O cheirinho preferido.

Pequeno é um menino vaidoso. Todos os dias ele tem um ritual detalhado antes de ir para a escola: toma um banho bem demorado (mas ele não desperdiça água não. Deixa o chuveiro desligado enquanto brinca e\ou cantarola no banheiro), quase nem seca os cabelos para que, quando ao pentear, fique "estiloso" tipo penteado de jogador de futebol, passa desodorante e vai almoçar.

Logo, um pouco mais perto do horário da escola, já devidamente uniformizado, escova os dentes, dá uma nova arrumada nos cabelos, dependendo do dia passa aquele santo sprayznho anti-chulé nos tênis (ele não tem chulé, ele gosta do cheirinho - disse que aprendeu com o tio Beto) e ... o ápice dos seus cuidados com a beleza: coloca o perfume preferido dele. Todos os dias sai de casa "fedendo" de tanto que perfuma. E não adianta dizer pra passar pouquinho que ele vai acabar matando os coleguinhas de enjôo. 

- "Eu me gosto assim, ué?!"

O perfume preferido dele é o Kaiak, da Natura. Por dois simples motivos:

1) a vó (que vende Natura) quem deu;

2) é o cheirinho do vô.

Basicamente é como se o vô estivesse indo com ele todos os dias para a escola. Pronto. Simples assim. (e o vô tem esse cheirinho porque a vó vende Natura ...).

Acontece que nesta semana o marido foi trabalhar em São Paulo e levou, na necessaire, o tal do Kaiak do Pequeno. Simplesmente porque o vidro era menor do que os dos perfumes dele. Basicamente por questão de espaço e volume mesmo, disse ele, que nem gosta tanto assim do cheirinho do Kaiak do Pequeno.

Então, ontem por volta do meio-dia, escuto um grito vindo do banheiro:

- "Eu não acredito que o pai pegou o meu pefume!"

- "Acredite! Ele levou mesmo. É porque o vidro do teu perfume é menor, ficou melhor pra ele levar."

- "E agora? Quero usar meu perfume e não tá aqui."

- "Ixi! Sem estresse, tá? Tem um monte de perfume aí dentro. Usa algum do teu pai."

- "Claro, né?! Vou ter que usar mesmo ... algum dele ... deixa eu ver ... esse não. Esse ... hummm ... acho que vou botar esse ... poxa! Que saudade do meu perfume."

Depois fez uns vinte minutos de sermão mental com o pai: que não era pra ter feito isso, aonde já se viu pegar as coisas dos outros sem pedir permissão, que era o perfume preferido, que o pai iria gastar e ele iria ficar sem perfume ... enfim ... santa paciência que eu não tenho para aguentar ataque de fúria de menino vaidoso.

Fiquei pensando cá com meus botões: eu poderia ter tido uma menina, poderia estar brigando com ela por ter pego minhas coisas, meus cosméticos, minha maquiagem, meus esmaltes, meus sapatos ... mas não. Tenho que ficar aturando o menino furioso porque o pai pegou o perfume dele ... ai, ai ... meus meninos já dividem coisas.

À noite eles conversaram via Skype. Depois de muito papo, Pequeno lembrou da história do perfume. Mas aí a brabeza já tinha passado e ele se limitou a dizer:

- "Da próxima vez tu tem que me pedir pra levar minhas coisas."

Mal sabe Pequeno que, na verdade, nem foi por questão de espaço nada. Nem tem muita diferença de um vidro de perfume para outro. 

Mal sabe ele que o que o pai queria mesmo era ter o cheirinho dele  - do Pequeno - presente todos os dias, assim poderia matar a saudade. Igual ao Pequeno, que leva o vô consigo todos os dias para escola.

Cheirinho de amor, eu diria.

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