A Pressa é Inimiga da Paciência.

Uma das primeiras palavras do italiano que conheci logo que cheguei aqui foi fretta. Na verdade, antes mesmo de aprender a escrever a palavra (ainda hoje luto com as letras duplas - não entendo a diferença) aprendi o significado: pressa. A ordem do dia é essa. O povo é estressado e carrancudo (na maioria das vezes mal  educado mesmo) porque vive com pressa. O trânsito é um caos porque as pessoas estão sempre com pressa. Não posso exagerar e muito menos generalizar mas em muitos dos casos de má educação que presenciei a tal da fretta estava metida no meio.

Pois bem, feita a introdução, agora deixa eu começar a narrar um episódio que presenciei ontem.

Após a segunda noite mal dormida devido a uma dor insistente de garganta e, logo após ter tido um pouco de febre, resolvi visitar minha médico de família. Confirmei o horário de atendimento das quartas-feiras: das 10:30h às 12:30h. Como o consultório é praticamente atrás da minha casa, saí tranquilamente por volta das 10:15h.

Chegando lá encontro três pessoas no lado de fora da entrada do prédio (um jovem, um senhor de média idade e um senhor bem idoso). Pergunto se o consultório já estava aberto. O senhor bem idoso me responde que sim estava  aberto mas que a secretária ainda não havia chegado.

- "Ok. Grazie!". Resolvo esperar dentro da sala.

Chegando lá, encontro a sala repleta. Incrível  o número de figurinhas repetidas que sempre encontro por ali. Ou dá coincidência de que marcamos um mesmo dia pra ir ao médico ou o povo não sai de lá mesmo.

 Logo chega mais um, mais uma, mais outro ... e assim a fila só aumenta. E nada da doutora e muito menos da secretária chegar.

Em determinado momento, o senhor aquele bem idoso (lembram dele?) entra na sala e descubro que ele é o médico que veio hoje no lugar da minha doutora, porque embora pareça o contrário, médicos também adoecem e minha simpática doutora, hoje, estava de licença médica.

Passados alguns minutos, uma das muitas senhoras que estavam esperando, diz num tom bem alto:

- "Mas ... ei, doutor. Olha só! Eu não preciso de muito tempo, só preciso que o senhor me diga uma única coisa."

E, levantando um pouquinho a saia e esticando pro alto a perna, segue:

- "Eu tô com uma dor bem aqui ..."

E, antes de que ela seguisse, o médico, num tom bem sério, responde:

- "Por favor, senhora! Mas o que é isso?"

E a senhora continua:

- "Nãoooo, mas é "só" uma dor que eu ando sentindo aqui na minha per..."

- "SENHORA, POR FAVOR! Se a senhora não é capaz de se preocupar com seu direito a intimidade, me preocupo eu!"

A senhora, com cara de "cheia da razão", responde:

- "Ué, mas não tô nua, só tô mostrando minha perna".

O médico, que já estava furioso, diz:

- "Não me interessa, senhora. Quando chegar a sua vez na consulta a senhora entra e me explica tudo. Aqui não, ora!"

Uma outra senhora que estava por ali também concordou com o médico com um "onde já se viu?! Espera a tua vez!". Assim, por alguns poucos minutos mais elas seguiram naquele papo de "não era nada demais-sim era algo demais". O médico que já estava com o rosto num tom vermelho pimentão saiu correndo pra fora da sala.

Aguentei o que pude pra não rir da situação. Logo pensei: "quer saber, eu é que não vou ficar aqui pra ver como termina toda essa comédia".

Fui na farmácia, expliquei direitinho o que estava sentindo. Salientei que minha doutora estava doente e pedi algo que ao menos, entre ontem e hoje, aliviasse a dor.

Fiquei procurando pela rua a secretária do consultório médico. Se a encontrasse, teria dito: "Francesca, pede licença médica também e nem pensa em aparecer pelo consultório, pois a coisa tá pegando fogo por lá."

Novamente a tal fretta ...

Já dizia José Saramago: "Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo".

P.S.: o remédio da farmácia não adiantou nada e hoje tive que voltar por lá. O "senhor idoso" continuava sendo o médico substituto. A Francesca estava bem sentada na sua cadeira. E, por algum milagre divino, o consultório estava "quase" vazio.

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Contagem regressiva: 16 dias.