Nosso plano A era deixar Pequeno com a Nonna (e ele nem fazia questão de ir junto mesmo), ir a Roma resolver uns probleminhas burocráticos no Consulado do Brasil, deixar nossas coisas no hotel. Logo almoçar, visitar os amigos do marido do antigo escritório, fazer umas comprinhas (precisávamos ajudar o Papai Noel a encontrar o presente do Pequeno). Depois de bater perna pelo centro histórico de Roma para matar todas as saudades possíveis, voltaríamos para o hotel para descansar um pouco, recarregar as pilhas para uma super noitada em Trastevere, com direito a uma boa janta, bom vinho, drinquezinho por Campo de Fiori. Basicamente isso.
Mas nosso plano A virou plano J.
Chegamos um pouco antes das 10hs no Consulado. Não era muito cedo, mas para o que tínhamos que fazer, também não era tarde. O funcionário que nos deu a senha para atendimento, disse que estava indo tudo relativamente rápido. Entramos na sala de espera (que não era mais do mesmo jeito que lembrávamos). Estava repleta. As pessoas pareciam já impacientes. Alguns italianos se misturavam aos tantos de brasileiros.
E como acontece quando encontramos conterrâneos por esse mundo afora, rolava um papo solto, com as perguntas de sempre: de onde você é, quanto tempo mora aqui, por que veio, sente saudades de lá, etc.
Deu 11hs e nada de chamar nossa senha. Percebemos que o relativamente rápido era relativo mesmo. Marido começou a se estressar. Tínhamos marcado com o pessoal da recepção do hotel que chegaríamos até umas 11hs. Pensávamos que daria tempo, afinal tínhamos reservado o hotel pertinho do Consulado. Marido já pensava até em desistir.
- "Pode ficar quietinho aí que só saio desse Consulado com os devidos carimbos nos documentos."
Resignado, saiu para ligar para o pessoal do hotel.
Sem muito o que fazer, passei a analisar o ambiente. Foi então que percebi que na mesma fileira de cadeiras em que estava sentada, compartilhávamos espaço eu, dois transexuais e uma freira. Achei interessante aquela miscelânea e fiquei louca de vontade de puxar papo, seja com uns que com a outra. Mas ninguém me deu bola. Sorri para uma menininha simpática que acabava de chegar: uma misturinha que deu certo entre uma baiana e um italiano com uma tatuagem de olho na careca.
Nessas alturas, o povo já era quase amigo íntimo, contavam histórias, anedotas. Reclamavam da demora, jogavam no celular. Um funcionário antipático veio chamar a atenção e pedir silêncio. Não. Não era permitido conversar. Marido, pela décima vez disse que queria ir embora. Eu já estava vendo metade do nosso planejamento indo por água abaixo. Um sol lindo lá fora e nós presos ali.
Lá pelas 12:30hs chamaram nossa senha. Mas como alegria de pobre dura pouco ... Ao invés de nos atender, nos colocaram em outra fila. Fila essa que não andou, simplesmente porque uma funcionária disse que não iria mais atender ninguém porque tinha que sair. E nenhum outro funcionário poderia fazer o trabalho dela.
Ahn? Ouvimos bem? Sim. Ouvimos bem. A cara de pau foi tão grande que o próprio colega (o que havia nos dado senha) também ficou indignado. Marido reclamou e ela, se achando com a razão, se sentiu ofendida e mandou que ele se tranqüilizasse, que daria uma nova senha para atendimento e que daqui a mais ou menos meia hora ela voltaria. A chamei e ela fez que não me ouviu. Saí correndo atrás dela, até a sala onde estava entrando. Disse que precisaríamos ir ao hotel fazer o check in, que era ali perto e que não queria perder minha vez no atendimento. Me autorizou a sair e ainda disse que, caso tivesse algum problema para entrar, era só dizer que ela tinha me autorizado. O poder em pessoa!
Já preocupados com nossa reserva no hotel, saímos correndo com a mochila nas costas. Felizmente a moça da recepção ainda estava por lá.
Bom, para resumir a história, saímos do Consulado já passava das 15hs. Mas saímos com o carimbinho nos documentos. Ufa!
Fomos comer algo. A tarde já tinha ficado cinza. Fomos até o antigo trabalho do marido. Depois, fomos comprar os presentinhos que faltavam. Fiquei aliviada por encontrar o presente do meu Pequeno. Fizemos uma paradinha estratégica no pub de sempre (sim, sentimos saudades do pub de Roma) e logo nos encaminhamos para o hotel.
Chegamos no hotel e só deu tempo de tomar banho para sair novamente, mas sem muita expectativa, pois estávamos mortos de cansados. Tantas horas de espera acabaram com nosso pique.
Uma jantinha razoavelmente boa, uma caminhadinha por Trastevere. Um drinquezinho antes de voltar para o hotel e, logo, cama.
Está cada vez mais freqüente esta história de se dar por conta de que não estamos mais com tanto pique quanto gostaríamos. As pernas doíam (na verdade o corpo inteiro), o sono chegou rápido e só em pensar que no dia seguinte tínhamos que acordar cedo, doía na alma.
Sim, mais de uma vez concordamos um com o outro: estamos velhos, amore! Estamos velhos ...
Não acho que vocês estão velhos, é que espera em consulado ninguém merece! Mina as energias! Mas enfim, apesar dos pesares, que bom que no final deu tudo certo :) Aproveitem! Beijo
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