Semana passada, arrumando algumas coisas nos armários (sim! Eu ainda não estou com tudo organizado - e nem é por preguiça, é porque ainda não compramos todos os móveis mesmo. A casa é grande e o dinheiro é curto ... fazer o quê?!), mexendo na última mala que - ainda - estava fechada, encontrei algumas coisas perdidas (algumas literalmente e outras nem tanto). Encontrei coisas que trouxe e, a verdade, depois de dois meses nem senti falta (ou seja: nem precisavam ter vindo) e, outras, que não lembrava e tive uma feliz surpresa ao encontrá-las.
Ainda no Rio de Janeiro, quando estava me desfazendo de quase tudo de material que tínhamos e vivendo aquela fase tensa do momento de escolher e selecionar o estritamente necessário, decidi conservar algumas cartas, cartões e bilhetes antigos. Cartas de quando fui morar na Espanha e muita gente me escreveu, cartões de aniversários das amizades que fiz por lá, os primeiros cartões e cartinhas de amor do/para meu Nick Sênior, cartões de casamento das famílias da Itália e do Brasil. Era muita coisa. Muita mesmo! E, como o espaço físico estava curto, resolvi guardar a grande maioria num espaço com armazenamento infinito: no coração. Reli tudo, tudo mesmo. Me custou tempo, me tirou sorrisos e me fez derramar algumas lágrimas. Porém, algumas poucas cartas e cartões vieram comigo. Coloquei tudo numa sacola azul e enfiei de qualquer jeito em meio as tralhas, prometendo que organizaria tudo quando chegasse o momento aqui.
Pois bem. Quando peguei a sacola azul onde havia colocado tudo junto, encontrei em meio a cartas e cartões um álbum que nem o havia aberto no Rio. Mas, mesmo assim, tinha a certeza de que ele deveria seguir viagem comigo: era meu "Diário de Bebê". O blog de hoje, só que lá em 1978. Foi uma feliz e grata surpresa.
Assim como fiz lá no Rio com as cartas, larguei tudo o que estava fazendo, deixei a mala cheia de bagunça e os armários com as portas abertas, sentei na cama e fui me aventurando em cada uma de suas poucas páginas. Infelizmente não tinha nenhuma foto. Na verdade, fotos de bebê tenho poucas e ficaram no Brasil, na casa da minha mãe, junto com outras fotos e alguns livros.
Logo na primeira página me deparei com a letra inconfundível da minha madrinha. Em outras, reconheci a letra da minha irmã.
Muitas coisas ficaram em branco, sem ser registradas. Acho que dei tanto trabalho que o povo não teve tempo de ficar escrevendo.
Nasci mais gordinha que Pequeno, porém mais baixa (aliás, 40 anos depois segue tudo igual ...).
Me peguei sorrindo e curiosa logo quando li a página acima. O papai tinha razão, embora hoje seja muito mais parecida com minha mãe, tenho os olhões da família do pai. O nariz é dele também. Fiquei curiosa para saber com qual dos 3 manos me pareço (embora pense que tenha um pouco de cada um deles comigo - os olhos do Beto, as bochechas do Renato, a boca do Miguel). Faltou uma observação ali embaixo da minha irmã dizendo:
"OBS.: sai fora todo mundo! Ela é a minha cara!"
Se somos parecidas eu não sei. A voz é igual :)
Logo, me vi refletindo sobre a loucura que foi a minha chegada. Não queria estar na pele da minha mãe. 4 filhos criados, 2 no final da adolescência e outros dois já entrando na fase adulta. Meu irmão mais velho já fora de casa, de repente ... grávida. Agora eu entendo quando minha mãe dizia que chorava ... eu teria fugido :)
Fico imaginando o que, também, deve de ter se passado na cabeça dos meus irmãos. Acho que tudo o que menos esperavam naquele momento era ter uma chata chorando por casa. Todos, inclusive o Pelé, meu irmão do coração. Lembrei dele (que anda por aí pelo mundo e só aparece de vez em quando) e fiquei com o coração apertado. De todos os irmãos foi o que mais viveu comigo na mesma casa. Foi meu protetor, meu cuidador, minha companhia e me livrou de muitas broncas. Me chamava de "Chatiana" ou "pintorzinho de rodapé". Me comprava sempre os melhores chocolates, me dava bronca quando me via pela rua andando de bicicleta com saia. "Já pra casa botar um shorts", parece que estou ouvindo ele dizer isso em tom brabo, mas de brabo não tinha nada. Foi meu guarda-costas nas primeiras festinhas. E olha que era dos bons: mesmo que tentasse fugir dele, quando menos esperava lá estava o Pelé atrás de mim. Encarei boas discussões quando duvidavam que ele era meu irmão. E como via que o povo não entendia era nada, sempre resumia dizendo: "ele nasceu de noite, ué!". Pelé sempre foi meu irmão. Tenho 4 de sangue e um de coração.
E quando estava quase derramando uma lágrima, ao virar uma nova página levei um susto:
E quando estava quase derramando uma lágrima, ao virar uma nova página levei um susto:
Meus cabelos! Meus cabelinhos! Peguei um fiozinho dali desse emaranhado de cabelinhos que vocês estão vendo e fiz uma comparação com os dias atuais. Acreditem: segue tudo igual. Sim! Meu cabelo segue da mesma cor (tirando os brancos que já habitam minha cabeça) e, o que mais me impressionou - e decepcionou -, segue fino igual. Não mentia quando afirmava quase sem querer que meu cabelo era fino como de bebê. Agora quem duvidar vai se dar mal, pois tenho até prova.
Minha mãozinha não foi muito bem desenhada. Vai ver não parei quieta. Coisa muito provável.
E foi só ir para a página seguinte, para as lembranças apertarem o peito novamente:
Quanta saudade do meu padrinho! Meu dindo e minha dinda sempre foram muito presentes em minha vida. Tenho lembranças maravilhosas da minha infância com eles, dos passeios, da minha prima Izabel me fazendo de cobaia para suas invenções de moda, das visitas na casa deles, do Nescau que minha dinda fazia e da bondade do meu dindo. Lembrei que, já adulta, fui dormir na casa dos meus padrinhos para, no dia seguinte, fazer prova para um concurso. O concurso era cedo e, mesmo sem necessidade, meu padrinho - que naquela época já estava doentinho - acordou cedo e fez questão de me acompanhar até o local das provas. Eu não passei no concurso e, quando saiu o resultado, chorei de raiva. Queria ter passado, sobretudo, para poder agradecê-lo de alguma maneira. Se eu viver 100 anos, não vou conhecer pessoa mais bondosa nesse mundo do que ele. Comentei muitas vezes com meu Nicola Sênior que ele se daria muito bem com meu dindo, os corações bondosos deles se reconheceriam. E quando a lágrima já embaçava o olho, foi momento de virar a página mais uma vez.
E, fazendo jus a bipolaridade do momento, caí na gargalhada ao constatar que, atualmente, algumas coisas se inverteram:
apetite: demais
digestão: boa
sono: ótimo
observações: deveria sorrir mais.
Me espantei quando cheguei na página acima. "O caráter" da criatura aqui em branco ... isso seria bom ou ruim?
Mas aí virei a página e logo em seguida descobri que foi bem melhor deixar em branco mesmo ...
Outra coisa que segue igual: adoro uma bagunça. Só não adoro tanto porque agora além de bagunçar tenho que arrumar. E em dose dupla, pois meu Nicola Jr é tão bagunceiro quanto sua progenitora.
- "Ohhhhhh!", foi o que pensei :)
Então, eu que pensei que já havia gasto todo o estoque de lágrimas daquele dia, me debulhei novamente lendo a página da primeira saída. Quanta saudade dos meus avós! Minha vozinha Amélia e meu vô Clóvis. Na verdade, nem sei se é saudade, pois tenho pouquíssimas lembranças, já que ambos partiram quando ainda era muito pequena. É, creio, uma dorzinha misturada com nostalgia, uma tristeza profunda por não ter podido aproveitar mais dos dois. Eu tinha tantas coisas para perguntar pra minha avó, queria escutar tantas histórias dela, queria tê-la visto sem estar doente. A única vaga lembrança que tenho dela é de em um momento estar sentada em seu colo, ela já doente, com o curativo da traqueostomia, tadinha, e a pirralha aqui pulando em seu colo, com meu vô sentado ao seu lado. Meu vô que, dizem, era duro na queda, teria muitas histórias, também, pra contar pro meu Pequeno. Das coisas do destino, foi o primeiro Nicola da minha vida ... se chamava Clóvis Nicolau. Quando faleceu, na divisão de bens, minha mãe, com a parte que lhe correspondeu, realizou um sonho do meu avô: me comprou uma bicicleta. A bicicleta mais linda que tive em toda a minha vida: azul, como sempre quis e sonhei.
Voltei à Terra na página seguinte. Me vi peladona no hospital com uma platéia enorme assistindo ao meu banho. Imaginei minha irmã querendo bater na enfermeira por eu ter me machucado. Até hoje tenho arranhões que nem sei de onde surgem. Estabanada desde sempre.
Encontrei mais algumas páginas escritas, com informações que, no momento, não vem ao caso.
Senti uma felicidade enorme por cada coisa que li. Agradeço imensamente à minha madrinha e à minha irmã por terem registrado esses momentos. Talvez elas nem imaginem o quanto significaram pra mim hoje, aos 40 anos, mais uma vez longe, descobrir essa etapa tão boa.
Fiquei pensando como será daqui a 30, 40 anos quando Pequeno, sem querer, encontre muito de si nas linhas e histórias que escrevo. Das lembranças que ele vai ter, das saudades, das faltas, das memórias ... por quais motivos serão seus risos e por quais serão seus choros.
No meu livro de bebê não tinha espaço para comentários. Mas aqui tem. Então, pra você que fez parte daquela época, escreve aqui o que você lembra. Pode ser até sobre aquela faceta de mimada, mal educada, chata, resmungona, brigona ... não tem problema ... tudo faz parte.
E, pra terminar esse post cheio de bons sentimentos, traduzo em apenas uma palavra o que representou minha infância, tanto das lembranças que tenho como das que nem imaginava. Eu, Tatiana, ariana geniosa, nascida em 18 de Abril de 1978, de parto cesárea realizado pelo Dr. Antônio Claudio (dele tenho vagas lembranças de quando acompanhava já maiorzinha minha mãe nas consultas), no hospital Ernesto Dorneles. Filha da Laura e do Valdemir. Irmã do Roberto, da Rosangela, do Renato, do Miguel e do Pelé, registro, afirmo e assino embaixo, que fui a criança mais feliz desse mundo. Pronto. Tá aí a palavra que traduz todo esse parágrafo: felicidade.
Esse mundo é mesmo uma caixinha de surpresas. Eu, que tanto orgulho tenho do blog do Pequeno, mal sabia que tinha o meu blog, escondidinho e guardadinho, feito tesouro.
Pois eu só tenho recordaçoes boas de ti!! Mas todas de uma Tati mais velha, que além de tia virou irmã mais velha TB!!! Mas já ouvi várias histohistde que tu era terrivel, arteira e respondo a!! Hahahahah
ResponderExcluirTe amo xexelenta!! ����
kkkk ... Laura, eu tenho medo de mim mesma na minha versão pirralha kkkk ... tua mãe que o diga :)
ExcluirEu tenho ótimas lembranças e saudades do tempo em que nos descobrimos irmãs :) Com vcs realizei meu sonho de ter irmãs mais novas - para o bom e para o ruim :) brincadeirinha <3
Bjokas, lindona! Cheias de saudades!
Tb te Amo ... mucho, muchacha!
Ah!!!! Tenho tantas, mas tantas lembranças contigo!!! Brincadeiras de quando tu ja era uma adolescente e eu uma pirralha chata; do momento que nos descobrimos irmãs; das farras, das ressacas; dos desabafos... mas o momento mais incrível de todos, a melhor das lembranças é a do dia que tu me contou que estava grávida! Nunca vou me esquecer! Com toda aquela distância nossos corações se encontraram no meio do caminho e explodiram de amor! <3
ResponderExcluirCoisa linda esse teu blog de 78!
Que a gente continue construindo tantas lembranças incríveis!!!!
Te amo! :*
Eu sou feliz por todas as lembranças juntas que temos (todas mesmo, até dos programas de índio e algum que outro perrengue), mas o que chega a dar um friozinho na barriga mesmo, serão as futuras lembranças kkkk ... ainda temos tanta coisa pra compartilhar que chego a pensar "tenha medo" ... nossos papos agora são outros, preocupações de vida adulta. Espero que Nicolinha tenha sabedoria suficiente para aguentar todos os micos que faremos ele pagar. Pois, não basta ter uma mãe doida ... a segunda mãe supera a primeira kkkk
ExcluirBjokas, Xexelenda da minha vida! Te Amo gigante ... e tô contando os dias para te ter aqui por perto.
Pois minha primeira lembrança é de um grande susto, pois aonde já se viu a mãe inventar uma gravidez com quase 40 anos! :)
ResponderExcluirDepois, a ansiedade e a expectativa, primeiro para saber que a relação irmãos x irmãs passaria de 3 x 1 para 3 x 2, e logo pelo parto "arriscado".
Como já estava estudando longe, a presença da irmã caçula serviu para aumentar a saudade da família e para tornar cada vez mais longos os períodos entre as férias. Em compensação, era uma alegria ainda maior chegar e curtir a maninha.
Acompanhei o processo de evolução do bebê>criancinha bochechuda>menina>aborrecente>mulher>esposa>mãe.
Quis o destino me dar uma oportunidade de resgatar as ausências e, durante dois belos anos moramos juntos em Brasília e em Madrid, quando tive a benção de juntar àquela cadeia evolutiva o mais belo segmento: >filha! Pois foi este o papel fundamental que desempenhaste naquele afastamento do núcleo familiar do Brasil.
Tive também a benção de receber o pedido de tua mão em casamento (confesso que me assustei e me emocionei pela responsabilidade, embora ciente de que a resposta fundamental seria a tua).
E agora o destino se vinga, mantendo tua família (tu e teus Nicolas) distante!
O resumo é que fazemos parte da vida um do outro. E eu jamais poderei agradecer a Deus por esta benção. E, sendo egoísta, peço a Ele que continue nos abençoando com esse amor que as palavras não conseguem explicar.
Muito obrigado por participar tão intensamente da minha vida. Te amo!
Beijos. Fiquem com Deus.
Tio Beto_59
Por um problema "técnico" com o e-mail (esqueci a senha kkk), estou podendo ler essa lindeza de comentário somente agora.
ExcluirComo bem deves imaginar, tô aqui secando as lágrimas e pegando fôlego :)
Como somente tu poderias ter feito, conseguiste resumir em poucos parágrafos os nossos 41 anos de história.
Sempre desempenhaste (junto com os outros irmãos) um papel muito importante em minha vida, mesmo à distância. Sempre foste alguém que admirava, que me espelhava e que sempre quis ter por perto. E como Papai do Céu escuta nossos pedidos, Ele me brindou com a oportunidade de conviver intensamente com vocês, quando tu e tia Rejane me acolheram simplesmente como uma filha a mais.
Foste sim mais que irmão, foste meu pai durante todo esse tempo. Até Nicolão sabia disso, tanto que a mão ele pediu pra ti kkkkk
E eu só tenho a agradecer por tudo o que vivemos, tudo o que compartilhamos e tudo o que ainda nos resta por viver. Por todas as oportunidades que tu e a Rejane me deram (a primeira e mais importante: conviver com as 3 patetas) :), a oportunidade de conhecer um mundo novo, antes inatingível, uma nova cultura, um novo idioma. Vcs foram anjos que deram uma ajudinha pro destino a fim de que pudesse encontrar tão longe "de casa" a minha felicidade.
Amo vcs!