Isso que dá ficar algum tempo sem aparecer por aqui. Em uma semana aconteceu tanta coisa que os assuntos - bem distintos - se acumularam.
Começando pela parte bonita e feliz ...
14 de Fevereiro é dia de San Valentino, Dia dos Namorados aqui. Descobri que teria um evento num dos prédios emblemáticos da cidade de Milão, o Palazzo Lombardia, sede do Governo Regional.
Desta vez era um evento especial de Dia dos Namorados. Agendei, então, sem nem perguntar para o marido se ele queria ir. Seria o meu presente (pra mim, não para ele).
Chegamos alguns minutos antes e esperamos numa pequena fila (fomos o terceiro casal da fila) que logo virou uma fila quilométrica. Uma certa confusãozinha na hora do check-in para entrada no evento, todo um esquema de segurança meio bagunçado e acabamos sendo os primeiros a entrar (o primeiro casal da fila não havia feito a reserva e o segundo casal, não sei o que houve, mas acabaram ficando pra trás). Subimos no elevador daqueles que sobe super rápido e dá pressão nos ouvidos e logo saímos no salão do Belvedere que estava todo enfeitado com balões de coração.
Eu gostaria de ter visto o pôr do sol lá de cima (taí a próxima meta para visitar o Belvedere) mas por conta do horário, só vimos uma pontinha avermelhada no céu.
Mas a vista lá de cima é lindíssima! Ficamos encantados e aproveitamos que o salão ainda não estava cheio para curtir a vista de todos os ângulos possíveis.
Tiramos uma selfie (com direito a beijinho, afinal era Dia do Amor, não?!). Ao fundo escutei um "oh, que lindo!" mas nem dei bola.
Seguimos admirando a vista até que, em determinado momento, um grupo com umas 4 pessoas nos abordou.
- "Oi! Tudo bem? Vimos que vocês tiraram uma foto muito bonita agora a pouco."
- "Hum ... sim ...."
- "Vocês poderiam repetir?"
- "A foto? Tá aqui no celular ..."
- "Queremos imortalizar aquela imagem. Vocês podem repetir a foto?"
- "Ok ..."
- "Uau! Essa foto que queríamos. Podemos usar a imagem de vocês? Podemos usar a foto para o nosso site de notícias da região?"
- "Hummm ... sim ... podem ..."
E assim eu e marido viramos capa da reportagem do evento :)
Bastar clicar aqui para ver a reportagem.
immagine Redazione Lnews, Febbraio 14, 2024 |
Pronto. Fim da parte boa.
:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
Agora iniciamos a parte do ódio ...
Não. Meu pobre marido não tem nada que ver com isso.
Quinta-feira passada estou em casa, toca a campainha. Era o pedreiro da minha vizinha (que está fazendo obra em casa) me avisando que ele havia feito um furo na minha parede do andar de cima da casa.
- "Oi?"
- "Sim, fizemos um furo na sua parede. Posso verificar?"
Subimos e realmente ele havia feito um baita de um buraco (e não furo) na parede do escritório/quarto de visitas.
- "Como vocês fizeram isso?" - nisso olho pelo buraco e outros dois pedreiros espiavam do lado de lá.
- "É que esse tijolo não sei o quê e a parede não sei quanto ... e ..."
- "Moço, olhe bem toda a minha parede, aqui tem pontos elétricos, ali tem o negócio da luz. Vem aqui, aqui no corredor tem a estrutura do gás e aquecimento, aqui tem isso, ali aquilo ... olhe bem. E, por favor, prestem mais atenção."
- "Ok, senhora! Me desculpe! Venho amanhã arrumar ... me desculpe!", disse o moço com um sotaque árabe (ainda não decifrei se eles são do Marrocos ou do Egito).
Sexta-feira alguém de vocês que está lendo veio na minha casa? Pois é ... os pedreiros também não.
Segunda-feira, de manhã, começa a bateção forte novamente. Foi ficando cada vez mais forte, cada vez mais próximo. Estava arrumando minha cama quando escuto um barulho de parede esfarelando vindo do escritório.
Só certifiquei o que já estava imaginando: novo dano na minha parede. E desta vez maior e mais grave (e eles seguiam batendo). Rachaduras se formaram.
Desci as escadas voando (nem lembro como), saí correndo e apertei o interfone da vizinha. No andar de cima, um dos pedreiros apareceu na terraça e outro, do outro lado na janela. Eu, então, nervosa que estava, gritei:
- "Parem de bater! Vocês abriram minha parede DE NOVO!"
Um olhou para o outro com cara de "por quê esta doida está berrando?". Então, gritei mais alto ainda:
- "Parem de bater. Vocês estão estragando minha casa DE NOVO!"
Os dois se olharam de novo sem entender , nitidamente não entendiam nada de italiano e esboçaram um sorriso.
Aí, meus amigos! Se você me conhece, sabe que virei o capeta. Em português mesmo gritei um "caralho" (perdão aos corações sensíveis) bem alto e disse "Ah! Mas vocês vão me entender, de qualquer jeito!". Aos berros, no meio da rua, nem aí para se tinha mais gente vendo, gritei:
- "You are breaking my house!" (o máximo que meu nível de 502 dias de Duolingo permite!)
A fisionomia deles mudou. Se olharam novamente, desta vez sem sorrisos. Quando olharam pra mim, gritei novamente:
- "You are destroying my house, CARALHO!" (a parte do "caralho" eles não entenderam, mas todo o resto sim)
- "Falar chefe, falar chefe!"
- "E cadê esse raio de chefe?", nessas alturas acho que já saía até espuma da minha boca, de tanto ódio que eu estava.
- "2, 3 minutos vem."
- "Liga pra ele"
- "Ahn?"
- "Call, call o raio do chefe. Call him ... AGORA. NOW!"
Nisso aparece na porta a minha vizinha. Uma senhorinha de uns 90 anos, proprietária da casa em reforma, que não estava entendendo nada e não sabia da missa a metade."
- "Eles furaram sua casa?"
- "Sim, desde quinta estão fazendo buracos na minha casa."
Como num passe de mágica o "chefe" aparece na esquina. Vem bem calmo e tranquilo. Chega perto de mim, sorri e diz:
- "Ah! Eu tenho que ir aí arrumar o buraco, né?!"
Meu olho deve de ter arregalado de uma maneira assustadora porque o semblante dele mudou no mesmo instante.
- "Oi? Arrumar o buraco? Vocês destruíram mais ainda minha casa."
- "Hoje? De novo?"
- "Sim! Inferno! Hoje de novo e pior do que o outro dia!"
- "Putz ... eu posso ver?"
- "DEVE!"
Quando ele chegou no quarto e viu o novo estrago se limitou a dizer "desculpas".
- "Desculpa? Desculpa o caramba! O de quinta-feira tudo bem. Não deve de acontecer mas ok, pode acontecer. Quinta-feira o senhor mesmo me explicou como eram feitas as paredes. Pois se sabia que a parede era uma bosta, por que não fizeram mais atenção? Por quê?"
- "Eh ... desculpe!"
- "Eu não quero desculpa! Eu quero isso arrumado. Vocês não tem direito de fazer isso na MINHA CASA. Que espécie de profissionais vocês são? Falta de respeito! Eu comprei essa casa há um ano, fiz reforma e não danifiquei nenhuma casa."
- "Mas a senhora não fez reformas nas paredes e ..."
Aí virei capeta ao quadrado com a resposta desaforada do homem que, detalhe, deve de ter uns 2 metros de altura.
Só não subi no pescoço dele porque não alcancei ...
- "Mas quem é o senhor? O senhor que sabe o que fiz ou deixei de fazer na minha casa? Não abri parede? Se na cantina tive que abrir até a metade da parede pra botar manta osmótica? O senhor sabe o que é isso? Que tipo de trabalho é?"
- "Eh ... desculpe senhora" Vou mandar o menino aqui arrumar agora."
- "Não vai, não. Primeiro tem que ver o grau de estrago que vocês fizeram ... ou pensa que é só vir passar um cimento e deu? E não quero ninguém hoje aqui na minha casa. Venham amanhã que meu marido vai estar trabalhando desde casa."
- "Desculpe, senhora."
O homem foi embora. Eu fiquei limpando os resquícios de espuma de ódio que saíram da minha boca.
Uma meia hora depois ... bateção de novo.
E sim. Fizeram mais estrago.
Desta vez quem bateu na parede fui eu, feito uma doida e comecei a gritar:
- "Parem de bater, CARALHO!"
Acho que desta vez entederam o "caralho" e pararam de bater.
Com a finalidade de não matar ninguém (porque minha vontade era essa), saí pra pegar um ar e encontrei o vizinho que, digamos, é o presidente do condominio, que estava bem tranquilo fumando seu cigarrinho.
- "Oi! Bom Dia! Posso lhe pedir um conselho, uma ajuda, porque senão vou matar uns 4 ou 5."
O senhor, com cara preocupada, me pergunta:
- "O que houve?"
Expliquei pra ele o ocorrido, me deu algumas indicações do que fazer, como atuar, me explicou que o condominio tem seguro pra isso, que ficasse tranquila (e não matasse ninguém ... pra isso o condomínio não tinha seguro).
Eu fiz tanto escândalo que no mesmo dia o Administrador do condomínio veio aqui em casa e no dia seguinte a engenheira da obra veio ver o estrago. À tarde iniciaram os reparos e à noite até o filho da senhorinha veio aqui também.
Acho que fizeram questão de vir conhecer a doida escandalosa que bate boca com os árabes, solta fogo pelos olhos e espuma pela boca.
Dizem que do amor ao ódio é um pulinho ... no meu caso foi questão de dias ...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixa um recadinho pra gente aqui, vai!