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Esse é Pequeno com 4 (quase 5) aninhos. Aperte o play:



Esse é Pequeno hoje, 10 anos depois:



Embora o tom da camiseta seja o mesmo, encontre o erro :)

Ah, a adolescência! Essa fase danada, que chega não se sabe como e vai embora sabe-se lá quando. 

Essa fase que eu apenas havia vivido do lado de lá da história. Agora a vivencio do lado de cá. (o lado de lá foi mais interessante, diga-se de passagem!)

Pequeno sempre foi um menino comunicativo, amoroso, carinhoso, cuidadoso, fazia questão de demonstrar amor, afeto, respeito. Um menino educado, modéstia à parte. Ele sempre se destacou pelo seu jeitinho especial de ser. E escrevo esse parágrafo com uma pitada de nostalgia e cheia de orgulho porque muitas dessas qualidades partiam dele, simplesmente. Claro que muita coisa eu e seu pai tentávamos ensinar e dar o exemplo, mas tanta coisa partia espontânea do seu coraçãozinho. E essa era a melhor parte da história.

Pequeno sempre foi bem na escola. Um pouco preguiçoso para algumas coisas, mas sempre se destacou com boas notas, bom comportamento e resultados mais que satisfatórios. Inclusive nossas mudanças de endereços (e países) nunca foram um problema no âmbito escolar.

Pequeno tinha sonhos, projetos, vontades e queria testar mil e uma atividades. Quem nos acompanha há algum tempo deve lembrar dos posts no Rio quando ele fazia natação, capoeira, judô, curso de desenho, de programação, Inglês.  Quase tudo ao mesmo tempo.

Pois é. Até bem pouco tempo Pequeno era assim. Até que ela chegou: a temida mas inevitável adolescência.

Pequeno deixou de ser pequeno, já mede uns quantos centímetros  a mais que sua mãe (e vive fazendo piadinha com isso). Já divide roupas com o pai e calça mais que ele.

Pequeno segue sendo um garoto comunicativo, embora vez que outra eu perceba uma certa introversão. Não é mais tão carinhoso quanto antes. Aliás, os poucos carinhos partem desde uma gracinha, com uma carinha de nojo (até), os abraços não são mais dados com vontade e os beijos passaram a ser quase que suplicados. Ele não faz mais questão de demonstrar afeto, amor e o respeito vez que outra vai passear por aí e demora pra voltar.

Ele segue sendo um menino educado, isso não posso negar. (graças ao Universo!) Segue conservando o seu jeitinho especial que muitas vezes o faz destoar de grande parte dos seus coetâneos, o que pra ele não é nenhum problema.

A nossa maior dificuldade de relacionamento surgiu esse ano, com a função da escola: Pequeno já não vai bem nos estudos. Aliás, Pequeno vai muito mal. Iniciou o ano meio devagar, achou que logo mais adiante daria conta do recado, mas não foi assim. Acabou pegando recuperação nas duas principais disciplinas da escola que ele escolheu.

As férias de verão que por aqui costumam ser longas (duram 3 meses) pra ele estão sendo um "inferno" (assim entre aspas porque essa é expressão dele). Pequeno nos castigou: por conta dessas pendências não pudemos viajar para o Brasil, nem aproveitar o verão da maneira que gostaríamos. Por conta das suas aulas presenciais na escola (aqui eles tem um período de aulas durante a recuperação) e por conta das aulas particulares ($$$) estamos vendo o verão passar desde a janela de casa, sofrendo com o calor, com a saudade e com a vontade de estar enfiando o pé na areia ou mergulhando num mar cristalino.

A pior parte desta história é a de que vemos Pequeno apático, meio desinteressado, meio "nem aí" com a possibilidade de não ser aprovado agora em setembro e ter que repetir o ano. (E essa possibilidade - desculpem a redundância - é bem possível)

Pra mim essa é a pior parte. Estudo sempre foi coisa séria, sempre encarei como um desafio, uma responsabilidade e até mesmo uma obrigação. 

Eu ainda estou tentando entender o que se passa dentro daquela cabecinha (agora careca). Aliás a careca tomei como um sinal de rebeldia absoluta. Óbvio que a cabeça é dele, mas eu e  seu pai tínhamos pedido para não raspar totalmente. Pois ele voltou pra casa careca e com olhar desafiador respondeu que "a cabeça era dele". Eu prefiro Pequeno cabeludinho mas, no final, a cabeça é dele mesmo. Fazer o quê?!

aí outra coisa que não consigo entender: não somos pais autoritários, nem carrascos, nem severos. Pequeno tem liberdade pra fazer o que ele quiser (dentro da lei - a judicial e a que impomos na nossa casa, porque também tudo tem um limite). Mas muitas vezes pegamos Pequeno mentindo, por besteiras. Se enredando em histórias estranhas sem nenhuma necessidade. Mentiroso, Pequeno virou mentiroso ... e aí uma coisa que ele faz pessimamente: mentir.

Vira e mexe me pego lendo, até mesmo artigos científicos, que tenha a ver com o tema adolescência. E nem é por ele (sendo  bem sincera) é por mim, pela minha sanidade mental mesmo, para tentar entender como funciona a cabeça de um adolescente, o porquê de tanta mudança (até mesmo brusca).

Outro dia descobri que muitas das chamadas "burrices" dos adolescentes tem a ver com a formação do lobo frontal que é a parte do cérebro - que fica basicamente atrás da testa - responsável pelo gerenciamento das habilidades cognitivas, pela linguagem, pelos movimenos voluntários do corpo. É o centro de controle comportamental e emocional. Basicamente pra tentar resumir de uma forma bastante clara: adolescente faz muita merda porque essa parte do cérebro ainda está em formação (normalmente isso acontece até os 20 anos de idade mas alguns estudos dizem que em algumas pessoas essa formação pode acontecer até os 30). Achei interessante e justifica muita coisa. Perdoem-me e corrijam-me os entendidos do assunto se escrevi alguma besteira.

Pequeno já não tem grandes interesses além de História e coisas antigas: ele coleciona moedas antigas e 1 vez ao mês tem o compromisso de ir ao mercado de antiguidades aqui de Monza bater papo com o vendedor de moedas com o qual ele fez amizade. Pequeno gosta de museu, documentários sobre História  (um adolescente meio chato, digamos). 

Ele já não faz mais teatro, não quer saber de ir pra natação. Tem amigos, mas não costuma se misturar com muita gente. Não quer mais frequentar o grupo de jovens da igreja, sai dos grupos de WhatsApp de maneira repentina e sem motivo e se diz, agora, ateu.

Por conta de ter pego pendência na escola, Pequeno ficou sem férias, sem viagem sozinho com os amigos, sem colônia de férias, sem passeios, sem festinhas, sem encontros. Sim, Pequeno está de castigo. Nada mais justo: se eu tenho que ficar em casa por conta dele, por que ele teria direito a férias? Não. Não somos pais severos. Mas ele precisa aprender a arcar com as consequências dos seus atos, suas responsabilidades e entender como a vida funciona.

Por isso que sempre que pode, com toda raiva possível ele diz que esses meses estão sendo um "inferno" (leia isso com tom de fúria adolescente, por favor!). Eu até concordo e não perco a oportunidade de dizer que, ao menos,  sirva de aprendizado para o próximo ano escolar. Que pense duas vezes antes de deixar a preguiça predominar, que se esforce o máximo que der e que pense que as próximas férias poderão ser de 3 meses no mais absoluto relax (com direito à possibilidade de intercâmbio).

Pequeno também está lutando com as espinhas, se habituando com os cabelos que se espalham pelo corpo. Luta com as dores do coração: a menina que gosta dele ele não gosta;  a menina que ele gosta só quer saber dele como amigo ... É! A vida é assim de injusta, menino!

Pequeno não gosta de sair conosco e tudo o que falamos pra ele é papo de boomer (palavra nova que os jovens costumam usar aqui para chamar os pais de "velhos", desatualizados, antigos).

Vez que outra discutimos por bobagens (uma das nossas discussões mais ridiculas foi por culpa do Kurt Cobain - aliás quem ele usa de imagem de perfil no seu Whats). Algumas discussões são mais sérias, por temas políticos, históricos. Mas em geral qualquer tema ou situação é passível de discussão ... e quase nunca concordamos.

O vídeo lá do início deste post está salvo no meu celular. Vez que outra dou play nele e assisto com saudade as palavras carinhosas do meu menino, analiso com nostalgia as caras e bocas dessa criatura que um dia pegou o iPad escondido e gravou essa mensagem. Nem era Dia das Mães e nem Dia dos Namorados, ele apenas usou essas datas como desculpa para deixar essa mensagem cheia de amor, carinho e pureza.

Eu não sei aonde foi que ficamos, onde nos perdemos. A única certeza que tenho é a de que, felizmente, algum dia a gente se encontra de novo.

Pois é, Pequeno, quando tu estavas na minha barriga ... foi exatamente ali que eu descobri que te amava! Acredite ...

7 comentários:

  1. Como passei pela adolescência há bem menos tempo que tu (véia), ainda me lembro muito bem do turbilhão que é essa fase. Ele vai mentir, vai fazer as coisas escondido, poder ser realmente (com essa possibilidade bem possível) que ele perca o ano ma escola, ele vai responder de forma atravessada e vai enfrentar vocês sempre que puder. Tudo isso não porque vocês se perderam em algum lugar, mas sim porque ele está se conhecendo, se entendendo, se definindo. Sinto que a adolescência é o nosso momento. Na infância somos dos pais, na adolescência somos nossos! Nessa fase sentimos coisas novas, despertamos para coisas que nem sequer imaginávamos antes. Isso é um perigo? Muitas vezes, seja pelo tal do lobo frontal, seja pelo simples desejo de enfrentar a tudo e a todos. Mas, no fim das contas, lá no fundindo do coração, ele ainda é o mesmo maravilhoso que sempre foi. E isso a gente percebe nos detalhes. No carinho e cuidado que ele tem com as avós, na educação maravilhosa que não tem adolescência que consiga tirar dele, no olhar de amor por vocês, que muitas vezes são perceptíveis até pelas fotos. Então, minha xexelenta da vida, é assim mesmo. A adolescência veio, mas assim como veio, vai passar. Logo logo vai ter sido só uma fase difícil. Ele está construindo a pessoa que ele quer ser nesse momento. Tá experimentando de tudo para entender o que faz sentido manter depois. Faz parte. Tô aqui de longe torcendo para que vocês passem ilesos por essa fase, tanto vocês quanto ele! Hauahauahauahau... eu amo vocês. Para os pais deve ser difícil mesmo, mas tenho orgulho do meu afilhado questionador que ama história!

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  2. Escrevi um post no comentário! HAUAHAUAHAUAHAAUAH

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  3. Como te disse antes: acho que vim nessa vida para parir o teu filho. Na minha santa ingenuidade, achei que a unica coisa que vcs teriam em comum seria o signo :) kkkk brincadeiras a parte ... realmente é uma fase de descobertas para ambos. Aquela velha história de "ter filhos é como jogar videogame: cada fase é mais dificil". Hoje tenho saudades da época em que era bebe. Naquele momento me senti exausta, mas hoje sinto saudades. Tb espero que passemos ilesos por essa tal de adolescência. Mas a gente tem pressa, né?! Só espero que o lobo frontal dele amadureça antes dos 30 :)
    Bjos! Nós tb te amamos!

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  4. Ai Tati, da medo te escutar.. tem vezes que estou farta de ter as crianças grudadas em mim, mas quando leio isso me sinto culpada porque sei que chegará esse momento que vou ter muita saudades peles pegadinhoa a mim! Obrigada por compartilhar! Beijos! Animo

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  5. Não vou mentir, que quando comecei a ler, foi me batendo uma tristeza, que concomitantemente, me fez lembrar: VOCE E RA PIOR! Fez lembrar dos meus filhos, de cada um deles, desse misto de amor e ódio que certa fase da vida se apodera DE TODOS NÓS, sejamos francos. E que bom que essa fase passa!! Como o próprio nome diz é só uma fase. Eles voltam , simmmm a deitar a cabeça no nosso colo e dizer que nós amam.
    Talvez, justamente, por ser tão especial e diferente da maioria dos da sua idade, ele esteja entregando as lutas internas, não do lobo temporal, mas dois lobos que habitam em nós. Tenho CERTEZA, que esse menino especial, inteligente, de olhar curioso e amoroso para o mundo, não se perdeu e jamais se perderá pelo caminho. Não! Não mesmo! El apenas deve estar enfrentando cobranças internas e externas Não é fácil ser especial e espiritual em um mundo material. 😔😔😔Mas seguirei de longe, com ele nas minhas preces, para que permita que lhe roubem dele mesmo!!! Ele já nasceu pronto! Você mesmo ratifica isso, muito da personalidade dele é nata. Mas como aprendi nas aulas de filosofia lá em 1977 rsrsr A personaidade é nata, mas sofre influências do meio. Para adolescentes, é mico toda a corujice dos pais, imagina para ele, ter sua intimidade exposta. Talvez, seja chegada a hora de literalmente, escreverem juntos esse blog.
    Ele segue sendo o ser humano incrível, inteligente, iluminado e que certamente, não está aqui, por acaso. Deus siga abençoando o Grande Pequeno Nicola, como sinto falta das postagens inteligentes dele, no Instagram. Volto a dizer, não é fácil ser um ser especial, com um lado espiritual tão explícito, vivendo em um mundo material, cheio de cobranças.
    Pequeno Nicola! Nunca lhe vi! Sempre lhe amei!
    Quero voltar a comentar suas postagens, sobre arte, sobre vida.... Seja você e nunca permita que lhe roubem esse olhar amoroso e curioso, frente ao mundo.
    Rose Mazza
    (Que não abre opção para comentar com conta do Google)

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  6. Não quis dizer entregando e sim,ENFRENTANDO suas lutas e tantas outras coisas que possam ter sido trocadas pelo corretor. Como não consegui entrar com minha conta do Google, não permite edição/correção.

    Rose Mazza
    (Me deixa comentar, Google rsrs

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  7. Ainda bem, que mais abaixo falei que NADA permita que lhe roubem de você mesmo, Pequeno Nicola. Hoje, o Gloogle está judiando de mim. Não consigo comentar como eu ahahah e por isso não posso editar

    Rose Mazza

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