Vergonha. É com muita vergonha que sento aqui na frente do pc para escrever para vocês. Mas já respirei fundo, peguei um ar pra disfarçar o vermelho das bochechas, pedi perdão do meu pecado para o Papai do Céu e agora, finalmente, tô aqui me confessando para vocês.
Fiz uma daquelas coisas que a gente sabe que não se faz. Daquelas coisas que a gente nem lembra quando aprendeu que não era certo, porque aprendeu desde pequeno. Não se faz. Não se faz e pronto, porque é feio, bem feio.
Aquela velha história: não fazer para o outro o que não gostaríamos que fizessem para nós. Se tivessem feito isto comigo, agora, neste exato momento, estaria, no mínimo, muito, muito, muito chateada. E olha que coloquei esse monte de vírgula na frase anterior para dar tempo da chateação passar.
Pois bem. Se você está lendo em pé, senta, porque lá vem história.
Há alguns dias, que nem sei precisar exatamente quantos, mas faz algum tempinho, estava em casa, arrumando a bagunça o quarto do Pequeno. Todo santo dia aqui em casa é a mesma história: arrumo o quarto dele na parte da tarde. Logo, o menino chega da escola e em meia hora parece que teve uma guerra naqueles poucos metros quadrados. Dia seguinte a mesma coisa: arrumar a bagunça de sempre, os papéis de sempre, os brinquedos de sempre, os sapatos de sempre ... e sempre alguma roupa metida debaixo da cama, toalha pelo chão. Enfim ... um desastre. Tô parecendo minha mãe reclamando de mim há uns 30 anos atrás. A história se repete. Só que era bem mais divertido quando tinha a idade do Pequeno e a bagunceira era eu.
Então, estava estressada com aquela rotina chata, com uma vontade enorme de enfiar tudo no lixo (quem sabe assim ele aprendesse). Aliás, já fiz isso uma vez. Quem lembra da história do lixo? Quem não lembra, pode relembrar clicando aqui . Não adiantou de nada, porque segue tudo igual.
Estava organizando a escrivaninha do Pequeno, quando me deparei com ele, o tema principal deste post: o diário do Pequeno (se não sabe do que estou falando, dá uma lida no post anterior).
Encontrei o diário ... e a chave :) ... tudo bem que ela não era imprescindível (é daqueles cadeadinhos que abrem até com vento). Mas ver aquela chavezinha ali do lado do diário dando sopa, foi mais forte do que eu. Não pensei duas vezes: larguei o que estava fazendo, fiz espaço na cama (que seguia bagunçada) e com um sorrisinho de canto de boca, com aquele semblante de quem estava fazendo arte - e bem consciente da arte - abri o bendito diário.
Encontrei o diário ... e a chave :) ... tudo bem que ela não era imprescindível (é daqueles cadeadinhos que abrem até com vento). Mas ver aquela chavezinha ali do lado do diário dando sopa, foi mais forte do que eu. Não pensei duas vezes: larguei o que estava fazendo, fiz espaço na cama (que seguia bagunçada) e com um sorrisinho de canto de boca, com aquele semblante de quem estava fazendo arte - e bem consciente da arte - abri o bendito diário.
Tive que preparar o ambiente: apagar a luz e fechar as cortinas. Não que quisesse me esconder, mas é que o bendito diário vem com uma caneta "secreta", que só pode ser lida no escuro, com a ajuda de uma lanterninha que vem incorporada na própria caneta.
O coração já começou logo a bater bem acelerado. Nem havia bisbilhotado lido a primeira página e já estava imaginando encontrar algum segredo escabroso, uma confissão quase imperdoável, a frase "detesto minha mãe" escrita umas 50 vezes, ou "ela é uma megera". Enfim ...
Mas logo na primeira página já dei uma boa de uma gargalhada:
"Minha frase predileta: Nunca diga nunca". Esse menino é uma figura!
Na página seguinte, outra gargalhada com as "bandas" favoritas dele:
Legião Urbana ... acho que já é tipo 'herança genética' ... vai passando de pai pra filho (nesse caso de mãe pra filho). Mas acho que se perguntar pra ele quem é Renato Russo ele não vai saber.
Já na página seguinte, meu coração se partiu:
"Se eu pudesse mudar algo, o que eu faria? Na minha família: um irmão". Não tem jeito, ele não esquece.
Já no item "coisas que eu jamais mudaria", achei bonitinha a resposta dele no quesito "na minha família".
Ele não mudaria "a própria família". Claro que eu li e exclamei bem alto "oinnnn, que fofo!".
"Carros favoritos". Tanta coisa pra responder e ele responde:
Essa paixão é antiga, bem antiga:
Pequeno dentro do fusca do vovô |
Quando eu já estava quase que totalmente relaxada e achando o máximo a idéia de invadir a privacidade do meu filho e ler seus "segredos", encontro com essa página:
"Eu sou muito corajoso! Mas existe algo que mexe comigo":
MENINAS ... !!!
Meu coração começou a palpitar ... meninas ... meninas! Meu Pequeno já pensa nelas ... e elas mexem com ele ... foi demais pra mim! Tudo bem que logo ele riscou e colocou escuro ... mas o primeiro impulso é que vale.
Ainda bem que a bendita caneta estratosférica superpoderosa não veio com borracha. Se ele tivesse apagado, eu jamais saberia. Humpf!
"Eu sou muito corajoso! Mas existe algo que mexe comigo":
MENINAS ... !!!
Meu coração começou a palpitar ... meninas ... meninas! Meu Pequeno já pensa nelas ... e elas mexem com ele ... foi demais pra mim! Tudo bem que logo ele riscou e colocou escuro ... mas o primeiro impulso é que vale.
Ainda bem que a bendita caneta estratosférica superpoderosa não veio com borracha. Se ele tivesse apagado, eu jamais saberia. Humpf!
Aquilo foi demais pra mim. Bateu um certo baixo astral ... estava fazendo algo que não devia, a consciência começou a pesar ... e, aquela velha história: quem procura acha. Achei o diário, procurei um segredo e encontrei.
"Meninas mexem com meu Pequeno" ... não conseguia parar de pensar nisso.
Fechei o diário, coloquei o cadeado. Deixei tudo no mesmo lugar, exatamente como estava.
Mais tarde, quando ele voltou da escola, contei pra ele o que havia feito. Pedi desculpas e fiquei esperando um ataque histérico, um sermão vergonhoso dele me dizendo "Mãe! Isso não se faz!". Imaginei que ele fosse ficar de mal, que não falasse comigo mais (bom, pelo menos não naquela noite). Fiquei esperando ele me chamar de megera, invasora de privacidade, controladora, que ele dissesse que não estava mais aguentando tanta pressão, arrumasse sua mala e fosse emb ... opa! Exagerei mesmo. Mas o fato é que esperava o pior. E ele teria toda a razão. Não se faz, Tatiana. Não se faz.
Ao invés disso, ele deu um sorrisinho, disse que não tinha problema nenhum, afinal entre nós não havia segredos. E quando disse que não havia lido tudo, ele respondeu que sem problemas, poderíamos ler o resto juntos.
Se eu tivesse um diário igual ao dele, teria escrito algo como:
"Querido diário! Meu filho é um fofo! Ele não é desse mundo, definitivamente. Tem o coração mais bondoso que conheço e uma paciência gigantesca com essa mãemegera."
P.S.: Oi gente do blog! A partir de agora eu vou começar a escrever no blog!! Eu não só perdoei a minha mãe como autorizei a escrever esta história. Vocês tinham que ver a cara dela, cheia de vergonha :)
Quem sabe a gente cria umas postagens com "as pequenices da mamãe" ?!
assinado: Nicola (o Pequeno)
"Meninas mexem com meu Pequeno" ... não conseguia parar de pensar nisso.
Fechei o diário, coloquei o cadeado. Deixei tudo no mesmo lugar, exatamente como estava.
Mais tarde, quando ele voltou da escola, contei pra ele o que havia feito. Pedi desculpas e fiquei esperando um ataque histérico, um sermão vergonhoso dele me dizendo "Mãe! Isso não se faz!". Imaginei que ele fosse ficar de mal, que não falasse comigo mais (bom, pelo menos não naquela noite). Fiquei esperando ele me chamar de megera, invasora de privacidade, controladora, que ele dissesse que não estava mais aguentando tanta pressão, arrumasse sua mala e fosse emb ... opa! Exagerei mesmo. Mas o fato é que esperava o pior. E ele teria toda a razão. Não se faz, Tatiana. Não se faz.
Ao invés disso, ele deu um sorrisinho, disse que não tinha problema nenhum, afinal entre nós não havia segredos. E quando disse que não havia lido tudo, ele respondeu que sem problemas, poderíamos ler o resto juntos.
Se eu tivesse um diário igual ao dele, teria escrito algo como:
"Querido diário! Meu filho é um fofo! Ele não é desse mundo, definitivamente. Tem o coração mais bondoso que conheço e uma paciência gigantesca com essa mãe
P.S.: Oi gente do blog! A partir de agora eu vou começar a escrever no blog!! Eu não só perdoei a minha mãe como autorizei a escrever esta história. Vocês tinham que ver a cara dela, cheia de vergonha :)
Quem sabe a gente cria umas postagens com "as pequenices da mamãe" ?!
assinado: Nicola (o Pequeno)
Aí que linduudoo!!! Manda trazer esse diário nas férias que também quero brincar de caneta que só se enxerga com uma lanterna especial!!! Esse Nicolinha tem muito o que nos ensinar mesmo!!! E Xexel.. quem nunca leu um diário alheio?! Eu lia todos os da Nina.. hahahahaha beijávamos
ResponderExcluirLaura Fraga (sobrinha-irmã mais linda)
kkkk ... por isso não dou irmãos pra ele :P ... se bem que mesmo sem irmãos ele teve a privacidade invadida. Se o diário (e a luz da caneta) funcionarem até dezembro, digo pra ele colocar na mochila ;)
ExcluirBjokas nossas!
Olá queridos!
ResponderExcluirDe tudo, mesmo a bisbilhotice, o que mais me emocionou foi "" Não há segredos entre nós "", em um momento tão conturbado onde vivemos, isso vale ouro. Parabéns para vocês.
Renato Fraga
OIM - OMB
Pois é. E qdo ouvi isso saindo da boquinha dele, mentalizei um desejo ao Universo: que seja sempre assim!
ExcluirBjos, meu irmão!
Parabéns, Tati e Nicolão.
ResponderExcluirQuando o filho tem nos pais os amigos mais confiáveis, temos que dar graças a Deus. É uma benção, e com certeza vai proteger quem mais amamos dos perigos de tentar encontrar essa amizade fora do lar.
Quem poderá amar nossos filhos mais do que nós?
Nicolinha, é por pensares assim que te amamos muito, e temos muito orgulho por seres uma pessoa de bem.
Beijos e todos. Fiquem com Deus.
Tio Beto_57
Dá um alívio no peito saber que nossos filhos contam conosco, confiam em nós. Meu desejo é de que siga assim. Oxalá!
ExcluirBjos, meu irmão!