S.O.S. Rebeldia!

Estamos numa fase difícil de rebeldia aqui por casa.

Pequeno vai crescendo, deixando uma etapa e, felizmente, entrando em outra. Desde já deixo claro que este post não é uma reclamação.

Acontece que - já comentei antes por aqui - agora estamos na fase que, creio, seja a mais 'chata'. Muito mais que aquela primeira fase de adaptação com um bebê, de trocar fraldas, dar peito, dormir pouco. E, mesmo não tendo vivido - ainda -, acredito que mais chata do que a adolescência: a fase de um menino de 7 anos.

Eles descobrem a violência (guerrinhas, lutinhas, briguinhas), seguida da descoberta dos efeitos sonoros das mesmas. A fase em que eles se crêem "grandes" e passam a desafiar a paciência dos pais. A fase em que eles descobrem que também podem ser malvados, respondões e mal educados como nunca. A fase de desafiar, de responder coisas feias, de fazer cara de mau, de dizer "não te amo mais" sempre que se sentem contrariados.

Corações sensíveis: não leiam este próximo parágrafo!

Sempre fui intolerante com criança nesta idade, até mesmo antes de ter filho (detestava mesmo - reconheço). E, como todo mundo já sabe, paciência não é meu forte. O que significa que continuo não tendo paciência com criança nesta idade, mesmo que a criança tenha saído de dentro do meu útero.

Corações sensíveis: recomecem a leitura desde aqui. Obrigada!

Pequeno está mudando: os dentes que caíram estão crescendo, ele está crescendo, até mudando a voz e o jeito de falar. Está mais esperto, é capaz de encarar uma conversa "papo cabeça" sem nenhum inconveniente. Curioso e atento (muitas vezes mais um que o outro). Continua carinhoso. Todos os dias trocamos carinho e dizemos o quanto nos amamos. Ele continua me amando até o Universo. E eu o amo até o infinito.

Mas Pequeno está na fase dos 7 anos. Parodiando a  Sherlock Holmes: "Inevitável meu caro Watson!". Felizmente inevitável. 

Nossa primeira grande crise foi há mais ou menos  um mês. Pequeno pediu para brincar com um amiguinho, logo após a escola. Só que naquele dia não dava. Tinha coisas por fazer. Combinamos para a semana seguinte. Ok.

Ok? Ok nada. Saímos da escola e nem bem chegamos na esquina, Pequeno teve um ataque histérico, desses de chorar, ficar vermelho e gritar. Gritou tão alto e falou tanta coisa ao mesmo tempo que nem lembro direito o que disse. Mas algo como "que droga mesmo! Por que não dá hoje? Tu nunca faz as coisas pra mim ... e blablablá."

Levei um choque! Pequeno nunca gostou de chamar a atenção. Não assim, com manhas e brigas. E na rua, ainda por cima.

Parei. Pedi que olhasse bem dentro dos meu olhos. E, caso não tivesse se dado por conta, disse que estávamos na rua, que várias pessoas haviam percebido que ele estava sendo um menino mal educado.

Ele seguiu vermelho. Vermelho raiva. Continuou gritando e esbravejando e soltou minha mão. Soltou a mão e, num momento de fúria mor,  ameaçou me dar um chute. Não sei se tenha baixado o "santo do pau oco", se o anjinho da guarda tenha segurado seu pé. Mas o fato é que o chute só ficou na ameaça mesmo.

Voltei a segurar a mão dele. Desta vez com força. Disse que poderia seguir o show, que não daria bola. E que quando chegássemos em casa conversaríamos.

Ele disse que não gostaria de ter nascido meu filho. Seguiu dizendo que eu não estava dando um bom exemplo (???), e esbravejou ainda mais.

Do trajeto da escola até casa, juro, tive vontade de comer o fígado dele! Senti raiva. Senti decepção. Achei até graça, reconheço. Uma mistura de sentimentos que me deixou sem reação alguma. Não conhecia, ainda, esta versão do meu filho. Por sorte mudamos de casa e nosso trajeto agora é um pouco mais longo. Acho que me deu tempo suficiente para pensar bem como atuar.

Chegamos em casa e ele foi direto para o quarto. Quando percebeu que estava a caminho para nossa conversa, disse que iria ao banheiro. Demorou mais do que o normal. Sabia que viria sermão pela frente. Voltou para o quarto. Então iniciamos nossa conversa. Na verdade, minha conversa, porque ele se limitou a chorar. 

Resumindo, disse que estava de castigo, que não iria brincar com ninguém por alguns bons dias. Também não iria brincar com bola por, pelo menos, uma semana. As lágrimas escorriam. Disse que não estava nenhum pouquinho feliz com ele. Que havia sentido vergonha pelo espetáculo na rua. Que sempre que podia o deixava brincar com o amigo, mas que naquele dia simplesmente não dava. Que precisava entender que as coisas não acontecem sempre que desejamos. E disse que também poderia atuar como ele e dizer as mesmas coisas de forma "malvadinha".

- "Tu disse que não gostaria de ter nascido meu filho. Eu também poderia dizer que não gostaria de ter um filho assim mal educado."

Ele ficou no quarto. Chorou. Brigou. Resmungou. Dormiu. Resumindo foi basicamente isto que aconteceu.

Na manhã seguinte acordei e ele havia arrumado a mesa para o café da manhã. Me deu um beijo de bom dia. Retribuí o cumprimento. Ligou a TV. Pedi que desligasse. Perguntou por qual motivo. Lembrei que, caso tivesse esquecido da nossa conversa na noite anterior, estava de castigo. E no castigo incluía ficar sem ver seu desenho favorito.

Voltou a esbravejar. Disse que era chata. Perguntei o que ele entedia por chato. Disse que uma mãe que não "deixa o filho fazer as coisas" é chata. Perguntei se uma mãe que "não deixa os filhos fazer as coisas porque o filho está castigado por ter feito a mãe passar vergonha na rua sem motivo concreto" era uma mãe chata. Ele respondeu que ... não. E foi para o quarto.

Tomou banho para ir para a escola sem que eu pedisse. Até cantarolou no chuveiro. Almoçou quase toda a comida, sem briga e sem atraso. Escovou os dentes e se vestiu sozinho. Não que ele não faça tudo sozinho, mas quase todos os dias preciso ficar "lembrando" e dizendo o que deve ser feito.

Tomei banho e troquei de roupa para levá-lo à escola. Quando saí do meu quarto, Pequeno me analisou e disse:

- "Nossa, mãe! Como tu está linda hoje!"

Foi o elogio mais falso que escutei na vida.

- "Obrigada, Nicola! Mas não precisa forçar a barra ... porque tu continua de castigo."

Ele apertou o cantinho da boca, suspirou e foi para a sala.

Passaram-se os dias e semanas e, juro, tem sido um pouco difícil aprender a controlar o geniozinho do meu Pequeno rebelde. No outro dia brigou feio com o papai. No outro, voltamos a discutir. Num dia disse que "preferia que eu tivesse ficado internada no hospital". No outro, disse que não queria mais viver nesta família e que iria embora de casa. Ele anda malvado, muito malvado!

Quase sempre a "briga" começa por algo muito pequeno, como pedir para que tome banho (e ele resmunga), na hora de comer (ele resmunga, independentemente de qual seja o menu), por fazer o dever com mais cuidado (ele resmunga), por ir dormir (ele resmunga), quando tenho que sair e ele precisa me acompanhar (ele resmunga). Enfim, ele resmunga. Tem resmungado por qualquer coisa. Até o apelidei de "Do Contra".

Sei que é, também, uma maneira de me (nos) testar. É ele descobrindo coisas e tentando (não sei se de uma maneira equivocada ou não) adquirir seu espaço, provar seus (e nossos) limites. Também sei que preciso, como nunca, aumentar meu nível de paciência. Juro que estou tentando. Juro que tento compreendê-lo, também.

Não quero que Pequeno seja um "bibelô". Acredito sim que ele tenha que discutir e argumentar coisas, expôr seus desejos e vontades. Mas encontrar o equilíbrio entre o limite dele e o nosso, juro, é complicado.

Hoje me arrependo de todas as vezes em que julguei crianças histéricas que encontrei por aí. Me arrependo de falar mal da vizinha que todas as noites gritava com o filho (hoje entendo o motivo dos gritos). Tinha aversão a criança que julgava mal educada. Eu juro, de coração, me arrependo!

E juro outras duas coisas também:

1. algum dia acabamos "pagando a língua";
2. eu nunca imaginei que ser mãe era algo assim ...  tão complexo!






Um comentário:

  1. O coração do desenho tem asinhas, mas um olhar de Tatiana! rs
    Take it easy! Keep calm! kkkkkkkkkkk
    Acredite, essas fases vêm e vão, e nós simplesmente não dominamos o processo, o que nos irrita, angustia ...
    O importante é que o NÃO e os LIMITES de casa são muito mais suaves e infinitamente mais cheios de AMOR do que os da rua.
    Bem-vinda à vida selvagem! rs
    Bjão. Fiquem com Deus.

    Tio Beto_54,9

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