Desde março estou para escrever um post sobre a "casa nova" (que já nem é mais nova). Mas desde então aconteceram algumas coisas que eu ainda não sei nem explicar. "Coisas" pessoais (minhas) e (até) psicológicas mesmo que eu (ainda) estou tentando entender.
[A gente percebe que a situação é crítica quando em um único parágrafo de poucas linhas tem tantos parênteses ...]
Eu mudei de casa e pirei internamente. Basicamente esse é o resumo desse longo post.
Não sei ainda explicar bem o motivo. Mas na primeira manhã que despertei na nossa nova casa, abri os olhos e dentro do peito senti uma angústia e uma tristeza sem precedentes. Aquela casa que eu escolhi (eu vi o anúncio e torrei a paciência do marido para marcarmos uma visita), aquela casa que desejei, que pedi pensamentos positivos para pessoas próximas, aquela casa que me fez entrar em igreja e capela, acender vela e rezar ajoelhada pedindo com todo o meu coração e minha fé (que nem imaginava fosse tão grande), aquela casa que me fez sentir frio no estômago no dia em que assinamos os papéis da compra, que me fez sonhar e planejar reforma, mudança, aquele que era o meu sonho e que depois virou o nosso sonho estava prestes a virar, pra mim, uma tortura. E por culpa minha virou tortura para os Nicola's também.
Fiquei dias, semanas e meses em um processo que eu (particularmente eu) defini como depressivo: fiquei triste, chorava, chorava por tudo e por qualquer coisa, não achava sentido em arrumar a casa, em limpar, em colocar em prática os sonhos e projetos que havia sonhado. Me arrependi profundamente (porque lembra que eu disse aí acima que a ideia da casa foi minha?). Abria os olhos pela manhã desejando que tudo tivesse sido um sonho (um pesadelo, me parecia naquele momento).
Pirei. Basicamente esse poderia ser um outro resumo.
Só com o tempo e com o cansaço da infelicidade fui começando a entender algumas coisas. E somente hoje, quase 7 meses depois, tenho fôlego suficiente para sentar e escrever sobre.
Pensei muito antes de transcrever sentimentos e momentos tão pessoais. Mas aqui nesse blog há 16 anos escrevo sobre nós. Basicamente um compromisso que tenho comigo, conosco, com a nossa história é deixá-la registrada aqui. E momentos ruins, difíceis e que, por vezes, até nos envergonham e constrangem (esse é um caso) fazem parte da nossa história também.
Ao invés de focar nas coisas boas e bonitas, ver as coisas desde uma perspectiva futura, ao invés de prevalecer o orgulho pela nossa trajetória, nosso esforço, ao invés de ser grata pelo que estávamos construindo, me afundei no medo.
Em nenhum momento tive em conta que há 4 anos havíamos chegado de volta na Itália com nossa vida inteira em 9 malas e uma conta bancária quase vazia (eu contei aqui de uma maneira leve alguns dos perrengues do nosso início). Só nós sabemos o que tivemos que deixar pelo caminho, do que tivemos que abrir mão (até financeiramente falando) para seguir nossos sonhos e nossas "aventuras". Eu não levei em conta isso, todo esse processo e que exatos quatro anos depois estávamos comprando a nossa primeira casa.
Eu me acostumei com a liberdade da vida nômade. Me acostumei a viver na casa dos outros (e pagar caro por isso - porque sempre moramos em lugares bons ou ao menos nos lugares que queríamos morar). Me acostumei com a sensação de "liberdade", de na primeira oportunidade deixar tudo (de material) pra trás e levantar vôo de novo. Peguei o gostinho da vida cigana.
Me acostumei em não ser responsável por nada. No primeiro problema ligar para imobiliárias e esperar que eles resolvessem o vazamento, a torneira da pia ou o eletrodoméstico que deixou de funcionar.
Sempre cuidamos com atenção e esmero cada casa que passamos, porque sabíamos da responsabilidade de zelar e cuidar pelo bem do outro."Bem do outro".
Na primeira vez na vida em que tive o "meu bem" me senti presa, sem liberdade e com uma responsabilidade que eu não estava entendendo como lidar.
- "Que bobagem! É só vender a casa e sair por aí de novo ..."
Não. Não é bem assim. E não era só sobre isso que estava tentando explicar.
Afundei, fui pro fundo do poço, fiquei lá por um bom tempo, sem saber nadar. É complicado pra caramba pegar ar quando a gente está se afogando em sentimentos ruins e ao mesmo tempo se sente imbecil e idiota por sentir isso. É difícil explicar o que não tem explicação. Eu sofria e chorava porque eu não conseguia entender porque estava sofrendo e chorando.
Sem explicação. Basicamente eu resumia assim quando tentava explicar meu sentimento para alguém.
Levei algum tempo para conseguir me encontrar na casa nova. Me adaptar à ela e começar a vê-la como nossa. Precisei de uma terapia de choque.
Foi preciso acontecer um "quase dilúvio" aqui nessa região em julho, quando estávamos de férias na praia. O estrago só vimos uma semana depois quando voltamos. Ventou e choveu muito e por conta de um maldito ninho de pombas no telhado, feito estrategicamente no buraco por onde deveria escorrer a água do telhado, a água abundante dos temporais (foram vários) acabou escorrendo pro lado interno da casa, literalmente descendo casa abaixo. 3 andares com uma listra marrom, na parede recém pintada de branco. Da parte traseira da casa, desde o nosso quarto (no andar de cima), descendo no térreo pela cozinha e seguindo no porão, onde fica cantina, lavanderia, etc. Fiquei umas quantas semanas dormindo no escritório, porque no nosso quarto não dava para aguentar o cheiro de umidade (e minha tosse asmática alérgica logo apareceu).
Eu não derramei uma lágrima sequer. Respirei fundo, reclamei do fedor de umidade mas assumi a minha culpa de produtora de energias negativas para a minha própria casa.
Óbvio que não sou culpada pelo temporal. Mas acredito muito nas energias que emanamos.
Ali naquele momento pedi desculpas pela aura escura com que havia blindado nosso ambiente. Finquei o pé no chão, resmunguei (porque minha essência é resmungona) e decidi fazer desse o meu lugar. Porque afinal, é o meu lugar. O nosso lugar.
Vira e mexe essa casa me manda sinais. Sinais de calma, de paciência, de renascimento e de respeito. A gente ainda está se conhecendo mas estou aprendendo a entendê-la.
Logo depois da função do alagamento, marido havia entrado em contato com o proprietário da imobiliária que compramos a casa (até mesmo para entender se foi um problema pontual ou já havia ocorrido antes) e comentou que eu estava "de saco cheio" da casa. Umas semanas depois ele ligou para meu marido para dizer que se quiséssemos vender, tinha gente interessada na casa.
Na mesma hora eu disse não. Não agora. Quem sabe daqui a alguns anos. Mas agora não. Qual seria o sentido? Ainda não sei se marido ficou surpreso ou aliviado com a minha negativa.
Outro sinal recente: temos dois pequenos quintais (que não podemos usar por conta da mosquitama ... mas isso é outra história). Um na parte da frente, com um pequeno jardinzinho de um tom de verde lindo que só passei a apreciar faz pouco tempo. E um pequeno pátio na parte de trás, onde deixamos o carro e temos algumas poucas plantas e tempeiros plantados em vasos.
Ambos espaços eram repletos de rosas, sobretudo o quintal de trás. Havia uma roseira (na verdade mais de uma mas que não consegui quantificar porque emendou uma na outra) que cresceu de maneira estranha e feia. Mas era repleta de rosas. Muitas, muitas, muitas rosas mesmo. Era uma roseira enorme e bem produtiva ... e feia. Eu não gostava dela, mas ficava com pena de podar.
Não podamos. Acabamos com ela mesmo. Marido teve que serrar de tão grosso que era o galho das roseiras. Só não conseguimos acabar com a raíz porque era profunda demais e acabariamos estragando o pavimento.
No jardim da frente também, apesar de bem menor, as roseiras deram trabalho para serem tiradas. Reconheço que com uma certa dor no peito, porque eu gosto de rosas mas as bichinhas estavam numa situação crítica, além de cheias de pragas e chamariz de aranhas e insetos vários.
Coincidência (ou não), quando fiz as pazes com minha casa, olha quem resolveu aparecer de novo:
Boas energias. Basicamente esse é o resumo do que poderia estar acontecendo por aqui.
Estou numa fase pessoal (minha, individual, só minha interna mesmo) um pouco estranha, assim cheia de parênteses, aspas, reticências e vírgulas desnecessárias. Estou tentando me reencontrar, dar um sentido para essa minha nova fase de vida, quase de redescobrimento, de quem sou, do que quero e do que projeto pra daqui pra frente.
Tá aí uma coisa que essa mudança me trouxe: aprender a projetar o futuro.
Maturidade. Poderia ser um bom resumo.
Por enquanto vou seguindo lendo os sinais que a Vida vai mandando, aprendendo a respeitar os meus sentimentos, as minhas sensações, a ser responsável pelo meus desejos, a enfrentar minhas escolhas e responsabilidades.
Ao ver aquele pezinho de rosa brotando quase do chão, pequenino, frágil mas persistente, lembrei de uma frase da Martha Medeiros:
"Hoje sei que dá pra renascer várias vezes nessa mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar!"
Eu ainda não sei se a pequena roseirinha vai me dar flor ... mas ela me deu vida ...
Eu me resumiria basicamente com três palavras: complicada e estranha!
Mudanças nos assustam. Principalmente quando vimos que é praticamente para a vida toda. Mas lembra que agora estás a projetar algo que é de vcs. Podem fazer é desfazer rapidamente. Talvez esse sentimento pode ser pela passagem da idade. Embora ser feliz minha irmã
ResponderExcluirOwnnn Bella Amica 🥹 não consigo visualizar essa pessoa que transborda energia, se expressa tão bem, de um forma tão sincera, passando por essas nuvens sem que eu tenha ao menos tentado dissipa-las. Por algum motivo não li essa postagem antes, porque sabia que precisaria de tempo para responder na medida em que suas postagens me tocam. Fiquei triste e "visualizando" essa Tati tristonha e "acoadinha" em seu mundo interior e agora feliz pelo seu renascimento! Assim como a roseirinha, já vejo lindas fotos das suas rosas. Nos primeiros relatos, pensei: Poxa! Logo ela que faz registros tão lindos, de sacadinhas floridas, como assim? Todavia ninguém sabe dos nossos desertos, muitas vezes essa coisa de conseguir emocionar as pessoas, de passar verdade, de passar franqueza, nos fragilizam mesmo que não saibamos. Você está certa quando fala da energia! Que Bom que a energia mudou, que o foco mudou, e que nada muda, se não quisermos mudar, né? Eu jamais imagino a possibilidade de algo estagnado para você. Sobretudo, porque quando nós somos literalmente falando o dono do nosso pedaço, podemos fazer dele, do jeito que quisermos, mudarmos a hora que quisermos. Ahhhh você tem tanto talento! Você tem um olhar apurado para as coisas belas e tem os seus Nicolas que também, transbordam energia boa, amor e sensibilidade. Pensa que paixão, o Nicolão até pensando em desfazer a compra, vendendo para outros. Jamais! Sei que serão muito felizes na nova casa e ela vai ter cantinhos charmosos e instagramáveis heheh Seja felizzzz Bella!! Aproveite esse dom que possui e faça do seu lar o espelho dessa família tão linda, aguerrida, e cheia de amor. Deus siga lhe abençoando junto aos seus amados Nicolas
ResponderExcluirAssinado: Mantequilla, ou Rose Mazza