Dia 08 de junho fez 21 anos do nosso primeiro beijo. Por algum tempo celebramos essa data com imensa felicidade.
Porém quis o destino que alguns anos depois o dia 08 de junho passasse a ser um dia triste marcado no nosso calendário para todo sempre: dia 08 de junho de 2007 o nonno, pai do meu Amore, faleceu. 3 meses antes de que Pequeno nascesse.
Essas coincidências estranhas da vida.
Mas aquele 08 de junho de 2003 ficará pra sempre guardado na minha memória e no meu coração. Foi o dia em que o meu primeiro Nicola deixou de ser simplesmente um amigo e passou a ser o meu amor, a pessoa que eu escolhi passar o resto dos meus dias, compartilhar a minha Vida. Tá bom! Naquele momento não tinha toda essa certeza assim ...
A nossa amizade iniciou algum tempo antes, não lembro bem a data. A tenho registrada na minha agenda daquele ano (do tempo em que eu escrevia nas agendas/diários). Foi um dia normal, um dia qualquer, em que lá na Plaza Mayor de Madrid conheci aquele cara com pinta de boa gente, educado, simpático mas sem grandes alardes, que vestia uma camisa preta de manga curta que ressaltaram a cor dos seus olhos. Disso eu lembro bem, quando o conheci pensei: "Gente! Que olho bonito!". Era um tom meio verde musgo, meio cinza. Além do formato dos olhos, grandes e bem desenhados, a sobrancelha cheia e bem marcada (quase uma característica italiana).
Mas naquele dia, apesar do olho bonito, não tiveram segundas intenções. Teve um bom papo, a sensação de uma companhia agradável e a felicidade por ter conhecido um novo amigo.
Precisava fazer hora para pegar o ônibus de volta para Majadahonda. Então decidimos ficar por outra praça: Plaza España. Ali, sentados em um banco atrás do monumento de Dom Quixote, ficamos horas e horas conversando. Acho que eu conversei bem mais que ele. Depois fiquei sabendo que a razão daquele silêncio nada mais era do que uma dor de barriga quase incontrolável. Então entendi o motivo daquele movimento estranho com as pernas (vez que outra as esticava, alongava). Coitado! Eram as cólicas intestinais.
A partir dali começamos a nos encontrar com certa frequência nos finais de semana.
Lembro do dia em que ele me convidou para jantar num dos restaurantes mais legais de Madri naquele momento.
- "Vamos celebrar! Eu ganhei aumento de salário."
Ele me convidou para jantar, provavelmente pagaria a conta. Mas eu nem consegui degustar a comida direito, pensando que o dinheiro que tinha na carteira não pagava nem o primeiro prato. Ele não somente pagou a conta, como pagou os drinks depois. Um gentleman!
Aliás, a gente vivia em bares. Um dos nossos preferidos era o Olivera. Um barzinho pequeno, sem nada de especial, mas a gente gostava dele. Quase sempre, após o Olivera, ficávamos numa praça que tinha ali perto batendo papo, esperando o metrô abrir. Teve uma vez que eramos nós e as baratas disputando a praça. Muitas baratas! Aliás, a mesma praça onde ele me revelou o 'grande segredo' (se não sabe do que estou falando basta clicar aqui).
alguns anos depois levamos Pequeno para conhecer |
A gente aproveitou bastante la noche madrileña ... aquela tradição de ir de bar em bar, caminhar pela Gran Via, sem destino. Virar esquinas e se perder pelas calles da cidade.
Nossa amizade foi sempre sincera, sem rodeios. Lembro do dia em que ele falou algo que não gostei e dei uma super olhada de reprovação. Ao que ele disse a fatídica frase (que depois virou motivo de muitas piadas):
- "Ui! Que olhos de demônio!"
Eu apaixonada pela cor dos olhos dele ... e ele com medo dos meus ...
Até que um dia ele disse que no próximo sábado não poderíamos nos ver porque ele tinha um aniversário de um amigo. Mas que a gente poderia se ver no domingo, quem sabe um cinema à tarde, perto de onde eu morava?
No sábado, como de costume, saí com a Carol (minha sobrinha mais idosa, minha irmã, minha amiga dessas e outras vidas, a dinda do Pequeno). Passeamos por Madri, paramos em um bar da Gran Via para comermos jamón e, se não me falha a memória, fomos em algum bar/discoteca depois.
Quando descemos do ônibus, quase em casa, na última curvinha antes do nosso prédio, ela me diz:
- "Tu tá gostando dele, né?"
- "Eu? Não!"
- "Tá sim! Passou a noite meio borocoxô, sentindo a falta do Nicola. Toda preocupada que ele vai encontrar a ex lá na festa do amigo ..."
- "Eu não! Claro que não! Acho que não ..."
Mas eu estava gostando dele. Só que não queria dar mole pra não perder o amigo. Eu gostava da companhia dele, dos nossos papos, das nossas risadas. E ao mesmo tempo ele sempre me respeitou, nunca sequer deu um passinho a mais, uma tentativa de um beijo, abraço, nada. Sempre muito querido e educado. Gentleman, ele sempre foi um.
No dia seguinte, dia 08 de junho, marcamos de nos encontrar no cinema, perto de onde morava. Na minha cabeça se passavam mil e uma possibilidades com o que poderia ter acontecido na festa do amigo. Mentira! Na verdade só pensava em uma possibilidade:
-"Será que voltou com a ex e veio me dar tchau pra sempre?"
- "Imagina ...", disse a Carol.
- "Tô sentindo uma coisa estranha, Carol! Uma sensação ... ruim."
- "Deixa de ser neurótica, guria!"
Foi então que aquele copão de café do Mc Donalds (que a gente pediu pra fazer hora enquanto ele não chegava) virou todinho por cima da blusa que havia pego emprestada da minha cunhada.
- "A Rejane vai me matar! Putz, ele tá chegando!"
Corri pro banheiro pra tentar dar um jeito naquele estrago todo. Fiquei fedendo a café, tirei a blusa, passei sabão do banheiro e fiquei esfregando, numa tentativa quase frustrada de tirar a mancha da blusa (de seda) da minha cunhada.
Estava secando a blusa no secador de mãos do banheiro quando a Carol apareceu:
- "Ele chegou!"
Envergonhada, saí do banheiro e contei o que acabara de acontecer. E nem tinha como esconder: fedor de café por todos os poros.
Ele riu, fez alguns comentários sobre a festa e seguiu tudo normalmente. E eu morrendo de curiosidade, pensando "detalhes, quero saber detalhes."
Naquele dia o olho dele também me chamou a atenção. Tava bonito! Estava feliz.
Fomos assistir ao filme. Ele passou o tempo todo falando no meu ouvido:
- "Tá entendendo? Viu isso? Viu aquilo?"
E cada vez que ele vinha falar comigo, me arrepiava todinha.
- "É coisa da minha cabeça!", pensava.
Acabou o filme, ele nos ofereceu uma carona.
Quase chegando no carro, me agarrou e me deu um beijão, mas um beijão, que eu até esqueci que estava - ainda - fedendo a café.
08 de junho de 2003. Desde então a gente nunca mais se desgrudou.
Dia desses estávamos numa loja de móveis, vendo coisas para casa. Resolvemos parar no bar da loja e tomar um café (olha ele aí, sempre fazendo parte da nossa história).
E enquanto conversávamos sobre medidas, layout de móvel, qual era melhor, mais adapto, compra agora, compra depois ... olho pra ele, que estava sentado bem na minha frente, me distraio de todo aquele blá-blá-blá de coisa de casa, então penso:
- "Gente! Que olho mais bonito!"
Mais de duas décadas depois, ele segue falando dos meus "olhos de demônio". E eu sigo achando o olho dele o mais bonito desse mundo!
Feliz Dia dos Namorados para meu melhor amigo, companheiro de cafés, de papos e de Vida inteira! TI AMO!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixa um recadinho pra gente aqui, vai!