#Tbt 2, senta que lá vem história do passado: procurando um amigo.

     Fazia pouco tempo que estávamos casados. Morávamos em Madri ainda. Marido precisou fazer um trabalho em Burgos (se não me falha a memória). Enquanto ele foi trabalhar, fiquei passeando pela cidade. 


    O trabalho foi rápido assim que logo conseguimos passear um pouquinho juntos. Almoçamos e depois seguimos nosso caminho de volta para Madri.

    Na estrada, já quase perto de Madri, apareceu uma placa com o nome de uma localidade (que agora sim a memória falhou e não lembro mais o nome): 'Cidade de tal saída a 1km'.

    Marido comentou que tinha um amigo, que ele conheceu nos tempos em que morava na Inglaterra, que era dessa cidade. Jorge era o nome do amigo.

    - "Faz anos que não sei mais nada dele ..."

    Naquele tempo não existia rede social, Whatsapp e toda a tecnologia que temos hoje. Nem o Facebook existia ainda. Instagram muito menos. Estou falando de quase 20 anos atrás. Tempo das cavernas ... pois é.

    - "E se a gente entrar aí na cidade e perguntar por ele?", disse pro marido.

    A cidade não era grande. Na verdade era o típico pueblo espanhol.

    Não tínhamos nada para fazer, pressa nenhuma para chegar em casa. Naquela época não tínhamos filho e eu sempre fui bem propensa a esse tipo de ideia "mirabolante". Resolvemos nos aventurar.

    Paramos em um bar (me arrisco a dizer que talvez fosse o único da cidadezinha) e marido foi perguntar:

    - "Oi! Por acaso vocês conhecem o Jorge? Ele é meu amigo, o conheci há alguns anos em Londres. Ele é dessa cidade, tem mais ou menos a minha mesma idade, da família tal ..."

    Um bendito ser respondeu:

    - "Jorge? Londres? Acho que eu sei quem é. Vai na casa ali logo em frente, na esquina, e pergunta pra senhora que conhece a família dele."

    - "¡Muchas gracias!"

    Mais fácil do que isso, impossível! Só se a gente encontrasse o Jorge na esquina seguinte. 

    Seguimos as indicações e perguntamos para uma pessoa que estava ali na rua.

    - "Oi! Por acaso conhece o Jorge? Ele é meu amigo, o conheci há alguns anos em Londres. Ele é dessa cidade, tem mais ou menos a minha mesma idade, da família tal. Ali no bar disseram que talvez você ..."

    Nem deu tempo de terminar.

    - "Jorge? Que foi pra Londres? Ah! Acho que sei sim. É o filho da 'fulana de tal'. Mas acho que ela não está em casa. Mas vai na casa da tia dele. Segue reto aqui, gira a esquerda, uma casa branca de esquina."

    Seguimos as indicações: reto, esquerda, casa branca da esquina.

    Não tinha ninguém fora. O jardinzinho da casa era simples mas bem bonitinho, cheio de florzinhas bem cuidadas. Batemos palmas. Naquele estilo 'ôooo de casa!'.

    De dentro da casa sai uma senhora, meio desconfiada olhando para os dois estranhos (no caso, marido e eu).

    - "Oi! Tudo bem? Desculpe lhe incomodar mas por acaso a senhora conhece o Jorge? Ele é meu amigo, o conheci há alguns anos em Londres. Ele é dessa cidade, tem mais ou menos a minha mesma idade, da família tal. Perguntei ali no bar me deram indicação de ir numa casa. Fomos e  ali  uma pessoa disse que talvez ele poderia ser seu sobrinho."

    - "Amigo do Jorge? Ah! Entrem aqui, por favor!"

    - "Imagina, não precisa se preocupar, só queria contat ..."

    - "Que nada, entrem!"

    Quando nos demos por conta estávamos sentados na cozinha da casa de uma senhora desconhecida, que começou a nos contar várias histórias do Jorge, da família. Nos ofereceu bolo. Algumas informações batiam com as que o marido conhecia, outras não.

    Ficamos ali algum tempo. Logo, decidimos ir embora.

     A mãe do Jorge não estava em casa, o Jorge também não. A tia não sabia telefone dele e muito menos endereço. Na verdade ela nem sabia se o Jorge ainda morava em Londres. Fazia algum tempo que ele não aparecia por ali.

    O fato é que até hoje não sabemos se aquele Jorge era realmente o Jorge amigo do meu marido.

    Saudade do tempo em que a vida tinha mais emoção. Hoje tudo se resume a buscar na lupa de pesquisa: nome e sobrenome e aparecem 50 mil opções.  Quantos cafés com bolo e papos com tias alheias se perderam por culpa da internet?



6 comentários:

  1. Eu estou aqui, findando meu horário de almoço, viajando no imaginário, "vendo" cada detalhe e pensando, ahhhh era na época do Fotolog rsrsr que nem eu tive, mas amava acompanhar e conhecer lugares incríveis, pelas lentes de outras pessoas. Desde àquela época, me emocionava com as imagens e as narrativas. Talvez, talvez não, certamente por amar narrativas que me fazem viajar, me encantei pelas suas, Bella amica. Não descanso enquanto não ver um livro publicado ! Imagina quantas "Mantequillas" nesse mundão de Deus, têm o hábito de aquecer a alma e descansar a mente com histórias reais, de pessoas reais, cheias de emoção e verdade? Você irá priva-las. Disso?
    Espero que não!
    É um dom tão lindo esse de extrair sentimentos das pessoas, seja literalmente fazendo com que elas parem, desçam de onde estão, para ir procurar tesouros do cotidiano, seja mostrando a elas através de suas narrativas, que a vida é bela (melhor filme 😍😍) e que não poderemos passar incólumes nela
    Ahhh que delícia de intervalo de almoço! Gratidão por esses momentos de refrigério antes de encarar o expediente da tarde heheh

    Ass: Mantequilla em intervalo de almoço sem poder acessar redes sociais 🫣🫣🫣 🥰🥰

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Rose, querida! Se algum dia eu escrever um livro terá uma dedicatória para você :) em forma de agradecimento pelo carinho que você sempre teve conosco.
      A melhor maneira que eu sempre tive (desde pequena) para me expressar, foi com a escrita (e olha que sou tagarela kkk).
      Baci, bella amica!

      Excluir
  2. Ai, eu AMEI essa história! Me passou um filme lela cabeça dos momentos que vivemos logo antes dessa época aí!
    Que #TBT incrível!
    E eu não poderia concordar mais com a Mantequilla, um livro teu seria algo tão rico e tão cheio de aventuras que chega a ser um pecado ele não existir!
    Beijooooooos da dinda mais linda e mais legal do Nicolinha! Amo vocês! 💖

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Dinda mais linda e legal do Nicolinha (será que o povo sabe que é a única???) :P Nós sim poderíamos escrever um livro com nossas histórias "de antigamente". Daria uma bela de uma coletânea.
      Beijos, cheios de saudades!

      Excluir
    2. Concordo, Dinda mais linda e legal do Nicolinha🙌 Por que privar o mundo de momentos tão incríveis e sobretudo verdadeiros, sem ficção, sem "passada de pano"... aahhh, seria maravilhoso

      Excluir
    3. Já quero esse livro de coletâneas heheh e olha que acompanhei grandes aventuras em Madri, pelo Flogão e Fotolog 😍😍😍😍🤣🤣🤣🤣 amoooooooo Decifra quem sou, ou publica logo, estes DOIS livros 🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣

      Excluir

Deixa um recadinho pra gente aqui, vai!

Buen Camino, Peregrino!

     Sábado passado, um pouquinho antes das 4:30h deixamos Pequeno na Stazione Centrale di Milano . Ali se reuniu com o grupo de jovens da i...