Fomos ao shopping. Queríamos comprar um tênis branco para o Pequeno, para a Primeira Comunhão, que será na semana que vem. Faltava somente o bendito tênis branco, que deixamos para comprar na última hora.
Preços absurdos, modelinhos feios que não gostamos. No único tênis que achamos, a loja estava com problema na maquininha do cartão. Iríamos pagar com cartão, então ... nada feito. O moço ainda fez uma tentativa de venda perguntando se poderíamos pagar em dinheiro. Crise, meu filho! É no cartão e parcelado em todas as vezes sem juros que pudesse fazer.
Como detesto shopping, ainda mais em final de semana (por que todo mundo vai pra lá?), nosso plano B foi voltar para casa. Eba!
Como de costume, voltamos a pé. Passaríamos numa delicatesse para comprar coisinhas gostosas e tomar um cafezinho em casa. Pequeno, que sempre reclama e quer voltar de taxi, dessa vez nem reclamou.
Alguns minutos de caminhada, Pequeno tagarelando (pra variar), marido prestando atenção na tagarelice do filho, de repente avisto um "bando suspeitoso", meninos e meninas com suas respectivas garrafinhas de tíner. Como estávamos um pouco distantes, pedi para o marido desacelerar um pouco o passo, para não cruzarmos com eles.
Acabou que um dos moleques do bando atravessou a rua e roubou um moço que estava do outro lado da calçada. Os outros, enquanto o amigo larápio agia, pegavam pedras e pedaços de pau do chão, talvez para atirar no moço, no caso de uma possível reação. O coitado até tentou reagir, mas o ladrãozinho atravessou a rua entre os carros, com uma habilidade que só os pivetes adquirem. Alguns taxistas que passavam no momento até pararam, insultaram, ameaçaram chamar a polícia, mas não adiantou muito. O ladrão saiu correndo na frente e o resto do bando, tranquilo, como se nada tivesse acontecido.
- "Viu! Eu falei pra vocês!", disse para meus Nicola's.
É incrível, mas eu ando ligadíssima quando saio na rua, estou atenta em tudo, em todos os ângulos possíveis. Até porque moro na "Cidade Maravilhosa", famosa por seus pivetes. E ultimamente eles tem surgido como erva daninha, brotam de todos os lados. E agem tranquilos, com a certeza da impunidade. Aliás, como escutei um deles aos berros dia desses, dizendo em alto e bom tom:
- "... porque eu não tenho nada a perder."
Realmente não tem mesmo. Quando uma pessoa não valoriza a própria vida e a do próximo, quando uma pessoa perde a dignidade ... realmente ela não tem mais nada a perder.
- "... porque eu não tenho nada a perder."
Realmente não tem mesmo. Quando uma pessoa não valoriza a própria vida e a do próximo, quando uma pessoa perde a dignidade ... realmente ela não tem mais nada a perder.
Demorou alguns anos, desde que chegamos aqui, para que presenciássemos essa dura realidade da rotina carioca. Não sei onde se esconderam, mas de repente, brotaram de todos os lados. Botafogo, o bairro onde moramos, está "minado", todos os dias, todas as horas e eles seguem agindo e não mais sorrateiramente, porque têm a certeza de que nada vai acontecer. Não querendo ser repetitiva (mas já sendo), porque acabei de escrever no parágrafo mais acima, mas ... é a certeza da impunidade. No máximo, uma anotaçãozinho na DP mais próxima do delito e pronto. Algumas horas depois cruzamos com eles novamente pela rua.
Eu, sinceramente, vivo numa mistura constante de sentimentos. As vezes sinto pena, são crianças que pertencem a um sistema aonde tudo deu errado (família, Estado, sociedade); muitas vezes sinto raiva, como hoje, por exemplo, tive vontade de sair correndo e encher todo mundo de soco (desculpem! Mas acho que numa outra vida devo ter sido uma guerrilheira, algo parecido, e devo ter lutado com "meio mundo", porque vez em quando tenho essas vontades de sair por aí batendo no mundo - ainda bem que logo passa). Ufa! Passou.
Enfim ... seguimos nosso caminho. Na esquina seguinte, encontramos 2 policiais a pé. Fui correndo "fofocar". Contei pra eles o ocorrido, fiz a descrição que pude dos elementos e o caminho que tomaram. Eles agradeceram e informaram a patrulha que estava fazendo ronda na zona, certamente de carro localizariam com mais facilidade. Tive vontade de desviar meu caminho e tentar cruzar com eles novamente, só pra ver o que aconteceria ... mas felizmente marido, que tem os dois pés no chão e sabe das minhas maluquices, me olhou com cara de "tá brincando, né?" e seguimos nosso rumo, o mais longe possível da pivetada.
Pequeno tremia feito vara verde, coraçãozinho à mil e o medo estampado no rosto: primeira vez que ele presenciava um roubo. Momento único que ele disse que irá compartilhar com as professoras e colegas na escola.
Como sou "malvadinha", resolvi dar uma aumentada na emoção. Disse pra ele:
- "Ih, cara! E agora? Nós deduramos os bandidos. Se eles descobrirem vão vir atrás da gente."
- "Sério?"
- "Sério. Vamos ter que ir pra delegacia pedir pra participar do programa de proteção à testemunha. Vamos ter que mudar de nome, de casa ..."
- "Sério?"
Tadinho! Logo expliquei que esse assunto é sério realmente, que existem casos assim. Mas que não era o nosso caso. Que havíamos atuado bem, contando para os policiais, assim poderiam prevenir futuros roubos.
Pequeno seguiu com uma cara meio desconfiada, passos firmes e rápidos e só sossegou quando chegamos em casa. Até respirou aliviado.
Mal sabia ele que na noite anterior havíamos sido acordados por tiros. Eu e marido acordamos com dois disparos bem fortes e nítidos, bem próximo a nossa casa. Fiquei tensa, nervosa, tive até cólica porque até o útero ficou tenso. Custei a pegar no sono novamente. E quando estava naquele estágio meio acordada, meio dormindo, escutei novos disparos, muitos, que vinham de mais longe. Achei que fosse coisa da minha cabeça. No dia seguinte fiquei sabendo que não, eram disparos mesmo. Vindos sabe-se lá de onde.
Pequeno, por sorte, dormia o sono dos inocentes e não ficou sabendo de nada. Só quando contamos.
Ele, bem apavorado, disse:
Mal sabia ele que na noite anterior havíamos sido acordados por tiros. Eu e marido acordamos com dois disparos bem fortes e nítidos, bem próximo a nossa casa. Fiquei tensa, nervosa, tive até cólica porque até o útero ficou tenso. Custei a pegar no sono novamente. E quando estava naquele estágio meio acordada, meio dormindo, escutei novos disparos, muitos, que vinham de mais longe. Achei que fosse coisa da minha cabeça. No dia seguinte fiquei sabendo que não, eram disparos mesmo. Vindos sabe-se lá de onde.
Pequeno, por sorte, dormia o sono dos inocentes e não ficou sabendo de nada. Só quando contamos.
Ele, bem apavorado, disse:
- "Ainda bem que eu não escutei ... teria saído correndo pro quarto de vocês."
Ufa! Ainda bem.
Olá queridos!
ResponderExcluirInfelizmente transformaram o Brasil nessa BOSTA.
As pessoas de bem estão acuadas, e não é só no RJ, não.
Se cuidem!
Renato Fraga
O problema principal é a impunidade. E o fato de que boa parte dos que fazem as leis estão em dívida com elas.
ResponderExcluirQue Deus nos proteja!
Se cuidem. Bjs
Tio Beto_57