Sobre Desapegos.

Estamos indo embora. Já começo assim pela notícia principal, sem suspenses nem enigmas. Até porque todas as pessoas próximas, creio, já sabem da "novidade".

Nosso tempo de validade no Rio de Janeiro chegou ao final. Mas sobre isso escreverei detalhadamente um pouco mais adiante. Ainda estou interagindo com a ideia e com toda a ambiguidade que ela representa.



Estamos em pleno furacão de uma mudança. Na verdade, mudança mesmo vai haver bem pouca. Estamos nos desfazendo de quase tudo o que temos: móveis, roupas, utensílios de casa, cama, mesa, banho e cacarecos afins. Tudo. E quando digo tudo é tudo mesmo. Vamos levar conosco o estritamente necessário ... e o estritamente necessário que couber em nossas malas.

Para muitas pessoas isso é uma pena. Queria poder gravar o olhar das pessoas quando começo a listar tudo o que irei deixar pra trás. Todo mundo faz a mesma cara: piedade. E logo mudam o semblante para estranheza, quando digo: "não se preocupa, não ... não estou sofrendo!". Na verdade, se sou bem sincera, dá até um alívio.

Minha mãe sofreu porque vendi a minha mesa. "Ai, que pena! Aquela tua mesa tão linda!". Era só uma mesa. Fez parte da nossa história. Aliás, foi minha primeira mesa, da minha primeira casa. Quando fomos embora de Madri para Roma a vendi. Em Roma caí na asneira de comprar a mesma mesa. Veio conosco de Roma para o Rio e agora se foi, para todo sempre. Prometi não comprar a mesma mesa novamente.

- "Mãe! Era "só" uma mesa. Sem sofrimento."

Ela me deu um puxão de orelhas via telefone e logo, finalizou a conversa dizendo que tinha certeza que numa outra vida devo de ter sido cigana.

Vai ver puxei a minha avó (materna). Lembro de umas histórias que minha mãe contava de que minha vó quando mais nova tentou fugir com ciganos. Genética fujona, só pode ser.

Mas, enfim ... tivemos que selecionar o que queremos e, dentro do que queremos, o que poderemos levar. Não deu pra ficar com tudo. E nessa função, incluí ao Pequeno. Foi preciso selecionar roupas, calçados, livros e brinquedos que seriam doados e os que levaria com ele para uma nova casa e uma nova vida.

E é com o coração cheio de orgulho e de felicidade (e alívio também) que digo que esta foi uma das melhores etapas. Ele não sofreu. Não se rebelou. Não chorou. Não se importou. Desapegou totalmente. Isso sim, analisou cada brinquedo, lembrou das brincadeiras feitas, de quem havia dado (ele lembra de quem e de quando ganhou cada coisa) e ciente de que aquele brinquedo seria útil e faria feliz a uma outra criança, foi separando tudo em suas devidas sacolas.

Influenciou positivamente o fato de que escolhemos duas amigas para efetuar as doações. Duas amigas queridas e que sabemos que darão um bom destino para tudo, com muito carinho e generosidade.

Alguns brinquedos especiais ele distribuiu para alguns amigos próximos. Escreveu cartinhas para dar junto com os brinquedos. Uma maneira que ele achou de deixar um pedacinho dele com os amigos. Me emocionei com a atitude dele e com as palavras sucintas mas cheias de significado que ele escreveu em cada cartinha.

E dentre os poucos objetos que ele ficou, um em especial chamou minha atenção pelo significado e pela importância:


Esse ursinho foi o nosso primeiro "presente" para Pequeno. No dia em que descobrimos o sexo do bebê que esperávamos, fomos até uma loja e compramos um par de meias azul e junto na embalagem vinha este urso.

Ele está velhinho, gasto, sujo ... mas não tem jeito. O urso foi de Madri para Roma. Lá mudou para duas casas conosco. Veio para o Rio, mudando novamente duas vezes. E agora, ao que tudo indica, tá indo pra Milão.

Não está sendo fácil encaixar tudo o que queremos levar dentro de caixas e malas. Enrolar objetos pessoais em jornais ou plástico bolha e ficar preocupado com a incerteza de se chegará inteiro ou não. 

Mas se tem uma coisa que tá bem difícil de encaixar é com a saudade que sentiremos de todas as pessoas que queremos bem. Ainda bem que o coração não cobra excesso de peso.


12 comentários:

  1. Queremos que sejam felizes queridos irmão e sobrinho amado. O resto tudo será superado, com certeza... Sejam felizes sempre!

    Renato Fraga
    OIM - OMB

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    1. Meu querido, já somos felizes porque temos vcs em nossas vidas <3
      Estou triste porque não vou "me despedir" do Mimosinho. Quem vai me olhar com a cara de sacaninha e dizer "não chora", só pra me fazer chorar?
      Bjão, meu querido irmão! Te amo!

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  2. AS VZS AS PARTIDAS TORNAM-SE DOLOROSAS, POIS SÃO
    MOMENTOS MARCANTES, QUE DEIXAM MARCAS PROFUNDAS.
    MAS COMO EM NOSSA VIAGEM DA VIDA, CHEGAM OS MOMENTOS QUE DEVEMOS FAZER ESCOLHAS,E SENDO PARA CRESCER, DESENVOLVER,SER FELIZ; APESAR DA SAUDADE, SABEMOS QUE SEMPRE PODEREMOS VOLTAR.
    QUE NESTA NOVA ETAPA DE MUDANÇA, VCS CONSIGAM REALIZAR SONHOS E GALGAR NOVOS DEGRAUS NA ESCALA DA VIDA. CONTINUEM, UNIDOS NESTE AMOR LINDO QUE EXISTE ENTRE OS TRES. QUE NA FESTA DA VIDA, OS BRINDES SEJAM SO DE ALEGRIAS E FELICIDADES...AMO VCS E QUE ESTE AMOR SEJA ETERNO.QUE POSSAMOS FAZER DA SAUDADE, O ALIMENTO PARA QUE ESTE AMOR NUNCA TERMINE,,,GRANDE BJ NO CORAÇÃO DOS TRES.

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    1. Dinda, querida! Minha experiência com a saudade me ensinou que ela não vai embora nunca. A gente apenas aprende a conviver com ela. Tem dias que dói mais, tem dias que dói menos. Mas ela sempre dói e é companheira nossa. Sobretudo porque longe teremos pessoas queridas e importantes em nossas vidas. Mas, quis o destino que minha história se unisse a história do Nicolão. Independentemente de onde estivermos, sempre estaremos longe de pessoas queridas. Com certeza ficam as boas lembranças e o desejo do breve reencontro. Bjos enormes meus e dos meus Nicola's para vcs! Te amo, dinda! <3

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  3. DEIXEI RECADO E NÃO ASSINEI...
    HELENA, ANDRÉ E VIKA...

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  4. Quando mudamos de país pela primeira vez, quase não havia o que levar. E muito do que ficou, ao final perdeu-se. Na volta trouxemos muita coisa que nem era necessária. O melhor a levar é nós mesmos, o que nos tornamos. E fotos! Enche o Google e o Drive de fotos.

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    1. O problema são os álbuns de fotos "de antigamente", do tempo em que a gente revelava foto :/ A nossa primeira grande mudança foi apertada: apenas o que coube dentro do carro. A segunda grande mudança foi leve: veio tudo o que coube dentro de um contêiner (e até sobrou espaço). Essa terceira está sendo punk ...mas diria que tb aliviadora. Mas ... faz parte.
      Bjos nossos para vcs!

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  5. quantos lugares, passeios inesquecives, de repente a gente aparece por la, por enquanto sei que estarão longe tão perto. ABRAÇAO Antonio.lembrança vamos ter sempre lindas lembranças,madri ,roma,veneza,eghito,obrigado por nos proporcionar ,nos acolher sempre com um sorriso,lembro do bibi abrindo a porta do quarto dele onde dormiamos,disendo doa noite fomos, muito feliz, obrigado sobrinhos ..Deus abençoe na nova moradia um dia talves possamos visitar voçes beijos um abraço no Nicola

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    1. Tios queridos! Vcs foram nossos melhores parceiros de viagem. Qtas aventuras, passeios e paisagens lindas que compartilhamos com vcs. Muitos desses passeios foram especiais pq vcs estavam conosco.
      Aguardamos vcs em Milão!
      Bjos nossos! Amamos vcs! <3

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  6. Tati. Como você mesmo diz, a gente se acostuma conviver com a saudade. Quando ela dói, tem muita gente com saudade de vocês também. Sejam felizes. Grande abraço! José Nonnenmacher (agora que vi que estava no Face da Viviane heheheh...)

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    1. Muito obrigada, família querida! Vcs sabem muito bem o que é essa saudade danada, de muitos kms de distância. A gente aprende a conviver com ela, mas ela nunca alivia. Aproveitem cada segundinho com essa família canadense que amamos muito. Tenham certeza de que esses meses junto à pequena Sofia será o início de um elo de amor entre ela e vocês que durará para sempre. Falo por experiência própria.
      Um grande abraço para todos!

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  7. A vida muda, a vida sempre muda.
    Bem vindos de volta!

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