Escrevo bem assim " " (entre aspas) porque, felizmente, organizamos boa parte da vida em 6 dias. E preciso dizer: mérito do marido que se virou em mil. Eu fui nadando na mesma onda que ele ... e Pequeno foi junto porque não tinha outra opção mesmo.
Bom ... vamos pelo começo. Ainda sobre nossa saída do Brasil.
Havíamos planejado sair cedo do hotel, embora nosso vôo fosse somente às 17h. Um pouquinho passado das 13h já estávamos no Galeão. Tínhamos muita bagagem, sabíamos que teríamos que pagar excesso e que levaria algum tempo para solucionar tudo.
Não pegamos fila para o check in mas, mesmo assim, demoramos uma eternidade. Tivemos que pesar uma por uma nossas 9 malas grandes. Já resumindo, pagamos (muito!) excesso de bagagem e, felizmente, fizeram vista grossa para algumas mochilas extras que tínhamos, porém, tivemos que levá-las como bagagem de mão. Muita coisa para meu gosto (cada um com umas 3 bagagens de mão). Pequeno teve que entrar no jogo e carregou com um certo grau de estabanaquice as bagagens que lhe correspondiam.
Leão do dia completamente assassinado (coitado!), vinhozinho no jantar do avião e relaxamos o que deu durante a viagem. A verdade é que, pelo menos pra mim, não foi tão pesada assim as 11hs dentro do avião. Não é uma maravilha (até porque, depois de certa idade, começa a doer joelho, incomodar pescoço, desconforto nas costas), mas não foi ruim.
Chegamos em Roma cansados e "desfilando" pelo aeroporto com aquele monte de bagagem de mão e logo embarcamos para Milão. Nos pediram para faturar um pouco da bagagem de mão, pois o vôo interno (Roma x Milão) estava cheio. Beleza! Sem custo adicional e super tranquilo. Pena que faturaram a malinha que era mais fácil de carregar e nos deixaram com os trambolhos de mochilas. Faz parte. Isso sim: prometi nunca mais viajar com tanta coisa, seja lá qual tipo de viagem for. Se for mudança, deixarei tudo mesmo.
Dormi o sono dos justos no pequeno trajeto da viagem. Chegamos em Milão com o novo super leão do dia: dar conta daquele monte de mala (pegar e levar para o apartamento que havíamos alugado pelo Airbnb).
Havia identificado todas as nossas malas grandes com fita azul. Tínhamos muitas malas novas, provavelmente não lembraríamos bem quais eram as nossas ... pra evitar transtornos e facilitar nossas vidas, organizei tudo direitinho. Chegaram rápido e inteiras (apesar do peso de quase todas que superou o limite de 23Kg). 3 carrinhos para transporte. Pequeno teve que entrar no trabalho novamente. Cada um com seu carrinho, partimos para a saída.
Mas era óbvio que chamaríamos atenção da polícia. No controle de alfândega, bingo! Fomos chamados. Sinceramente acho que o policial ficou com preguiça de abrir aquele monte de mala. Passamos por uma pequena "entrevista", explicamos que estávamos vindo de mudança, ele perguntou o que levávamos, se levávamos bebidas, alguma coisa de origem animal, etc, quanto tínhamos de dinheiro, para onde iríamos e logo nos liberou. A verdade é que não tínhamos nada ilegal mesmo e nada que esconder. Era mais a vergonha de ele abrir nossas malas e revirar a bagunça de alguns anos de vida que restaram ali. Ufa!
Próximo leão do dia: esperar liberar o apartamento. Sabíamos que havíamos chegado cedo demais para o horário estipulado de entrada no apartamento. Assim que tivemos que esperar algumas horas no aeroporto mesmo. Melhor ficar ali do que na rua, na calçada, com frio (muito!). Ali pelo menos era aquecido, tinha onde comer, banheiro e um banquinho amigo para sentar. Enquanto esperávamos, marido agilizou nosso transporte. Óbvio que teve que ser uma van somente para nós. Após umas 3 hs de espera, depois de dois vôos (um deles com duração de 11hs), conseguimos ir em direção ao apartamento.
O motorista super simpático nos levou até nosso trajeto e nos ajudou a descarregar nossa super bagagem.
Apesar de ter dois elevadores no prédio, eram antigos e pequenos, assim que tivemos que subir tudo pouco a pouco, com a ajuda do caseiro que nos esperava. Para o Pequeno pedi apenas que controlasse a bagagem na calçada enquanto os adultos se revezavam para levá-las para dentro.
Lá pela terceira subida de elevador com apenas 2 malas, estava organizando as coisas dentro do apartamento e escuto uma conversa do marido com Pequeno:
- "Nicola, olha pra mim! Fica tranquilo, tenta apertar no botão tal."
O menino ficou trancado no elevador. O motorista da van havia ido embora, sobrou uma mala na calçada, meu filho super prestativo a trouxe para dentro, entrou sozinho no elevador e, não sei o que ele fez, apertou ou fechou algo errado e ficou trancado. Por sorte a porta do elevador tinha vidro e ele conseguia enxergar ao pai (e ao caseiro, que estava com cara de assustado). Logo Pequeno conseguiu subir um andar mais, depois apertou o botão do andar de baixo e tudo voltou a funcionar novamente.
Confesso que minha primeira reação foi a de "vou comer teu fígado! Quem te mandou trazer mala pra cá sozinho?". Mas ... ainda tinha muita coisa por acontecer, assim que ... relax. Ao menos o menino estava bem, não se apavorou e esta seria sua primeira grande história em Milão.
Fizemos o reconto das malas. Todas ok. Logo, o reconto das mochilas. Faltava uma. Justamente a que estava com nossos computadores e ... pasta de documentos.
Desta vez não teve jeito. Tive que soltar um palavrão bem grande e, sinceramente, bateu o desespero. Também pelos computadores mas, sobretudo, pela pasta com todos os meus documentos. Buscamos por todo o apartamento (que não é grande) e ... nada. Marido ligou para a empresa de transporte e disseram que iriam verificar, pois o motorista ainda não havia retornado. Alguns minutos depois ligamos novamente, ele havia retornado mas ainda não havia verificado. Nessas alturas já havia imaginado que Pequeno havia deixado a mochila na calçada, que alguém havia passado e levado. Neuroses de quem acabava de chegar do Rio de Janeiro, eu sei. Mais alguns minutos (ou seja, muitos minutos de angústia) e ele confirmou que estava na van. Ufa! Um pouco mais tarde ele nos trouxe de volta. Isso sim, prévio pago (e bem pago), mas ... fazer o quê?!
Também por aquele dia bastou, vamos combinar. Filho preso no elevador e perder a mochila de documentos já estava bom demais. Algumas outras cositas do tipo aconteceram nos dias seguintes, mas pouco a pouco a gente foi aprendendo a se organizar melhor.
No terceiro dia me bateu um certo desespero, confesso. Sou ansiosa e pessimista por natureza. Chegamos num sábado de feriado, logo domingo, nada muito prático por fazer, a não ser passear por Milão e apresentar o bello Duomo ao Pequeno, que ainda não o conhecia. Na segunda-feira pesquisamos pela internet algumas possibilidades de casa. Em Milão nada concreto. Marcamos uma única visita para terça-feira em Monza.
Monza, cidade bem próxima de Milão, já estava nos nossos planos. Nos agradava a possibilidade de morar em um lugar tranquilo, ter uma certa qualidade de vida. O único "porém" (se é que se pode dizer assim) era que o marido demoraria uns 40/45 minutos para fazer o trajeto (em transporte público) de casa ao trabalho. Mas pra ele isso não seria um problema. Até porque, dependendo da zona que fossemos escolher em Milão, ele demoraria talvez quase o mesmo tempo, tendo que fazer várias trocas de metro. De Monza para o trabalho é apenas uma estação de trem e logo uma única linha de metrô.
E diga-se de passagem, o transporte público de Milão e arredores nos surpreendeu positivamente. Tanto pela quantidade disponível, quanto pela qualidade e, sobretudo, nosso primeiro impacto com relação a educação das pessoas foi muito positivo.
O primeiro apartamento que visitamos era o apartamento dos sonhos. Já havíamos visto o anúncio desde quando estávamos no Brasil. Fizemos mil planos para decorá-lo. Tudo de imaginação e brincadeira. Provavelmente quando chegássemos em Milão ele não estaria disponível. Mas estava. Óbvio que nem tudo que reluz é ouro. Havia, novamente, um pequeno porém. Atrás do edifício tem uma linha ferroviária. Ou seja: passam trens. A moça da imobiliária já fez questão de comentar isso logo antes de entrarmos no condomínio. No anúncio não haviam falado nada a respeito. O apartamento realmente era muito bom. Enorme. Eram dois apartamentos que foram reformados e transformados em apenas um. A sala dos meus sonhos, uma cozinha já equipada, 3 quartos enormes, garagem e duas cantinas (basicamente dois locais para guardar coisas). Nós até achamos graça: o que menos temos agora são coisas para guardar (além das malas, claro).
O fato do trem passando atrás de casa nos fez repensar. Logo a moça da imobiliária nos comentou sobre outro apartamento disponível ali perto. Fomos visitá-lo. A qualidade do apartamento também era boa, numa zona tranquila ... mas era pequeno. Na verdade, acho, qualquer outra casa que víssemos a partir daquele momento nos iria parecer pequena. Vamos pensar.
Dali fomos visitar outro apartamento, com outra imobiliária. Todo novinho, reformado, cozinha mobiliada com móveis e eletrodomésticos a estrear ... mas era pequeno. Também vimos um quarto apartamento, ainda em reforma, que não gostamos e o desconsideramos.
De novo começou a me bater uma angústia, uma tristeza e uma ansiedade. Sobretudo porque Pequeno precisava ir logo para uma escola. O ano letivo aqui iniciou em setembro. Ou seja, o menino já estava perdendo 3 meses. Como ele irá para uma escola pública, precisávamos primeiro conseguir uma casa (ter um endereço fixo) para ver em qual escola da zona havia vaga disponível para ele. Reunião de família para resolver nossa situação, afinal de contas, a decisão era dos três.
Marido gostou do apartamento, mas não gostou do trem passando. Pequeno gostou do apartamento e disse que não teria problema algum em dormir no quarto de trás ... e que o apartamento tinha 28 tomadas (ou seja, não teria mais problema para carregar seus jogos) - sim, ele contou as tomadas dos apartamentos. Eu amei o apartamento, mas também me incomodava a possibilidade de ter trem passando a cada não sei quantos minutos e, sobretudo, durante a noite (apesar de ter o sono bem pesado).
Decidimos voltar ao apartamento e perguntar para alguém que morasse ali a frequência e a intensidade do barulho. A ideia era sair apertando no interfone mesmo questionando as pessoas. Provavelmente achariam estranho, mas a gente precisava tentar. Por sorte, o porteiro morava ali também e vinha identificado o seu apartamento no interfone. Ele gentilmente abriu a porta e nos recebeu. Logo veio sua esposa e se misturou à conversa. Eles moram ali há uns 28 anos. O trem passa, não se sabe com que intervalo, porque depende muito das linhas, mas passa. Inclusive à noite. Se ele bem lembra, da 1h da manhã até umas 6h não passa nenhum trem. Sobre o barulho incomodar ou não, palavras dele, "é questão de acostumar". Nada motivador, pensei. E saímos de lá meio cabisbaixos e sem saber o que fazer. Tínhamos pressa e o apartamento era muito bom. Certamente alguém se interessaria por ele.
Até que eu e marido fizemos uma reflexão quase juntos - coisas da afinidade: Vem cá! Em Madri moramos super próximo do aeroporto, passavam vários aviões de dia e de noite. No início incomodava, mas depois a gente acostumou. No Rio, também, aviões que chegavam ou partiam do Santos Dumont passavam bem em cima de nossas cabeças. No início incomodava, mas depois acostumamos. Qual é o problema de passar um trem atrás de casa? O porteiro tinha razão: questão de hábito.
Assim que fizemos uma proposta para a proprietária, pedimos uma pequena redução no valor do aluguel. Pra resumir tudo - que essa história já está ficando longa - ela aceitou. Nesta semana vamos assinar o contrato definitivo e, em menos de uma semana, conseguimos casa e já matriculamos Pequeno na escola.
Ele até poderia iniciar logo, mas como ainda não estamos morando em Monza e como aqui as escolas entram em férias no período entre Natal e um pouco mais do Ano Novo, ele só vai iniciar dia 7 de janeiro. Confesso que estou ansiosa por este momento. Mas ... é um leão por dia, lembra? Ainda tenho muita coisa que resolver antes disso.
Também não vamos ir direto para o apartamento pois, uma vez que assinamos o contrato é que podemos pedir para ligarem luz e gás. Sobretudo o gás demora um pouco para ligarem. E aqui, no inverno, não dá para entrar numa casa sem o gás em condições (possibilita o aquecimento da casa e da água quente para banho, etc). Vamos ter que contar com a sorte. Disso também vai depender nossa ida ou não para passar Natal em família na terra do marido, que não fica tão perto assim. Senão, teremos que passar o Natal solitos, nós 3. Marido está meio angustiado com essa situação, mas ... neste momento, faz parte também. Não é o que gostaria, mas se não tiver outra opção ... vai ser algo diferente para todos.
Mas ... tudo ainda são planos e hipóteses ... assim que seguimos no mantra "um leão por dia" ... ou, ao menos, um por vez.
"Pouco a pouco" as coisas vão tomando jeito, a vida vai entrando em ordem.
O único que não acostumei ainda foi com o frio ... mas nada que um vinhozinho não dê jeito :)
Parece que foi ontem que estava lá no Rio, em meio ao turbilhão da mudança, namorando o nosso apartamento de longe. Sonhando com ele e desejando que ele fosse nosso.
Sempre me disseram: "cuidado com o que você sonha. Desejos se tornam realidade". E, mais de uma vez, eu pude ter certeza disso ...
Toda a mudança é para melhor.
ResponderExcluirAlém disso, reforça o laço familiar, pois nos unimos nas dificuldades.
Muito boa sorte nesta nova fase italiana da vida de vocês. Sejam felizes!
Beijos. Fiquem com Deus.
TioBeto_59
Nossa! É fantástico esse blog! Meu futuro livro de cabeceira preferido!
ResponderExcluirComo é bom "voltar" no tempo e acompanhar tudo isso, sobretudo por poder comemorar suas conquistas ao longo desses cinco anos, e já me emocionando 🥹🥹🥹por lembrar que tive a honra e a benção de conhecê -los pessoalmente com a sensação de que nunca estivemos separados. Eu amo poder vivenciar tudo isso! Afinal são anosss que torço pela felicidade de Tati e seus Nicolas!
Bella amica! Não canso de dizer: que presente maravilhoso para seu Pequeno Nicola, não mais pequeno, seus futuros netos, bisnetos e quem mais tiver o privilégio de vivenciar tudo isso. Deus siga lhes Abençoando com muito amor e prosperidade juntos sempre 🙏🏻💞💞💞🫶
Precisaria assinar? Rsrsrs👆
ResponderExcluirLa Mantequilla e Fã n°1 (porque família não conta heheh)