"Não, senhora diretora. Eu não sei por que ele fez isso."
[pausa e silêncio reflexivo]
"Eu juro, senhora diretora, que quando li a mensagem que ele me enviou dizendo o que havia acontecido, eu juro, pensei que se tratasse de uma brincadeira, sem graça, mas uma brincadeira. Fiquei esperando uma mensagem posterior dizendo algo tipo 'Ah! Peguei vocês, era pegadinha!'.
Nós - eu e o pai dele - ainda tentamos assimilar e até mesmo entender quais os motivos que levaram esse menino a fazer o que fez."
[pausa para um suspiro profundo]
"Nós estamos muito envergonhados, senhora diretora. Sim, eu sei que não temos que sentir vergonha, mas sentimos mesmo assim. Pra lhe ser bem sincera, eu não sei dizer se meu sentimento predominante é aquele da vergonha, da tristeza, da perplexão, da raiva, do desapontamento ou da surpresa (negativamente falando).
É uma sensação estranha de estar lidando com um desconhecido. E isso nos entristece, muito. É tentar entender e ver que a cada argumento despejado por aquela criatura deixa tudo ainda mais sem sentido."
[pausa para um olhar perdido no horizonte]
"Vergonha sim, senhora diretora, porque ele é reflexo da nossa educação. E eu lhe juro, senhora diretora, fizemos o possível e o impossível para educá-lo da melhor forma, transmití-lo os melhores exemplos, fazê-lo viver experiências diversas, em contextos e realidades distintas com o único objetivo, senhora diretora, de que ele não vivesse em uma bolha. Acho que falhamos, senhora diretora!"
[pausa para secar uma lágrima]
"Eu nem sei mais o que argumentar, senhora diretora. Só posso lhe dizer que essa não foi a educação que priorizamos para nosso filho, muito menos corresponde ao feedback que tivemos, até o momento, das pessoas que convivem com ele, inclusive os professores desta e das outras escolas. Por isso lhe falei da sensação de estar lidando com um estranho.
Como se estivéssemos falando sobre uma outra pessoa da qual conheço bem pouco. Nunca, nunca mesmo, passamos por algo parecido, nem intuíamos algo do tipo. Eu sinto muito!
Todos sabemos que essa é a idade para fazer coisas erradas. Todos passamos pela adolescência e alguma história (ou muitas) dessa fase temos para contar. Mas jamais esperaria que a história pra contar do meu filho fosse essa. Não agora e não neste momento. Um homenzinho rumo aos 17 anos ..."
[pausa para um sorriso envergonhado]
"Sabe, senhora diretora, falando em histórias, eu escrevo um blog que tem a mesma idade do meu filho. E lá tenho muitas histórias contadas desses nossos quase 17 anos como genitores. Tem histórias lindas que vivemos que ficaram registradas por lá. Tem histórias engraçadas, divertidas, de todos os lugares em que moramos ... eu acho que essa vai ser - e assim eu espero - a história que mais vai me causar tristeza de deixar registrada.
Ele ficou brabo, senhora diretora, que compartilhei o ocorrido com a vó dele, minha mãe, e com os dindos. Acho que ele ficou mais envergonhado do que brabo (o que de certa forma me causa um pouco de conforto pois se sente vergonha é porque no fundo entende que o que fez não foi correto). Com muito sentimento e com uma garganta meio engasgada de um choro que ele estava tentando controlar, me disse 'tu também, fica falando pra todo mundo' ... e eu vou falar e escrever mesmo, senhora diretora, porque acho que a dor que sinto é maior do que a vergonha. E preciso botar pra fora, de alguma maneira, esse sentimento ruim de decepção.
É, senhora diretora, acho que é mais dor de tristeza do que vergonha."
[silêncio para sacudir a cabeça em sinal de 'não sei o que faço']
"Eu não sei, senhora diretora, se tem mais alguém cúmplice ou partícipe do ato. Mas a verdade, senhora diretora, é que se tem mais alguém ou não, se ele vandalizou uma ou as 15 cadeiras, pra mim é indiferente. Me interessa que partiu da índole dele, do coração e da vontade do meu filho de fazer o que fez."
[pausa pra olhar pra diretora com cara de desespero]
"Não, senhora diretora, eu ainda não consigo explicar o porquê de tudo ... e muito menos nesse momento, nessa etapa de vida dele. Falando sobre a escola, este é o ano 'mais tranquilo' (digamos assim, comparado com os outros dois precedentes). Ele deu uma melhorada nas notas, estava mais consciente do esforço que precisava ser feito e até colheu bons frutos.
Além disso tá na idade de sair e aproveitar com os amigos. E tanto eu quanto seu pai, não o privamos de absolutamente nada. De viagens, passeios, saídas ... enfim. Eu até brinco às vezes com ele dizendo que tenho inveja da liberdade que ele tem. Quisera eu aos 16 anos ter sido livre como ele ... vai ver é isso: excesso de liberdade. Incertezas, nesse momento tenho muitas.
Além disso, senhora diretora, ele está apaixonado. Está namorando e vem sendo bem interessante de compartilhar esse momento, essa versão do Nicola.
Ou seja, senhora diretora, supostamente ele estava vivendo um bom momento. Não entendo essa vontade de se rebelar ... não agora. Não nessa etapa. Tenho tantos questionamentos sem resposta ..."
[pausa pra olhar pra baixo, querendo enfiar a cara na terra e não sair de lá nunca mais]
"A única rebeldia dele com relação à nós - seus pais - pode ser pelo fato de que somos muito chatos com relação à escola. Isso sim, senhora diretora! Exigimos esforço, exigimos bons resultados ... mas mais que nada porque sabemos da capacidade dele e do quanto a preguiça e a falta de empenho afetam o rendimento escolar. Bom ... mas isso, senhora diretora, a senhora sabe melhor do que eu."
[pausa para levantar, pegar a bolsa e se despedir]
"Novamente, senhora diretora, não temos nada mais o que dizer, além de lhe pedir desculpas. Faremos o nosso possível para tentar entender e, sobretudo, para que tal feito não volte a se repetir. Esperamos que ele tenha aprendido a lição. Que entenda que um ato impensado, uma atitude impulsiva, traz consequências não somente para si mas para muita gente, inclusive aquelas que lhe são caras. Perdão, senhora diretora. Perdão!"
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Esse diálogo é fictício. Ele não aconteceu. Infelizmente não assim, dessa forma. O diálogo não aconteceu mas o ato em si, infelizmente (de novo, a tristeza me faz redundante) é verdadeiro.
Mais ou menos umas 15 cadeiras da turma do Pequeno, de Janeiro à Maio, foram vandalizadas. Nelas haviam desenhos variados: desde pintos (e não me refiro ao animal .. ao 'pinto' mesmo que você está imaginando) até trevos de quatro folhas ou caricaturas de professores. Além disso, não bastassem os desenhos, haviam frases diversas escritas e espalhadas pelas 15 cadeiras. Frases definidas pela diretora como de baixo calão.
A diretora foi informada pelo pessoal responsável pela limpeza da escola e ao comparecer na classe e verificar pessoalmente o ocorrido perguntou quem havia sido o(s)/a(s) culpado(s)/culpada(s) pelas 'obras de arte'. Pequeno se apresentou como único responsável pelo vandalismo (porque essa é a palavra correta para o que ele fez).
No mesmo dia foi dado a ele o material necessário para providenciar a limpeza de todas as cadeiras danificadas. Felizmente a caneta permanente não era tão permanente assim e saiu com o produto que deram. Caso contrário, teríamos que reembolsar à escola 15 cadeiras.
Três dias após o ocorrido, uma assembléia escolar extraordinária foi convocada pela diretora da escola, com a presença dela, de todos os professores, 2 alunos representantes da turma e os representantes dos pais da turma (nem nós, eu e marido, e nem Pequeno pudemos participar). Ficou decidido que a punição do meu Pequeno vândalo seria: diminuição da nota de conduta (que influencia diretamente nas outras notas), dois dias onde terá que ficar uma hora a mais na escola ajudando o pessoal da limpeza. Além disso, toda a turma recebeu uma anotação pelo ocorrido.
Sinceramente acho uma pena muito, muito, mas muito leve. Por mim, desde o dia do ocorrido, deveria ter ficado na escola ajudando o pessoal da limpeza. E confirmei esse meu pensamento à vice diretora no dia em que tivemos que ir pessoalmente à escola buscar a comunicação escrita da punição.
Mas, parece ser, por unanimidade, após todos presentes (professores, colegas e mães representantes) relatarem o comportamento positivo precedente da criatura, a diretora teve em conta a boa índole demonstrada até então.
Infelizmente contará no expediente escolar do Pequeno para sempre. Ficha suja, para o resto da vida.
Óbvio que em casa também tomamos nossas providências. Ainda sem data preestabelecida para término, uma vez que o ímpeto adolescente segue, por vezes, tentando obter um certo controle da situação. Como se ainda não tivesse se dado conta da cagada que fez.
Ele precisa de tempo pra se dar conta da gravidade daquele ato impensado em momentos de tédio. Nós também precisamos do nosso tempo, para assimilar, tentar entender e saber lidar com esses dias difíceis que estamos tendo desde então. Eu, principalmente, preciso do meu tempo para não deixar que todos esses sentimentos ruins que venho sentindo prevaleçam à todos os sentimentos bons que provo por ele. Tempo ... acho que é o remédio porém cada um tem o seu.
O diálogo acima foi fictício. Nosso contato com a diretora da escola foi apenas telefônico, no mesmo momento em que ficamos sabendo do ocorrido. Uma maneira 'menos pesada' que encontrei pra relatar aqui no blog essa triste página que fará parte do livro da vida do Pequeno.
O diálogo é fictício ... mas juro, senhora diretora, todos os sentimentos expostos são reais.
Perdão, senhora diretora! Perdão ...
A primeira frase que me veio à cabeça, foi: Quem nunca? Mesmo sem saber do que se tratava e sobretudo por "conhecer" o Pequeno desde quando estava na sua barriga, sabia que não seria nada grave. Imagino como você e Nicola estejam se sentindo e mais uma vez, me penitencio pelas vezes em que fiz meus pais passarem vergonha. Aí repito: Quem nunca? 🥹🥹 Todos temos nossos momentos e cada um extravasa suas emoções a sua maneira. (Não brigue comigo 🫣🫣) Todavia, nada vai apagar a imagem do Pequeno que aprendi a amar, admirar e respeitar desde os tempos em que tinha o olhar carinhoso e melancólico para um sem teto, desde quando o via com os lindos olhinhos curiosos para o mundo, posando para o Marcello em Florença, parecendo imaginar o pai adolescente "sonhando" com aquele momento, desde quando sofri com ele se despedindo de amiguinhos da escola no Rio de Janeiro, desde quando senti imensa gratidão ao ratificar que o Pequeno era muito melhor do que sempre o imaginei! Não esqueço o olhar dele, educado, carinhoso e respeitoso me impedindo de levantar para ir pagar a minha parte da conta e de minha amiga, da melhor pizza que comi na Itália, dizendo: "Não! Vocês são nossas convidadas!" 😭😭😭 Até hoje, me emociono com essa lembrança e com a forma com a qual ele foi educado! Nada vai mudar a imagem do Pequeno e quero que se sinta abraçado e que reflita esse momento como mais um ato de amor seu para ele, que certamente, é do também, do Nicolas Pai!
ResponderExcluirQue não se sinta envergonhado ao ponto de achar que irá perder o respeito daqueles que o amam e sabem quão bom menino é! Que isso sirva para ele ser ainda melhor e ter o que contar aos futuros Pequenos. Que isso foi só um momento e o tempo se encarregará de apagar as dores de todos vocês, porque sim, sei que está doendo nos três! Não poderia esperar atitude diferente de você, Tati! Esse Blog é uma declaração de amor e deveria ser um Best seller! Não fique triste e não brigue com o Pequeno (nem comigo rsrsr). Volto a repetir: Quem nunca?
PS: Pequeno! Você continua sendo um exemplo de bom menino para mim e tantos, haja vista a punição abrandada 🥰
Tudo passa, isso também, vai passar! Sabemos quão preciso você é!
Bacciones Bella Amica
Ass: La Mantequilla
Rose, querida! Me emocionei com todas as suas boas lembranças 😭 (la mantequilla me atacando). Apesar do ato falho, elas não se apagam. Faz parte da essência dele também. Acho que nos acostumamos com a calmaria que sempre foi sermos pais do Nicola. Talvez isso explique a nossa perplexidade com o ocorrido. Espero que tenha sido apenas um momento tipico da idade.
ExcluirObrigada pelo seu carinho de sempre!
Bjos nossos!
Olá Mana querida!
ResponderExcluirAprendemos que tudo nesta Vida são ensinamentos, PARA TODOS.
Talvez a surpresa maior, foi por ter sido o Nicolinha e isso faz a diferença
Que ele tenha aprendido que envergonhar Pai e Mãe é muitoooooo ruim e aos Pais, o aprendizado de que o filho cresceu e junto, crescem os problemas. Ajudem-se neste momento, é o CONSELHO.
RENATO FRAGA
OIM OMB
Com certeza é um momento de aprendizado para todos, meu querido irmão.
ExcluirEstamos neste processo de ajuda e entendimento mutuo.
Bjos nossos! Saudades ...
Querida, quando li o blog pensei o mesmo que a sua amiga…quem nunca fez? Quem já não fez coisas pelas quais se arrependeu. Acho que a vergonha e a humilhação servirão como lição. Coloque-o para limpar a casa e o jardim também, ‘per spazzare via la noia’. Vi abbraccio e l’affetto per quel bellissimo bimbo continua inalterata 💝
ResponderExcluirChris, querida! Guarda cosa fa' la noia 😭
ExcluirO fato de ele ter o carinho de tanta gente legal (vocês incluidos) diz muito sobre o caráter dele também. E isso me dá esperanças de que seja apenas um momento tipico de adolescente.
Bjos nossos para vocês ! Saudades 💝
Infelizmente são "brincadeiras" assim que acabam fazendo com que a gente veja e repense o que realmente vale a pena, garantir poucos minutos de risadas com os amigos ou a decepção eterna, por este momento, no olhar dos nossos pais. Espero que o Nicolinha veja como um ato a não se repetir, que não teve graça alguma e que "amigos" assim não valem a pena se ter por perto. Ponto positivo por ele ter se entregado, pois aí está a índole dele real, de que se fez errado, se paga. Espero que o momento de "raiva" dele passe e sabemos que raiva não é, e sim vergonha.. vergonha pelo feito, vergonha pela punição e vergonha por decepcionar vocês. Tudo são fases e tomara que essa passe bem rapidinho.. amos vocês, família !! Beijos da sobrinha-irma mais linda!! 💙🥰
ResponderExcluirAlguém que amamos muito (e me arrisco a dizer que tu também tenha um "certo carinho" por essa pessoa) disse algo para Pequeno que virou quase um mantra nosso nesses ultimos dias: na vida a gente aprende ou no amor 💝 ou na dor 😭. Com a dor desse momento espero que ele tenha entendido que nosso amor por ele, apesar de todos os sentimentos ruins que provamos com essa experiência, segue imenso. E é ele que prevalece e nos serve de combustível para seguirmos juntos nessa viagem interessantíssima chamada Vida.
ResponderExcluirDe verdade espero que ele tenha aprendido a lição!
Bjos nossos, cheios de carinho e de saudade! 💙