A Palavra tem Poder!

Eu demorei um tempo para entender que as palavras tem poder.

A minha essência é ser estressada (segundo minha mãe, "negativa"). Resmungo com muita frequência. E dentro da minha bipolaridade, exalto a felicidade ao máximo e me deprimo muito facilmente com os perrengues. Tenho meus minutos de nervos à flor da pele, fico com raiva, quase sempre choro, excomungo, quero matar ... mas logo passa. E, bola pra frente ... cinco minutos depois respiro fundo e tento resolver os problemas da melhor maneira possível.

Basicamente essa sou eu. Um amor de pessoa! (quem se atreve a contrariar?)

Felizmente com os anos a gente vai amadurecendo, vai se dando por conta de que tem coisas que realmente valem a pena dedicar nossa preocupação mas que tantas outras ou são insignificantes ou não tem solução. E ponto final.

Os últimos dois anos foram um pouquinho difíceis pra mim. Problemas, dores, perdas, decepções, dificuldades ... tantas delas! Mas ao mesmo tempo tenho sabido reconhecer as tantas coisas boas que a Vida vem me proporcionando. Nos proporcionando. As coisas positivas e os bons momentos são bem maiores do que os momentos de dificuldade. E isso reconheço (e agradeço!) sempre. Eu sou estressada mas não sou mal agradecida.

Então ... essa breve introdução basicamente destruindo minha pessoa é para contextualizar o estado de espírito que iniciei o ano de 2022. Acreditando em dias melhores mas carregando uma bagagem difícil de lidar.

Muita coisa ruim habitava dentro de mim. Mas a minha crença em dias melhores me fazia seguir tendo fé e acreditando que cada obstáculo fazia parte do meu caminho. Afinal ... quem é feliz sempre? 

No início do ano fiz uma listinha interna de propósitos. Muitos ficaram pra trás (por exemplo, a maldita carteira de motorista). Mas um dos meus grandes propósitos reproduzi verbalmente para o marido: 

- "Neste ano nós vamos comprar a nossa casa. E eu falei c-a-s-a. Não quero apartamento. Nossa casa!".

Ele sorriu e, como sempre, concordou com minha ideia. Apesar de não percebê-lo muito convencido (respondeu algo como "aham! Tá bom!") bastou saber que ele concordava. Naquele momento nós não tínhamos dinheiro para comprar uma casa. Foi um desejo jogado ao Universo.

Eu vivia viajando entre sites de imobiliárias (conheço praticamente todos) e me especializei em zonas da região (sabia onde queria morar e onde não). Vez que outra mostrava anúncios para o marido.

Lá pelo meio do ano começamos a entrar em contato com algumas imobiliárias e passamos a visitar alguns apartamentos. Mas apenas por curiosidade mesmo, porque dinheiro ainda não tínhamos. Começamos a descobrir mais ou menos como funcionava a coisa e pouco a pouco fomos nos assustando com os preços (das casas em si, além de percentual cobrado por agência, preço de burocracias com papeladas e preços de reformas - porque praticamente tudo o que víamos precisava de reforma).

Logo o valor das taxas de juros de mercado foram aumentando e resolvemos 'deixar pra lá' a história da casa.

Com o aumento de luz e gás o valor dos condomínios também aumentou. Foi me dando um pouquinho de raiva e desespero botar dinheiro fora com aluguel. Apesar do valor do nosso aluguel em si não aumentar (pelo tipo de contrato que temos) o condominio aumentou e o conguaglio (uma espécie de ajuste das contas em comum do condominio - gás, luz e água condominal - além de outras despesas em comum) também aumentou absurdamente.

Há quase 20 anos gastamos com aluguel. Nossa escolha de vida foi essa: viver um pouco aqui, um pouco lá. Isso também permitiu 'sermos livres' para alçarmos vôo sempre quando víamos conveniente. Não era um trauma viver de aluguel. Era uma escolha. E até mesmo uma certa 'comodidade' na hora de deixar literalmente tudo para trás e ir para outro destino.

Mas, pela primeira vez na nossa vida em comum, sentimos a necessidade (ou vimos a possibilidade?) de aquietar um pouco a nossa vida. Até mesmo pela situação escolar atual do Pequeno. Vivemos em um local com boas possibilidades de estudo e com as melhores universidades aqui ao lado. Chegou um momento em que ambos (eu e marido) nos demos conta de que poderíamos ficar por aqui por mais algum tempo (mesmo que longo). Pelos nossos cálculos, ao menos uns 10 anos, no mínimo, ficaríamos por aqui.

Por outro lado isso me assustava um pouco. A ideia de criar raízes. Ou quando as pessoas perguntavam "vocês então ficarão aqui pra sempre?". Pra sempre é muito tempo. Aprendi a ser desapegada a coisas e a lugares. Acredito nas mudanças, que elas são sempre positivas e trazem algo de bom. O novo não me assusta. O novo me alimenta. Criar laços, rotinas e raízes me assustava um pouco.

Logo que passou o nosso verão, comecei a sentir a formiguinha de mudança pinicando o meu ser. Comecei a sentir saudade de mudar, de empacotar minhas coisas, saudade de caixas pela casa, de me desfazer de cacarecos que a gente vai acumulando. Não quis jogar fora as malas velhas porque elas "poderiam servir", comecei a sentir uma inquietação e a me entediar dentro de casa.

- "Saudade de mudar!", pronunciei algumas vezes.

Ao mesmo tempo via o ano acabando e mais um propósito que ficava para trás.

Em outubro, por curiosidade, fomos visitar um apartamento aqui perto de onde moramos. Eu não gostei, era pequeno, tinha que ser praticamente todo reformado (uma coisa muito boa, deixá-lo do nosso jeito, mas muito ruim porque precisava investir uma boa grana na reforma).

Praticamente nos demos por conta de que na zona onde moramos atualmente (uma zona central de Monza) não encontraríamos nada. Ao menos não com o preço que poderíamos pagar. E eu além de chata, resmungona e estressada também sou exigente. Eu não queria "qualquer coisa".

Passei, então, a buscar em outras zonas de Monza e em algumas cidades vizinhas. Primeiro passo foi mentalizar o que gostaria: queria alguma coisa legal, que gostasse (óbvio), que não precisasse de grandes reformas, que fosse próxima do Parque de Monza (lugar que amamos de paixão) e perto da estação de trem para que o marido pudesse ir trabalhar em Milão sem grandes estresses (ele não vai ao trabalho de carro).

Um anúncio me chamou a atenção. Enviei para o marido para que desse uma olhada. Logo ele entrou em contato com a imobiliária e marcou uma visita. Era numa cidade pequena vizinha a Monza (praticamente como se fosse um bairro de Monza - e antigamente era mesmo). A uma quadra do parque e a 5 minutos a pé da estação de trem da cidade (óbvio que, por se tratar de uma cidade pequena com bem menos horários de trens disponíveis mas com alguns horários que encaixavam com os horários do marido). Pequeno sairia perdendo em comodidade (hoje ele em cinco minutos - a pé - chega na escola; dali teria que pegar um ônibus que demora uns 15 min até a escola). Mas não se pode ter tudo nesta vida, não é mesmo? E está mais do que na hora do menino aprender que a vida não será sempre fácil ... a portata di mano como os italianos costumam dizer.


Gostamos da casa (era uma casa, não apartamento. Yes!). Como sempre - em todas as visitas que fizemos foi assim - fixei nos detalhes negativos, nos detalhes a melhorar e marido na praticidade de tudo.  Os defeitos que eu havia visto ele não havia notado. Nenhuma novidade. Estressada, rabugenta, negativa, chata e atenta.

Ligamos para a imobiliária e pedimos para fazer uma segunda visita. Desta vez mais demorada e detalhada. Mostrei pro marido cada marquinha que não havia gostado. Saímos de lá novamente com a impressão de que aquela sim que poderia ser nossa casa. Era perfeita pra gente, num tamanho ideal, com boas possibilidades futuras (a casa tem  sótão e  porão que podem ser bem proveitosos), com dois pequenos jardins (na parte da frente e na parte de trás), grudada ao parque (só que do outro lado que costumamos frequentar), próxima a estação de trem e no centro da cidade. 

Era basicamente o Universo nos dizendo: "foi isso que pediram? Então toma!".

Fizemos uma proposta de compra, no início de novembro. Mas a proprietária não aceitou. Marido ficou triste. Eu renunciei na mesma hora. Havia gostado da casa mas sabia que não poderia pagar mais do que havíamos oferecido. Marido ficou alguns dias encucado com a ideia de "perder" a casa. Eu estava com a mentalidade de "não era pra ser, fazer o quê?!". Chata, estressada, negativa, rabugenta e resiliente.

Quando fomos na imobiliária buscar o cheque caução que deixamos no momento de fazer a oferta (protocolos burocráticos), marido resolveu aumentar um pouquinho mais a proposta. Um meio termo entre o que a proprietária queria e o máximo que poderíamos pagar. A proprietária, na verdade, não tinha nenhuma pressa para vender a casa que havia herdado de um tio. Gente com dinheiro, sabe?! Que não está com a corda no pescoço,  tanto faz se vender agora ou tiver que esperar mais um ano.

Meados de novembro a mulher, finalmente, aceitou a proposta. Desde então foi uma correria absurda para dar entrada no pedido de hipoteca (parte da casa foi financiada - porque não tínhamos dinheiro, lembram?), burocracias infinitas e de perícia, bancos, agências imobiliárias ... e uma correria absurda, quase que impossível, para conseguir fechar negócio até o final do ano para evitar ao máximo o aumento absurdo das taxas de juros (tive que me atualizar sobre Euribor, Spread, melhor banco para hipoteca, istrutoria, valor de perícia, etc). Era praticamente impossível conseguir agilizar tudo em um mês sendo que pegaríamos feriadão aqui na Itália e período de Natal. 

Parecia impossível ... mas dia 22 de dezembro assinamos, finalmente, a documentação e pegamos pela primeira vez a chave da nossa primeira casa em mãos.

Pela primeira vez na minha vida suei nas mãos enquanto assinava a papelada. Não consegui nem disfarçar enquanto assinava a trigésima oitava folha na frente do notário: "Gente! Tô tão nervosa que estou suando", disse meio encabulada enquanto secava as mãos na lateral das calças.

Até agora vivo numa mistura de felicidade com medo. Numa sensação de "ai que bom" misturada com "que merda que fizemos".

Dia 10 de dezembro de 2022 demos a disdetta do nosso atual apartamento (informamos a imobiliária que sairíamos daqui e cancelaríamos o contrato de aluguel). Coincidências da vida (ou não) no dia 10 de dezembro de 2018 fizemos a proposta de aluguel desse apartamento que moramos até hoje. Provavelmente não tem significado nenhum mas gosto desses ciclos que se iniciam e se fecham e dessas datas que se cruzam. Chata, rabugenta, negativa, estressada e mística.

Ainda tem muito caminho pela frente. A casa ainda precisa ser esvaziada, precisamos reformar algumas coisas (dar conta dos problemas inesperados de pequenas reformas), pintar, fazer mudança, pintar nosso atual apartamento. A previsão de mudança definitiva é lá por início de março.

Vou sentir saudade do centro de Monza, da possibilidade de sair de casa a pé e em cinco minutos dar de cara com o Duomo. Mas não vou para tão longe assim. Ainda posso vir a pé ... isso sim, uma meia horinha de caminhada. Mas caminhar para mim nunca foi um problema.

Pouco a pouco  vou aprendendo um monte de coisa nessa vida. Uma delas é que: Palavra tem poder! E o meu grande propósito de 2022 foi cumprido. E eu só tenho a agradecer! Principalmente ao meu amore que insistiu, persistiu e sempre acreditou que daria certo.

Negativa, estressada, chata, rabugenta ... mas  agradecida.


22 de dezembro de 2022,
nosso presente de Natal.



16 comentários:

  1. Uuuuurrrrruuuulllll! Essa conquista é um sinal de que 2023 vem aí para ser um ano incrível na vida de vocês! Que assim seja! Agora eu que lute para ir conhecer o novo lar de vocês!!! ❤️

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    1. Eu acho muito justo tu lutar para vir nos visitar. Ate' porque teu quarto esta' te esperando :)❤️

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  2. Sou eu aí em cima, a dinda mais legal do Nicolinha!

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  3. Que legal Tati !!!!! Parabéns !!

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  4. Que orgulho, Xexel!!! Sua essência não é chata, rabugenta, negativa e estressada, e sim, atenta, resiliente, amorosa! As partes que vc diz ser de chata, rabugenta, negativa e estressada, são apenas o cuidado que você tem com a sua família!! Isso é amor! Você cuida sim, quer que saia tudo bem, quer que passem pelo mínimo de situações complicadas possíveis, e, mesmo sabendo que isso não depende de você, vc tenta igual!! ❤️ No quesito da mudança, acho que foi uma pequena influência do tempo que morou conosco e muita influência da Nina! Hahahahahahha Agora, que lançamento pro Universo hein?! Que MARAVILHA!! Que a nova conquista só traga bençãos, que sejam muito felizes e que o "Pequeno (Grande)" Nicolinha possa aproveitar o fato de "criar raízes"! Feliz por vocês, família! Só pela visitaaaaa!! Hihihihi 🙏🤭🤭🥳🥳🥳

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    1. ❤️ o que seria da minha vida sem minhas semelhantes?! :) Com certeza a formiguinha inicial foi la' na epoca que morava com vcs! Eu tb to so' pela visita :) Bjao, Xexel!

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  5. Sou eu, tua sobrinha-irmã mais linda, se não ficou claro ainda, Laura!! 🤣🤣🤣😘😘

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  6. Parabéns Tati...a persistência é a alma do negócio!!que vcs sejam mtooooo felizes no novo lar. Sds e bjs em vcs.

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  7. Que seja um novo ciclo de muitas felicidades e realizações!!! Parabéns!! Com certeza, “a palavra tem poder”!!!!!!
    Quando sai seu livro????🥰

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    1. O livro sai qdo vier a inspiração ... quem sabe o novo propósito para 20-23? ;)

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  8. Parabéns! Felicidades!👏👏👏👏👏👏

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  9. Parabéns primos muitas felicidades e muitas realizações na casa nova desfrutem com muita saúde. Bjos 😘

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  10. Que sensacional! Muito feliz, com essa conquista de vocês! Há muito tempo, ando desatualizada do mundo virtual. Correria grande, só vejo stories 😅😅 muito feliz. Parabéns!!! Valeu a persistência, valeu acreditar no sonho! Não por acaso, havia acabado de comentar algo parecido em um perfil do Instagram, que sigo e me emicioneiiii. Aí, "te encontro" nos Stories, venho aqui e 😯😯😯😯😯😯 não pode ser coincidência 🤣🤣🤣🤣
    Essa sou eu! Mantequilla sonhadora que acredita que sonhar é poder!!!
    Baciones, bela amica! Deus siga lhe abençoando com muito amor e prosperidade junto sempre, aos seus Nicolas 🙏🙏🙏❤️❤️❤️
    (Rose Mazza)

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