Em Quarentena.

Como comentei no post anterior (se você ainda não o leu, clica AQUI), ao chegar do Brasil tivemos que cumprir uma quarentena.

De acordo com a última ordinanza (norma)  emitida pelo Governo em dezembro passado e com validade até 31 de janeiro de 2022 (se quiser treinar seu italiano e lê-la inteirinha basta clicar AQUI), o Brasil ainda faz parte do elenco E de países com restrições para entrada na Itália (esse elenco vai de A a E). Além de não aconselharem viajar para os países pertencentes à esse elenco, existe uma série de restrições e medidas para quem chega desses locais. Uma delas - simplificando justamente na que nos diz respeito - é a obrigatoriedade de cumprir uma quarentena de 10 dias ao retornar e só ficar livre dela após realizar um novo teste com resultado negativo. Além disso, é preciso que  cheguemos ao nosso destino final (no nosso caso, a nossa residência) em meio de transporte privado (nosso carro havíamos deixado no aeroporto). Nada de trem, bus ou qualquer outro tipo de transporte público.

Ficou alguém lá no aeroporto controlando se estávamos entrando no nosso carro ou pedindo documentação para a galera que pegou trem ou ônibus? Não, não ficou. Mas sobre isso falaremos uns parágrafos mais abaixo.

Em agosto passado quando retornei do Brasil precisei cumprir a mesma quarentena de dez dias. Porém, desta vez está um pouco diferente.

Com o aumento de casos por aqui (para terem uma ideia no dia em que partimos para o Brasil foram um pouco mais de 12 mil novos casos na região de Monza e Brianza e quando retornamos eram 49 mil novos casos diários), os locais onde se realizam os testes simplesmente colapsaram. Eram filas e filas quilométricas pelos drive-thrus montados pela região para a realização dos já conhecidos tampones.

Em agosto precisei fazer um teste um dia após o meu desembarque e outro no último dia de quarentena. A ATS (Agência de Tutela da Saúde) que entrou em contato comigo, via telefone, e eles mesmos que marcaram todos os meus exames. Desta vez entraram logo em contato conosco, nos enviaram nossa comunicação de início de quarentena (nos enviaram o documento via e-mail) mas não marcaram nenhum teste logo após a chegada e o teste de final de quarentena era por nossa responsabilidade. Só que desta vez, não sendo marcado por eles, deveríamos fazê-lo em uma farmácia. Poderíamos fazer em um laboratório qualquer? Até poderíamos, mas precisaríamos de um certificado de final de quarentena que não é emitido em todos os lugares mas nas farmácias sim.

meu aviso de quarentena

Nosso último dia de quarentena teoricamente era dia 16, domingo. Mas não conseguimos agendar exame para esse dia, assim que tivemos que aguentar um dia a mais de clausura e rezar para que a farmácia emitisse logo o bendito certificado, sobretudo para que Pequeno pudesse voltar logo pra escola.

Veio alguém em minha residência controlar se estávamos aqui? Não. Não veio ninguém.

Da outra vez que fiz a quarentena em agosto, também não bateram na minha porta mas me ligaram umas três vezes. Desta vez só ligaram (para o marido - porque viram nos formulários que tivemos  que preencher antes da viagem que eramos uma família) no primeiro dia, enviaram os documentos de aviso de quarentena dos três por e-mail e pronto.

"Ah! Mas então vocês poderiam ter saído pra rua?" ... claro que poderíamos. Não tem nenhum policial nos esperando na porta do prédio. Mas se tem uma coisa que aprendi na minha vida é que entre o poder e o dever existe uma grande diferença. Até porque  poderia sair mas se fosse parada em algum controle pela rua (e esses sim acontecem) pagaria uma multa bem salgada (que vai de 400 até 5000 €uros) com a possibilidade de detenção (dependendo do reato e da ficha criminal). Informações mais completas e detalhadas AQUI.

São 10 dias sem trabalho e sem escola? Não. E isso não é uma norma, conta muito a flexibilidade das empresas e escolas. Temos a "sorte" de que meu marido pode trabalhar desde casa e Pequeno pode fazer lição online. Isso sim: tivemos que apresentar na escola o documento que a ATS nos enviou por e-mail - o aviso de início de quarentena. Ele "só"  poderia retornar após fazer o exame e apresentar o certificado de final de quarentena. "Só" assim entre aspas e o verbo poder conjugado no futuro do pretérito pra enfatizar a incerteza da situação. Na verdade ele não era obrigado a apresentá-lo (por várias questões, entre elas as questões relativas à lei de  privacy - que aqui na Itália contam bastante). Entra novamente em debate aquele discurso que comentei antes: o poder e dever.  Pois é ... 

Bom, encurtando o final da história: Pequeno voltou hoje para as aulas presenciais e não precisou apresentar o tal do certificado, somente o resultado negativo do teste (como ele estava em quarentena por viagem e não por ter positivado foi mais simples).

Não foi fácil ficar trancado dentro de casa, sobretudo quando faziam dias lindos de inverno  lá fora que eu só admirava pela janela. Vontade de passear pelo centro e dar uma olhada nas lojas (ainda mais agora que é período de liquidações - os famosos saldi), ir fazer um aperitivo por aí, matar a saudade do restaurante preferido, ir no parque fazer exercício ... saudade até mesmo de ir ao supermercado (coisa que eu nem gosto).


Ah! Falando em supermercado: marido foi fazer as compras (e somente para isso ele saiu de casa). Quando nos ligaram da ATS ele comentou que eramos sozinhos aqui. Até tentei fazer compra online mas com o aumento de casos, muita gente em casa fazendo quarentena, as empresas não estavam dando conta das entregas. Para terem uma ideia, chegamos numa quinta-feira e a primeira data de entrega disponível era para a terça-feira seguinte.

Pequeno botou o nariz pra fora de casa somente para descer o lixo. Eu, no máximo, saí na sacada para molhar as plantas.

Deu pra perceber que nesta questão de quarentena existe uma certa flexibilidade e uma linha bem tênue entre o pode e não deve?

O que ainda me surpreende são comentários do tipo "marionetes do governo", "bando de ovelhas", "se ninguém controla pra quê fazer essa droga?" ou ainda "eu que não sou idiota, não preciso respeitar essas ordens absurdas".

Absurdo pra mim, sinceramente, à essa altura do campeonato é a falta de percepção de que, depois de tudo o que vivemos, ainda não tenhamos entendido que cada um precisa realmente fazer a sua parte.

Nós fizemos a nossa. E ontem, após 11 longos dias botei meus pés pra fora de casa. Coisa boa poder dar uma caminhadinha pelo centro. Eu e marido aproveitamos para ir ao parque, retomarmos nossa rotina de caminhada pelo meu local favorito de Monza. 

E o Universo conspirou nos brindando com um pôr do sol digno de pintura em quadro e, logo, uma lua linda de encher os olhos, a tal da Lua do Lobo que apareceu ontem. Tive vontade de ficar sentadinha por lá, no meio do mato, só admirando a paisagem. Mas o frio me trouxe de volta à realidade e lembrei que ... entre o poder e o dever ... É! Existe uma grande diferença :)




Um comentário:

  1. Infelizmente, mesmo depois de tudo pelo que passamos, muitas pessoas ainda não entenderam nada!
    Que fotos! Eu também estaria ansiosa para voltar a passear! Hauahauahauaha... por aqui, chuvarada e nada de visibilidade da lua linda :/
    Beijos! Aproveitem a Liberdade! S2

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