Este ano, no quesito maternidade e paternidade, foi bem complicado para nós (eu e marido). O ano nem acabou, mas já escrevo assim foi, na esperança do "pronto, já deu". Aquela velha história de que "criar filhos é como jogar vídeo game: cada fase é mais difícil". Já me dá até medo de reclamar pois, vai saber o que o futuro me reserva? Mas a verdade é que este momento nosso, meu, do marido e do Pequeno, tem sido meio complicado.
Pequeno ainda é um projeto de gente, mas está crescendo, um pré-adolescente (com muito orgulho, diz ele) que segue conservando muitas coisas que admiro, como o coração bondoso, a simpatia e o respeito pelas pessoas. Mas é um "projeto de homenzinho" (assim ele vai gostar mais) com caráter e decisões próprias e com manias e preguiças que tem me dado nos nervos.
Pequeno tinha o sonho de estudar no Colégio Militar. Desde algum tempo vinha dizendo isso. Um pouco por vontade própria, um pouco pelo desejo de copiar alguém que ele admira muito (o tio Beto), um pouco porque a dinda, a Beta e a Laura também estudaram lá.
Ok. Beleza! Chegamos, então, no momento crucial. Entrar no CM é bem difícil, sobretudo no do Rio de Janeiro. Tem uma demanda absurda de filhos de civis querendo entrar lá. Principais motivos: qualidade de ensino, baixo custo, disciplina. Para entrar lá é preciso passar por um processo de seleção bem complicado e exigente, diga-se de passagem. Então, para isso, era necessário um processo preparatório. Basicamente se resumia em: cursinho extra, fora da escola, preparatório para as provas de Matemática e Língua Portuguesa. Exigia esforço por parte dele para com os estudos, esforço de nossa parte, para levá-lo e buscá-lo (o curso era longe de nossa casa, não temos carro e dependemos de transportes públicos para o trajeto) e investimento financeiro (que não era pouco).
Fizemos nossa pequena reunião familiar para conversarmos a respeito. Supostamente este era o sonho dele, então, eu e marido faríamos o possível e quase o impossível para que ele, ao menos, tentasse realizá-lo. Sabíamos que o resultado positivo seria bem difícil, dependia de muitas coisas.
Então, desde final de janeiro passado, nossa rotina passou a ser cansativa. Por vezes, exaustiva. O curso começou, foi puxado, muita matéria dada de forma intensa e corrida. Precisava muito da parte dele, para se organizar e tentar entender matérias que, na escola normal, ele aprenderá somente no próximo ano. Muitos deveres (muitos mesmo) e quase zero de tempo para brincar, jogar, assistir tv ... ser criança. Logo, iniciou a escola, que também é puxada. Mas neste ano, mais do que nunca, quase massacrante quanto a quantidade de matérias e deveres. Fora isso, curso de programação, Inglês, natação e, posteriormente, por insistência do Pequeno, iniciou um curso de desenho.
O curso de programação logo foi pro saco. Achamos melhor cancelar a matrícula. Pequeno já não demonstrava tanto interesse e estava precisando de tempo. Natação e Inglês eu, particularmente, faço questão de que ele siga. Um por necessidade fisiológica; outro, por necessidade de futuro mesmo. A gente sempre quer o melhor para os filhos. Eu até hoje vivo na enrolation com relação ao inglês. Marido passou por maus bocados, se virando em Londres, com 18 aninhos. Penou um pouquinho trabalhando de tudo um pouco, até que aprendesse razoavelmente a língua para, logo, conseguir empregos melhores. Tentando preservá-lo de alguns apertos no futuro, a gente tenta dar uma oportunidade melhor da que tivemos. Queremos que ele se vire sim, por aí nesse mundão a fora. Mas, convenhamos, se souber inglês vai facilitar muito.
Bom, o curso de desenho também não rendeu muito. Na verdade, acho que Pequeno ia para as aulas mais como relações públicas do que desenhista. Ele gostava de "ficar com a galera". Não tínhamos nem tempo e nem dinheiro sobrando. Assim que, desenho foi pro saco também.
As primeiras provas e simulados do cursinho vieram. As notas foram assustadoramente ruins. Beleza! Era o esperado. Afinal de contas, se ele soubesse tudo, não teria nem sentido estar ali. Eram matérias que ele não havia visto nunquinha, até o momento de sua vida acadêmica. Um pouco de paciência, um pouco de esperança e ... seguimos em frente. Todos tínhamos um objetivo em comum: fazer o máximo possível para que Pequeno conseguisse realizar seu sonho.
Os dias, meses, foram passando. O desgaste físico dele e nosso foi aumentando. Parecíamos zumbis aos finais de semana (as aulas eram aos sábados), nossa vida basicamente se reduzia a levar Pequeno pra cima e pra baixo, estresses com deveres e cansaço, muito cansaço. Novos simulados, novas notas baixas, Pequeno passou a acumular deveres (do cursinho e da escola) e, o ponto crucial: o rendimento na escola foi baixando também.
Era demais para um menino de 10 anos. Era cansaço demais, estresse demais, choro demais (porque tínhamos broncas diárias), era desespero quase (porque ele tinha o sonho, mas estava vendo que não seria capaz de atingi-lo), era a sensação de que o dinheiro estava indo pelo ralo (a partir do momento em que a gente percebe que o dinheiro não é mais tratado como um investimento mas sim como um gasto, as coisas mudam bastante).
Eu e marido percebíamos que as coisas não estavam indo bem. Mas tínhamos o dilema entre acabar com aquele estresse de uma vez ou, dar pra ele o exemplo de que na primeira dificuldade a melhor solução era desistir (e isso não queríamos de jeito nenhum) e até aonde nós mesmos seríamos capazes de fazer quase o impossível para que o sonho do nosso filho fosse realizado.
Até que nos demos por conta de que esta primeira grande frustração seria importante, também, para o crescimento pessoal dele. Nem sempre as coisas dão certo. Nem sempre realizamos os nossos sonhos. E temos sim que arcar com as consequências quando não damos o melhor de nós e não nos esforçamos o suficiente. Tiramos de nossas costas aquele peso pelo resultado negativo. Ele não era nosso. Fizemos o que foi possível. O resto dependia única e exclusivamente do Pequeno. Se ele não teve maturidade o suficiente, se não se esforçou o suficiente, se não foi o suficientemente sincero consigo, o problema já não era mais nosso.
Já passados da metade do caminho, resolvemos parar ... e desistir. Deu. Acabou. Para que seguir insistindo em algo que tínhamos a certeza de que não daria o resultado desejado? Demandava coisas muito importantes: nosso tempo, nosso dinheiro e nossa saúde (até isso já andava (me) afetando).
Então, para nossa surpresa, descobrimos que, talvez, o sonho nem fosse tão sonho assim. Quando decidimos cancelar sua matrícula no curso, num primeiro momento Pequeno chorou rios de lágrimas, fez um draminha tipicamente dele. Mas, para nossa surpresa (e reconheço, até negativa), no dia seguinte, ao invés de insistir, jurar um esforço e empenho absurdos (que sabíamos que não seria verdade), afinal de contas era a "realização do seu sonho" que estava em jogo, Pequeno acordou tarde, como se nada tivesse acontecido na noite anterior e, preciso dizer, até um pouco aliviado.
Novamente sentei com ele para uma conversa séria. Já não tinha mais volta, já não era para reprovar, cobrar, criticar nem nada do tipo. Foi simplesmente para dizer que, talvez, naquele momento ele não estivesse se dando por conta, mas que num futuro, ele teria a sensação de tempo perdido. Pelo que fez, pelo que deixou de fazer e pelo que poderia ter feito a mais. Só ele seria capaz de saber o tamanho daquele sonho, mas que o esforço ou a falta dele para realizá-lo havia dependido única e exclusivamente dele. Comentei que uma das piores sensações que uma pessoa pode ter na vida é o arrependimento por não ter feito algo. Que aquilo pesaria sim na sua consciência.
Não disse tudo isso por fazer questão de torturá-lo, mas com o intuito de fazer ver a realidade e saber que este arrependimento ele levaria para sempre. A vida é assim. Todos temos arrependimentos. Alguns maiores, outros menores. O tamanho do arrependimento dele será proporcional ao tamanho do sonho que deixou de, ao menos, tentar cumprir. E isso já não seria mais um problema nosso (meu e do pai dele).
Mostramos pra ele, financeiramente, o quanto foi custoso para nosso orçamento familiar. E falei a verdade: que estava decepcionada com ele. Eu sabia que seria difícil, que a aprovação seria quase questão de "milagre", mas que minha maior decepção foi com a falta de empenho dele e, talvez, com a falta de sinceridade. Eu confiei nele, porque eu acreditava nele, na sua capacidade e no seu esforço. E deixei bem claro que eu ainda confio nele e sei que ele será capaz de realizar sonhos realmente verdadeiros e importantes. Mas que era preciso que ele, então, passasse a acreditar em si.
Eu sei que ele não tem - ainda - maturidade suficiente para tomar decisões importantes. A aprovação ou não aprovação não vai afetar em nada seu futuro e os sonhos e desejos de futuro e quem ele pode chegar a ser. Mas ele precisava aprender que nossa vida será sempre feita de desafios. E se queremos ser pessoas capazes e se desejamos proveitos financeiros e pessoais, precisamos de luta, de empenho, de perseverança, de proatividade, de esforço e, sobretudo, sabermos reconhecer os esforços dos outros em prol de um objetivo nosso.
E por que estou escrevendo tudo isso? Talvez por desabafo. Talvez por deixar registrado aqui, já que Pequeno adora ler o blog e tem um carinho imenso por sua história que fica aqui registrada. E também porque vi ontem na internet um vídeo que me fez relembrar todo este momento que foi bem turbulento (ainda estamos em processo de readaptação).
Precisamos fazer com que nossos filhos saibam lidar com a frustração. Com tudo o que ela significa. Precisamos fazê-los entender que as coisas nem sempre são como desejamos. Muitas vezes a nota da prova não é suficiente porque faltou esforço, muitas vezes brigamos com os amiguinhos porque somos chatos e eles não nos suportam (e eles nos dizem isso), a gente vai brigar com namorado(a), vai perder emprego, perder pessoas, nossos planos não vão dar certo. E a nossa única saída vai ser aprender a lidar com tudo isso.
"Em minhas lutas, tive vitórias e derrotas; sempre que desisti de lutar, me senti derrotado."
ResponderExcluirNão sei se a frase é exatamente assim, e nem quem é o autor. Mas ela expressa com precisão o que eu gostaria de dizer neste momento.
Parabéns pelas decisões tomada, tanto a de matricular nos cursos quanto a (me parece a mais difícil) de cancelar o cursinho.
Eu também acredito que seria muito esforço para o Nicolinha, e estava preparado para apoiá-lo e incentivá-lo em novas lutas, porque o resultado mais provável seria o da reprovação, não pela falta de capacidade dele, mas pelo nível da concorrência.
O que me parece mais importante em tudo isso é o fato dele perceber que tem na sua família o seu porto seguro. Ele vai se aventurar, vai enfrentar tempestades e bonanças, mas terá sempre a garantia de onde aportar, seja para celebrar vitórias, seja para lamber as feridas de eventuais derrotas.
Se temos essa certeza, as quedas servirão de impulso para saltos maiores.
O principal ingrediente ele tem: o caráter! Os outros ingredientes a vida ensina aos poucos.
Beijos. Fiquem com Deus.
Tio Beto_58
Doeu muito em mim e no Nicolão. Sobretudo pq quando a dinda fez um grande esforço de vir pra cá numa viagem vapt-vupt somente para apresentar o Colégio para ele, vi seus olhos brilharem, ficou em primeira fila observando tudo. Mas para isso era necessário um esforço que, creio, ele ainda não tenha idade, nem maturidade para fazer. E não queríamos que por conta do estresse ele perdesse o principal que ele tem: alegria. Tudo tem seu tempo. Tenho certeza que se ele manter seu caráter vai alçar grandes vôos. Bjos, tio Beto! Obrigada pelas lindas palavras de carinho e de conforto 💙
ResponderExcluirOlá irmãos queridos e sobrinho amado
ResponderExcluirVencer é sempre uma consequência de tentar, mas crescer é manter o foco e não desistir com os erros, é aprender sempre, com vitórias e, principalmente com as derrotas. Nossos filhos crescem com tudo isso e nós estamos ao seu lado, não só para acariciar, mas para dize-lhes... errou, agora levanta e segue. Nós é que sabemos os nossos limites, não apenas individuais, mas familiares, do conjunto, e aí a decisão deve ser colegiada.
Estamos juntos em todos os momentos e , tenho certeza, fizeram, fazem e farão o melhor pelo Nicolinha.
O resto, é apenas o resto... E segue o foco.
Parabéns para vocês os três.
Um beijo enorme no coração.
Renato Fraga
OIM - OMB
Obrigada, meu irmão! Começamos a sentir na pele a responsabilidade de ter um filho. Limpar, cuidar, comprar coisinhas isso não é nada - apesar de cansativo tb. O negócio fica sério mesmo qdo temos que educar, ensinar e saber que apesar dos nossos desejos como pais muitas vezes os desejos deles (filhos) pessoais não irão coincidir. E como tu falou, mesmo assim, aí estaremos, juntos, para aplaudi-lo, abraçá-lo ou dizer simplesmente "errou, agora levanta e segue". Se fosse fácil, acho, não teria graça :)
ExcluirBjão enorme!