Uma quarta-feira qualquer.

    Na semana passada tivemos que ir ao Consulado do Brasil em Milão para renovarmos o passaporte do Pequeno. 

    Para evitar maiores burocracias fomos todos: Pequeno (cuja presença era obrigatoria - menor de 12 anos não precisa estar presente), eu e marido como genitores e também para assinarmos as devidas autorizações. 

    Poderia ter deixado para renovar o passaporte numa data mais adiante? Poderia. Mas para evitar qualquer demora imprevista achei melhor agilizar logo de uma vez e ficar com a documentação em ordem.

    Assim que em plena quarta-feira (o atendimento é agendado previamente pela internet, sem grandes possibilidades de datas e horários disponíveis) fomos em direção a Milão, bem cedinho para evitarmos estresses e atrasos. Monza não fica muito distante (uns 20 km) mas teríamos que sair no famoso horário do rush, onde junta o povo que vai trabalhar com o povo que vai estudar. Inclusive para evitar trânsito e não ter que sair ainda mais cedo de casa decidimos ir com os meios de transporte públicos (trem e metrô). 

    Não havia muita gente no Consulado embora depois tenha ficado cheio. Fomos chamados logo. Pequeno estava meio ansioso, apesar de já ter renovado passaporte outras tantas vezes. Adolescente, né?!

    Assinaturas, autorizações e pagamentos feitos, ficamos esperando porque nos entregariam o passaporte no mesmo dia, para surpresa do marido. Eficiência brasileira ... os italianos ainda precisam aprender muito conosco quando o assunto é burocracia. (Não! Não estou sendo irônica!)

    Enquanto esperávamos, disse para o Pequeno:

    - "Tá observando tudo o que está acontecendo aqui e como que se faz tudo?"

    - "Aham. Tô. Por quê?"

    - "Porque na tua próxima renovação de passaporte virás sozinho!"

    Falei pra ele assim num tom meio durona, mas dentro de mim soava um "Eita! No próximo ele já pode vir sozinho ... ".

    Tá sendo bem interessante viver essa fase em que começamos realmente a deixar de sermos imprescindíveis para nossos filhos, inclusive para burocracias de documentos. É uma mistura de "Gente, que coisa boa!" com "Poxa vida! Já?".

    Esperamos mais algum tempinho e logo nos chamaram para retirar o passaporte. Fomos eu e Pequeno. A atendente, bem simpática e atenciosa, pediu que Pequeno assinasse o passaporte. No passaporte anterior ele tinha feito uma assinatura bem bonitinha, neste ele já queria inventar uma obra de arte indecifrável e só mudou de ideia quando disse que precisaria repetir a mesma assinatura algumas vezes. 

    Confirmei com ela se ele poderia fazer a próxima renovação sozinho (estará com quase 21 anos). Ela confirmou que sim. Só lembrou que para o próximo ele já precisaria de certificado de alistamento militar. No período dos seis meses que antecedem o aniversário de 18 anos do Pequeno precisamos ir ao Consulado. Dessa vez ainda terei que acompanhá-lo. (ainda não decidi se a entonação dessa última frase é de "Putz!" ou de "Ufa!").

    Passaporte em mãos, pensamos:

    - "E agora, a gente faz o quê?"

    Poderíamos ter feito tudo voando, marido ir para o escritório, Pequeno correr para a escola. Mas resolvemos aproveitar o dia. Na verdade, marido já havia pego o dia de folga e Pequeno nem levou a mochila porque provavelmente não daria tempo de voltar para as últimas aulas. 

    Não havíamos planejado muita coisa. Logo após nossa saída do Consulado resolvemos pensar em algo para fazer. Na verdade saímos caminhando meio que sem rumo.

Duomo de Milão 

    Faz algum tempo que Pequeno queria ver uma mostra de um cartunista que ele gosta muito. Resolvemos, então, fazer uma longa caminhada até o local da mostra, parando de vez em quando para algumas fotos. 

    O dia estava bem agradável embora bastante  frio. Milão é uma cidade muito interessante. Não é a minha cidade preferida da Itália mas tem seu charme. Passamos por lugares desconhecidos até então e a caminhada, apesar de meio longa, valeu a pena.

    Pequeno foi ver a mostra e eu e marido ficamos no bar do local (bebendo café, seus mal pensados!). Depois de uma certa idade a gente se dá por conta de que logo após uma bela de uma caminhada tudo o que precisamos é de um lugar para sentar e um banheiro (bexiga afrouxa com a idade ...).

    Pequeno tomou todo o tempo do mundo para ver com calma a exposição, nós saímos do bar e ficamos sentados num banquinho ao sol (fazia um frio danado, aquele solzinho era muito bem-vindo). Ficamos lagarteando,  como se diz na minha terra.

    Bem na frente do local da mostra fica o Cemitério Monumental de Milão. Uma das coisas que aprendi morando na Europa: cemitérios também são lugares interessantes para serem visitados.

    Abri o Maps para planejar o trajeto de volta (na verdade para procurar a estação mais próxima - já havia sido caminhada demais para uma manhã só!) e vi que a tumba do Manzoni (um dos principais escritores italianos) estava bem na nossa reta. Pensei que muito provavelmente Pequeno gostaria de visitar (na nossa última ida a Roma ele quis ir ao cemitério Acattolico para visitar a tumba de Gramsci ... coisas do Pequeno).

    Dito e feito! Saímos da Fabbrica del Vapore, atravessamos a rua e fomos visitar o Cemiterio Monumental  (visitamos muito rapidamente mas vale a pena incluir num roteiro turístico).

    Mais uma caminhadinha até a estação, voltamos para Monza já na hora do almoço. Enquanto caminhávamos em direção a um restaurante que frequentamos bastante, Pequeno encontrou algumas colegas da escola e ficou batendo papo com as meninas. Eu e marido nos recolhemos à nossa insignificância e seguimos em direção ao restaurante. 

    Um pouco mais tarde fomos dar uma olhada e resolver algumas coisas da reforma da nossa casa (a gente passeando como se não tivesse nada para fazer e a agenda de deveres lotada).

    Pra gente parecia um sábado mas era quarta-feira. No final do dia foi aquela sensação de cansaço misturada com a alegria de ter feito tanta coisa, de ter resolvido pepinos pendentes (inclusive o de burocracia com documentos) e feliz por termos passeado e termos visto tanta coisa  legal juntos. 


    Isso sim, uma coisa ficou martelando na minha cabeça o dia inteiro: na próxima renovação de passaporte eu não precisarei estar junto. Ainda não consegui decifrar se essa informação  é  boa ou ruim ...


12 comentários:

  1. Não precisar não significa não poder. Até lá tanta coisa vai acontecer, mas pode ser que tu queira fazer esse passeio junto com o teu filho, que já não é mais o “Pequeno” e vai ser um baita de um homem na próxima renovação! Hauahauahauahaauah…. E tu vai ser uma senhorinha velhota!
    Sabe o que eu mais amo? Estamos há milhares de km de distância e sempre que eu leio o blog me lembro exatamente dos momentos e dias que tu está descrevendo. Amo que mesmo com essa distância tu seja tão presente! Amo que a gente continue compartilhando a vida. Espero que aos 21, na próxima renovação, eu também esteja acompanhando, mesmo que à distância, a vida do nosso “Pequeno”!
    Amo vocês!
    Beijos da dinda que não atinou a logar! ❤️

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    1. Pera la'! Senhorinha velhota, nao ... o tempo ta voando pra ele, nao pra mim :) Vou apenas estar com "quase 50" ...
      E como nao compartilhar nossa Vida contigo se tu faz parte dela????
      Bjokas, Xexelenta Dinda do Pequeno que nao loga nunca ;)

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  2. Bem… o tempo passa e passa rápido, cada vez que nos encontramos o Nicolinha deu um salto e eu que já vou para a minha segunda neta 🤭 Um grande abraço da tia Eliane

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    1. Pois e', cunhada ... avo' de duas :) no proximo encontro veras que o Nicolinha, agora, ja' e' o Nicolao.
      Bjao pra vcs, cheios de saudades.

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  3. Oieeee.
    Obrigado por compartilhar esses momentos tão lindos.

    Assim é a Vida, vamos vivendo assim...
    De tudo ao meu amor serei atento
    Antes e com tal zelo e sempre e tanto
    Que mesmo em face do maior encanto
    Dele se encante mais meu pensamento
    Quero vivê-lo em cada vão momento
    E em seu louvor ei de espalhar meu pranto
    E rir meu riso e derramar meu pranto
    Ao seu pesar ou seu contentado.
    Quem sabe mais tarde me procure a morte
    Angustia de quem vive
    Quem sabe a solidão
    Fim de wuem ama
    Eu lhe dizer do amor (que tive)
    Que não seja imortal
    Posto que é chama
    Mas que seja infinito enquanto dure.
    SONETO DE SEPARAÇÃO
    Vinícios de Moraes

    Renato Fraga
    OIM OMB

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    1. Sabe que a primeira coisa que decorei na minha vida foi esse Soneto. Na escola, la' na Restinga. Decorei, aprendi e gostei ... gostei tanto que lembro dele ate' hoje. E enquanto lia as linhas do teu comentario, mentalmente o fui declamando.
      E' isso ai, meu irmao ... "que seja infinito enquanto dure".
      Bjos nossos com carinho e muita saudade.

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  4. Passa muito rápido, num piscar de olhos e logo estará um homenzarrao lindo, com as gurias a volta e se apaixonando ou não, provavelmente sim, os virginianos se apaixonam cedo viu? Vai preparando o teu coração pra esses momentos...kkkk mas filhos são eternos, se isso te consola...é inevitável a separação e um dia ele vai seguir seu rumo assim como tu o fizestes! Força prima 💪🤣🤣🤣❤️

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    1. Meu coracao ja' esta' preparado para ser uma otima sogra jararaca :) kkkkk brincadeirinhas a parte ... acho que na verdade, tudo o que queremos e' ver os filhos seguirem o seu rumo. De repente a gente pisca e la' foram eles ...
      Bjao, prima!

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    2. Kkkkkkkk só tu, sogra jararaca. Duvidooo, vai ser a melhor sogra e se duvidar, vai usar até o avental da Nona, para os netos. Coisa que amor acho simbólico da Mona italiana do pequeno.

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    3. Ahh o corretor trocou tudo!
      Ps: Coisa que Amoooo e acho simbólico da Nona italiana do Pequeno.

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  5. Gostoso demais, participar de momentos da vida do (não mais) Pequeno Nicola, que sempre me emocionou e emociona com seus olhos curiosos para o mundo. Característica toda especial, dele, esse foco na arte, na cultura. Vendo as fotos, passa um filme na cabeça e pensamento recorrente, de que toda mãe deveria presentear seu filho, com um blog como esse. Desde o início, imaginava o Pequeno lendo e mostrando as fotos, para seus descentes em todos os graus 😍😍, isso é encantador! Duvidooo que não vai bater aquele aperto no peito, quando ele voar solo e altoooo, porque tenho certeza, que esse lindo nasceu para longos e altos vôos. Nunca escondeu o seu lado sensível, inteligente, curioso por trás de seus olhos de jabuticaba. Tão lindo, o eterno Pequeno que se transformou num rapagão mais lindo ainda e promete ser um homenzarrão cheio de atitude e infinitas conquistas. Peço a Deus, que eu possa continuar acompanhando todos os vôos e sempre me emocionar com ele e com você e os seus Nicolas, Bella amica!

    Rose Mazza

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  6. Bella, Rose! Sempre tao carinhosa! De vez em quando Pequeno (que ja' e' o mais alto da casa) vem 'se ler' por aqui. As postagens atuais ele acompanha mas vez que outra vai nas postagens antigas relembrar alguns momentos.
    Tanti baci bella amica! ;)

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