até a nossa primeira casa (quando Nick Jr. ainda nem existia), ficamos abismados com a mudança  daquela zona (onde tinha o ex estádio  do Atlético de Madrid, que foi destruído e agora é uma zona residencial bem legal), matamos a saudade do Vips (restaurante) que sempre íamos, depois voltamos pela zona de Lavapiés até o nosso hotel (que estava por Callao).

    Descansamos para recuperar energias para a noite: Nicola escolheu o restaurante para comemorarmos os seus tão esperados 18 anos. E logo os planos pós janta seriam o de curtir la marcha de la noche madrileña. Disso nos encarregaríamos eu e seu pai.

    Pedi dicas de restaurantes para as amigas. Eu fiquei doida por várias delas ... mas no fundo sabia que Nicola escolheria algo simples, "sem graça", sem muita muvuca. E assim foi. Ele escolheu um restaurante que estava perto do hotel que, aliás, estava fechado e reabriu justo naquele dia (dia 03 de setembro à noite). Mas, devo reconhecer, foi uma boa escolha. Apesar de estar bem no centro, o ambiente estava super legal, o local bonitinho e a comida bem boa.

    Logo fomos para um bar, onde cantamos Parabéns para nosso Pequeno, discretamente porque ele não queria chamar atenção. Bom, fui discreta na medida do possível porque quando deu meia-noite puxei uma vela musical que havia levado na bolsa :)





    Dali fomos para outro bar, onde ficamos o resto da noite. Um típico bar de guiris e ... como bons guiris, nos divertimos pra caramba (até demais, né meus  Nicola's?).

    No dia seguinte, com uma ressaca daquelas, fomos fazer o tour no estádio do Real Madrid. Acho que este era o momento mais esperado por ele durante toda a viagem: conhecer o famoso Santiago Bernabeu. O plano A pós estádio era seguir turistando pela cidade até o momento de ir para o aeroporto. Mas a ressaca tava tão danada que estendemos nossa diaria no hotel, voltamos e caímos num sono profundo. Sim, o resto dos passeios por Madrid ficaram  ... adivinha? "pra depois".


    Uma amiga querida foi nos buscar no hotel e nos levou até o aeroporto. No meio do caminho ainda paramos para bater papo numa terracita e colocamos um pouco da conversa em dia. Aquela mesma sensação boa de que "parece que foi ontem" que nos vimos pela última vez.

    Acho que Nicola amou a sua viagem. Ao menos foi isso que ele nos disse. E era isso que seus olhos transmitiam.

    E nós? O que podemos dizer?

    Ele poderia ter ido sozinho para qualquer lugar, poderia ter viajado com amigos ... poderia ter feito uma festa. Mas não. Ele nos escolheu como companheiros na vida e nesta viagem especial. E com o coração cheio de alegria e os olhos cheios de emoção, só posso dizer: obrigada, filho!



1.8.

    Finalmente os tão esperados 18!

    Lamento te informar, querido filho "di maior',  mas basicamente não muda muita coisa ... ao menos não por enquanto. Na verdade muda, mas não aquela mudança 'drástica' que a gente espera com 18 anos.  A gente vai dando passos que pouco a pouco nos encaminham para as reais mudanças na nossa vida.

    Não tenho como não ativar minha versão nostálgica e lembrar de  toda  a nossa trajetória até aqui.

    Nossas aventuras e mudanças (de casas, de países). Das descobertas e das coisas que tiveste que deixar pra trás. Da vida "longe de todo mundo " e da certeza das tuas raízes: estar longe das tuas famílias paterna e materna não significava não se sentir perto.

Um bebê de um pouco mais de 1 ano e sua primeira grande mudança 

    Aprendeste desde muito cedo o que era despedida e como era viver com saudade.




    Aprendeste desde muito cedo o quão importante era ter amigos, se inserir, se misturar, se integrar e se esforçar para fazer parte.


    Foste sempre uma criança, um adolescente, um filho cooperativo, participativo. Um menino educado e afetuoso. Uma pessoa que desde sempre demonstrou ter um coração enorme e um olhar lindo para o mundo.
 
    Eu sinto saudades do meu bebê risonho, gorducho e carequinha. 


    Saudades do meu menino serelepe, curioso, cabeludinho e de bem com a vida.


        Saudades do meu pré-aborrescente cheio de caráter, respondão e que me fez ver que o geniozinho havia herdado da mãe. E descobri que às vezes é preciso um "chacoalhão" que nos faça aprender a lidar com situações inesperadas. E que errar é humano. Todo mundo erra! O importante é aprender com os erros e não mais repetí-los.


        Coloco essa minha nostalgia do passado na gavetinha correspondente dentro do meu coração  e vejo como é bom olhar pra ti agora, esse cara legal, bonitão, boa gente ... que bom que é te ver agora "quase" adulto e perceber que mantens a tua essência "de sempre": o teu bom coração, a tua simpatia, teu olhar curioso. Junto à isso, soma-se o teu espírito critico, a tua curiosidade por questões mais profundas, o teu saber estar. Eu sinto muito orgulho da pessoa que és hoje.



        Há 12 anos  escrevi aqui neste mesmo blog:


        (...)" Não sabemos o que passará no futuro, mas uma base com raízes e asas Pequeno já tem. Raízes, sabendo de onde veio e o quanto elas são importantes para nosso crescimento. Asas suficientes para voar nesse mundão, sem pressa e sem medo."

        E é exatamente isso que eu e teu pai te desejamos na nova fase que inicia agora: que voes ... sem medo ... e sem pressa. Sem pressa e sem medo. Tendo a certeza de que sempre poderás contar conosco.
     
       Eu fui mãe de um bebê coisa mais amada dessa vida!



        Fui mãe de um menino que eu não sei quase nem descrever em palavras sucintas o quão especial foi (de verdade é difícil existir nesse mundão uma criança tão nota mil quanto o pequeno Nicola).



        E hoje sou mãe desse cara gente boa pra caramba!



        Que sorte a nossa ... minha e do teu pai!

        Uma pena que piscamos e ... pronto! Já se passaram 18 anos!

        Feliz aniversário! Buon compleanno! Feliz cumplean̈os! Happy Birthday! Saúde e felicidade, nesses e em todos os outros idiomas!  💙

Férias de Verão

        Uma parte das nossas pequenas férias de verão já se foram.

        Apesar das férias escolares de Nick Jr.  serem enormes (3 meses de férias), a vida normal segue. Marido não tem 3 meses de férias no trabalho. Contando os dias que já passeamos durante o ano e mais os dias reservados para as férias de Natal, sobram algumas semanas.

        Assim que aproveitamos alguns dias (quase duas semanas) e fomos para Capistrello  (sempre falo aqui mas se alguém ainda não sabe: a terra do Nick Sr., vulgo Nicolão).

        Eu gosto da pequena cidadezinha (diminutivo carinhoso) no verão. No inverno fica todo mundo trancado dentro de casa por conta do frio e da neve (zona de montanha). No verão a gente vê pessoas pela rua. Marido reencontra amigos da infância, parentes. Tem pequenos eventos pela cidade. Resumindo: fica muito mais animado. E se tem uma coisa de que gosto é animação.

        Mas neste ano me ralei! Calma! Eu explico.

        Na ida para o Abruzzo, paramos em Florença, cidade que já estamos 'cansados'  de visitar mas que a gente ama. Quase sempre a gente para na Toscana pra dormir (fica mais ou menos na metade do caminho entre onde moramos e Capistrello). Quase sempre, porém, paramos em cidades próximas da autoestrada (pra no dia seguinte acordar e já seguir viagem). Mas dessa vez não tínhamos pressa. Assim que voltamos à cidade do David (de Michelangelo).


        O termômetro marcava exatamente 40°. Um calorão do caramba! Chegamos no hotel e o ar condicionado do quarto estava no modo Frozen. E nâo teve jeito de regulá-lo. Marido até perguntou: "quer trocar de quarto?". Nada! Tava ótimo aquele fresquinho.


        No dia seguinte cheguei em Capistrello com uma dor de garganta insuportável e um febrão daqueles de dar arrepios e tremedeiras.

        A febre logo passou mas a dor de garganta persistiu por uns quantos dias. Até contatei minha médica em Monza (acho que a única italiana que não estava de férias no período de Ferragosto).  Mas minha doutora é inimiga dos remédios. Liguei desesperada, doida por um antibiótico. Que nada!

        - "Toma só um Oki e espera teu corpo reagir. Se a dor aumentar e a  febre não passar, daí a gente pensa num remédio mais forte."

        A febre não voltou. Mas a dor, o cansaço e o desânimo permaneceram por alguns dias.

        Os Nicola's, que estavam ótimos, curtiram algumas noites do verão Capistrellano. "Pai, filho e o Espírito Santo" (no caso, um amigo do marido).

        Levei vários looks pra curtir as festinhas de lá. Quase todos voltaram intactos.

        Nossos dias se resumiram em limpar casa, arrumar casa, limpar jardim, cortar grama, limpar cantina. Pra ser bem sincera, nessas duas semanas só teve um dia que não fizemos absolutamente nada: o direito de exercer o dolce far niente foi no  Ferragosto.

ruínas de Alba Fucens

        Fui um dia passear na cidade de Tagliacozzo (fica pertinho de Capistrello e eu a acho um charme). Marido, filho e o Espírito Santo já tinham ido à Tagliacozzo curtir a vida noturna.



        Na ida passamos por um local com a escrita "mercatino dell'usato". Na hora  lembrei: há muitos anos (muitos mesmo, talvez uns 20) minha sogra me deu uns copos, que eu adoro mas que são pequenos. Há anos buscava copos da mesma linha só que maiores. São antigos, não vendem mais  em lojas.

        Passeamos por Tagliacozzo e na volta meus meninos queriam retornar por outro caminho. 

        -"Não senhores! Quero voltar pelo mesmo caminho porque quero ir lá no Mercatino"

        - "Ah, não mãe!", disse o aborrescento.

        Mas eu tinha um sonho e uma meta. Pra resumir: achei os copos. Marido até estranhou a minha felicidade.  Dificilmente compro coisas em brechós, brics, mercato dell'usato. Eu sou chata, acredito em coisa de energia e fico sempre com o pé atrás.

        Mas assim como acredito em coisa de energia, acredito que a água purifica. Lavei meus novos-velhos copos, um por um, mentalizando coisas boas e prometendo colocar neles somente vinhos bons. 

        Piscamos e já era o momento de voltar pra casa. Não passeamos onde havíamos pensado, eu não aproveitei tudo o que gostaria, mas organizamos algumas coisas na casa, respiramos ar fresco e o principal: curtimos (e esse era nosso foco principal) a companhia da nonna.  



Capistrello City


        Voltamos pra casa com os copos bem embalados, vários looks que não usei, uma cartela de remédios para febre, um pouquinho cansados por toda a função, tristes pelas férias estarem acabando. Mas com uma pitadinha de ansiedade porque ainda vai dar tempo de fazer um passeio muito especial.

        Mas sobre isso eu conto no próximo post ;)

O vaso, a vizinha e a moka.

    Semana passada. Estava em casa, Nick Jr. e eu havíamos terminado nosso almoço tardio ( o espero sempre para almoçar - ele chega da escol...