Nicola 10.

Copa do Mundo se aproximando e Pequeno insistindo para ter uma camisa oficial do Brasil.

- "Bem capaz! Gastar um dinheirão com uma camiseta de futebol.", falei bem antipática.

- "Mãe! É Copa do Mundo ... eu sou criança, gosto de futebol. E nem tô te pedindo uma da seleção da Espanha também. Tô te pedindo "só" a do Brasil." (e a da Itália nem se comenta ... ha ha ha ... risadinha maquiavélica)

Quinta-feira passada, feriado, fomos "passear" no shopping com a desculpa de Pequeno trocar suas figurinhas repetidas do álbum da Copa (a bendita Copa). Estrategicamente em frente ao ponto de troca de figurinhas, fica uma loja de material esportivo. Pequeno pediu para dar "só uma passadinha" ali. 

Bingo! Várias camisetas da seleção brasileira expostas.

- "Nada feito!"

- "Mas mãe, olha essa!"

Olhei. Cara demais. Mas logo em frente haviam outros modelos em promoção. Igualmente caras para o meu gosto, mas não tão caras quanto a que ele pegou.

- "Eba! Pode ser essa! Vou lá experimentar."

Pequeno adora um provador.

Experimentou e gostou. Ficou um pouquinho grande, mas o tamanho menor ficaria justo demais (e pelo preço que vale, tem que servir até a próxima Copa).

Relutei um pouco, mas marido queria comprar. Compramos.

- "Mãe! Pode pedir pra botar meu nome e o número 10 atrás? Pode?"

- "Não  vou gastar dinheiro com isso."

- "Mãe! Eu só tenho uma única camisa com meu nome atrás ... e foi o Dindo quem me deu. Tu nunca me deu camisa de futebol com meu nome."

Felizmente a moça do caixa disse que ali eles não personalizavam as camisas. Mas que em outras filiais faziam esse serviço. Só levar a nota para comprovar a compra.

Ainda deu tempo de ser bem malvadinha e dizer pra ele:

- "Oooooh, que pena que não botam nome aqui ..."

Ok. Assunto encerrado.

Sexta-feira, pós feriado, vejo no grupo de whatsApp das mães da escola do Pequeno que a grande maioria dos coleguinhas não iria para a escola.

Quer saber? Pequeno está cansado, sobrecarregado de tanto estudo e deveres. Se a maioria dos colegas não iria, provavelmente as professoras não dariam nenhum conteúdo novo, nem teste e eles não fariam outra coisa na escola além de bagunça.

- "Filho! Que tal tu não ir na escola hoje?"

- "Não, mãe. Tenho que ir."

- "Mas teus colegas não vão."

- "A tia de Português vai passar matéria nova."

- "Não vai, não. Ninguém vai na aula."

- "Não, mãe. Eu não quero matar aula."

Fim dos tempos. A mãe incentivando o filho a matar aula (espero que Papai do Céu não leia nosso blog).

Pensa que eu desisti?

- "A gente pode ir no cinema."

- "Não, mãe."

- "Tu pode passar a tarde inteira em casa, sem fazer nada, jogando."

- "Mãe! Não."

Nossa Senhora das crianças responsáveis! De onde saiu esse menino? Como disse a dinda do Pequeno "eu mataria aula até de graça" e o danado do menino estava sendo subornado de todos os jeitos possíveis e ... nada.

Tentei o golpe fatal, meio sem saber direito onde estava me metendo e crente de que ele diria outro "não, mãe! Não tem vergonha?!":

- "A gente pode ir almoçar no japonês e depois ir tentar botar teu nome na camiseta ..."

Alguns segundos de pausa ... e ele disse:

- "Mãe! Tem certeza que tu quer que eu mate aula? Tá bom, então."

Me ralei. Mas eu queria que ele matasse aula mesmo. Ele merecia um feriado prolongado. Pequeno tem estudado muito, quase não tem tempo para brincar. Um pouquinho de relax não faz mal a ninguém.

"Tira uma foto minha aqui pra eu postar no meu Instagram?"

Pequeno ama comida japonesa e foi todo feliz almoçar em família (almoçamos com o Nicolão). Depois do almoço, pegamos o metrô e fomos para o shopping. Pequeno todo feliz e contente. Isso sim, bem avisado de que só colocaríamos o número na camiseta se não fosse caro.

E era caro. R$ 15,00 cada número (ele queria o número 10 - não podia ser um número só), R$ 4,00 cada letra (por que tive que colocar um nome do menino com 6 letras?), mais R$10 de "mão-de-obra". Oi? Quase o preço da camisa inteira.

Pequeno, muito experto, já sabendo qual seria minha resposta, fez uma proposta indecente: "A gente divide o valor. Eu pago a metade com o meu dinheiro". Beleza! Só precisaríamos voltar na loja umas 2 horas depois, pois a moça responsável pelas estampas só chegaria às 15 hs.

Ok. Fomos passear no shopping, sem pressa e sem destino. Deu tempo de ver vitrines, Pequeno provou umas roupas (mas não comprou nenhuma) e fomos em sua cafeteria preferida "fazer hora" e encher a barriga.



No horário marcado voltamos na loja. Justo no momento em que chegamos, a moça já estava organizando as letras e os números de Pequeno para estampar a camisa, quando ocorreu um acidente.

A máquina estampante, não sei como, estragou, estourou e saltou, machucando a moça. Machucando sério no ombro. A moça começou a chorar, estava preocupada que tinha que terminar a camisa.

- "Pelo amor de Deus, menina! Larga isso aí e vai ao médico. Não se preocupa com isso."

Resumindo: a moça foi pro hospital, a máquina estava sem conserto, a loja sem previsão para entregar as estampas. Acabei pedindo reembolso do valor pago. Pequeno ficou triste, mas não somente pelo fato de não ter o seu "Nicola 10" estampado. Ficou se sentindo culpado porque a moça tinha se machucado por "culpa sua". Expliquei que a culpa não era dele, que teria acontecido com qualquer outra camisa.

Nosso plano A  foi pro espaço e o próximo plano era voltar pra casa.

Mas vi a tristeza no rostinho dele. Eu havia prometido para meu filho que iríamos colocar o nome na bendita camisa. Eu precisava cumprir minha palavra.

Plano B foi buscar na internet um local próximo onde pudesse tentar, finalmente, estampar o "Nicola 10". Vi uma loja em Copacabana. Já conhecia a loja , eles vendem camisetas (sempre compro as camisetas para as fantasias do Pequeno lá) e fazem estampas. Mas não sabia se faziam estampas em camisetas que não eram da loja. Vamos tentar. Pequeno já estava cansado e sem esperança. No metrô decidimos se seguiríamos viagem para casa ou se desceríamos em Copacabana. Resolvemos descer e seguir a saga da camisa, apesar da dor nas pernas em ambos.

Chegamos na loja e fui direto na estamparia. Um moço bem solícito nos atendeu. Expliquei toda a situação pra ele, mostrei a camiseta e fiquei esperando um não bem simples e bem provável. Mas ele disse que poderia fazer sim. Só não ficaria pronto naquele dia.

- "Ah, beleza! Sem problemas."

- "Poxa, mãe! Eu queria ir pro meu curso amanhã com a camisa ...", disse Pequeno desapontado.

Já nos dirigíamos para o caixa quando disse, quase sem paciência:

- "Olha só! Não enche o saco! Depois de toda a confusão hoje e espera por conta dessa camisa, não tem problema se eu vier buscar amanhã e na semana que vem tu vai com ela para o curso."

Vendo a tristeza estampada no rosto do Pequeno, o moço veio até o caixa e me disse que se voltasse uma hora e meia depois, poderia pegar a camisa naquele dia.

- "Eba!", gritou Pequeno.

Agradecemos ao moço ... e lá fomos nós para a segunda sessão do dia em "fazer hora" esperando a chatice da bendita camiseta do Brasil, com o Nicola 10 estampado atrás.

Minhas pernas já não aguentavam mais. O cansaço estava nitidamente estampado no rosto do Pequeno. E eu jurava que chegaria na loja e o moço diria que não havia dado tempo de fazer a estampa. Afinal de contas, estava tudo dando errado com aquele treco.

Já não aguentava mais ficar rodando sem destino por Copacabana. Chegamos 10 minutos antes do tempo programado na loja. Quando olhamos para a máquina estampante, lá estava a Canarinha, bem amarela e bem prensada.

- "Chegaram em boa hora, estou terminando.", disse o moço.

- "Eba!", disse Pequeno entre saltos e gritos.

Quando o moço tirou a camisa da prensa, mostrou para Pequeno e seus olhinhos brilharam. Foi embora todo o cansaço e toda a tristeza.

- "Mãe! Posso vestir a camisa?"

Era óbvio que ele não aguentaria esperar mais nem um segundo sequer.

O moço nem me deixou responder. Jogou a camisa para Pequeno e mostrou onde tinha um provador para trocar de roupa.

Pequeno saiu da loja, fez todo o trajeto do metrô até em casa saltitando pela rua. E quando pedia para caminhar direito, ele só dizia:

- "Não posso! Tô feliz demais!"

Apesar de todo cansaço e de toda a função, também fiquei feliz demais. Primeiro porque consegui cumprir minha promessa. Segundo, porque no final, paguei menos da metade do preço que iria pagar na primeira loja.

Pequeno, entre risos e saltos, me disse duas coisas que fizeram com que eu ganhasse meu dia.

A primeira: que tinha aprendido a lição de que a gente tem que ser perseverante. Se a gente tem um objetivo, a gente precisa se esforçar ao máximo para cumpri-lo.

A segunda: me deu o título de melhor mãe do mundo.

Fiquei boba e com um sorrisão estampado no rosto.

Nicola realmente é 10!


Um comentário:

  1. Filhos ...
    Além de roubarem o coração da gente, roubam também os nossos sentimentos: passamos a ser felizes por eles, tristes por eles, preocupados por eles, realizados por eles.
    Mas o quê podemos fazer, se a maior prova de amor do nosso Deus foi enviar seu filho para nós?
    Parabéns pelo merecido título de "melhor mãe do mundo"!
    Beijos. Fiquem com Deus.

    Tio Beto_58

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