A vacina pra ele. O soco no estômago pra mim.

Sexta-feira passada Pequeno precisou faltar à escola. Tinha agendamento para tomar vacinas (segunda dose de uma, quinta de outras, sexta de outra). O horário agendado era bem no meio da manhã (não tivemos opção de escolha) e daria tempo de  assistir somente a primeira aula. Assim que resolvemos que ele não iria à escola. Dormimos um pouquinho mais do que o de costume, tomamos café e saímos, com calma, sem pressa e sem estresse.

No final, o atendimento atrasou em mais de uma hora, fora os vinte minutos que temos que ficar na sala de espera, para controlar caso tenha algum efeito da vacina. No caso dele, das vacinas.

Dois meninos que entraram antes dele passaram mal. Um quase desmaiou bem do nosso lado. Foi até engraçado ('engraçado' foi só expressão. Eu sei que não tem graça!) ver o menino mudando de cor ao sair da sala de vacinação. Até que ficou branco igual ao fundo aqui do blog, se amoleceu todo e se atirou nas cadeiras bem desconfortáveis da sala de espera.

Pequeno, que nem é dramático, só cochichava no meu ouvido: "Mãe! Eu não quero desmaiar!"

Pequeno nunca teve problema para tomar vacinas. Até mesmo quando era bebê: fazia beicinho, alguns segundos de choro e logo já estava sorrindo pra todo mundo.

E assim foi: entramos e ele já foi direto para maca, tirando casaco, blusa. Sentei, entreguei o relatório de vacinas dele, mais alguns papéis que me deram no momento do agendamento. Enquanto assinava a autorização para vacina, escutava Pequeno tagarelando com a enfermeira. Os dois em altos papos, nem aí pra nós (eu, a enfermeira que me atendia e um moço que parecia enfermeiro também - ao menos estava de jaleco - mas que basicamente estava ali somente observando).

A enfermeira deu as vacinas e logo compartilhou conosco, meros observadores de todo aquele blablablá,  parte do assunto entre ela e Pequeno: "Viu?! Ele me disse que gostava muito do Brasil, mas que infelizmente ali existem problemas bem sérios como insegurança, desigualdade ...".

Enquanto o ajudava a descer da maca, ela me parabenizou pelo comportamento dele. Acho que na verdade estava aliviada por ele não ter sido mais um passando mal.

Enquanto Pequeno colocava a blusa (fez duas vacinas: uma em cada braço, tadinho!), a enfermeira me disse:

- "Tudo ok com o calendário de vacinas dele. Hoje ele tomou as últimas que precisava. A próxima vacina somente com 22 anos."

Ao escutar as frases, tive a sensação nítida da minha alma saindo do corpo. Viajei ... fui pra longe. Tanto que nem escutei qual era o raio de vacina que teria que tomar com 22 anos. Na minha cabeça só ecoava o "... a próxima com 22 anos".

Nos sentamos na salinha  dando início à espera dos 20 minutos de observação e fiquei refletindo. Deu um aperto no peito, eu juro! A sensação nítida do tempo passando voando. 

Como assim? Não vou mais precisar levar meu filho pra tomar vacina? Ou, o que é pior ... aos 22 anos  com certeza ELE não vai querer a minha companhia.

Passou um filme, um flashback de todos os momentos de vacinas do Pequeno. 

Desde a primeira, quando doeu mais no pai dele do que nele a vacina bem dada, sem dó nem piedade, naquela coxinha cheia de dobrinhas. Todo o cuidado que tinha ao trocar fraldas ou dar banho, zelando pelo curativinho que colocavam. 



A primeira vacina no braço, quando ele aguentou firme e forte a dorzinha, mas deixou escapar uma pequena lagrimazinha. 


A saga da vacina BCG quando fomos morar no Brasil (falei sobre isso aqui). 

A felicidade quando tomou pela primeira vez uma vacina "de gotinha" e perguntou  "Por que todas as vacinas não podem ser assim?".

Os minutos no relógio foram passando. E eu, quanto mais pensava, mas sentia uma dor, que saía do peito e ia até pra alma. (não é só Pequeno que é dramático)

Acabou. Latejava na minha cabeça: a-c-a-b-o-u!  Acabei meu papel de mãe neste quesito. Como assim meu filho não vai mais precisar de mim pra tomar vacina?

Quis me enganar e enquanto ele fazia brincadeirinha  e dizia feliz da vida: "Uhulll, próxima vacina só com 22 anos ... e vou sozinho!", larguei um "Ainda bem!".

Mas era tudo mentira, Pequeno. Ainda bem nada! Quando chegar o momento da próxima vacina, gostaria de estar ao teu lado, te confortando com o olhar, rindo das tuas tagarelices, assinando por ti o papel, explicando que teu calendário de vacinas é meio bagunçado porque tem vacina do calendário espanhol, brasileiro e italiano. Eu gostaria de olhar com confiança para a enfermeira que irá te aplicar a vacina e dizer: "Vai de leve, que esse braço aí pertence ao que de mais valioso tenho na minha vida!". Gostaria de ir pra sala de espera, aguardar os 20 minutos e ficar batendo papo contigo, enquanto te faço um cafuné.

Vai saber aonde tu estarás? Ou onde eu estarei ...

Parece que foi ontem que andava contigo pra cima e pra baixo, por esses postos de vacinação do mundo afora, preocupada com as agulhas, com as reações, se terias febre, dor. E de repente me dizem: "Deu! Acabou! Cumpriu muito bem a sua tarefa, mas seus serviços como 'mãe que leva o filho pra vacinar' não serão mais necessários". Demissão sem justa causa.

Eu confesso, meu filho: essa última vacina doeu mais em mim do que em ti. Eu juro!

2 comentários:

  1. Doeu um pouco em mim também, pq acompanhei esse pequeno desde sempre à distância. Mas, te garanto uma coisa, o tempo pode passar rápido como for, mas ele nunca vai deixar de precisar da mãe dele. Seja para fazer companhia, seja na hora do aperto, seja na hora das alegrias mais incríveis! Se tem algo que uma mãe nunca é, ou nunca deveria ser, demitida das nossas vidas!
    Chorei aqui lembrando dele cotoquinho! 😭❤
    Espero que ele queira as nossas companhias quando for para a balada! 🤩🍻

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    Respostas
    1. Ainda tenho minhas dúvidas de se ele vai querer nossa companhia :) mas, se ele não quiser, a gente vai escondido mesmo. É bem a nossa cara :)
      Tadinho ... já estava "ralado" com a mãe que teve, vai Papai do Céu e encaminha uma dinda tão doida quanto kkkk
      Bjokas, lindona! Ainda temos muitos micos para fazê-lo pagar ... ah, se temos!

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