Temos uma vizinha, uma senhorinha já idosa que, vez que outra bate aqui na nossa porta pedindo coisas: às vezes pede remédio para cólica (nunca dei), azeite - que ela bebe para passar a cólica (?) (dei pra ela algumas colheradas). Também já bateu pedindo pão (já dei), sal (também dei), um pedaço de fio (não dei ... vai que a senhora faz alguma arte com minhas impressões digitais no fio?!) e quando ela pede algo e não dou (ou porque não tenho ou porque desconfio de suas intenções - ela é danadinha) ela pede, então, uma oração. E, de verdade, sempre mentalizo algo bom para ela.
Ela mora com a cuidadora. Tem filhos que de vez em quando aparecem, mas bem de vez em quando mesmo. Uma vez ao mês, talvez, com um pouco de sorte.
Ela mora com a cuidadora. Tem filhos que de vez em quando aparecem, mas bem de vez em quando mesmo. Uma vez ao mês, talvez, com um pouco de sorte.
Ela sempre apronta quando a cuidadora sai para comprar algo, fazer algum serviço na rua, ou até mesmo "uma fezinha".
- "Vê se pode?! Ela sai pra jogar no bicho. É viciada!", me confidenciou dia desses.
É batata: escuto a cuidadora saindo, conto alguns minutos e lá vem ela bater na minha porta. Ela bate na porta de outros vizinhos também, mas quase ninguém abre. A vizinha da frente até andou dando papo pra ela, mas agora não abre mais a porta.
- "Vê se pode?! Ela sai pra jogar no bicho. É viciada!", me confidenciou dia desses.
É batata: escuto a cuidadora saindo, conto alguns minutos e lá vem ela bater na minha porta. Ela bate na porta de outros vizinhos também, mas quase ninguém abre. A vizinha da frente até andou dando papo pra ela, mas agora não abre mais a porta.
Sempre que a atendo, conversamos, logo ela vai pra casa, dá alguns segundos e ela volta a bater, sempre pra dizer a mesma coisa:
- "Não conta pra ela que eu bati aqui", sempre me pede.
"Ela" é a cuidadora. Mas "ela" já sabe que ela bate aqui em casa, faço questão de falar. "Ela" - a cuidadora - já me pediu milhões de desculpas, contou que no outro condomínio aonde moravam as pessoas reclamavam que ela importunava. Mas bem da verdade, ela não me importuna.
- "Não conta pra ela que eu bati aqui", sempre me pede.
"Ela" é a cuidadora. Mas "ela" já sabe que ela bate aqui em casa, faço questão de falar. "Ela" - a cuidadora - já me pediu milhões de desculpas, contou que no outro condomínio aonde moravam as pessoas reclamavam que ela importunava. Mas bem da verdade, ela não me importuna.
Confesso que já fingi algumas vezes que não estava em casa. Ela bateu insistentemente e, logo, voltou pra casa. Tentei, também, algumas vezes enrolar a senhorinha pedindo pro marido atender a porta. Mas não tive êxito. Sempre que ele abre a porta ela olha pra dentro de casa e pergunta:
- "Cadê ela?"
"Ela", neste caso, sou eu.
- "Cadê ela?"
"Ela", neste caso, sou eu.
Teve um dia, também, em que ela bateu mas não queria nem azeite, nem sal, nem pão, nem fio. Queria somente companhia. Bateu aqui e pediu que eu fosse pra casa dela ficar com ela. A cuidadora havia saído e estava demorando muito (mentira, eu vi quando a mulher saiu). Respondi que não poderia ficar na casa dela, que tinha muita coisa para fazer, inclusive o almoço do meu filho. Mas, que se quisesse, para se sentir melhor, poderia deixar a porta aberta. Deixaria a minha aberta também e, caso precisasse de algo, era só me chamar. Ela, então, bem contrariada, me disse:
- "Poxa! Você nunca pode ficar comigo ...".
Carente. Dramática e carente. Logo a cuidadora apareceu e fiz fofoca dizendo que ela estava reclamando que fazia tempo que estava sozinha.
O fato é que, cada vez que ela bate aqui, Pequeno fica com sentimento de dó. Muitas vezes ela chora (um choro falso, tenho que dizer - não tenho nada contra minha vizinha, mas ela é uma grande atriz dramática). Só consegue convencer ao Pequeno. Pequeno tem debilidade por crianças e idosos. O coraçãozinho dele não resiste.
Dia desses, estávamos saindo para a escola e cruzamos com ela pelo corredor. Papo vai, papo vem ... ela fez declarações de amor ao Pequeno, ele agradeceu encabulado. Logo ela seguiu para casa e nós descemos as escadas para seguir rumo à escola.
Pequeno, então, disse:
- "Será que ela já tem uns 80 anos?"
- "Não sei ... nunca perguntei a idade dela ... mas acho que tem sim."
- "Com certeza, mãe! Acho que deve de ter até mais ... olha o vô, tem 81 e tá inteirão ... bemmmmm melhor do que ela."
Então ... dependendo do ponto de vista ... meu pai superou um câncer quase incurável, anda meio abatido, fazendo hemodiálise 3 vezes por semana, vez que outra tendo uns piripaques ... mas, Pequeno tem razão ... o vô tá bem mais 'inteiro', bemmmmm melhor do que "ela", nossa vizinha. Ou não? Tudo questão de ponto de vista ...
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