O Tempo que Passa.

    Ah, a idade!

    Quanta coisa o tempo que passa, os anos que passam, trazem consigo?

    Chega um momento da vida, com a idade, que a gente começa a pensar em coisas que antes nem passavam pelos nossos planos. Ao menos em planos como os meus de outrora.

    A gente começa a pensar em ter um cantinho onde cair morto vivo. Aonde a gente vai ficar quando nossas pernas não conseguirem mais caminhar tanto quanto desejávamos? Quando as minhas costas não conseguirem mais suportar o peso das minhas mochilas das viagens que eu tanto sonho e planejo em fazer? Aonde eu vou ficar? Pra onde eu vou precisar ir? Onde eu vou terminar? Questionamentos que nunca passavam pela minha  cabeça e que agora causam insônia.

    Aquele futuro de aventuras tão desejado passa a ser visto com mais cautela. Eu quero e ainda desejo vivê-las ... mas também preciso pensar num plano B, C ou D se necessário. Já precisei deixar planos para trás e traçar novos rumos. Aliás, quem nunca?

    Então a gente começa a pensar em coisas do tipo: hipoteca de casa, seguro de casa ... aliás, falando em seguro ... de repente a gente se pega pensando em seguro de vida ...

    A gente passa a pensar em previdência privada. Pensar na aposentadoria dá medo principalmente porque nunca havia pensado e muito menos planejado a economia da minha velhice.

    Eu tenho bastante medo da minha  velhice, sendo muito sincera. Eu não terei aposentadoria. O que vai ser da minha vida? Nos últimos anos me dediquei ao maior trabalho que poderia ter: educar da melhor forma possível um ser humano. Nossas escolhas por uma vida meio nômade fez com que redobrasse minhas responsabilidades com o Pequeno Nicola, não sabíamos o quanto todas as nossas mudanças o afetariam. Quis ver de perto como ele vivenciaria cada momento, cada novo país, cada nova língua.  Um trabalho árduo onde, até o momento, exerci com empenho, dedicação e responsabilidade. Uma pena que financeiramente não me rendeu nada. Por conta disso os frutos que hoje colho são bons, prósperos ... são outros.

    E se eu não tiver um cantinho onde cair viva? E se eu não tiver condições de pagar a minha hipoteca? Eu serei uma velhinha que terá que trabalhar. E quem dá trabalho para velhinhos? 

    Depois de uma certa idade a gente se arrepende do trabalho sem carteira assinada. Dá raiva pelos anos 'perdidos'. E desespero, porque o tempo não volta mais. 5 anos quando se tem 20 anos de idade não são nada. 5 anos para contar como tempo para aposentadoria são uma eternidade.

    Tudo isso tem  me causado medo, tem me causado preocupação, angústia e privação  de sono. Às vezes sinto o corpo cansado, os olhos pesando, vou pra cama, viro pro lado e o cérebro começa a me lembrar de coisas que só me causam angústia ... quando vou ver já são 3 da manhã e eu estou ali, virando pra lá e pra cá, com dor no estômago e o coração palpitando. Não! Não é exagero! 

    Os anos que passam e me pego cada vez mais reflexiva.

    Óbvio que nem tudo é negativo. Ao mesmo tempo, com a idade, a gente vai adquirindo certas coisas que até ontem não se achava capaz. Por exemplo, a gente aprende a ser mais paciente. Inclusive as pessoas que como eu, paciência não tem muita.

    A gente consegue ser mais tolerante. Com a idade chega a maturidade, finalmente!  A gente começa a saber distinguir o que vale à pena e o que não. A gente passa a entender melhor aquela história de por que temos somente uma boca e dois olhos? Sim. A gente aprende que é porque temos que observar mais e falar menos. Pessoas impulsivas como eu sofrem pra caramba ... mas tudo isso com a idade a gente vai aprendendo. A minha essência segue sendo a mesma explosiva de sempre. Mas, acredite, deixei de ser uma bomba relógio descontrolada e passei a ser, no máximo, aquelas bombinhas de festa de São João, que a gente joga no chão e às vezes nem estoura.

    A gente também aprende que existe realmente a finitude. Com a idade a gente vai vendo pessoas que a gente ama partindo. Inclusive a gente percebe e se dá conta de que partiremos também.

    Vamos  perdendo um pouco de si: os cabelos vão ficando brancos, o rosto vai mudando, uma ruga aqui outra  ruga ali. Algumas a gente acha até um charme mas a maioria delas não são nada desejadas.

    Logo  começamos a entender que mais vale um corpo saudável do que bonito. Com a idade a gente começa a se preocupar que precisa malhar, fazer exercício (qualquer que seja!), que precisa comer saudável, beber muita água ... pra sobreviver, pra durar mais tempo, afinal o tempo está passando mas a gente ainda segue cheio de planos.

    Quanto a isso não perco meu sono. Olho no espelho e gosto do que vejo. A maioria das minhas rugas são por sorrir, misturadas com manchas no rosto do sol do Rio de Janeiro (só com o tempo a gente se dá conta do quão necessário é o protetor solar), cabelos brancos os tenho desde muito jovem. O corpo não está em forma mas isso também não me importa. Pra ser bem sincera tem um par de rugas que abomino mas inclusive elas fazem parte da minha história. Tá aí! Acho que esse é o segredo: se olhar, se enxergar e se reconhecer.

    Ah, a idade!

    Falando em enxergar ... a gente passa a enxergar menos, depende de óculos pra ler as letras pequenas. Aparecem dores pelo corpo que antes não existiam e começamos a fazer exames que a gente até ontem nunca tinha ouvido falar. A gente começa a esquecer coisas, troca palavras e se fala mais de uma língua, como é o meu caso, começa a misturar palavras numa miscelânea que forma uma nova versão do  Esperanto.

    Vejo meu filho adolescente tão estressado, priorizando coisas sem importância e relativizando coisas que são e serão importantes. Ah, senhor! Ele acha que a maior das chatices é o pai e/ou a mãe dizendo pra ele dar atenção ao estudos, perguntando se tem roupas ou precisa comprar algo (sim, isso é o tipo de coisa que estressa meu filho).

    Olho para ele, dou uma risadinha de canto de boca e penso: "Ai, paciência! Tempo ao tempo ..."

    Logo me dou conta que na idade dele era mais ou menos assim. O tempo ... somente ele.

    Eu não sei se a minha idade vai permitir com que eu, no futuro, veja meu filho nesta etapa que estou vivendo agora.

    Mas, caso isso não aconteça, ficarão as palavras. Afinal, algum sentido tem que existir para esse outro trabalho que também exerço há 16 anos aqui no blog. (Que também não me rende frutos financeiros - serei uma velhinha blogger não aposentada) - [tom de leitura irônico, por favor].

    Apesar de ter escrito tantos parágrafos, me delongo sempre (uma coisa que o tempo ainda não me trouxe: o poder de ser sucinta),   tenho somente  uma coisa para dizer:

    Nada pior mas também nada melhor do que a idade ...  do tempo que passa e traz consigo tantas coisas e leva tantas outras ... 

    A seletividade da maturidade é algo bem interessante.

    Ah, o tempo que passa!

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Tenho uma novidade: hoje iniciamos uma nova etapa aqui no blog. Você  pode ouvir a postagem de hoje lá no Spotify. Basta clicar aqui.

2 comentários:

  1. Oi minha querida Irmã MAIS NOVA! SE CUIDE E DEIXE A VIDA CORRER NATURALMENTE. FAÇA AS COISAS POSSÍVEIS, MAS FAÇA. NÃO TENHA MEDO DE SER FELIZ, POIS ENVELHECR É NATURAL, MAS ENVELHECER DE BEM COM A VIDA, É OPÇÃO.

    RENATO FRAGA
    OIM OMB

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  2. Ainda bem que o tempo passa! Deuzulivre ser adolescente por mais tempo! Prefiro ser adulta! Hauahauaauahauhaua…
    Brincadeiras à parte, tu exerceu com maestria o trabalho mais importante da tua vida, o de educadora de um ser humano! O teu filho é um ser humano maravilhoso, tem um coração enorme! E eu, como dinda dele, sinto um orgulho danado do que tu e o Nicola fizeram, meu afilhado está se transformando em um homem incrível!
    O teu outro trabalho incrível e não remunerado também foi exercido com maestria, esse blog é um deleite! Então, minha cumadi xexelenta, é questão de tempo até que tu receba a merecida oportunidade de emprego e eu não tenho a menor dúvida, vai ser exercida com toda dedicação e maestria!
    Amei a surpresa do podcast!!! Arrasou!!! \o/
    Te amo!
    Beijos da dinda mais linda do nosso Pequeno! 💖

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